quarta-feira, março 26, 2008

Noção de justiça em Ésquilo e Sófocles

As trilogias do teatro grego Oréstia e tebana, de Ésquilo e Sófocles, guardam noções de justiça diferentes e complementares. Na peça Eumênides, de Ésquilo, Orestes, que matara sua mãe Clitemnestra em retribuição pelo assasinato cometido por ela contra seu pai, o rei Agamenon que voltava vitorioso para a pátria ao fim da guerra de Tróia, sofre a perseguição das Fúrias, as quais desejam aplacar seu ódio pelo matricídio cometido. Orestes se purificara perante os deuses do homicídio e agora busca refúgio em Atenas, a deusa da cidade de Atena e matrona da justiça. Orestes praticou o ato movido também pelo deus Apolo, cujo oráculo o esconjurou com maldições se não vingasse seu pai. Atena acolhe então o suplicante, mas reconhece que as Fúrias devem ser reparadas.

Reproduzo a fala de Atena que decide o caso:

"Se se considerar que o caso é muito grave
para ser decidido por simples mortais,
tampouco terei permissão para julgar
os criminosos motivados em seus atos
pelo desejo rancoroso de vingança;
sob outro aspecto, chegas como suplicante,
purificado pelos ritos pertinentes
e inofensivo para o meu sagrado altar.
Por isso minha decisão é acolher-te
pois tua vinda não ofende esta cidade.
Mas estas criaturas que te perseguiram
sem dúvida são detentoras de direitos
merecedores de toda a nossa atenção;
se lhes negarmos a vitória em sua causa
todo o veneno do seu ódio cairá
sobre esta terra como um mal intolerável
trazendo-nos intermináveis amarguras.
Nesta situação, quer eu lhes dê ouvidos,
quer não as favoreça, terei de sofrer
inevitáveis dissabores. Entretanto,
já que a questão chegou a meu conhecimento
indicarei juízes de crimes sangrentos,
todos comprometidos por um juramento,
e o alto tribunal assim constituído
terá perpetuamente essa atribuição.
Apresentai, então, vós que estais em litígio,
testemunhas e provas--indícios jurados
bastante para reforçar vossas razões.
Retornarei depois de escolher os melhores
entre todos os cidadãos de minha Atenas,
para que julguem esta causa retamente,
fiéis ao juramento de não decidirem
contrariamente aos mandamentos da justiça."
(tradução do grego de Mario da Gama Kury)

Na trilogia tebana de Sófocles, na peça Antígona, a personagem de mesmo nome é filha do rei amaldiçoado Édipo, que por engano assassinara seu próprio pai e casara com a mãe. Antígona é filha dessa união, bem como seu irmão Polinices. Depois que Édipo descobre a tragédia que recaía sobre si, Polinices vai embora da cidade de Tebas e encontra refúgio na cidade inimiga de Argos. Na guerra entre as duas cidades, Polinices morre, bem como seu irmão Eteocles, o qual permancera em Tebas. Contrariando um decreto do rei Creon, que mandara que o corpo de Polinices fosse deixado insepulto para os cães e pássaros comerem, Antígona enterra seu irmão, honrando-o com as devidas preces aos deuses. Furioso, o rei Creon exige que Antígona seja punida.

Antígona fala em sua defesa, respondendo a Creon:

Creon--E mesmo assim você ousou quebrar essas mesmas leis?

Antígona--Sim. Zeus não anunciou essas leis para mim. E a Justiça que vive nos deuses abaixo não enviou tais leis para os homens. Não considerei qualquer coisa que você tenha proclamado forte o bastante para deixar que um mortal sobreponha-se aos deuses e suas leis não escritas e imutáveis. Elas não são justas para hoje ou ontem, mas existem sempre, e ninguém sabe onde apareceram pela primeira vez. Então não me permiti que um medo de alguma vontade humana levasse a minha punição entre os deuses. Sei muito bem que vou morrer- como não iria?-não faz diferença o que você decreta. E se eu tenho que morrer antes do meu tempo, bom, eu conto isso como um ganho. Quando alguém deve viver do jeito que eu vivo, cercada por tantas coisas más, como pode ela não achar um benefício na morte? De modo que para mim encontrar esse destino não me trará qualquer medo. Mas se eu permitisse que o próprio filho morto de minha mãe permanecesse ali, um corpo insepulto, então eu me sentiria desgraçada. O que acontece aqui não me atinge de modo algum. Se você crê que o que estou fazendo agora é estúpido, talvez eu esteja sendo acusada com insensatez por alguém que é um insensato.
(tradução de Daniel Lourenço da versão inglesa de Ian Johnston)

Na primeira peça a deusa Atena reconhece que o caso é dificílimo e trar-lhe-á dissabores. Sabe que o correto é acolher o suplicante Orestes, mas ao mesmo tempo reconhece razão no pleito das Fúrias e por isso firma em seu benefício uma reparação. Na segunda peça, Antígona segue seu coração e enterrar seu irmão a despeito da ordem do rei. Ao final, o rei Creon desiste de sua decisão aceitando a contra-gosto a profecia do adivinho Tirésias que prognostica tempos ruins para a cidade de Tebas se o corpo de Polinices não for enterrado e Antígona punida.

Em Eumênides, põe-se de lado a justiça precisa, cabal, em favor de uma justiça que aceita como justa também a pretensão do sucumbente, as Fúrias. E veja que é uma deusa que assim decide! Em Antígona, a distinção entre lei humana e lei divina é clara, devendo prevalecer essa.

Em face de casos dificílimos como o de Orestes, o direito brasileiro dá a um tribunal formado por homens do povo a autoridade de decidir o destino do acusado em caso de crimes dolosos contra a vida. Muito diferente é a situação de um traficante de drogas que mata um comprador inadimplente e a de um filho que mata a mãe assassina de seu pai, embora o ato seja o mesmo.

Na doutrina atual da resolução de casos em que pretensões calcadas em direitos importantes se conflituam, há juízes e autores que procuram soluções de compromisso e outros que afirmam não haver conflito entre direitos, bastando perquerir com mais argúcia o caso para encontrar o verdadeiro direito.

