sexta-feira, dezembro 23, 2011

O choro dos norte-coreanos

Se o choro dos norte-coreanos não é ensaiado, então é o choro do escravo que só pode dar vazão à sua tristeza junto com a tristeza do seu senhor. Simone Weil explica isso no seu ensaio sobre a Ilíada.

"E o que é preciso para o escravo chorar? O infortúnio de seu senhor, seu opressor, espoliador, saqueador, do homem que arrasou seu país e matou seus parentes e amigos debaixo de seu nariz. Este homem ou sofre ou morre; então as lágrimas do escravo vêm. Ora, e por que não? Esta é a única ocasião em que as lágrimas lhe são permitidas, em que são mesmo obrigatórias. Um escravo sempre vai chorar quando puder fazê-lo impunemente - sua situação mantém as lágrimas em suspenso.

Ela falou, chorando, e as mulheres gemiam,
Usando o pretexto de Pátroclo para lamentar seus próprios tormentos.

Como o escravo não tem licença para expressar qualquer coisa que não seja simpática a seus senhor, procede que a única emoção que pode tocá-lo ou animá-lo um pouco, que pode chegar a ele na desolação de sua vida, é a emoção do amor por seu senhor. Não há outro canal pelo qual manifestar a dádiva do amor; (...)".

domingo, dezembro 11, 2011

Para um final alternativo do filme O Cheiro do ralo

Lourenço construía seu pai-frankestein; num momento em que algo não dava certo, olhava para ele e pregava-o de tiros, em seguida ia ao banheiro fedido e enfiava-o privada abaixo dando descarga. O cheiro do ralo desaparecia. Ele contatava a garçonete e tateavam um relacionamento.

A cena -- magnífica -- da bunda seria assim: ele diz que gosta dela, ela diz que ele só gosta da sua bunda.

(Nervosa) -- Você quer ver minha bunda, você quer ver minha bunda? Eu mostro para você, não precisa pagar não.

Então ela mostra. Ele a beija (a bunda), agarra e abraça chorando, tal como no filme.

Ela o entende, e eles tateiam um relacionamento.

terça-feira, dezembro 06, 2011

segunda-feira, dezembro 05, 2011

Céu e inferno de minha preferência

Um amigo me perguntou pelo Formspring quais são o céu e o inferno de minha preferência. Respondi assim:

"Inferno, Marcio:

A selva, de Ferreira da Castro, onde os desejos sexuais flamejavam, o calor era brabo, os mosquitos infernizavam. A civilização e o sangue não são páreos para eles. Praticamente sucumbem ante a lassidão da terra onde o tempo não passa. Uma imagem é eles passeando de canoa pelas matas na época das chuvas, bonita. Rousseau achava lindo o bom selvagem, lá de sua monarquia europeia.

Freud, porque revolve, como ele mesmo cita de Virgílio, os infernos da mente humana. Mexe nas merdas que há na mente.

O céu é o Livro de Urântia. Lembro agora o salmo 23, que o pastorzinho não conseguiu reproduzir com exatidão, mas que originalmente era assim.

Os Deuses são os meus guardiães; eu não me perderei;
Lado a lado, conduzem-me pelos belos caminhos e na glória revigorante da vida eterna.
E, nessa divina presença, não terei fome de alimento nem sede de água.
Ainda que eu desça ao vale da incerteza ou ascenda aos mundos da dúvida,
Ainda que caminhe na solidão ou com os meus semelhantes,
Mesmo que eu triunfe nos coros da luz ou titubeie nos locais solitários das esferas,
O Vosso bom espírito ministrará a mim, e o Vosso anjo glorioso confortar-me-á.
Ainda que desça às profundezas da escuridão e da própria morte,
Não duvidarei de Vós, nem Vos temerei,
Pois sei que, na plenitude dos tempos e na glória do Vosso nome,
Vós me elevareis, para que eu me assente Convosco nas fortificações das alturas.


Mas o Livro de Urântia, pelo excesso de espiritualidade, que minha própria carne não pode suportar, é um inferno também, um inferno de espiritualidade."

sábado, novembro 05, 2011

Descansa, revolta.

Brasileiro se revolta contra a corrupção (ah, eu nunca vou perder o sono por causa de corrupção financeira de político) e chama a isso de consciência política. Como disse Luiz Felipe Pondé no programa Painel da Globo News, não é preciso, brasileiro, se indignar a todo tempo com tudo. A vida segue ainda que o político tenha embolsado um dinheirinho, que seu vizinho aguarde quem dará o primeiro passo - se ele ou o policial - ao ser parado em blitz no trânsito, que você jogue lixo na praia (essa, sim, me indigna). Mas, que tal ficar chateado com o Fernanidnho Beira-Mar, que corrompe para as drogas? Sim, claro, ele não é o corrupto habitual, talvez seja até mais direito que o político, afinal o dinheiro que esse rouba evitaria a morte de criancinhas em hospital. OK, então, por que não, por exemplo, criar uma agravante para o crime do político? Ou, como queria um ex-professor, julgá-lo num tribunal de júri, julgamento pelo povo, como em caso de homicídio?

Fernandinho Beira-Mar acha graça de tudo isso, ele, o herói, a quem o jornal um dia estampou na capa com a manchete "Tá tudo dominado."

O político roubou, mas o espírito continua à procura de homens que o Filho Eteno chama à sua órbita. Por que fazer tanto caso deles? A vida segue, eles terão seu galardão um dia, no pós-dia, e você também. Sossega e peça para ele correr atrás do Beira-Mar.

terça-feira, novembro 01, 2011

Brasileiro não gosta de política, brasileiro só gosta de corrupção.

segunda-feira, outubro 31, 2011

Dominação

A melhor maneira de dominar alguém é fazer algo de que a própria pessoa duvidará que você tenha feito, e, se ela chegar a acreditá-lo, não conseguirá comunicá-lo a outros, seja por vergonha de ter participado naquilo, seja porque as outras pessoas não lhe acreditarão, e ela não quer passar por doida mentirosa. Então o que aconteceu subsistirá como uma erva daninha dentro de si, corroendo sua base de confiança num mundo que descrê na possibilidade de que algo do tipo lhe tenha ocorrido.

Faz-se daí a cumplicidade dominada do paciente ao sujeito da ação.

domingo, outubro 30, 2011

Blecaute

A velinha sua em bicas
criando raízes ao prato;
quisera admirá-la mais,
entanto me dói a vista.

Em breve a luz volta, alás,
e então eu a apago, grato.

sexta-feira, outubro 28, 2011

Capitulo 182 de Quincas Borba

J. Apolodoro, colega de letras a quem Machado de Assis entregara uma versão de Quincas Borba para que revisse e opinasse, propôs-lhe a seguinte alteração no capítulo 182:

"(...)

Um deles, muito menor que todos, apegava-se às calças de outro, taludo. Era já na Rua da Ajuda. Fosse o delírio com Jesus, Rubião teria parado e dito: "Deixai vir a mim as criancinhas." Mas, como o Nazareno aí não tinha parte alguma, tão logo ouviu a surriada, Rubião supôs que eram aclamações, e fez uma cortesia de agradecimento. (...)

(...)"

quinta-feira, outubro 27, 2011

Soneto

por Targélia Barreto de Meneses

Em vão tentais nos ocultar a chama
Que o vosso peito alastra e que o devora,
Nós, as mulheres, fracas, muito embora,
Sabemos ler no olhar do homem que ama

No lábio que, agitando-se, descora,
Traduzimos a frase que se inflama!
E muita vez no gelo se derrama
Fogo que o peito de afeição vigora

O homem é assim inconsciente,
Sempre ostentando aquilo que não sente:
Quando jura um afeto está fingindo;

Quando se diz liberto está cativo!
Ironia cruel! Por que motivo
Há de um homem viver sempre mentindo?

segunda-feira, outubro 10, 2011

Monarquia

A monarquia é o favorecimento pessoal legalizado, com a vantagem dos belos jardins, dos homens de fraque, garbo e elegância, e das histórias de princesa. Se é para ter corrupção financeira, por que a gente escolheu a República mesmo?

quinta-feira, outubro 06, 2011

Que é a dúvida? - II

Dúvida é a alternância entre duas ou mais opções de ação, as quais não têm atratividade o bastante para que por uma delas se decida finalmente.

Que é a dúvida?

"A dúvida é uma espécie de pensamento que varia por ambas as alternativas [de um dilema], de maneira que se pensa 'Isto talvez seja assim; talvez não seja assim.'" (Yoga-Bhashya, tradução minha da tradução de James Haughton Woods)

quarta-feira, outubro 05, 2011

domingo, setembro 25, 2011

Amor & Cia

O filme Amor & Cia, que só hoje vi, na TV Brasil, de cara lembrará um romance brasileiro famoso. Godofredo é atormentado pela idéia de que seu sócio, MACHADO, o tenha traído com sua esposa, Ludovina.

