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quinta-feira, março 12, 2015

O Corão à luz do Livro de Urântia

Jesus, o Filho do Homem, foi o último profeta de Israel porque o sinédrio judaico o rejeitou, não porque ele seria a coroação da longa lista de profetas. Já havia rejeitado outros, é certo, mas o Filho do Homem, e da maneira que foi, descredenciava a nação a segurar a tocha da profecia em Urântia.

Digo isso porque muita gente não entende o que é que Maomé foi fazer, por que é que foi entrar na história e fundar uma religião, uma vez que Jesus já tinha aparecido e concluído sua missão.

Essa uma questão que pessoas relutantes a acreditarem na possibilidade do Livro de Urântia ser uma revelação também levantam.

Jesus veio e concluiu sua missão, mas isso não significa que nenhuma outra revelação vai acontecer. Vai e ainda serão várias.

Quer dizer então que o Corão é uma revelação? Se não for, como pode o profeta iletrado ter dito aquelas coisas todas?

O Corão se insere e confirma a mitologia profética judaica, criada por escribas no séc. VI antes de Cristo de uma história sagrada de seu povo, a qual, já vimos, não é histórica, não aconteceu realmente. Israel não tinha doze tribos, por exemplo, algo que o Corão reafirma.

Mas então todo o livro é algo saído da mente de Maomé, não uma inspiração profética? Será que sua mente estava em erro, da mesma maneira que mentes em transe que pretendem dizer coisas profundas também estão?

Não.

Ele é tanto uma revelação como a Bíblia o é, com a diferença de que o discurso dos profetas judaicos não foi copiado quase que ipsis litteris, como o de Maomé.

O discurso dos profetas judaicos passou pela mediação dos escribas.

Não se pode alegar que o discurso de Maomé foi alterado, desvirtuado pelos escribas, o que está no Corão foi o que ele disse mesmo.

Então, se Maomé não é um falso profeta, realmente não acredito nisso, nem sua mente está em erro ("Não refletem no fato de que seu companheiro não padece de demência alguma? Que não é mais do que um elucidativo admoestador"?), me surgiram essas linhas de investigação:

Me ocorreu antes que Maomé poderia ter revelado tudo o que escutou, mas segundo o que foi capaz de lembrar, da mesma maneira que o pastor a quem foi sussurrado o salmo 23; isso explica desvirtuamentos menores, que pouco ou nada comprometem o sentido do discurso.

Mas não explicaria a história que contou dos patriarcas, a qual é a versão dos escribas judaicos, não a que realmente aconteceu. Não se trata de desvirtuamentos menores, trata-se de outro discurso.

Poderia ser que Maomé tenha revelado a seu povo aquilo que eles tinham condição de ouvir, de receber, da mesma maneira que fizera antes Moisés, guardando para si aquilo que ele sabia que eles não eram capazes de receber. Se assim fosse, o Corão não é a expressão cuspe e giz de revelações proféticas, ele é a reelaboração de Maomé daquilo que ficou sabendo.

Essa explicação é ótima, mas vai de encontro à tradição islâmica que diz que Maomé repetiu ipsis litteris as revelações.

Mas pode ser que Gabriel mesmo tenha confirmado o mito da história de Abraão e Moisés. Não é o LU que nos diz que as teorias sobre o cosmos que nos revelou deverão num prazo que eles chamam de curto ser reelaboradas em face de novas descobertas? 

Os próprios reveladores do LU nos dizem que nos revelaram o que estávamos prontos a saber naquele momento e que nosso conhecimento deverá ser expandido sob um novo quadro de referência depois de algum tempo. Pode ser que Gabriel mesmo tenha feito o papel de Moisés, narrando a história do mundo de um modo que os povos arábicos pudessem reconhecê-la e aceitá-la naquele momento, um modo que depois precisaria ser revisto. A diferença é que a advertência dos reveladores de Urântia diz respeito a uma teoria sobre o cosmos, não sobre eventos históricos. A diferença, claro, é que eles nos advertiram.