Por via das dúvidas, faço como os romanos: rezo à deusa Iustitia para ser justo.

sexta-feira, março 21, 2008

Odisséia de Homero.

Responde de forma autoritária ao pedinte na rua. Está com pressa, quer chegar logo em casa. Mas passando em frente ao supermercado, sente vontade de comprar alguma coisa. Entra, percorre os corredores e encontra uma coca light. Volta para casa mais pensativo agora. Chegando, deita suas coisas num canto do quarto e vai para a cozinha. Bebe a coca e não sabe mais o que fazer. Quer fumar um cigarro e o faz. Senta na escrivaninha e lê a Odisséia de Homero.

Gay Cuba Libre!

por Dale Carpenter

Publicado no Independent Gay Forum

No momento em que você reflete como tem sido ruim para os gays nos EUA, algo o lembra quão pior poderia ser. Não muito tempo atrás, uma pequena cidade no México barrou “cachorros e homossexuais” da praia local. O Presidente Robert Mugabe de Zimbabwe baniu gays das feiras de livros de seu país e nos chama publicamente de “cachorros.” Em alguns países islâmicos, atos homossexuais ainda são punidos com a morte. Isso coloca em perspectiva o fracasso do Congresso em passar o Aplicativo Ato da Não Discriminação.

Agora chega o filme nomeado ao Oscar Antes que anoiteça para expor a horrível negação de direitos individuais em Cuba desde que Fidel Castro tomou o poder 42 anos atrás. Alguns vigorosos admiradores de Castro nos EUA manifestaram-se contra o filme (o qual, se algo se dirá contra ele, é muito brando para com o ditador). Um protestante disse a um jornal que, embora não tenha realmente visto o filme, fora informado que ele continha ”mentiras” sobre Cuba. A ironia é que tal protesto não autorizado em Cuba o teria colocado na prisão.

Dirigido por Julian Schnabel, Antes que anoiteça faz uma crônica da vida do escritor gay cubano Reinado Arenas (interpretado de forma sublime por Javier Bardem). Arenas, nascido na pobreza em 1948, de início apoiou a revolução Cubana com suas promessas de educação livre e previdência médica. Seu primeiro livro até ganhou um prêmio dos cães de guarda culturais de Castro.

Mas o romance da revolução logo morreu. Um dos primeiros atos do regime foi proibir assembléias de mais de três pessoas. A mídia logo ficou sob controle estatal. O governo recrutou uma rede de espiões nas vizinhanças pelo país para reportar atividade dissidente. Aqueles que ousavam criticar o governo mesmo que fossem simpáticos ao comunismo eram presos. Denunciados como “contra-revolucionários,” alguns eram forçados a admitir culpa por seus “crimes” políticos contra o estado em processos midiáticos dignos de Stálin.

O regime de Castro também foi cruelmente anti-gay. Já em 1965, o governo cubano começou a mandar homossexuais para fazendas-prisões e campos de trabalho onde eram brutalmente mal-tratados. De acordo com um pioneiro dos direitos gays, o ativista Frank Kameny, as reportagens dos jornais sobre esses campos deram ensejo aos primeiros piquetes em frente à Casa Branca por gays, que seguravam cartazes perguntando, “Cuba persegue gays; os EUA são muito melhores?” A repressão em Cuba foi portanto usada para envergonhar o governo dos EUA para tratar os gays de modo mais tolerante.

Não obstante, nos anos 60 e 70 Castro tinha seus devotos entre os ativistas pelos direitos civis gays na América alinhados com a Nova Esquerda. Alguns até iam anualmente para Cuba como parte da “Brigada Venceremos” (VB) a fim de ajudar na colheita da cana de açúcar do país.

Enquanto a assitência era bem-vinda, oficiais expressavam abertamente sua preocupação pela inclusão de americanos gays na VB. Um relatório de polícia de 1972 descrevia os gays Americanos como “particularmente perigosos nesse tempo porque formam uma ofensiva cultural imperialista contra a revolução Cubana.”

O mesmo relatório de polícia denunciava a hhomossexualidade no país como “uma patologia social que reflete a remanescente decadência burguesa” que “não tem lugar na formação do Novo Homem que Cuba está construindo.” Em outras palavras, a homossexualidade era um artefato do capitalismo que deveria ser purgado.

O próprio Arenas sentiu essa mudança de rumo. Como um associado o informou, o governo Castro desconfiava de artistas e escritores porque eles criavam a beleza e totalitários não podem controlar a beleza. O trabalho de Arenas logo foi censurado pelas autoridades. Ele foi forçado a contar com admiradores literários para contrabandear seus manuscritos para fora do país a fim de publicá-los. Arenas e seu círculo de amigos intelectuais gays eram cuidadosamente espionados por informantes e com freqüência perseguidos pela polícia.

Não muito tempo depois, Arenas foi preso sob falsas acusações de molestar uma criança. Depois de conseguir escapar, foi capturado e retornou à prisão, onde foi torturado e colocado numa solitária.

Tais experiências não têm sido pouco comuns para os gays cubanos sob o governo de Castro. Em 1970, um grupo anônimo de gays Cubanos conseguiram enviar uma carta para ativistas dos direitos civis gays nos EUA. Na carta, eles revelavam como as autoridades cubanas perseguiam gays através de métodos que variavam de “ataques físicos até tentativas de impor desistegração moral e física sobre os gays.” Esses fatos, a carta notava, estavam “em total contradição com as histórias de sucesso contadas fora” por alguns dos apologistas de extrema esquerda de Castro.

É claro, a vida dos gays nos EUA não era nenhum piquinique nos anos 60 e começo dos 70. Mas as privações, punições e negações de liberdades básicas em Cuba foram muito além do que qualquer cosia experimentada aqui. Conforme concluía a carta dos gays Cubanos: “Se numa sociedade de consumo, dirigida por capitalistas e oligarcas, como a sociedade em que vocês vivem, homossexuais experimentam sofrimentos e limitações, em nossa sociedade, governada por Marxistas e revolucionários, é pior.

Arenas tentou desesperadamente escapar de sue país aterrador, certa vez tentando sem êxito boiar até a Flórida num bote secreto. Outros usaram jangadas provisórias e até balões com o mesmo propósito. Arenas conseguiu finalmente chegar aos EUA na viagem de bote Mariel do ano 1980 junto com milhares de outros “criminosos” incluindo vários gays cubanos, soltos por Castro.