Ele, porém, gosta muito dela e não sossegará até tê-la de volta depois da separação. E mais, deseja saber o que aconteceu. Que cartas duvidosas eram aquelas? Que criança foi parida durante a temporada de Ludovina em Minas?

O Brasil não é feito apenas de cínicos ou de observadores à margem como o diplomata Aires, há também os fortes que agem; obrigado a Eça de Queiroz, autor da história (Alves & Cia) que sem querer é um acerto de contas com Machado de Assis, e, por tê-la filmado, ao diretor Helvécio Ratton.

sábado, setembro 24, 2011

sexta-feira, setembro 23, 2011

Bem-me-quer, mal-me-quer

Escreverei poemas
feito assim Baudelaire?

Bem-me-quer, mal-me-quer..
Talvez, sendo eu apenas..

segunda-feira, setembro 05, 2011

Tradicionalismo é coisa de amador,
é preciso ler mesmo o Livro de Urântia
para se saber do verdadeiro amor.

quinta-feira, setembro 01, 2011

Como os autores ingleses adoram órfãos!

segunda-feira, agosto 29, 2011

Schaub versus Minotauro

Brendan Schaub entrou no octógono ao som dessa música sábado.



Para ser nocauteado em seguida por Rodrigo Minotauro, no primeiro round.



E a galera cantou: ô, o Minotauro voltou, o Minotauro voltou, o Minotauro voltou, ô..

quarta-feira, agosto 24, 2011

Tese de Marx

Uma tese fundamental de Marx é: "Pode-se referir a consciência, a religião e tudo o que se quiser como distinção entre homens e animais; porém, esta distinção só começa a existir quando os homens iniciam a produção dos seus meios de vida(...)". (A Ideologia Alemã)

Mas ela está errada. Não existe homem sem atuação dos espíritos da adoração e da sabedoria. Ainda que produza lascas pontiagudas de pedra, organize uma tribo, etc, não passa de animal se não chegou a ser contactado pelos dois últimos dos sete espíritos da mente.

Vou tentar elaborar uma taxonomia dos sete espíritos ajudantes da mente. Aguardem, sentados talvez, mas aguardem.

segunda-feira, agosto 22, 2011

Mal e pecado

No cap. III,3, de L'Unité Transcendante des Religions, Schuon justifica as faltas de Davi. Um profeta não pode cometer pecados, diz ele. No máximo, usa meios imperfeitos para uma ação, em si, justa. Pecado só existiria do ponto de vista exotérico, isto é, aos olhos do povaréu, não aos olhos de Deus, não. Quando roubou a esposa de Uriel, Davi, portanto, estava realizando a intenção cósmica de se unir à mãe de Salomão. Só um homem sem intuição espiritual para não perceber que a ação era cosmologicamente necessária.

Alguns líderes contemporâneos de seitas orientalizadas de fato cometem erros, talvez pecados. Quiçá também seja esotericamente justificável que eles passem um tempo na cadeia por abusos sexuais.

A distinção schuoniana entre dhanb e ithm é boa. Pecado, na realidade, só existe intencionalmente, isto é, quando queremos ir de encontro à vontade de Deus. A imperfeição de nossas ações é um mal, mas não um pecado. Cite-se aqui novamente Shinran: não importa se você é bom ou mau, importa se você recita o Nembutsu, ou seja, se você se dedica aos assuntos do Pai.

Isto posto, um profeta, quem quer que seja, não está eximido de antemão de cometer pecados. Jesus, o Filho do Homem, disse que não era bom porque sabia que a bondade dependia de sua relação com Deus e da obediência perfeccionada a Ele. Não porque não a praticasse.

domingo, agosto 21, 2011

Feliz aniversário, Michael.

sábado, agosto 20, 2011

Cenas engraçadas do cinema. Jim Carrey rebobina.



Mais que engraçada, impressionante. Do filme Ace Ventura.

quarta-feira, agosto 10, 2011

A notícia do investidor

Reclama-se muito da especulação financeira, mas a mídia em geral noticia oscilações diárias na bolsa de valores, as quais só importam realmente para os especuladores. Que a bolsa de São Paulo caia oito pontos num único dia pode não ser tão ruim quando se compara com o acumulado do ano. Quase sempre se perceberá que a bolsa subiu. Essa é a notícia do investidor.

terça-feira, agosto 09, 2011

Let it shine

O coro infantil canta Let it shine, no filme Um presente para Helen. A imagem está ruim, mas a música continua boa.
Trá, trá, trá, trá, trá... Deu uma trégua a britadeira.
Como valorizo o silêncio de quarta-feira!

sábado, julho 30, 2011

Brasileiro, ou pelo menos carioca, quando vai a teatro tem no palavrão seu momento de catarse.

sexta-feira, julho 29, 2011

Conversa entre Cristovam Buarque e um estudante de Napoleão Mendes de Almeida

-- Latim não serve para nada.

-- Como não serve? Cada aula de latim é uma aula de lógica.

-- É uma língua morta, rapaz.

-- Eu acho que o senhor é que está morto.

quarta-feira, julho 27, 2011

Diferença entre duvidar, suspeitar, opinar, crer e inteligir

por Tomás de Aquino

"Chama-se propriamente cogitação ao movimento da alma que delibera, ainda não tornado perfeito pela plena visão da verdade.
(...)
"Pois, certos dos atos pertinentes ao intelecto implicam um firme assentimento, sem a tal cogitação. (...) Outros atos do intelecto, porém, são sem firme assentimento. Quer por não penderem para nenhuma parte, como se dá com quem duvida; quer, por penderem mais para uma parte, mas dependerem de algum leve sinal, como sucede com quem suspeita; quer, por aderirem a uma parte, mas com temor de que a outra seja a verdadeira, como acontece com quem opina. Ora, o ato de crer implica a adesão firme a uma das partes. Por aí, o crente convém com o que sabe e intelige. E, contudo, o seu conhecimento não é perfeito, pela visão manifesta; por onde, convém com o de quem duvida, suspeita e opina. E, assim, é próprio de quem crê cogitar com assentimento. E por isso, o ato de crer distingue-se de todos os atos do intelecto, relativos à verdade e à falsidade."

(Secunda secundae, questão 2, artigo 1)
Na Internet, há sempre o risco de se gostar de pessoas que moram longe. Aff.

segunda-feira, julho 25, 2011

Ódio ou serviço

Lúcifer e Satã só se aturam enquanto envolvidos na unidade de ódio contra o Filho Criador. A liberdade desenfreda que pregam deve valer também em face do atual colega de rebelião. No momento as disputas podem não se manifestar, mas tão logo o inimigo comum e maior seja vencido, nutrir-se-á o desejo de supremacia do indivíduo absoluto. No retrato budista da Roda da Vida, figuram no círculo interno os três venenos do homem, representados por um porco, um pássaro e uma cobra, cada um mordendo o rabo do outro. Ou seja, eles opõem-se juntos ao homem, mas nem por isso são amigos. Cedo ou tarde, seu ódio recíproco revelar-se-á.

Não deve espantar, portanto, que em todos os países que fizeram uma revolução, seja na Rússia, França, Alemanha, Cuba ou China, os colegas revolucionários começaram a perseguir-se e matar-se uns aos outros assim que a vitória estava assegurada. Os expurgos cedo ou tarde acontecem.

O ódio a alguém -- não ao pecado, claro -- tem essa peculiar característica de vir acompanhado do ódio a si mesmo.

A bondade caracteriza-se por viver e aceitar com um grau maior ou menor de silêncio injustiças que se lhe praticam. Na realidade, não importa se você é mau ou bom, dirá Shinran, importa se você recita o Nembutsu, o que equivale a dedicar-se aos assuntos do Pai. Dedicar-se aos assuntos do Pai significa desenvolver uma vida interior a par da exterior, e isto implica dotar nossas atitudes e palavras com as experiências genuínas e significativas, afastando as falsas, as quais alimentam a língua perniciosa. A iniquidade, ao revés, ao primeiro sinal de que sofre uma injustiça real ou imaginária, tentará alardeá-la aos quatro cantos do mundo, repisando-a continuamente e figurando-se como a injustiçada, dona de uma autoridade moral contra o mundo ruim que um Pai bondoso inventado jamais criou. O movimento revolucionário, porque é mais dado a afetação, tem e sempre terá essa vantagem sobre o movimento evolucionário, qual seja, fazer mais propaganda sobre as injustiças que sofre.

Como organizar o movimento evolucionário, portanto?

segunda-feira, julho 18, 2011

Carta de Abraham Lincoln ao professor de seu filho


"Caro professor, ele terá de aprender que nem todos os homens são justos, nem todos são verdadeiros, mas, por favor, diga-lhe que, para cada vilão há um herói, que para cada egoísta, há também um líder dedicado, ensine-lhe, por favor, que para cada inimigo haverá também um amigo, ensine-lhe que mais vale uma moeda ganha que uma moeda encontrada, ensine-o a perder, mas também a saber gozar da vitória, afaste-o da inveja e dê-lhe a conhecer a alegria profunda do sorriso silencioso, faça-o maravilhar-se com os livros, mas deixe-o também perder-se com os pássaros no céu, as flores no campo, os montes e os vales.