Mas nem toda revelação corânica acontece com uma pessoa, Gabriel, dizendo a Maomé algo que ele deveria repetir, como num telefone sem fio. Não. Wahy podia acontecer-lhe a partir dessa experiência que ele metaforiza como o dobrar do sino ou mesmo confiada diretamente a seu coração. (Introdução, Maariful Quran)

Ora, em sendo assim, a revelação deveria acontecer ao superconsciente de Maomé. Sua mente então poderia interpretá-la dentro do contexto de tradições judaicas subconscientizadas. Fiel e sinceramente.

Como o Ajustador do Pensamento falando para ouvindo moucos como os nossos.

O Corão nunca se autorizou como o verbo de Allah, ele autoriza Jesus como o verbo de Allah; o Corão se autoriza como Livro de Allah, da mesma maneira que autoriza o Pentateuco como Livro de Allah.

Essa explicação tem conseqüências profundas para o Islam. Significa que ele pode e deve evoluir.

A tradição de considerar todo o Corão como a palavra do arcanjo Gabriel meramente repetida por seu mensageiro Maomé foi estabelecida pelo próprio Maomé?

Estudar as origens do Corão me fez querer estudar mais as origens do próprio LU.

Todo mundo sabe sobre o sujeito adormecido, que o casal de doutores William e Lena Sadler foi visitar no andar de baixo de seu apartamento provisório em Chicago tão logo sua esposa bateu em sua porta pedindo avaliação médica para o estranho estado de seu marido enquanto dormia.

Quem era o sujeito adormecido, ninguém sabe. Seria bom investigar os moradores dos andares de baixo dos prédios em que moraram o casal Sadler entre 1906 e 1911.

O sujeito adormecido é o mesmo que a personalidade de contato?

No excelente livro "Dr. Sadler and the Urantia Book", Sioux Oliva argumenta que William Sadler era o sujeito adormecido.

A hipótese é plausível, mas implica que Sadler tenha mentido sobre a origem do LU, algo em que não acredito. Mas também é difícil de acreditar que nenhum membro do Fórum não tenha xeretado os encontros da Comissão de Contato para descobrir quem era seu sétimo membro, o sujeito adormecido. Será então que o contato através do sujeito adormecido se deu até o início das revelações dos documentos em 1924, quando então Sadler passou a ser a personalidade de contato? Isso manteria a palavra de Sadler, de ter visitado em 1911 o sujeito adormecido, depois de ser acordado no meio da noite por sua preocupada esposa.

Curioso notar que os estudiosos que procuraram padrões de escrita em documentos do LU para identificar seu autor humano, não fizeram o mesmo para confirmar se dois documentos assinalados ao mesmo autor celeste foram realmente escritos pela mesma pessoa. O método científico vai às cucuias. 

Tanto no Corão quanto no Livro de Urântia parece ter sido necessária a intermediação de um ser humano para a elaboração do livro. Se a materialização dos documentos de Urântia não precisou de uma mão humana para escrevê-los (Bill Sadler, filho do casal William e Lena, acreditava que se fosse possível ver a materialização dos documentos, ver-se-ia um lápis escrevendo sozinho no papel), as criaturas intermediárias responsáveis diretas pela revelação realmente usaram um ser humano em seu projeto. A pergunta que fica é: Esse ser humano serviu apenas de contato das personalidades celestes com as humanas ou de alguma maneira sua mente foi usada para que conceitos fossem vertidos para a compreensão humana?

O LU não está ligado diretamente a um homem, não existe um profeta, um guru. A mente humana tem um papel mínimo na revelação do LU, algo que nem na revelação de Jesus de Nazaré ocorreu. Quem quer que haja sido o sujeito adormecido, ele não foi um profeta, a não ser que atribuamos a William Sadler ou à Comissão de Contato a autoria do livro, o que eles negam peremptoriamente.