De modo que enquanto lamentamos as barreiras que faltam para a total igualdade nos EUA, somos felizes por viver num país onde as garantias básicas de livre expressão, imprensa livre, direito de assembléia e devido processo aplicam-se inclusive a nós. Por ruim que possa parecer algumas vezes, ninguém está saltando sobre madeiras flutuantes no mar aberto para sair.

tradução de Daniel Lourenço

Reinaldo Arenas se suicidou em 1990 na cidade de Nova Iorque. O filme Antes que anoiteça(2000) se baseia em suas memórias póstumas.

quinta-feira, março 20, 2008

CPI contra o Foro de São Paulo

Pronunciamento do senador Gerson Camata, do PMDB do Espírito Santo, pedindo uma CPI para investigar a ação de organizações subversivas no Brasil. No trecho final, o senador lamenta a infiltração da esquerda revolucionária na Igreja Católica.

“(...)

O parêntese que fiz, Sr. Presidente, foi para registrar aqui alguns fatos tristes que estão ocorrendo no Brasil e que aconteceram no fim de semana no Espírito Santo até segunda-feira.

Há um movimento nacional de organismos - e vou usar a palavra subversivos, bandidos - para desestabilizar a economia do Brasil. Eles são comandados pelo foro de São Paulo e pelas Farc. Estou dizendo aqui há cinco anos que as Farc estão atuando no Brasil. A Abin sabe que as Farc estão atuando no Brasil; a Abin sabe que as Farc estão matando mais no Brasil do que na Colômbia. Os jovens brasileiros estão morrendo em conseqüência do tráfico de cocaína que as Farc enfiam pelas fronteiras do Brasil. As armas que estão matando os jovens brasileiros são infiltradas pela fronteira, pelas Farc, e não se vê uma providência a ser tomada pelo Brasil.

O Brasil, o contribuinte brasileiro, você, brasileiro, paga a Marinha mais cara da América Latina; paga o Exército mais caro e melhor aparelhado da América Latina; paga a Aeronáutica melhor aparelhada da América Latina e não recebe nada de volta. A fronteira do Brasil é um queijo cheio de buracos - entram armas, drogas, maconha. E o nosso Exército? Cheio de unidades no Rio e em São Paulo, aqueles quartéis precisam estar na divisa. Por que a Marinha não patrulha as nossas águas, onde são lançadas as armas para serem recolhidas pelos bandidos? Por que não vigiamos as nossas fronteiras? Por que temos as Forças Armadas mais poderosas da América Latina e ninguém nos respeita? Os paraguaios roubam as nossas armas, enchem o Brasil de maconha, metem contrabando para dentro do Brasil; a Bolívia faz a mesma coisa, a Colômbia faz isso também. E quem respeita o País?

Temos de começar a pensar, pois as Farc atuam na divisa do Espírito Santo com Minas. Paralisaram os trens da Companhia Vale do Rio Doce.

Trezentas mil toneladas, comprometendo o prestígio do Brasil no mercado internacional, de minério de ferro deixaram de ser embarcadas. Navios parados ao longo do litoral do Espírito Santo, congestionando os portos, aguardando serem abastecidos, Sr. Presidente. E mais, 2.500 passageiros da única ferrovia do Brasil que tem dois trens por dia, que liga Vitória a Belo Horizonte, que é uma ferrovia para a Companhia Vale do Rio Doce, deficitária, mas que serve ao fluxo de passageiros, 2.500 a 3.000 passageiros por dia, entre Belo Horizonte e todas aquelas cidades vizinhas ao longo do Rio Doce, que estão dentre Vitória e Belo Horizonte.

E víamos na televisão, na estação ferroviária de Vitória e na estação ferroviária de Belo Horizonte - e é preciso dizer que são as pessoas mais humildes, porque a passagem de trem custa um terço da passagem de ônibus. Essas pessoas usam esses trens, gente humilde, que estavam indo ao médico, parados, passando fome, porque acabou o dinheiro deles. Foi preciso que a assistência social da Prefeitura de Cariacica se deslocasse ate à estação com lanche para aquelas pessoas paralisadas ali.

O que essa gente ganha fazendo o pobre sofrer? Essa Via Campesina, esse MST, essas organizações marxistas, que desapareceram na Europa e nos países civilizados, nem na África existem mais, mas prosperam na América Latina. Quem é que mantém essa associação que um dia invade no Pará, noutro dia invade no Rio Grande do Sul? De onde vem esse volume de dinheiro para manter esses malandros fazendo baderna pelo País afora, desonrando o Brasil, fazendo que o País passe vergonha em âmbito nacional?

Quem paga os aviões fretados dos índios de Aracruz - falsos índios - que vão para Europa, para porta dos concorrentes desfilar de tanga? Quem aluga esses aviões? Quem é que leva esses caras para Portugal, para a Suécia, para a Itália, para fazer dança na chuva na porta dos escritórios Aracruz Celulose, que é brasileira? Precisamos saber disso.

Precisamos fazer uma CPI porque eles chegam aqui e rebentam, quebram os vidros do Congresso Nacional. Sabe o que aconteceu? Nada, Sr. Presidente. Param as estações de pedágio, quebram os computadores todos. Sabe o que acontece? Nada. Vão para a sede do Incra, arrebentam os computadores, quebram os vidros, destroem os escritórios. Sabe o que acontece? Nada. Que diabo de País é este em que não acontece nada com essa gente? Quem patrocina essa gente? Quem os abriga? Quem os defende? É na Justiça que está o problema ou na estrutura do País que está apodrecendo ideologicamente a favor dessas ideologias ultrapassadas, que não existem no mundo e que só o atraso do Brasil permite que existam aqui?

Eu acho que isso é que merece uma CPI; isso precisa de uma CPI. Essas leis precisam ser mudadas, para que o brasileiro não fique cada vez mais passando vergonha aos olhos do mundo por ações antiquadas, ultrapassadas, orquestradas, bem pagas e, com a conivência de altas autoridades brasileiras, envergonhando o Brasil, fazendo mal aos brasileiros, diminuindo as oportunidades de investimentos, as oportunidades de trabalho para milhões de brasileiros.

