quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Revolução parte final
















Liberdade, de Delacroix, pintura símbolo da Revolução Francesa.

“Assim toda forma de iniqüidade criou raízes nos países Helênicos por causa dos problemas. A antiga simplicidade a que se juntava em grande parte a honra era desdenhada e desapareceu; e a sociedade ficou dividida em campos em que homem algum confiava em seu próximo. Para colocar um ponto final nisso, não havia esperança a que se agarrar, nem imprecação exigindo respeito; mas todos partidos lidando antes com cálculos sobre o desespero de um estado de coisas permanente, estavam mais resolvidos à auto-defesa do que capazes de passar confiança. Nessa disputa, as percepções embotadas eram mais bem sucedidas. Apreensivos de suas próprias deficiências e da esperteza de seus antagonistas, eles temiam levar a pior no debate e ser surpreendidos pelas combinações dos oponentes mais versáteis, e portanto recorriam de uma vez para a ação: enquanto seus adversários, imaginando de forma arrogante descobrir a tempo seus artifícios, e que era desnecessário garantir pela ação o que a política estabelecia, com freqüencia caíam vítimas de suas falta de precaução.”

“Nesse ínterim a Córcira deu o primeiro exemplo da maioria dos crimes a que aludimos; das represálias exigidas pelos governados que nunca haviam experienciado tratamento equitativo ou qualquer coisa menos insolência contra os governantes–quando sua hora chegou; das decisões iníquas daqueles que desejavam se ver livres de sua pobreza costumeira, e cobiçavam com ardor os bens do vizinho; e por fim, dos excessos selvagens e sem compaixão em que os homens que começaram a luta, não com um espírito de classe mas de partido, eram alimentados por suas paixões ingovernáveis. Na confusão agora reinante sobre as cidades, a natureza humana, sempre se rebelando contra a lei e agora sua mestra, mostrava-se de bom grado ingovernável na paixão, superior ao respeito pela justiça, e inimiga de toda superioridade; desde que a vingança não teria sido colocada acima da religião, e se sobreposto à justiça, não fosse o poder fatal da inveja. De fato os homens com muita freqüencia dedicam-se à perseguição de sua vingança dando o exemplo de pôr fim àquelas leis gerais a que todos podem procurar salvação na adversidade, ao invés de permitir que elas subsistam no dia de perigo em que sua ajuda será necessária.”

Tucídides, em A História da Guerra do Peloponeso, capítulo 10, livro terceiro.

Tradução minha da tradução em inglês de Richard Crawley.

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