Adendo: A maneira com o que o profeta fica sabendo as coisas que sabe é intrigante. A própria vida de Jesus, não esqueçamos que Jesus não nasceu sabendo quem era; Jesus ouviu claramente alguém lhe dizendo: "Sua hora chegou", quando ia a Jerusalém aos doze anos. Ou João Batista. De que maneira ele soube que devia preparar o caminho para o Libertador, que inclusive era seu primo? Quem lhe disse? Como ficou sabendo o que fazer e o que dizer? Será que disse bem (o que lhe foi dado dizer)?

sábado, maio 25, 2013

sexta-feira, abril 19, 2013

Autores mortos e perfeição

Não me parece a melhor maneira de estudar um autor, ou o assunto que ele propõe, considerando-o "morto". Salvo se ele for repressivo, intimidativo, então matá-lo é  uma defesa compreensível, sente-se mais livre para trabalhar em cima do que ele disse sem querer adaptar-se a seu pensamento. Mas sua vozinha poderá vir puxar a perna do inconsciente à noite, "olha, eu não penso isso, você está achando errado", bom mesmo é considerá-lo vivo, mesmo que seja para brigar ou manter-lhe distância, melhor se for alguém livre e disposto a ver novas possibilidades, com quem conversar, saber o que vai achar, isso tudo tem que ser imaginado a partir do que registrou, intuir-se o que ele acharia, trocar idéias com ele. Não que seja preciso concordar com ele, crescer com ele é que é bom. Sócrates nunca escreveu nada, mas os homens vêm dialogando consigo há mais de dois milênios. Sócrates é uma inspiração de busca da sabedoria, é um autor vivíssimo por causa disso, não fechou num sistema autoritário, ou você está comigo ou contra mim, seu pensamento, ao contrário, deu o impulso inicial, incentivou outros a que praticassem o que fazia, a busca de sabedoria. Enquanto busca, a sabedoria não pode ser capturada. Nem os valores, aliás, que são ideais. Eles são infinitos, nunca se os realiza por completo, daí porque o Livro de Urântia fala em perfeição de propósitos, ou seja, perfeição da busca e do quê buscar, do ato mesmo de querer os valores. A perfeição não seria portanto um estado. Seria uma busca eterna, não uma busca à toa, de algo que nunca se vai achar, mas algo que se revela sempre mais, o lado claro da lua anunciando que o escuro também está lá. Essa busca tem uma peculiaridade: Quanto mais se descobriu, mais se sabe que há algo por descobrir, os lados claro e escuro avançando concomitantemente.

domingo, maio 20, 2012

Colegas, compartilho com vocês aqui mensagem de Wagner M. Andrade (apresentando texto de Douglas Campos Frazão) no fórum do ELUB, acrônimo para estudantes do Livro de Urântia no Brasil. Ela fala sobre os fracassos e como eles podem ajustar e afinar nossa percepção da realidade, e utiliza um exemplo marcante de vida. Foi embasada nos discursos de Rodam de Alexandria, filósofo da escola que daria um Clemente no século seguinte. Bom, enjoy.

......

Coloco aqui pra vocês, uma daquelas pérolas que guardo com muito carinho dos nossos companheiros de jornada.  É um estudo feito pelo Douglas Campos Frasão. Ele postou no facebook uns 20 dias atrás, salvei e consegui ler somente agora, depois entro lá e dou um "curtir" rsrsrs. Ele colocou um pouco de sua alma neste texto, talvez seja por isso que me tocou também na alma. Então vamos a mensagem:

“Deixe-me compartilhar com vocês a história da vida de alguém.
Era um homem que:
Faliu no negócio com 31 anos de idade.
Foi derrotado numa eleição para o Legislativo com 32 anos.
Faliu outra vez no negócio aos 34 anos.
Superou a morte de sua namorada aos 35.
Teve um colapso nervoso quando tinha 36 anos.
Perdeu uma eleição com a idade de 38.
Perdeu nas eleições para o Congresso aos 43, 46 e 48.
Perdeu uma disputa para o Senado com a idade de 55.
Fracassou na tentativa de tornar-se vice-presidente aos 56 anos.
Perdeu uma disputa senatorial aos 58 anos.”