Eram essas as colocações que queria fazer, apresentando a solidariedade à Vale do Rio Doce, que está sendo perseguida por criar tantos empregos no Brasil.

Como católico, eu tenho medo que alguns setores da Igreja Católica estejam metido nisso. Eu falei, aqui, há algum tempo, que estava assistindo a uma missa, em São Paulo, quando veio o padre e parou tudo para distribuir um folheto, no qual se pedia a reestatização da Vale. E, dentro da igreja, estava ali a Via Campesina. Eu me retirei de lá, pois se vai num domingo à igreja para rezar, fazer uma reconciliação com Deus e é agredido com uma coisa dessas! Será que a Igreja Católica está atrás dessas coisas?

Um amigo meu disse outro dia: "Gerson, quando eu vou à missa, eu não dou mais contribuição, porque eu não sei, se esse dinheiro é para financiar o culto, se é para melhorar a minha igreja, ou se vai parar lá na mão de uma organização clandestina, comunista para fazer baderna, no Brasil, por trás de alguns sacerdotes da Igreja Católica".

Os bispos, a CNBB... Eu, que sou católico, tenho o direito de cobrar uma certa posição diante de certos extremismos, porque, no final, a gente vê que, lá por trás, há alguma ação de alguns padres que, desviados da doutrina de Jesus Cristo, partem para a doutrina marxista para agredir, atacar, semear a cizânia e o ódio entre os brasileiros. Isso não é função de quem é cristão.

Muito obrigado, Sr. Presidente.”

Veja o pronunciamento de 12/03/08 na íntegra, onde o senador faz também elogios ao fotógrafo Sebastião Salgado.

segunda-feira, março 10, 2008

Foro de São Paulo

O Foro de São Paulo está vindo à tona com força. Lembro de um amigo meu, estudante de jornalismo, dizendo para mim que a entidade era praticamente inexistente. Argumentar contra isso é difícil, não é mesmo? Como uma entidade pode ser praticamente inexistente? Ou ela existe, ou não existe. Nem os meus alertas sobre a presidência de Lula no Foro o demoveram de seu petismo. Bom, agora, para usar a frase de Zagallo: “Vocês têm que engolir.” Daqui a pouco inventem outra farsa, mas descoberta essa, fico alegrinho por um período.

É gostoso realmente escutar a entrevista concedida à radio CBN pelo senhor Merval Pereira, colunista político de O Globo, falando do Foro de São Paulo, e não apenas para cobrir o buraco deixado pelo Olavo de Carvalho em O Globo. Vocês são uns oportunistas.

O querido Reinado Azevedo, que aliás está sempre alegre-a esquerda sempre dá motivo para rir, o ruim é depender dela-já falava do Foro de São Paulo no tempo da revista Primeira Leitura. Agora você pode acompanhar uma série de textinhos seus sobre o Foro.

domingo, março 09, 2008

sexta-feira, março 07, 2008

As complexidades da ciência e a burrice do intelectual

Acabo de ler o artigo As complexidades da ciência e as limitações do tribunal, publicado no sítio Observatório da imprensa. Comentemos pois o artigo, digno de ser publicado num sítio apoiado pela Fundação Ford.

O autor Ulisses Capozzoli começa o artigo fazendo referências à vinda da família real portuguesa ao Brasil duzentos anos atrás, assunto cujo interesse para o tema não pude discernir, a não ser quando o autor usa o fato para falar das evolução de uma sociedade atrasada, que probia a circulação de jornais, revistas, para uma sociedade que agora pode permitir a pesquisa com células-tronco embrionárias, pegando o bonde da história.

Joseph Mengele, o médico nazista de Auschwitz que ganhou o apelido de anjo da morte, devia achar a mesma coisa quando injetou tinta azul em olhos de crianças, uniu as veias de gêmeos, deixou pessoas em tanques de água gelada para testar suas resistências, amputou membros de prisioneiros e coletou milhares de orgãos em seu laboratorio. Afinal, a roda da história não pára.

“Os 11 ministros que compõem o STF – apesar da pompa e circunstância com que se fazem notar – estarão desempenhando um papel além de suas capacidades intelectuais.”

Como é que pode um ministro do STF, enquanto tal, desempenhar um papel além de sua capacidade intelectual? Será que o ministro vai começar a correr pela sala para prolatar a sentença, exercendo assim a sua capacidade física?

“A imprensa também estará em julgamento quanto a sua capacidade de sensibilizar ou não a sociedade para uma perspectiva da ciência(...)”

Aqui o autor convoca o jornalismo a deixar de lado sua profissão de informar o cidadão sobre os fatos e perspectivas das duas teses em julgamento para abraçar e fazer propaganda de uma das teses.

Chegamos ao ponto: “o embate em torno da Lei de Biossegurança é na essência, por desconfortável e anacrônico que possa parecer, um enfrentamento entre ciência e religião.”

O autor até desconversa-“Não que ciência e religião sejam necessariamente antagônicos”, para afetar aquela douta neutralidade caríssima aos liberais, mas depois afirma ser regra o “obscurantismo que unifica as religiões.”

Bom, ciência e fé não são antagônicos, há pelo menos setecentos anos se sabe isso, desde os trabalhos de Santo Tomás de Aquino. Eles são complementares e harmônicos.

Depois de alguns parágrafos malhando a Igreja Católica, o autor admite o seguinte: “E se desconhecemos a natureza da vida não temos como fixar exatamente quando ela começa.”

É exatamente esse o argumento do ensaísta conservador Olavo de Carvalho para dizer que o aborto não pode ser permitido. Não sabemos quando começa a vida, então se vamos fazer experiência com um embrião, existe a possibilidade de estarmos tirando uma vida humana. Ulisses Capozzoli está disposto a correr esse risco.

“Certamente não é nenhuma façanha intelectual sustentar que o papel das células-tronco embrionárias na reconstituição de órgãos é parte da medicina do futuro. Mas, em muitos casos, pode amenizar de imediato a dura sorte de milhões de pessoas.”