Nas brincadeiras com os amigos, explique-lhe que a derrota honrosa vale mais que a vitória vergonhosa, ensine-o a acreditar em si, mesmo se sozinho contra todos.

Ensine-o a ser gentil com os gentis e duro com os duros, ensine-o a nunca entrar no comboio simplesmente porque os outros também entraram.

Ensine-o a ouvir todos, mas, na hora da verdade, a decidir sozinho, ensine-o a rir quando estiver triste e explique-lhe que por vezes os homens também choram.

Ensine-o a ignorar as multidões que reclamam sangue e a lutar só contra todos, se ele achar que tem razão.

Trate-o bem, mas não o mime, pois só o teste do fogo faz o verdadeiro aço, deixe-o ter a coragem de ser impaciente e a paciência de ser corajoso.

Transmita-lhe uma fé sublime no Criador e fé também em si, pois só assim poderá ter fé nos homens.

Eu sei que estou pedindo muito, mas veja o que pode fazer, caro professor."

Abraham Lincoln, 1830

......

Retirado do saite Livraria Resistência Cultural (http://livrariarc.blogspot.com/).
Ora vou assistir à TV
à falta do que melhor fazer.

sexta-feira, julho 15, 2011

Seleção brasileira de futebol e Aristóteles

Meu pai acha que os jogadores da seleção não apertam na marcação e o adversário tem muito espaço. Aristóteles pode ajudar a explicar:

"se de duas qualidades negamos ter uma delas para parecer possuir a outra, então é preferível a qualidade que desejamos parecer possuir: por exemplo, quando negamos ser muito esforçados para parecermos possuir muitos dotes naturais." (Tópicos, livro III, 2)

terça-feira, julho 12, 2011

Sobre o artigo Da pose à piada pronta, de Pedro Sette Câmara

O que ao brasileiro lhe agrada fazer
é reclamar da incultura,
mas na hora mesmo de ler,
nada, faz pose com a maior cara-dura.

sexta-feira, julho 08, 2011

Ela não quer meu buquê
e eu me pergunto por quê.
O tradicionalista acorda do sono de três dias e dá de cara com um Companheiro Moroncial. "Bem-vindo, você acaba de entrar no céu." Recompondo-se do despertar, o tradicionalista torna-lhe: "Mas este não é o céu. Não é assim, vou te ensinar." Se as tivesse, o Companheiro Moroncial teria assomado as sobrancelhas em assombro, sem saber o que fazer.

quinta-feira, julho 07, 2011

Conhecimento em Platão

"(...) a admiração é a verdadeira característica do filósofo."

À pergunta de Sócrates sobre o que seja o conhecimento, Teeteto lhe responde enumerando alguns, geometria, a arte dos sapateiros, etc. Mas Sócrates não quer saber de exemplos, quer saber o quid est da coisa.

Ele compara o processo de conhecimento, no caso de conhecimento sobre o conhecimento, com as dores do parto. "Algo em tua alma deseja vir à luz." Nenhum crescimento espiritual se dará sem alguma luta interior. Assim como com a virtude, o conhecimento é uma graça da divindade, que ele, Sócrates, tentará, como faz a parteira, de Teeteto parir.

A noção do conhecimento nascendo de um trabalho de parto remete-nos ao terceiro hexagrama do I Ching, cujo nome é Zhung, que representa a dificuldade inicial quando os princípios criativo, T'hien, e receptivo, K'un, se encontram para dar a graça a um novo ente.

Que os discursos baseados na verossimilhança ou na probabilidade não encerram o máximo de certeza alcançável Platão esclarece a contento, partindo em seguida para a demonstração do primeiro erro que o estudante iniciante de filosofia deve ser capaz de decifrar. Ele dá pistas aqui da sua divisão quatripartite do conhecimento, explicada no livro VI do diálogo A República. Antes, no livro V, ele o divide em três. A ciência ou conhecimento propriamente dito corresponde ao ser, ou seja, ao belo ou a justiça em si, para além da multiplicidade de entes belos que existem. De outro lado, a ignorância, ou o não-ser, significa a falta de qualquer conhecimento. Condição intermediária entre ambos, a opinião refere-se a entes relativos, que se graduam na multiplicidade da existência segundo graus de mais e de menos, como um ente pode ser mais ou menos belo, mas não corresponde ao belo em si, o qual escapa à mera opinião, e qualifica quem o contempla como filósofo.

Platão nos diz que a idéia do bem é o princípio da ciência e da verdade, e, como tal, muito mais preciosa que essas. Ele a compara ao sol que derrama sua luz sobre o ente conhecível e seu conhecedor, unindo-os em admiração. Mas Platão diz que o sol é o filho do bem. Sobre o bem em si ele prefere não discorrer naquele momento, tanto por sua incapacidade de apresentá-lo, porque não o divisasse com clareza ainda, quanto pela incapacidade de seus interlocutores de percebê-lo. Moisés sabe bem o que é não poder contar verdades que os interlocutores não poderão entender. Mas alguns autores, como Gomperz, secundado pela escola de Tübingen, acreditam que Platão tenha feito um discurso sobre o bem, o qual, se foi embora transcrito, não chegou até nós. Nele, Platão teria explicitado o pináculo de sua filosofia, que é o bem, o UM, princípio de todos os sub-princípios, aquele que se basta a si, mas também inicia a multiplicidade através de seu contra-princípio, a Díade ilimitada, que erra entre o mais e o menos até que o UM a meça. A Díade passeia horizontalmente por um mesmo reino da existência (o dos animais irracionais, por exemplo) até que o UM a determine em vários pontos, criando os múltiplos seres daquele reino; ela também varia hierarquicamente no plano vertical, de modo que o UM possa diferenciar graus diferentes de perfeição.

Difícil até aqui, não? Perdoem-me, mas não acabou. O Um sintetiza ainda as experiências de valor dos múltiplos seres, ele é o infinito qualitativo (o quantitativo é apenas potencial, porque qualquer contagem indefinida de números não acaba nunca, será sempre incompleta).

Respirem e sigamos. Platão divide então em quatro as faculdade de conhecer: a imaginativa e a faculdade de crer, embaixo, e acima, o pensamento e a intuição intelectual. Às duas primeiras correspondem as imagens refletidas em espelho, que não são a coisa em si, e os entes sensíveis, a coisa em si; às segundas os entes de razão -- ou entes matemáticos -- e os princípios, arkhai. Por que Platão não coloca no mesmo patamar o conhecimento matemático e o dos princípios? Porque a matemática refere-se justamente a entes de razão, modelos inexistentes no mundo sensível, que podem no entanto ajudar em sua compreensão, mas também podem prejudicá-la, caso se os pretenda suficientes. Um sistema matemático dedutivo pode, no máximo, ser probabilíssimo, nunca cem por cento, uma vez que parte de axiomas, os quais são por definição indemonstráveis. O que Platão chama de pensamento e que, podemos aduzir, assemelha-se ao que se chamou de razão ao longo do século XIX, corre o risco de auto-contradizer-se quando se esquece de que existe necessariamente uma realidade fora do sistema formal.

Platão não disse, mas essa realidade é o infinito (o UM). Não existisse o ilimitado, isto é, aquilo que não pode ser capturado num círculo explicativo formal, o universo inteirinho seria auto-contraditório - e fisicamente implodiria devido à entropia.

Ou é assim ou é o nada. Como "alguma coisa há" (não é verdade Mário Ferreira dos Santos?), então não pode não ser assim.

Os números conforme os entendiam os pitagóricos, diga-se entretanto, não são meros entes de razão, são os esquemas no ser próprio de cada coisa. O homem, por exemplo, tem um número que lhe dá o ser homem, já o UM, embora com esse nome, não é bem um número, mas o princípio primordial que dará o ser de cada coisa, inclusive o do homem, com todos os números possíveis que em seu bojo encerra. Os princípios são as razões últimas e os números as razões próximas das coisas. Numa escala ascendente, portanto, o pensamento nos entes de razão deveria ceder à intuição das idéias -- os números pitagóricos -- e dos princípios mesmos. E como vértice dessa pirâmide, para além do conhecimento apenas, a sabedoria, isto é, a busca por fazer o bem.

(http://www.urutagua.uem.br//006/06coelho.htm)


É razoável supor que esta estrutura seria depois assumida por Aristóteles para sua teoria implícita dos quatro discursos -- poético, retórico, dialético e lógico -- que Olavo de Carvalho descobriu.