Depois de agradável colóquio aqui neste grupo sobre as maravilhas do documento 140 e as excelências do 160, resolvi reler o documento 160 do LU e, ao meditar no trecho abaixo, imediatamente relembrei o que havia lido alhures na minha adolescência, no livro “Poder Sem Limites” de Anthony Robbins (sim, é um livro de P.N.L) a respeito do homem acima descrito. O trecho ao qual me refiro do livro de Urantia no documento 160 é o seguinte:

*160:4.13 “A vida, contudo, transformar-se-á em uma carga existencial, a menos que aprendais como fracassar airosamente. Existe na derrota uma arte que as almas nobres sempre adquirem; deveis saber como perder sem perder a alegria; não deveis ter temor ao desapontamento. Nunca hesiteis em admitir o fracasso. Não tenteis disfarçar o fracasso por baixo de sorrisos justificativos ou, mesmo, de decepção ou de otimismo irradiantes. Soa bem clamarmos pelo sucesso, sempre; mas os resultados finais podem ser consternadores. Tal técnica leva diretamente à criação de um mundo de irrealidade e ao choque inevitável da desilusão final”.*

Aqueles de nós que cresceram em meio a traumas que esmagaram a auto-estima e o amor próprio, trazendo para a vida adulta os desafios de antanho, no mínimo se sentem agradavelmente surpresos com a afirmativa do LU acima. Eu pelo menos me senti. Nunca me foi ensinada quando mais precisei a sabedoriadessa realidade que é o ‘crescimento em sabedoria através do fracasso’. Essa ‘arte’ como o Livro traz é vital para a sedimentação de uma personalidade saudável, que sabe rir dos próprios erros, que não tem medo de fracassar porque o fracasso é um aprendizado tanto quanto o sucesso. Ou mais (?). E sobretudo, a pessoa que cresce nessa arte não tem medo de tentar, não tem medo de arriscar, não tem medo de colocar a cara a tapa para a vida e pagar o preço para vencer, a si mesma e aos desafios, porque sabe que:

*160:4.14 “O êxito pode gerar coragem e proporcionar autoconfiança, mas a sabedoria advém somente das experiências de ajustamento aos resultados dos fracassos. Os homens que preferem as ilusões otimistas à realidade nunca se tornam sábios. Somente aqueles que enfrentam de frente os fatos, ajustando-os aos ideais, podem alcançar a sabedoria. A sabedoria inclui tanto os fatos, quanto o ideal e, por conseguinte, salva os seus devotos dos dois extremos estéreis da filosofia — o do homem cujo idealismo exclui os fatos; e o do materialista que é desprovido de abertura espiritual. As almas tímidas, que só mantêm a luta pela vida com a ajuda de falsas ilusões continuadas de sucesso, estão fadadas a sofrer fracassos e a experimentar a derrota quando, finalmente, acordarem do mundo de sonhos da sua própria imaginação”.*

Eu vi aqui palavras que cresceram aos meus olhos: ajustamento, enfrentar os fatos, ajustar os fatos aos ideais... Quem pilota sabe que o curso tem de ser permanentemente ajustado para que o desiderato final seja atingido. Por isso o bom piloto não dispensa a orientação de um navegador. Esse ajuste, essa adaptação evolutiva, traz experiência e se a experiência for bem aplicada, advém a sabedoria prática. Todavia, o mais fascinante nessa experiência é que o nosso destino final não é aleatório. Temos um pré-destino (ou seja, um alvo final previamente designado) sabiamente escolhido por Ele mesmo, o autor da Vida em pessoa, sendo ele mesmo nosso alvo maior, nosso escopo! Por isso, podemos concordar com o que o LU traz:

*160:4.15 “E, nesse afã de encarar os insucessos, e de ajustamento à derrota, é que a visualização de longa distância, na religião, exerce a sua suprema influência. O malogro é simplesmente um episódio educacional — um experimento cultural na aquisição da sabedoria — , na experiência do homem que busca a Deus e que embarcou na aventura eterna da exploração de um universo. Para tais homens a derrota não é senão um novo instrumento para a realização de níveis mais elevados de realidade no universo”.*