O senhor Ulisses Capozzoli está mentindo quando afirma que o papel das células-tronco embrionárias pode amenizar de imediato a sorte de milhões de pessoas. Até agora nenhuma pesquisa com células-tronco embrionárias chegou a resultados promissores, os resultados promissores vêm da pesquisa com células-tronco adultas, pesquisa a qual não é condenada pela Igreja Católica.

Por fim, comento sobre a separação feita pelo autor entre memória e inteligência. A intenção de Ulisses Capozzoli é dizer que a memória representa a tradição atrasada enquanto a inteligência desliga-se do peso da tradição adotando o bem da ciência. Não é lindo isso? Gostaria de perguntar ao senhor Ulisses Capozzoli se ele precisou se lembrar do julgamento que aconteceu na quarta-feira para escrever o artigo. Talvez o artigo tenha brotado da inteligência futurista de Ulisses Capozzoli sem precisar da memória para lembrar do julgamento. A memória é uma das funções da inteligência, um requisito dela. Quando René Descartes descobriu que existia porque pensava, ele precisou lembrar que pensava antes. Ou fingiu que não lembrou, embolando o curso da filosofia subseqüente. O senhor Ulisses Capozzoli quer embolar toda a discussão sobre o tema da pesquisa com células-tronco embrionárias. Memória certamente ele tem, inteligência não sei dizer.

PS: Enviei o presente artigo para o sítio Observatório da imprensa, não obtendo resposta até o momento.

quinta-feira, março 06, 2008

Pesquisa com células-tronco embrionárias

Ontem houve julgamento no Supremo Tribunal Federal sobre a legalidade da pesquisa com células-tronco embrionárias. O resultado final do julgamennto não saiu ainda, pois um dos ministros pediu vista do processo. O embrião a ser pesquisado é como o ovo galado que não será chocado. Sem o útero materno, habitat natural para se desenvolver, o embrião jamais se tornará um ser humano adulto. Esse é um assunto complicado, e tendo a apoiar os que são contra a pesquisa, pois o embrião possui individualidade genética. Chama a atenção o entusiasmo amoral com que os advogados da legalidade se debruçam sobre o tema, apelando para o sofrimento dos deficientes físicos, em especial dos que usam cadeiras de rodas. Ah, se todo sofrimento que tive na vida pudesse ser consertado.. a começar pela rejeição por adotar posicionamentos conservadores em geral. Existem sofrimentos que uma pessoa vai carregar durante sua vida, as coisas funcionam assim. Claro que seria ótimo que uma pessoa em cadeira de rodas voltasse a caminhar. Mas será que vale qualquer artifício para alcançar esse objetivo?

Sabem por que alguns usuários de cadeiras de rodas aceitam se humilhar dessa forma para alcançar objetivo que mal se sabe se poderá beneficiá-los? Porque têm medo da discriminação, real e imaginária. Esse é um poderoso motor político atualmente, que enganou negros e homossexuais.

A pesquisa com células-tronco embrionárias não alcançou qualquer resultado positivo e a batalha por sua legalização deve ser considerada dentro do espectro amplo de perseguição à vida do não nascido. Não é mesmo senhor advogado Luiz Roberto Barroso?

Para maiores informações, acesse o sítio da associação pró-vida de Anápolis.

terça-feira, março 04, 2008

Colômbia contra o Comunismo

O governo brasileiro sugeriu ao governo colombiano que peça desculpas ao Equador pela ação militar que desencadeou no território desse país, matando membros das Farc, inclusive um líder da organização, Raúl Reyes. Não é de surpreender a postura do governo brasileiro, visto que no começo do mandato do atual presidente da República, o presidente da Colômbia Álvaro Uribe visitara o Brasil e pedira ao governo brasileiro que classificasse as Farc como uma organização terrorista, tendo seu pedido negado. As próprias Farc declararam que sem o Partido dos Trabalhadores brasileiro a organização não teria a força que tem na atualidade.

Se querem saber, muitas pessoas ainda vêem a Colômbia como o país das drogas, de Pablo Escobar, etc. Tem toda razão que a Colômbia é o país das drogas. Mas é também o país mais corajoso da América Latina, o único disposto a enfrentar o avanço comunista. Nesse quesito os brasileiros estamos devendo.

terça-feira, fevereiro 26, 2008

A democracia no olho do furacão

No mundo moderno, a democracia nasce da transposição da vida dentro da comunidade eclesiástica cristã para a vida civil. É o reconhecimento de que difrenças eclesiástico-organizacionais não devem afetar a boa convivência entre cristãos das variadas denominações. O modo de vida eclesiástico cristão amplia-se ao recusar a disputa estéril acerca de diferenças dogmáticas e os cristãos tratam na vida secular com o empenho e dedicação que têm em sua Igreja. A famosa frase de Abraham Lincoln proferida no discurso de Gettysburg: “Governo do povo, pelo povo, para o povo,” na realidade não é dele, mas de John Wycliffe, no prólogo de sua tradução da Bíblia de 1384. O governo não trabalha pelo povo, o povo trabalha pelo governo. Forte também era a noção de uma nova Canaã, a terra prometida, que inspirava os peregrinos colonizadores da América.

A inversão demoníaca da idéia democrática cristã, que nasce num ambiente cultural maduríssimo, é o Comunismo. Alguns homens, eruditos quanto sejam-Lênin e Stálin eram, decidem que sabem o que é bom para o povo. A partir daí, permitem-se toda espécie de artifícios pelo bem maior do Comunismo. Na frase reveladora de Bertold Brecht: “Mentir em prol da verdade.” Chamam de democracia popular a pior tirania que houve na história humana.

A idéia democrática está presente no coração do homem Ocidental. Tantos os cristãos mais dedicados quanto os mais ferrenhos anti-cristãos aprovam a forma de governo. Empenhados em realizar a palavra do Evangelho que os manda ir pelos quatro cantos do mundo anunciar a Boa Nova, os cristãos constróem redes de solidariedade que gradualmente resvalam para a política democrática. George Soros e cia., pelo lado dos anti-cristãos, fomentam organizações pró-democráticas em tiranias mundo afora.