Conhecimento não é sensação meramente, ou seja, conhecimento não é apenas a sensação que a coisa conhecida causa em mim, se assim fosse ninguém pagaria tanto dinheiro a Protágoras pra ensinar. Quando doente, a maçã me pode ter um gosto amargo, mas, se são, ela me parece doce. Em ambos os momentos quem comeu a maçã fui eu. Por que ela foi sentida de maneira distinta se eu, a medida de todas as coisas, conforme quer Protágoras, sou o mesmo que a comeu? Não só o conhecimento do outro deixa de ser confiável, mas o meu próprio, em outro momento de mim, também. Acontece que o eu é mais do que a soma de sensações a que se submete. "O eu humano não é meramente uma soma de estados sucessivos de consciência. Sem o funcionamento efetivo de uma consciência que seleciona e associa, não existiria unidade suficiente a garantir a sua designação como uma individualidade." (Livro de Urântia) No caso, o fato de eu estar doente faz com que a maçã só consiga se relacionar comigo revelando-se-me amarga. Uma coisa é o relacionamento entre um ente e seu admirador, o aspecto que aquele consegue a esse mostrar, proporcional à sua capacidade de recebê-lo, como Ortega Y Gasset mostra, com o brilho e arrogância que lhe são próprios, em sua doutrina do ponto de vista. É nesse sentido, aliás, que o Livro de Urântia pode dizer que a verdade é relativa. "Quando foi que lhes ensinei que deveriam ver tudo da mesma maneira?", diz Jesus a Tiago.

Outra coisa é dizer que os entes mesmos, e não aspectos seus, diferem de homem para homem. Claro que Protágoras se embanana aqui, seu discurso, como sugere Platão, tinha antes o intuito de "frase para armar efeito." Fosse ciência rigorosa, não poderia ter qualquer valor, uma vez tratar-se de algo que ele próprio diz só caber a ele mesmo. Sim, pois ele aceita "como verdadeira a opinião dos que o contraditam."

Os animais possuem sensações e até uma "coordenação fisiológica entre o reconhecimento e as sensações associadas e a memória correspondente, mas nenhum experimenta um reconhecimento significativo da sensação nem demonstra uma associação propositada dessas experiências físicas combinadas tal como se manifestam nas conclusões das interpretações humanas inteligentes e reflexivas." (Livro de Urântia)

Xavier Zubiri sublinha, deveras, que a sensação humana está no bojo da apreensão do que a coisa é por si mesma. Por exemplo, ao invés de, como o animal, apreender meramente que está quente, o homem apreende que o "calor é quente", e por isso esquenta, ou seja, o homem não apreende o mundo como estímulo apenas, mas como realidade. É o que ele chama de hiperformalização humana. Não se trata de descobrir, não ainda, o 'quid est' da coisa sentida, mas de sentí-la já como uma realidade. Zubiri parece tentar expressar em termos aristotélicos o senso intuitivo de presença da realidade. 

Dizer que a verdade é relativa é dizer que se dá na relação entre o ser vivo e o que conhece. Este projeta (pro + jectar, daí ob + jecto) aspectos seus que só aquele ser vivo pode conhecer. Daí que apenas enquanto participantes dessa relação se pode, a rigor, chamá-los de objeto e sujeito, ou seja, o que informa e o que é informado. O relativismo absoluto abole precisamente a relação proporcionada, de modo que a coisa deixa de ser conhecida, e o conhecedor, falso conhecedor, ocupa-se com uma figura arbitrária contra o vazio de sua recusa de percepção.

Dizer também que a coisa conhecida só consegue projetar alguns aspectos seus, não significa dizer que não se a conheça em si. Posso ver apenas a cabeça de um gato saindo de trás da porta, mas sei que é um gato.

Necessariamente a mesma coisa se mostra de maneiras diferentes para dois seres vivos. Ela se objecta a eles de duas maneiras, os quais, proporcionalmente, assim se sujeitam a ela.

Um mesmo homem pode se sujeitar duas vezes, e portanto de duas maneiras diferentes, à mesma coisa. Claro que ele continua sendo o mesmo homem nessas duas relações, mas as relações serão distintas. O eu continua em meio à mudança de sensações, porque o eu reflete as sensações distintas e as reconhece na idéia da coisa que as emite.

Platão diz-nos ainda que se todas as coisas estão em movimento, tanto de alteração constitutiva quanto de translação espacial, não poderíamos dar-lhes nomes, uma vez que sua identidade escoaria sem cessar. A brancura deixaria de ser, e não a poderíamos designá-la como tal. "Os adeptos de semelhante tese terão que criar uma linguagem nova," diz ele.

A linguagem implica, portanto, alguma estabilidade nos entes. O mero fato de esse texto poder ser compreendido por você, leitor, implica que há permanência nos entes em meio à mudança que atravessam.

A noção do conhecimento como um parto é também ilustrada no diálogo Mênon, quando Sócrates pergunta a um escravo qual a medida dos lados de um quadrado cuja área é de oito pés. Ele, iludido pela consciência de que os lados de um quadrado cuja área é de quatro pés tem dois pés, acredita que basta multiplicar por dois os lados desse quadrado para encontrar um cuja área é de oito. Sócrates faz-lhe perguntas até ele mesmo perceber que a superfície desse quadrado será o quádruplo da superfície do primeiro. Logo o escravo já está se dando conta que o lado deste quadrado deve ter entre dois e quatro pés, e depois que deve ter entre dois e três pés. Ele se surpreende com aquilo que já sabe e aquilo que não sabe.



Sócrates diz a seu colega Mênon: "És capaz de perceber mais uma vez, Mênon, o ponto de rememoração em que já está este menino, fazendo sua caminhada? Percebes que no início não sabia qual era a linha da superfície de oito pés, como tampouco agora ainda sabe. Mas o fato é que então acreditava, pelo menos, que sabia, e respondia de maneira confiante, como quem sabe, e não julgava estar em aporia. Agora porém já julga estar em aporia, e, assim como não sabe, tampouco julga que sabe."

Sócrates acredita que seu método de mostrar a uma pessoa que ela não conhece para valer aquilo que acredita que conhece lhe faz um bem, muito embora a desnorteie como a uma barata tonta num primeiro momento. Pois, diz ele, "agora, ciente de que não sabe, terá, quicá, prazer em, de fato, procurar (...)".

Procedendo por perguntas e respostas, Sócrates faz com que o escravo dê o ar da graça àquilo que, segundo ele (não sei se concordo com isso), já sabia, ou seja, que o lado do quadrado de oito pés é um quadrado inscrito num quadrado de dezesseis pés. Já sabia, mas o tinha esquecido, dirá Platão. O trabalho socrático consiste portanto numa rememoração do que foi esquecido.
  (http://www.prof2000.pt/users/amma/af18/t5/menon.htm)

Dar aula é um exercício de extrair do aluno o que ele já sabe (e pelo que já sabe chegar ao que não sabe, porém desconfia, por degraus), fazendo-o expressar-se a seu jeito, com suas palavras. Sócrates costumava encorajar seus interlocutores meninos a expressarem-se sem medo sobre aquilo que pensavam. Lançar-se a falar, ter que esboçar aquilo que está dentro de si, é a melhor maneira de iniciar o aprendizado. Como ele dizia, se a pessoa não sabe, vai se embananar e perceberá que não sabe aquilo que lhe parecia fácil de longe. O seriado Chaves mostra algumas situações deste tipo no cenário da escola. "Mas isso é muito fácil." "Ok, então me responda", diz o professor Girafáles.  "Mas é muito fácil, me dá outra." "Não, responda-me essa antes." E o aluno vê que não sabe. Em matemática, acontece de montão.

Como Sócrates disse, é realmente um trabalho de parto. As dores vão aperecendo para o bebê vir à luz.

O trabalho de Jesus era um pouquinho diferente. Consistia antes em acionar o altruísmo da pessoa pedindo-lhe ajuda, trazer à luz seu lume divino, mas não em limar seus erros (não de início). Não era um ensino técnico. Era um ensino de bondade, que se dava pela sua própria vida, pelo que era capaz de inspirar nas pessoas por quem passava.

O método socrático dificilmente seria utilizado por Jesus, porque Sócrates com freqüência sobrecarregava o interlocutor (e podia causar antipatia) com sua série de perguntas e correções. Jesus procuraria antes tornar seu evangelho atraente, gracioso.

Na realidade, quando Sócrates aceitou morrer por Atenas, sua vida também define-se (se faltava alguma dúvida) como uma inspiração. Não é à toa que muita gente compara a trajetória de ambos. Sócrates quis fazer a vontade do Deus interior, que naquele momento lhe sussurrava para ficar.

Outra conclusão tira Sócrates da experiência com o escravo. Pois, se ele já sabia, embora não lembrasse, aquilo que nos revelou, e se ninguém jamais lho ensinara nessa vida, segue que "tanto durante o tempo em que ele for quanto durante o tempo em que ele não for um ser humano, deve haver nele opiniões verdadeiras que, sendo despertadas pelo questionamento, se tornam ciências (...)". Ora, o que nele é imortal, diz Sócrates, é o espírito, que nele habita e que, em operação conjunta com a mente, conduz sua alma. Assim como sua personalidade, já existia antes mesmo que ele houvesse nascido. São presentes dos céus.