Essa aventura eterna da exploração pressupõe que quedas, desacertos, malogros e demais desafios ocorram sim, porque daí surge o aprendizado necessário como alicerce para a construção de novas experiências, em novos níveis, em cada vez mais refinadas zonas espaço-tempo dimensionais por enquanto só imaginadas, e ainda assim tão parcamente. Mas até que esse destino possa ser atingido, a caminhada em si já é um somatório de oportunidades para rápidos ‘encontros’ com o Destino Inicial/Final/Inicial de todos nós, ainda que tudo aparentemente seja fracasso e miséria. Por isso o Livro de Urantia arremata:

*160:4.16 “A carreira de um homem que busca a Deus pode ser um grande êxito à luz da eternidade, ainda que toda a empresa da vida temporal possa parecer um completo malogro, cada fracasso na vida deve ser colhido como um complemento para se alcançar a cultura da sabedoria e do espírito. Não cometais o erro de confundir conhecimento, cultura e sabedoria. Eles estão relacionados entre si na vida, mas representam valores espirituais bastante diferentes: a sabedoria sempre domina o conhecimento e sempre glorifica a cultura”.*

Pois bem: conhecimento+experiência(de sucessos e principalmente fracassos)=sabedoria. Penso que o conhecimento seja estático, a sabedoria dinâmica. O conhecimento é potencial, a sabedoria é ato. E mais do que isso, a sabedoria é quem manda! Rsrsrs. Ela deve dominar o conhecimento, e não o contrário. E só ela pode glorificar a cultura. O conhecimento, se o faz, faz sem autoridade moral... E a sabedoria só vem da maturidade oriunda de uma experiência que alberga conhecimentos do sucesso e do fracasso.

Voltando um pouco no texto do documento 160, Rodam, o alexandrino, faz importantes e fulcrais questionamentos:

*“160:3.1 O esforço na direção da maturidade exige trabalho; e trabalho requer energia. De onde viria o poder para realizar tudo isso? * * As coisas materiais poderiam ser visualizadas como algo garantido e, sobre isso o Mestre disse bem: “Nem só de pão vive o homem”. * * Garantida a posse de um corpo normal e com saúde razoavelmente boa, devemos em seguida procurar pelas atrações que atuarão como estímulo para despertar as forças espirituais adormecidas do homem. Jesus ensinou que Deus vive no homem; * * então, como podemos induzir os homens a liberar esses poderes, de divindade e de infinitude, de dentro das suas almas? * * Como induzirmos os homens a liberar o Deus de dentro de si, para que possa Ele refrescar as nossas próprias almas; e para que, manifestando-se fora de nós, possa Ele, assim, servir ao propósito de iluminar, elevar e abençoar outras incontáveis almas?* * Como posso eu, da melhor maneira, despertar tais poderes latentes, adormecidos nas vossas almas, para o bem? * * De uma coisa estou seguro: a excitação emocional não é o estímulo espiritual ideal. A excitação não aumenta a energia; antes exaure os poderes, tanto da mente, quanto do corpo.* * De onde vem então a energia para fazer as grandes coisas? * * Vede o vosso Mestre. Ainda agora, está longe nas montanhas, enchendo — se de energias, enquanto nós estamos aqui, gastando energia. O segredo de toda essa questão está guardado na comunhão espiritual, na adoração. Do ponto de vista humano, é uma questão de combinação entre meditação e relaxamento. A meditação faz o contato da mente com o espírito; o relaxamento determina a capacidade de receptividade espiritual. E esse intercâmbio, de força por fraqueza, de coragem por medo, da vontade de Deus pela vontade da mente do ego, constitui em si a adoração. Pelo menos, esse é o modo pelo qual o filósofo a vê”.*

É curioso isso: as pessoas confundem excitação emocional com estímulo espiritual. Mas por sua própria natureza (e Rodam já havia analisado isso antes) emoções e sentimentos se manifestam em gangorra que acabam por quedar a pessoa que vive em função deles, fazendo o contrário do que se deveria que é fazer os sentimentos e emoções viverem em função do todo maior que é a pessoa. Vemos isso nas religiões mais diversas, sobretudo as mais populares. Contudo, Rodam afirma que* “O segredo de toda essa questão está guardado na comunhão espiritual, na adoração. Do ponto de vista humano, é uma questão de combinação entre meditação e relaxamento. A meditação faz o contato da mente com o espírito; o relaxamento determina a capacidade de receptividade espiritual”.*