O presidente americano George W. Bush perde-se em meio aos dois grupos. Não é capaz de adotar uma política francamente cristã, como a praticada pelo amado Ronald Reagan, nem de trair por completo a base eleitoral que o elegeu. Fugindo da briga interna, ele assume então a política de espalhar através da força a liberdade no mundo. A liberdade conseguida pela força, que trouxe bons resultados na Alemanha Ocidental e Japão no pós-guerra, agora é testada no Iraque, conforme o programa dos neoconservadores.

O perigo é de o mundo inteiro viver numa democracia chocha. Aquela verdadeira democracia pode desaparecer, enfraquecida pela perseguição à cultura cristã e pela efeminação do homem que vai à Igreja.

Ps. No Brasil, o ranço entre Católicos e Protestantes, que existe de parte a parte, prejudica a formação de uma elite conservadora cristã.

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Histórias de sala de aula

Aula de direito internacional.

Discutíamos o que era genocídio. Perguntei se Osama Bin Laden poderia ser condenado por genocídio.

-Mas ele atacou apenas as Torres Gêmeas.

-Sim, mas a intenção dele é matar todos os americanos.

-Ora, matar todos os americanos eu também quero.

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Furo na reportagem

Fundações são alvo de CPI das ONGs
Comissão analisa indícios de irregularidade detectados em 25 entidades ligadas à universidades públicas.

............

Essa é manchete da versão digital do Jornal do Brasil de hoje. Perceberam o erro? Não há crase antes de “universidades públicas”. Poderia haver mas o trecho final seria mudado, pois a crase teria que ficar no plural: “entidades ligadas às universidades públicas.” É pedir de mais que um jornal de grande porte, ou que o foi pelo menos, escreva em bom português sua manchete de capa?

Há um blog feito por dois jornalistas experientes que analisa furos, não de reportagem, mas na reportagem, da imprensa. xingatorio.blogspot.com

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Revolução parte final
















Liberdade, de Delacroix, pintura símbolo da Revolução Francesa.

“Assim toda forma de iniqüidade criou raízes nos países Helênicos por causa dos problemas. A antiga simplicidade a que se juntava em grande parte a honra era desdenhada e desapareceu; e a sociedade ficou dividida em campos em que homem algum confiava em seu próximo. Para colocar um ponto final nisso, não havia esperança a que se agarrar, nem imprecação exigindo respeito; mas todos partidos lidando antes com cálculos sobre o desespero de um estado de coisas permanente, estavam mais resolvidos à auto-defesa do que capazes de passar confiança. Nessa disputa, as percepções embotadas eram mais bem sucedidas. Apreensivos de suas próprias deficiências e da esperteza de seus antagonistas, eles temiam levar a pior no debate e ser surpreendidos pelas combinações dos oponentes mais versáteis, e portanto recorriam de uma vez para a ação: enquanto seus adversários, imaginando de forma arrogante descobrir a tempo seus artifícios, e que era desnecessário garantir pela ação o que a política estabelecia, com freqüencia caíam vítimas de suas falta de precaução.”

“Nesse ínterim a Córcira deu o primeiro exemplo da maioria dos crimes a que aludimos; das represálias exigidas pelos governados que nunca haviam experienciado tratamento equitativo ou qualquer coisa menos insolência contra os governantes–quando sua hora chegou; das decisões iníquas daqueles que desejavam se ver livres de sua pobreza costumeira, e cobiçavam com ardor os bens do vizinho; e por fim, dos excessos selvagens e sem compaixão em que os homens que começaram a luta, não com um espírito de classe mas de partido, eram alimentados por suas paixões ingovernáveis. Na confusão agora reinante sobre as cidades, a natureza humana, sempre se rebelando contra a lei e agora sua mestra, mostrava-se de bom grado ingovernável na paixão, superior ao respeito pela justiça, e inimiga de toda superioridade; desde que a vingança não teria sido colocada acima da religião, e se sobreposto à justiça, não fosse o poder fatal da inveja. De fato os homens com muita freqüencia dedicam-se à perseguição de sua vingança dando o exemplo de pôr fim àquelas leis gerais a que todos podem procurar salvação na adversidade, ao invés de permitir que elas subsistam no dia de perigo em que sua ajuda será necessária.”

Tucídides, em A História da Guerra do Peloponeso, capítulo 10, livro terceiro.

Tradução minha da tradução em inglês de Richard Crawley.

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.



















As crenças gnóstico-revolucionárias crêem conhecer a essência da história. Mas aqui há um problema que surge de imediato. A história, ou melhor o tempo, se estende para o futuro, e portanto a história não é uma coisa como uma pedra ou uma vaca cuja essência pode ser conhecida. Uma colega leitora do blog lançou a questão de que a verdade mudaria sempre. Respondi-lhe que ela tem razão em parte. Um ser humano carrega consigo caracteres que permitem identificá-lo mesmo com as mudanças de aparência provocadas pelo corte de cabelo ou por mudanças imperceptíveis como a troca de células de todo o corpo. Há uma forma ou essência que dá ordem àquele conjunto de moléculas e permitem a identificação. Nem o Michael Jackson escapa disso. Com a história isso não acontece. Muitos ideólogos creram ter descoberto o sentido da história, o rumo que ela está seguindo. Eles passam a interpretar toda a história de acordo com o sentido que teriam descoberto, ao invés de buscar sentido nos fatos que realmente aconteceram. E mais: ao enxergar um sentido único para a história, acabam com o fator cultura, que é exatamente a esfera das escolhas humanas. A história aconteceu de determinado modo, porém poderia ter acontecido de outro, fossem outras as escolhas. In limine, a ideologia conduz a loucuras totalitárias. O ideólogo da história acredita ser o portador da verdade histórica–veja leitora do blog, a verdade histórica não existe se a entendemos como o significado da história, só existe com referência aos fatos que já aconteceram e que não vão deixar de ter acontecido mesmo que algum tiranete obrigue a relevá-los ou negá-los– e por isso reúne todas as forças e meios vis para realizar o sentido que deu para a história. Hitler, mais modesto que Karl Marx, disse que o Terceiro Reich duraria mil anos. Durou doze. O barbudo alemão apostou que o Comunismo era o fim da história. É por isso que em Cuba, passados quarenta e cinco anos da revolução Cubana, o coma andante Fidel Castro disse que a revolução ainda estava em curso. O Comunismo é o paraíso, como o paraíso não chegou, a culpa é do sr. George Bush.