Talvez tenhamos pecado aqui segundo as linhas de Lao-Tsé: "O excesso de conhecimento conduz ao esgotamento." Aos poucos nos aprimoramos.

terça-feira, julho 05, 2011

Comunismo, capitalismo, democracia e família

Contrapor o estado comunista a um estado capitalista não faz sentido. Comunismo e capitalismo não são espécies do mesmo gênero. O primeiro é um modelo político, o segundo tem menores pretensões, é um modelo econômico, aliás surgido naturalmente, nunca tendo sido planejado, como o primeiro necessariamente é.

O capitalismo costuma ser o modelo econômico de países democráticos. Enquanto tais, podem ser governados inclusive por partidos comunistas e socialistas que vençam as eleições, como de fato acontece.

A desagregação da família, um dos pontos da cartilha comunista, não foi adotada nos países democráticos pela "lógica intrínseca" do sistema capitalista. Pensar apenas em dinheiro -- e o capitalismo pode exasperar o desejo por dinheiro -- leva alguém a deixar de lado valores, como o da lealdade para com os seus. Mas ser um capitalista não significa pensar apenas em dinheiro, necessariamente. Pode-se ser capitalista e ter dedicação pelos familiares. Se o objetivo é acumular capital, preservar as famílias pode ser uma política muito boa, por sinal. Não o é, porém, se o objetivo for a dominação, que quer atomizar a sociedade, deixando a descoberto seus poderes intermediários, aqueles entre o estado e o indivíduo, como a família e a igreja.

sexta-feira, junho 24, 2011

Duas medidas para dois pesos

O Supremo Tribunal Federal ficou cheio de pruridos para, em face da Constituição Federal -- e de duvidosa interpretação que lhe fez --, extraditar o assassino Cesare Battisti. Por que não teve os mesmos melindres quando decretou a igualdade do casamento homossexual com o heterossexual, em afronta à letra mesma da Constituição?

quarta-feira, junho 22, 2011

Hospitas psiquiátricos soviéticos

por Félix Maier, retirado do artigo O Arquipélago Gulag e os dissidentes soviéticos.

"Utilizados na antiga União Soviética para internar intelectuais que criticavam o regime comunista, a exemplo do Instituto Serbsky. Em muitos julgamentos, o regime de Moscou declarava os réus de “irresponsáveis”, negando-lhes a permissão de estar presentes em seu próprio julgamento, para facilitar o envio dos dissidentes a clínicas psiquiátricas. “O castigo psiquiátrico era dado principalmente a transgressores do capcioso artigo 58 do código criminal, que lidava com atos ‘anti-soviéticos’: entre os internos companheiros de Yarkov estavam incluídos cristãos, trotskystas sobreviventes, opositores a Lissenko (9), escritores heterodoxos, pintores e músicos, letões, poloneses e outros nacionalistas. (...) Em 1959, o Pravda publicou a seguinte citação de Kruschev: ‘Um crime é um desvio dos padrões de comportamento geralmente reconhecidos, com freqüência causado por distúrbios mentais. (...) Aqueles que começam a exigir a oposição ao Comunismo... é claro que o estado mental de tais pessoas não é normal. (...) A primeira vez em que o Ocidente ficou inteirado da psiquiatria penal soviética foi em 1965, com a publicação de ‘Ward 7, de Valery Tarsis” (Paul Johnson, in Tempos Modernos, pg. 573-4) (10). Centenas de pessoas perfeitamente sadias foram libertadas de clínicas psiquiátricas depois das denúncias de Kruschev, em 1956. Os responsáveis, porém, não foram punidos, permaneceram nos cargos para mais tarde, com a reabilitação de Stálin, voltar a agir contra os dissidentes."

......

Triste, bastante triste.

segunda-feira, junho 20, 2011

Sobre o artigo O futuro que a Rússia nos promete, de Olavo de Carvalho

A "salvação pela destruição" consiste em matar mais de uma centena de milhões de pessoas porque assim se as está mandando "dessa para uma melhor", se as está ajudando portanto. O nazi-comunismo é bastante altruísta.

domingo, junho 12, 2011

Tragédia de Brasília

Com cabeça diferente do pai, Paulo Mendes postula a candidatura de deputado pelo PT. Hojé à noite ele e outros possíveis candidatos têm reunião com cacifes do partido.

Achille Lobo e Cesare Battisti levam vidas pacatas como editores da revista comunista Adital. Mas não se conformam em viver assim, querem ação, querem ver algo acontecer. O PT se lhes tornou acomodado, parece-lhes ter abandonado a luta revolucionária. Enxergam ainda tentativa de intelectuais do partido de fazer uma revisão histórica do partido, para adequá-lo à classe pequeno-burguesa da classe média ascendente. Estão dispostos a agir e recrutam jovens para formar uma organização revolucionária mais pura, crêem.

Cacifes do partido rearranjam o orçamento partidário. A revolução já era, o mundo é outro. As FARC estão dando de mais na vista, é hora de parecer mais moderado. Cancelam portanto o financiamento da revista Adital para inaugurar uma ONG voltada ao combate à discriminação de judeus. Achille Lobo e Cesare Battisti estão na rua.

Eles não deixarão por menos. Arquitetam um ataque com bomba à sede do partido, hoje à noite, apenas para assustar. Mas sai tudo errado. Os jovens executores colocaram nitroglicerina demais. O andar do prédio vai todo pelos ares. Há um incêndio, pessoas descem correndo.

O repórter anuncia: o ex-presidente Lula está morto! Também o governador Tarso Genro morreu, o país pára, estupefato. Entrementes os bombeiros trabalham para apaziguar o incêndio.

Sai lista provisória de vítimas: além de Lula e Tarso Genro, contam-se entre os mortos o deputado federal Tuca do PT, Pedro Garcia e João Carlos Barbosa, filhos dos ministros Marco Aurélio Garcia e Joaquim Barbosa, do STF, e Joaquim Pedrosa, servente do edifício. Aguarda-se confirmação dos nomes de outras pessoas que compareceriam ao evento.

Paulo Mendes esqueceu em casa sua ficha de preenchimento. Ele chega atrasado, cai de joelhos chorando. Está aliviado, irado, espavorido e agradecido.

sábado, junho 04, 2011

De novo Schuon

"Por outro lado, se o amor é a tendência de um ser em direção a outro com vistas à sua união, é o Conhecimento que, por definição, relizará a união mais perfeita entre o homem e Deus, porque apenas ela apela àquilo que, no homem, já é divino, ou seja, o Intelecto." (SCHUON, Frithjof. De L'Unité Transcendante des Religions, chapitre 2, 3, tradução minha)

Deus fala conosco através de pensamentos e não de sentimento, o que implica que devemos estar atentos ao que nos sussura nosso Ajustador do Pensamento. Em dois gráficos monumentais, Eduardo Altuzarra conseguiu representar-nos a mente humana. Afiado e afinado por uma técnica que se tenta desenvolver pessoalmente nas experiências da vida e da progressão eterna, o amor a Deus se manifesta pelo desejo, poder-se-ia dizer o desejo essencial que coordena os demais, de realizar a sua vontade. Transes místicos são uma fuga das realidades da vida, ao invés de uma comunhão verdadeira com o Pai, a qual o misticismo poucas vezes logra. Jesus jamais recorreu a essas técnicas.

Refletir em agradecimento é um método melhor de aproximação com o Pai.

quarta-feira, junho 01, 2011

Old Boy e o espírito, ou sua falta

Não há bondade no filme Old Boy. Oh Dae-su deixa seu cárcere privado depois de quinze anos e nada faz para ajudar um homem com intenções de se suicidar. Ele terá a chance de matar seu algoz Woo-jin, mas, porque perderia a chance de saber por que foi encarcerado, não o faz. A morte de seu amigo No Joo-hwan teria sido evitada se o fizesse.

Woo-jin é o psicopata que aprisiona Oh Dae-su. Ele matou sua esposa e supervisionou a criação de sua filha Mi-do. A ambos hipnotiza para que venham a se tornar, pai e filha, amantes. Seu plano asqueroso se realiza; é uma vingança por Dae-su haver fofocado que Woo-jin e sua irmã Lee Soo-ah, jovens da mesma escola em que estudara, haviam transado. Soo-ah se suicida, ocasião para que Woo-jin permita-se tornar-se um psicopata.

Tudo transcorrido, Dae-su apenas quer esquecer o que aconteceu e recorre à mesma hipnose que o castigou.