Por isso fico com meu Jesus Cristo: “Daquele dia e da hora, ninguém sabe, nem os anjos no céu, nem o Filho, somente o Pai.”

Andres Segovia - Asturias

domingo, fevereiro 17, 2008

Revolução 2a parte

“(...)A Revolução portanto fez seu caminho de cidade em cidade, e os lugares onde chegou por último, de terem ouvido o que fora feito antes, levaram a um excesso ainda maior o refinamento de suas invenções, como manifestado na astúcia de suas iniciativas e na atrocidade de suas represálias. As palavras tinham que mudar seu significado ordinário e assumir aquele que lhes era dado agora. A audacidade temerária passou a ser considerada coragem de um leal aliado; hesitação prudente, covardia camuflada; a moderação foi considerada um disfarce para a fraqueza; a habilidade de enxergar todos os lados de uma questão, inaptidão para agir em algum deles. A violência desvairada tornou-se atributo da virilidade; a cuidadosa intriga, um meio justificado de auto-defesa. O advogado de medidas extremas era sempre confiável; seu oponente um homem de quem suspeitar. Para suceder numa intriga era requisito a cabeça astuta, para armar uma intriga uma mais astuta ainda; mas para tentar não precisar fazer qualquer uma das alternativas era necessário dissolver seu partido e então ficar com medo de seus adversários. Nos dias bons, evitar um futuro criminoso, ou sugerir a idéia de um crime onde ele era necessário, eram atitudes igualmente louváveis até que o próprio sangue se tornava um elo mais fraco que o do partido, pela presteza soberba daqueles unidos pelo partido a afrontar tudo sem reserva; pois tais associações não tinham em vista as bençãos derivadas de instituições estabelecidas mas eram formadas pela ambição de destruí-las; e a confiança de cada membro um no outro apoiava-se menos em alguma sanção religiosa do que na cumplicidade pelo crime. As propostas justas de um adversário eram recebidas com ciumentas precauções pelo mais forte dos dois, e não com uma confiança magnânima. A vingança também era mais bem considerada que a auto-preservação. Juras de reconciliação, proferidas por ambos os lados apenas como resposta a uma dificuldade imediata, só eram mantidas enquanto outra arma não estava a mão; mas quando a oportunidade surgia, aquele que primeiro se aventurava a agarrá-la e a surpreender a guarda do inimigo, imaginava essa vingança pérfida como mais doce do que uma vingança aberta, desde que, deixadas de lado as considerações de segurança, o sucesso pela traição rendia-lhe o triunfo da inteligência superior. De fato geralmente acontece de os homens considerarem os vigaristas mais inteligentes que honestos simplórios, e são tão envergonhados de serem o segundo como orgulhosos de serem o primeiro. A causa de todos esses males era a cobiça pelo poder nascendo da ganância e da ambição; e dessas paixões procedia a violência dos partidos ocupados na disputa. Os líderes nas cidades, cada qual munido com as confissões mais justas, de um lado com o brado da igualdade política do povo, do outro com o de uma aristocracia moderada, buscavam prêmios para si naqueles interesses públicos de que alegavam cuidar, e recaindo para a falta de meios nas suas lutas por ascensão entregavam-se aos mais tristes excessos; em seus atos de vingança foram a limites ainda maiores, não detendo-se ante o que a justiça ou o bem do estado requeria, porém fazendo do partido seu único critério no capricho do momento, e invocando com igual presteza a condenação de um veredicto injusto ou a autoridade da arma forte para saturar as animosidades do momento. Assim a religião não tinha lugar de honra em quaisquer dos partidos; mas o uso de frases justas para chegar a fins criminosos gozava de alta reputação. Enquanto isso o partido moderado dos cidadãos perecia entre os dois, seja por não entrar na disputa, seja porque a inveja não os deixava escapar.”

Tucídides, em A História da Guerra do Peloponeso, capítulo 10, livro terceiro.

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Revolução 1a parte

“Os Peloponésios assim partiram com pressa à noite para casa, margeando a costa; e puxando seus navios ao lado do Istmo de Leucas, de modo a não serem vistos dobrando-o, desta forma partiram. Os Corciranos, conscientes da aproximação da frota Ateniense e da partida do inimigo, trouxeram os Messenianos de fora das muralhas para a cidadela, e ordenaram a frota que eles haviam tripulado a navegar em volta em direção ao porto Hilaico; e enquanto o estava fazendo, matou os inimigos conforme colocava as mãos neles, despachando em seguida, ao pô-los em terra, aqueles que persuadiram a subir a bordo dos navios. Em seguida foram ao santuário de Hera e convenceram cerca de cinqüenta homens a experimentarem seu teste, e os condenaram todos à morte. A massa dos suplicantes que se recusaram a fazê-lo, vendo o que estava acontecendo, mataram-se uns aos outros no solo consagrado; enquanto alguns se enforcavam nas árvores, e outros destruíam-se do modo que eram capazes. Durante os sete dias que Eurímedo permaneceu com seus sessenta navios, os Corciranos se dedicaram a assassinar aqueles de seus conterrâneos a quem consideravam seus inimigos: e embora o crime atribuído era o de tentar derrubar a democracia, alguns foram mortos por ódio privado, outros pelos devedores por causa do dinheiro que lhes deviam. A morte pois assolava de toda maneira; e, como freqüentemente acontece em tempos como este, não havia limites aonde a violência não chegava; os filhos eram mortos por seus pais, e suplicantes arrastados para fora do altar ou mortos lá mesmo; enquanto alguns eram até mesmo emparedados no templo de Dionísio e morriam ali.”