Essas histórias de manipulação em grau extremo me fazem lembrar de Viktor Frankl, o psiquiatra que viveu num campo de concentração nazista, perdeu esposa, pais, irmão e amigos, mas saiu dali para amar os homens. Existe espírito para além dos "desejos repugnantes à moral que nos foram impostos pela natureza" (Freud).

domingo, maio 29, 2011

Ateísmo não existe. As pessoas acham que são atéias porque não acreditam na representação de Deus que lhes foi introjetada. Ou se revoltam contra as dificuldades que a crença no Ser Supremo pode trazer, uma vez que o crescimento pessoal do fiel não se faz sem uma luta. Nos casos extremos, de revolucionários socialistas rebelados contra a autoridade divina, e de praticantes de satanismo, não se trata de uma descrença na existência de Deus, mas numa descrença em sua pessoa, da mesma forma que alguém pode desconfiar de outra pessoa.

O maior conceito que o homem já concebeu para a realidade divina foi o de um Pai, como tal amoroso para com seus filhos. Mas trata-se, ainda assim, de uma representação, adequada apenas ao relacionamento que o homem pode travar com Deus. Por exemplo, para um anjo, falar que Deus é Pai, não fará muito sentido, porque ele não teve um progenitor. A imagem de um pai ele só a pode entrever colocando-se no lugar de outros seres, o que não é o mesmo que vivenciá-la. Deus é muito mais que qualquer representação que dele possamos fazer, é aquela realidade melhor que sabemos que existe.

O que não implica, porém, que as representações para nada sirvam. Os mitos sempre abrirão à mente humana uma gama de possibilidades vivenciais que o mero reconhecimento, por assim dizer, metafísico, pode esterilizar. A boa filosofia, sabia-o Platão e melhor ainda Lao-Tsé, transita pelas intuições lógicas e pelas phantasias.
Não só parecem ficar mais ligados afetivamente ao genitor do outro sexo, como por temperamento tendem a ser mais parecidos com ele os filhos.
Freud disse que os meninos tendem a se apegar mais às mães e as meninas mais aos pais, e de fato parece ser assim. Mas quando tinha dezoito, vinte anos, eu era mais ligado a meu pai. Uma médica chegou a comentar que seu filho também agia assim. Por que isso se passa?

sábado, maio 28, 2011

Que é o riso?

Riso é o extravasamento de um desconforto surgido da percepção de uma imperfeição.

quinta-feira, maio 26, 2011

"Parece real"

Assistindo a essa cena do filme O júri, em referência a Gene Hackman, meu pai me disse: "Parece real."

O governo israelense é relutante em devolver terras que conquistou na Guerra dos Seis Dias, quando foi atacado em operação conjunta de países muçulmanos. Mas já devolveu a Península do Sinai, para o Egito, em troca de um acordo de paz, e a Faixa de Gaza aos palestinos. Em discurso ao Congresso americano, o premiê israelense Netanyahu disse estar disposto a fazer "concessões dolorosas". Mesmo assim, um negociador palestino qualificou seu discurso como uma "declaração de guerra". Falta maturidade ao negociador.

Como faltou coragem a Yasser Arafat em 2000, quando não assinou o acordo de Camp David. Não o fez porque sabia que seria assassinado em seguida. Mas seria um grande homem; morreu do mesmo jeito, como qualquer ser humano, mas sem ser grande, ao contrário.

sexta-feira, maio 20, 2011

Feliz aniversário!

Este blógue está completando cinco anos de vida. Parabéns!


quinta-feira, maio 19, 2011

"Demasiado belo para não ser verdade"

Estrutura do DNA


"Que a filosofia não ouse projetar as suas interpretações da realidade à moda linear da lógica; é preciso que ela tenha sempre em conta a simetria elíptica da realidade e a curvatura essencial entre todos os conceitos." (Livro de Urântia, doc. 103, 6, p. 1137)

terça-feira, maio 17, 2011

Desculpem, mas Schuon erra de novo ao dizer que a filosofia se esgota no que ela exprime.* Não, a filosofia é uma técnica de acesso e participação possível na realidade completa, não o discurso dessa participação. A lógica, isto é, o instrumento da filosofia, consiste na "progressão sintética da busca da verdade na unidade da fé e da razão e é baseada nas dotações de mente inerentes aos seres mortais, o reconhecimento inato de coisas, significados e valores." (Livro de Urântia) Ela não precisa provar, o que compete à ciência e seu instrumento, a razão, ela quer reconhecer. A expressão de suas descobertas pode, talvez deva, ficar sempre aquém das mesmas. Já Gödel mostrou que qualquer sistema lógico fechado não se explica a si mesmo. Pois a lógica de uma filosofia saudável reconhece esta verdade, abrindo-se aos domínios da fé, que lhe recebe generosa, e subindo e descendo pela "simetria elíptica da realidade e a curvatura essencial da relação entre todos os conceitos." (Livro de Urântia)

Essa subida e descida desde o pináculo do Um pela multiplicidade a que Ele dá início e quer totalizar em Supremacia, não precisa necessariamente ser feita simbolicamente. A revelação está aí para quem quiser ler. A dialética simbólico-analógica apenas a reconhecerá, adequando a seu mundo imaginal aquilo que já nos foi revelado objetivamente.

......

*Conferir SCHUON, De l'unité transcendante des religions, préface.

Talibães, go home!

"Procuram enganar a Allah e aos que crêem, mas não enganam senão a si mesmos e não percebem." (Corão, sura 2, 9)

O partido talibã do Paquistão promoveu uma passeata contra a operação americana que matou Bin Laden. Chegaram a falar em infração à sua soberania. Ora, se você quer ser tratado como um gentleman, aja como um, abrigar terroristas não condiz com sua pretensão.

Se uma moça é seqüestrada, o pai não vai deixar de entrar na casa do seqüestrador porque ele tem direito a propriedade. Não, ele vai entrar em sua casa e resgatá-la. Igualmente, a polícia não vai dizer: "Ô de casa", ao entrar na casa do traficante de drogas. Assim, os EUA entram em território paquistanês e capturam Bin Laden.

Não venham com essa de falar em soberania. Vocês, talibães, usam conceitos de respeito entre as nações que os ocidentais criaram; mas não titubeariam um minuto antes de atroplear a soberania alheia se tivessem a força suficiente. O Islam tem várias qualidades, mas uma delas não é seu militarismo. Praticam, assim, a guerra assimétrica, valendo-se dos parâmetros morais adversários para desarticulá-lo. Para os ocidentais e muçulmanos de bem, vale o conselho do Mestre: "Sejam sagazes com as serpentes e simples como as pombas."

sábado, maio 14, 2011

Frithjof Schuon e o Livro de Urântia

"O fiel tem percepção intuitiva e inteligência." (Guru Granth Sahib)

A filosofia é uma técnica para resolução, até os seus princípios, de questões que a vida nos coloca, de modo a descobrir os significados em nossa experiência dos valores. Ela procura unificar nossa experiência de modo a chegarmos a uma visão da realidade completa. Para isso, devemos nos tornar capazes de refazer pessoalmente os caminhos das questões que a própria vida nos coloca, indagando-lhes as origens em nossa experiência, procurando estudar o que outros disseram a seu respeito, e relacionando-as com a visão de realidade completa que temos, seja para confirmar o lugar que já lhes era imaginado, seja ajustando o quadro geral para que se responsabilize por elas também.

Metafísica é o conhecimento daquilo que a natureza física, não se bastando a si mesma para explicar-se, indica que haja. É o conhecimento dos princípios que coordenam as experiências humanas material e espiritual, interna e externa. Como a alma, que não ocupa espaço, pode estar no corpo? Essa é uma questão que a metafísica, sucedânea da mota, tentou responder. A alma não está no corpo propriamente. Descartes errou ao dizer que ela está na glândula pineal. Ela se relaciona à mente material e ao espírito.

"A mota é uma sensibilidade à realidade supramaterial que está começando a compensar o crescimento que não se completou, tendo por substância o conhecimento-razão e por essência o discernimento clarividente da fé. A mota é uma reconciliação suprafilosófica das percepções divergentes da realidade que não é alcançável pelas personalidades materiais; ela é baseada, em parte, na experiência de haver sobrevivido à vida material na carne." (LIVRO DE URÂNTIA, doc. 103, 6, p. 1136)

"A metafísica", diz o Livro de Urântia, "mas muito mais seguramente a revelação, proporciona um terreno comum de confluência para as descobertas tanto da ciência quanto da religião, e torna possível a tentativa humana de correlacionar logicamente esses domínios separados, porém, interdependentes, do pensamento, em uma filosofia bem equilibrada de estabilidade científica e de certeza religiosa." (LIVRO DE URÂNTIA, doc. 103, 7, p. 1139)

A revelação não é parcial, mas se subordina à capacidade que o fiel tem de recebê-la. Achar que a metafísica é uma via de acesso a Deus melhor do que a revelação é um erro. Se as religiões que surgem da revelação misturam-se, depois, com crendices e doutrinas duvidosas, cumpre à filosofia ajudá-las a evoluir, afastando do trigo o joio, aos poucos, se preciso, para não causar escândalo -- como fez Moisés, ao falar, embora muito incomodado, de um Deus iroso, ao invés do Deus que ele sabia ser amigo, porque os hebreus não o aceitariam -- e coordenando-a com as descobertas científicas.

"A metafísica tem-se revelado como sendo um fracasso; a mota, o homem não a pode perceber. A revelação é a única técnica que pode, em um mundo material, compensar pela ausência da verdadeira sensibilidade da mota. A revelação esclarece, com toda a autoridade, a desordem da metafísica desenvolvida pela razão em uma esfera evolucionária." (LIVRO DE URÂNTIA, doc. 103, 6, p. 1136)

O que Schuon, inspirado em Mestre Eckhart, chama de Inteligência, nas palavras desse "algo que na alma é incriado e incriável" (SCHUON, De l'Unité Transcendante des Religions, préface) é o Ajustador do Pensamento, o fragmento do Pai que em cada um de nós trabalha assoprando-nos a vontade do Pai Universal.

Schuon parece acreditar que essa Inteligência seja um princípio divino a ser compartilhado pelas criaturas que consigam e queiram acessá-lo. Os eus intelectuais têm sua origem na mente cósmica, a qual é a fonte dos potencias intelecto-espirituais que se especializam nas mentes humanas. Ela explica a afinidade entre várias mentes humanas. Nossa mente é um intelecto emprestado, a ser usado em nossa vida material. Nela se escolhe cumprir ou não a vontade do Pai.

Mas o Ajustador do Pensamento não é comum a vários homens. Cada homem é dotado com o seu no decorrer dos seus cinco anos de vida, uma vez que haja tomado sua primeira decisão moral.

Parece então que as mentes humanas compartilham da mente cósmica, ao passo que o Ajustador é uma graça personalíssima do Pai, embora, claro, aja sempre com o mesmo propósito, qual seja o de elevar a mente humana à adoração e agradecimento ao Pai, dispondo-se a fazer sua vontade.

Pelo trabalho de ambos, se apenas aspirar a ser como o Pai, o ser humano pode tomar posse da promessa de sobrevivência eterna.

Schuon está certo ao dizer que nesta vida muitos fiéis não conseguirão se comunicar, por pensamentos, com seu Ajustador, em processo que o Livro de Urântia chama de auto-revelação, e que acontece pari passu com as revelações epocais, como as de Jesus de Nazaré ou de Melquisedeque, ou as que têm a participação de outros agentes celestes para dar voz ao profeta. Mas podem os fiéis, não obstante, sobreviver, porque mais importante que estar consciente do Pai é querê-lo estar. "Sede perfeitos como o Pai é perfeito".

O homem não precisa ser especificamente diferente do fiel para ter uma visão mais clara do divino. Cumpre-lhe, ao revés, extremar sua relação com o Pai do céu, seguindo suas aptidões e dons natos.

sexta-feira, maio 06, 2011

O que é um milagre? -- II

Para toda filosofia sã o milagre ou fato extraordinário não é aquilo contrário ao curso ordinário de forças e leis do mundo, mas aquilo que é o efeito de uma causa situada para além da observação, do conhecido. O que constitui o milagre não é a impossibilidade de explicá-lo (porque a inteligência não explica melhor o curso normal das coisas, ela o reconhece), é sua estranheza, é a contradição em que se encontra face à experiência comum. Ou, esta espécie de milagre, não apenas a metafísica a admite a priori, uma vez que admite que todas as causas são veladas; mas ela a admite ainda a posteriori, uma vez que a isto é forçada todas as vezes que a observação a constata. E o número desses milagres é infinito; o mundo está cheio deles. O progresso, longe de diminuir os fatos cujas causas restam por conhecer, tende a aumentá-los sem parar. Se ele faz desaparecer alguns, cada dia, esclarecendo em seus detalhes o horizonte já um pouco descoberto, faz nascer também outros, cada dia; e é sua glória, porque ele o faz elevando-se a novas alturas, e descobrindo sem parar horizontes mais vastos. A razão é sempre a velha máxima escolástica: naturalia praesumuntur, non praeternaturalia, seu supernaturalia. Não está errada, porque em toda natureza há apenas o natural; mas a natureza não lhe é de todo revelada, e procurando pelo natural ela toca sem cessar no desconhecido, no sobrenatural. A metafísica é precisamente a ciência daquilo que está acima do dado, do conhecido, do observado; a ciência do que se deduz racionalmente do observado, do conhecido e do dado, scientia rerum supernaturalium e naturalibus inductarum. Ou, se é algo que ela induz com confiança, é porque abaixo e por baixo nada se explica realmente; pois o milagre, o sobrenatural, está por toda a parte; pois só há uma causa dando razão a tudo, a maior e mais misteriosa de todas, Deus; pois procurar Nele a causa ou as causas, é procurar onde Ele esteja; de modo que entre sua intervenção ordinária e sua intervenção extraordinária, no âmbito do que aconteça segundo Sua vontade, qualquer linha de demarcação será um traço arbitrário. (Mattar, Jacques. Philosophie de religion, tome 1, pp. 448-450, tradução minha)

segunda-feira, maio 02, 2011

sábado, abril 23, 2011

Fundação Ford na faculdade de direito da UERJ

"(Esta situação) envolve a organização de fortunas livres de tributos de financistas internacionais em fundações que serão usadas com objetivos educacionais, científicos, "e outros de interesse público." Há sessenta anos ou mais, a vida pública no Ocidente foi dominada pela influência de "Wall Street". Este termo nada tem que ver com o uso que os comunistas lhe impingem, de um industrialismo monopolista, mas, ao contrário, refere-se ao capitalismo financeiro internacional envolvido até o pescoço no padrão ouro, flutuações cambiais, flutuações de apólices com juros fixos e, em menor extensão, flutuação de ações da indústria nos mercados de ações. Este grupo, que nos Estados Unidos foi de todo dominado por J. P. Morgan e sua corporação dos anos 1880 até os 1930 era cosmopolita, anglófilo, internacionalista, pró-Ivy League*, tinha base de ação na costa leste, anglo-católico, e formado na cultura européia. Sua conexão com as universidades da Ivy League baseava-se no fato de que grandes doações a essas instituições deviam ser precedidas de uma consulta constante aos financistas de Wall Street (ou suas ramificações em State Street, Boston, e outros lugares) e se refletiu no fato de que essas doações, ainda em 1930, eram em bônus ao invés de bens imobiliários ou ações ordinárias. Como conseqüência dessas influências, até os anos 1930, J. P. Morgan e seus associados eram as figuras mais significativas nas diretrizes políticas de Harvard, Columbia, e, em menor extensão, Yale, enquanto os Whitneys eram significativos em Yale, e a Prudential Insurance Company (através de Edward D. Duffield) dominava Princeton." (QUIGLEY, Carroll. Tragedy and Hope, chapter 65. Tradução minha)

*Ivy League é o nome que se dá ao grupo de oito universidades de maior prestígio na costa leste dos Estados Unidos.

......

Alguns anos mais tarde, a influência das fundações se faria sentir também no resto do mundo.

Não deve surpreender, portanto, que no contexto da Aliança para o Progresso, nos anos 60, o Centro de Estudos e Pesquisas no Ensino de Direito (CEPED), ligado a faculdade de direito da UERJ, tenha recebido apoio da Agência de Desenvolvimento Internacional do governo dos EUA (USAID) e da Fundação Ford -- confira aqui, na seção História.

Assim se ajuda a explicar a ascendência do pensamento politicamente correto, ao modo do liberalismo norte-americano praticado nas universidades da Ivy League e apoiado pelas fundações bilionárias, sobretudo pela Ford, naquela instituição e, de resto, mundo afora.

sexta-feira, abril 15, 2011

Petização oca

Deve ocorrer com o PT -- se é que já não está ocorrendo -- um fenômeno peculiar que sucedeu ao partido fascista italiano. Como ele era o único partido do país, e porque se filiar a um partido pode aumentar suas oportunidades de emprego e negócios, pessoas que não eram fascistas ingressavam em suas fileiras, até o ponto em que havia mais indiferentes do que fascistas propriamente ditos no partido.

No Brasil, para fazer negócios com instituições estatais controladas por petistas, as quais já somam um número enorme, com freqüência é pedido carteirinha do partido. Se você não tem, não vai conseguir o contrato.

Bom, eu e nem você, leitor, quer ficar de fora dessa boquinha. Então filiar-se ao partido dos trabalhadores pode ser um bom negócio.

A petização do Brasil é evidenciada pela quantidade de bandeiras do Brasil que havia na posse de Dilma, muito baixa em comparação com o número de bandeiras do partido.

Na despedida de José Sarney da presidência, por exemplo, viram-se muitas bandeiras verde-amarelas. Elas andam em falta em Brasília!

quarta-feira, abril 13, 2011

Outro plebiscito?

Esse pessoal do desarmamento não sossega.

Rodrigo Pimentel, você é inteligente o bastante para achar que o desarmamento evitaria a tragédia de Realengo. O assassino adquiriu sua arma ilegalmente.