“Então o sangue era a marcha da revolução, e a impressão que causava era maior por ser a primeira a acontecer. Mais tarde, poder-se-ia dizer, todo o mundo Helênico estava em convulsão; lutas feitas em toda parte pelos chefes populares para trazer os Atenienses, e pelos Oligarcas para introduzir os Lacedemônios. Na paz não haveria nem o pretexto nem a vontade de fazer tal convite; mas na guerra, com uma aliança sempre no comando de quaisquer das facções para prejuízo dos adversários e sua vantagem correspondente, oportunidades para trazer o estrangeiro nunca faltavam aos partidos revolucionários. Os sofrimentos que a revolução impunha às cidades eram muitos e terríveis, como ocorreram e sempre ocorrerão enquanto a natureza da humanidade for esta; embora de uma forma mais severa ou menos severa, e variando nos sintomas, de acordo com a variedade dos casos particulares. Na paz e prosperidade, estados e indivíduos têm melhores sentimentos, porque não se encontram confrontados de modo repentino com necessidades imperiosas; mas a guerra acaba com a fácil provisão das necessidades diárias, e então prova-se uma mestra bruta, que conduz o caráter da maioria dos homens para um mesmo nível junto com suas fortunas(...)”

Tucídides, em A História da Guerra do Peloponeso, capítulo 10, livro terceiro.

Pergunta que se quer calar















Político de um partido revolucionário discursava para uma atenta audiência:
“(...)Pois quando chegarmos ao poder, todo mundo vai poder comer sorvete de manga.”
Lá atrás, um rapaz levantou com humildade o dedo e perguntou:
“Mas siô dotô e quem não gosta de sorvete de manga?”
O político, então, arrematou:
“Meu filho, quando chegarmos ao poder, você vai gostar de sorvete de manga.”

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Os números e a realidade

Ontem assisti a uma reportagem que dizia que o número de mortos por parada cardíaca no Brasil alcançava o número de 200.000 pessoas. O telespectador pode ficar alarmado com esse número. Mas será que essa é uma atitude inteligente? A reportagem não dizia qual seria um número razoável de mortos no universo dos quase 190 milhões de brasileiros. Faltou um termo de comparação. Sem ele, os números não dizem nada e podem trazer um alarme injustificado. A reportagem poderia dizer que em outros países o número de mortos por parada cardíaca por cem mil habitantes é tanto, e então comparar com a taxa brasileira. Mas sem um ponto de referência não podemos saber se os 200.000 brasileiros mortos por parada cardíaca são um número baixo, dentro da normalidade ou alto. As medidas em geral têm a característica de não bastar por si para descrever uma realidade. Por exemplo, pode-se dizer que o estado do Paraná é um estado grande, pois é maior do que países europeus como a Suiça por exemplo. Mas em comparação com o estado do Amazonas, o Paraná é um estado de médio porte. Também as sensações do frio e do calor têm essa característica. A temperatura que faz um alemão sentir frio é mais baixa que a temperatura que faz um carioca sentir frio. Grande, pequeno, frio, calor, precisam de um termo de comparação para fazerem sentido real. Quando se diz que uma pessoa é alta, deve-se entender que ela é mais alta que a maioria das pessoas dentro de um universo-pode ser falso ou verdadeiro o enunciado, mas seu sentido é esse. Dentro de outro universo, porém, talvez ela não fosse alta. Assim, certo mesmo é dizer que uma pessoa é mais alta que outra. O Oscar Schmidt é mais alto que o Pelé, isso é real, visível e inegável.

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Vida em condomínio e a justiça

Ontem o Fantástico apresentou uma reportagem sobre a legalidade da utilização da piscina do condomínio pelas babás. Só assisti ao final da reportagem, onde um casal de senhores considerava inconstitucional a proibição do uso da piscina pelas babás mesmo que a justiça dissesse que esse assunto deva ser tratado na reunião dos condôminos e decidido por cada condomínio. Ou seja, a justiça decide que os próprios moradores resolvam a questão. Não vou aqui dizer que o casal de senhores não tem o direito de afirmar que a decisão da justiça é inconstitucional, afinal a liberdade de expressão é um direito constitucional e portanto um direito 'forte' como aprendi na Argentina, mas também tenho o direito de simplesmenete ignorar o que o casal disse. Ah, justiça brasileira, até quando acertas és criticada? As próprias pessoas envolvidas na questão do seu dia-a-dia devem tentar resolver seus problemas. Bertrand de Jouvenal ressaltava a importância dos poderes intermediários da sociedade como contraponto ao poder avassalador do estado. Os clubes, condomínios, escolas, igrejas, associações de moradores formam uma rede de colaboração que ameniza e inibe a atuação estatal.

Uma coisa é óbvia: o juiz não mora no condomínio para saber as nuanças de uma situação que afeta os moradores. Pode-se objetar que o juiz também mora em um condomínio e portanto conhece a dinâmica dessa relação. Mas ele mora com outras pessoas, em outro lugar, e terá a chance de com elas decidir o que é melhor para o seu condomínio.

Alguém ainda poderia dizer que a justiça se omitiu por fraqueza ou por não saber o que fazer. Prudência não é fraqueza, a super intensidade emocional o é. Se a justiça apenas não sabia o que fazer, agiu bem de não se meter na questão. Mas talvez soubesse bem o que estava fazendo: reconhecendo sua menor capacidade de resolver um problema do que as pessoas que estão envolvidas diretamente com a questão.

Uma das conseqüencias da badalada 'constitucionalização do direito civil' é que agora qualquer questiúncula pode ser tachada de inconstitucional. Os senhores a quem a decisão legal desagradou não eram bacharéis em direito e mesmo assim asseveraram que a decisão era inconstitucional. Isso mostra que de uns anos para cá criou-se uma certa cultura de respeito à Constituição, como aliás o professor de direito constitucional Luiz Roberto Barroso gosta de ressaltar. Mas será que a Constituição merece esse respeito todo? A Constituição é um sistema que deriva proposições de axiomas. Os axiomas, segundo o dicionário Aurélio, são premissas imediatamente evidentes que se admitem como universalmente verdadeiras sem exigência de demonstração. 'A dignidade da pessoa humana' é um axioma. Mas pergunto eu: como resolver a questão das babás tendo em vista a dignidade da pessoa humana? Difícil não é mesmo? Certas questiúnculas fogem do guarda-chuva sistemático e devem ser resolvidas segundo a conveniência política do dia. O risco é que os axiomas e as proposições de direito se tornem “tubos vazios onde cada um coloca o que quer”, que é a definição mesma de fascismo para Pirandello.