No vídeo abaixo, Alexandre Garcia comenta sobre um novo plebiscito no fim do ano.


terça-feira, abril 05, 2011

Amor aos fatos

A novela Amor e Revolução, do SBT, sobre o regime militar, e que estréia hoje, não começa bem. Ela mostrará um deputado que é preso -- até aí, tudo bem, realmente políticos eleitos sofreram perseguição e foram presos -- e torturado. Contra a dor física da tortura, o deputado inflaciona o ego: "Eu sou a voz do povo".

Não se sabe, porém, de nenhum deputado torturado durante o regime militar. Se algum foi, não contou. Eles foram obrigados, pelas circunstâncias, a se exilar, ou foram presos, mas nenhum foi torturado.


Qualquer novela que fale sobre o regime militar tem a obrigação de fazer uma pesquisa histórica acurada do período. Toda a verossimilhança da trama deve ser construída com base nos fatos, não o contrário.


Pode parecer bobagem, afinal, "é só uma novela". Acontece que o imaginário de um país sempre influencia sua política; e o passado militar brasileiro já é delicado o bastante para ser tratado de maneira leviana.

terça-feira, março 29, 2011

Saudade é a falta que nos faz algo bom. Pode ser um sorvete de doce de leite que costumávamos comer quando éramos crianças, um passeio pelo parque com alguém, ou uma pessoa, pelos momentos junto a ela de que nos lembramos com gosto.

segunda-feira, março 28, 2011

Conversando com colegas outro dia, tocamos no assunto pesquisa em plantas medicinais na Amazônia. Disseram que o governo precisava criar incentivos fiscais.

Se o governo cria incentivos, é o político quem está escolhendo qual será a atividade produtiva. Mas essa é uma tarefa do empresário, ele deve decidir que atividades desenvolver, não o político. Incentivo fiscal, se houver, deve vir a reboque da atividade empresarial, conseguido por lobbys dos empresários da área, não à sua frente.

domingo, março 20, 2011

É de se lamentar -- para não dizer que é uma vergonha -- que estudiosos de René Guénon não estudem o Livro de Urântia.

Jovem leitor do Livro, leia-o de trás para frente, comece pela parte IV -- ou pela parte III, se preferir --, até chegar à parte I. Consulte a introdução com freqüência para tirar dúvidas sobre conceitos.

Entre também em um grupo de discussão (veja o ELUB), para conhecer -- e quiçá depois compartilhar -- as experiências de colegas urantianos; e para tirar dúvidas, conforme você lê. Procure também um grupo de leitura.

Confie em seu amigo interior, o Ajustador do Pensamento, e converse com ele.

......

Atualização de 22/08/2011. Ler o livro de trás para frente foi como eu fiz, mas vários colegas percorreram o caminho habitual. Não vá por mim, faça como melhor se sinta.

segunda-feira, março 14, 2011

O refrigerante faz seu show particular, explodindo em fogos de artifícios. O garoto toma-o de um só gole. Sua barriga cresce, cresce, cresce, até arrotá-lo com gosto e alívio.

segunda-feira, fevereiro 28, 2011


"Les épines, ça ne sert à rien, c'est de la pure méchanceté de la part des fleurs!"

O piloto estava errado ao dizê-lo e o pequeno príncipe o corrigiu. As flores, na verdade, tinham espinhos para se defender.

Num país distante da Terra, também as flores têm espinhos. Elas são criadas pelas pessoas para defendê-las de vizinhos hostis, jamais para atacá-los. Estão de prontidão para qualquer eventualidade, e em dias de paz se comportam como damas da sociedade, servindo buquês às namoradas ou dando pólen a beija-flores. Sua estripulia é causar espirro às formigas.

Defendem a civilização construída por ratos-estadistas, elefantes-filósofos, pumas-poetas e cientistas sabugosos. E, de quebra, aspergem o ar com suas doces essências.

sexta-feira, fevereiro 25, 2011

No livro A Educacão da Vontade, Jules Payot diz que "toda percepção, mesmo a elementar, é uma interpretação de determinados signos. Eu não vejo uma laranja;", diz ele, "apena julgo por determinados signos que deva ser uma laranja. Mas com o hábito, esta interpretação se torna instantânea e automática e, por conseguinte, não é facilmente atrapalhada."
No entanto, não é assim. A forma se nos apresenta para que a conheçamos. Mas como então chegamos a confundir uma laranja com uma tangerina? A forma da laranja, sua estrutura interna, não chegou a se nos apresentar, fomos informados apenas por certos signos seus, sobretudo por sua cor, os quais, muito parecidos com os da tangerina, não foram suficientes para distinguí-la.
Os signos que a forma disponibiliza podem com razoável grau de certeza indicá-la, mas ela, a forma, pode também vir a ser conhecida, desde que tenhamos, nós e a coisa, chegado a uma relação proporcionada em que ela consegue se nos mostrar e nós podemos e queremos percebê-la. Há uma diferença de fundamento, e não de mero grau, entre os signos que uma coisa disponibiliza e sua forma, aqueles se podem perceber na agitação útil do mundo, mas essa exige-nos solene respeito.
Ademais, o hábito de reconhecer algo por seus signos só pode acontecer porque já se conheceu uma vez sua forma.
O livro de Jules Payot, entretanto, tem sido muito bom. Já me ensinou como direcionar a atenção, não a deixando ao léu das dispersões pelos menores interesses.

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

É desligar o carro
e ver-me no silêncio da noite;

antes me fazia companhia
o motor.

Creiam-me! A noite me queria engolir
e o motor me foi fiel.

De resto, a fumaça do cigarro esvanece o breu,
ela contrariada, eu temeroso,
mas logo, conciliados, somos dois: na noite eu.

sábado, fevereiro 12, 2011

Quando o autor disser: "Os fatores econômicos determinam (...)", deixa passar, porque no mais o livro é bom, ou venda-o. Se precisar lê-lo, é porque ele é um fator econômico na sua vida.

sexta-feira, fevereiro 04, 2011

Cabelo cheio, dia para ir ao barbeiro,
recortam as medeixas tesoira e canivete
e eu a relaxar enquanto passa a charrete
lá fora. Pudesse cochilar, fá-lo-ia..
Pronto, toalha sacudida, espelho à nuca,
tome, pro café. Lembranças à dona Lia!

Agora um banho e depois namorar pela Urca.

Lá ra lá ra lá, mas se não tenho dinheiro?

Lá ra lá ra lá.

domingo, janeiro 16, 2011

Assalto na padaria da esquina,
a viatura sai em disparada!
Enquanto patrulha o local, a dupla
de tiras, no balcão, é agraciada:
servem-lhes café e pão com margarina.

quinta-feira, janeiro 06, 2011

Achava que tinha escrito algo de genial,
mas lhe falta a clareza de quem fala a um igual,
com intimidade e leveza.
Conversation Galante

by T. S. Eliot

I OBSERVE: “Our sentimental friend the moon!
Or possibly (fantastic, I confess)
It may be Prester John’s balloon
Or an old battered lantern hung aloft
To light poor travellers to their distress.”
She then: “How you digress!”

And I then: “Someone frames upon the keys
That exquisite nocturne, with which we explain
The night and moonshine; music which we seize
To body forth our own vacuity.”
She then: “Does this refer to me?”
“Oh no, it is I who am inane.”

“You, madam, are the eternal humorist,
The eternal enemy of the absolute,
Giving our vagrant moods the slightest twist!
With your air indifferent and imperious
At a stroke our mad poetics to confute—”
And—“Are we then so serious?”

......

The poet pictures a man who talks about moon, stars, those useless things which have nonetheless poetical appealings.

But the lady with whom he talks discredits his poetical images and divagations.

In the second stanza, he is already upset with her and drop a hint saying there is music which exists to fill "our own vacuity". She feigns attention to the hint, then he gets more and more impatience until in the third stanza he explicitly says she trivializes all, "You, madam, are the eternal humorist,/ The eternal enemy of the absolute," but she minimizes the talking: "Are we then so serious?"

quarta-feira, janeiro 05, 2011

Em geral tinha o corpo e o espírito moles, não indolentes, mas lassos, sempre com um sorriso a agradar e vaidoso de uma vida à parte em que seria um bon-vivant, a tocar seu violão e derreter corações, mas às vezes assumia um espírito de resistência, como se a outra pessoa -- em especial se um ente querido, porque mais próximo -- existisse para lhe interferir, e, quando pego de surpresa, um mero olhar seu era como uma patada, um olhar do qual se queria esconder, como do de Medusa, e responderia denodado e hostil -- porque desviada sua atenção -- a uma chamada inopinada.

domingo, janeiro 02, 2011

Fui ao turfe e escolhi belo alazão,
não contei que venceria o azarão,

na saída comprei um algodão-doce,
e ofereci-o a minha namorada,

estava ditoso, apesar do coice.