O recolhimento em si para comunhão individual com o Pai que habita em nós desperta em ondas cada vez maiores e melhores, que trazem à tona a força espiritual necessária para ajustar a realidade ao ideal, para reajustar o curso, para recomeçar de novo pela 9.999 vez uma forma nova de não se fazer a lâmpada. E essa é a força desejável para se ir em frente. Como diriam os publicitários agora: JUST DO IT!

Ah, lembram-se do fracassado do início dessas linhas? Anthony Robbins conclui a história dele assim:

“Foi eleito presidente dos Estados Unidos aos 60 anos. O nome do homem era Abraham Lincoln. Poderia ele ter se tornado presidente se tivesse visto suas perdas nas eleições como fracassos?”

Pensem nisso. Bom final de semana e um grande beijo, no Bem, no Belo e no Verdadeiro que há em vocês.

D.’.

.......

Abraham Lincoln, numa época em que no interior do país professores eram quem quer que sabia ler e escrever melhor, no total só teve um ano de educação formal. Mas não andava sem um livro debaixo do braço.

quarta-feira, agosto 24, 2011

Tese de Marx

Uma tese fundamental de Marx é: "Pode-se referir a consciência, a religião e tudo o que se quiser como distinção entre homens e animais; porém, esta distinção só começa a existir quando os homens iniciam a produção dos seus meios de vida(...)". (A Ideologia Alemã)

Mas ela está errada. Não existe homem sem atuação dos espíritos da adoração e da sabedoria. Ainda que produza lascas pontiagudas de pedra, organize uma tribo, etc, não passa de animal se não chegou a ser contactado pelos dois últimos dos sete espíritos da mente.

Vou tentar elaborar uma taxonomia dos sete espíritos ajudantes da mente. Aguardem, sentados talvez, mas aguardem.

segunda-feira, agosto 22, 2011

Mal e pecado

No cap. III,3, de L'Unité Transcendante des Religions, Schuon justifica as faltas de Davi. Um profeta não pode cometer pecados, diz ele. No máximo, usa meios imperfeitos para uma ação, em si, justa. Pecado só existiria do ponto de vista exotérico, isto é, aos olhos do povaréu, não aos olhos de Deus, não. Quando roubou a esposa de Uriel, Davi, portanto, estava realizando a intenção cósmica de se unir à mãe de Salomão. Só um homem sem intuição espiritual para não perceber que a ação era cosmologicamente necessária.

Alguns líderes contemporâneos de seitas orientalizadas de fato cometem erros, talvez pecados. Quiçá também seja esotericamente justificável que eles passem um tempo na cadeia por abusos sexuais.

A distinção schuoniana entre dhanb e ithm é boa. Pecado, na realidade, só existe intencionalmente, isto é, quando queremos ir de encontro à vontade de Deus. A imperfeição de nossas ações é um mal, mas não um pecado. Cite-se aqui novamente Shinran: não importa se você é bom ou mau, importa se você recita o Nembutsu, ou seja, se você se dedica aos assuntos do Pai.

Isto posto, um profeta, quem quer que seja, não está eximido de antemão de cometer pecados. Jesus, o Filho do Homem, disse que não era bom porque sabia que a bondade dependia de sua relação com Deus e da obediência perfeccionada a Ele. Não porque não a praticasse.

sábado, maio 14, 2011

Frithjof Schuon e o Livro de Urântia

"O fiel tem percepção intuitiva e inteligência." (Guru Granth Sahib)

A filosofia é uma técnica para resolução, até os seus princípios, de questões que a vida nos coloca, de modo a descobrir os significados em nossa experiência dos valores. Ela procura unificar nossa experiência de modo a chegarmos a uma visão da realidade completa. Para isso, devemos nos tornar capazes de refazer pessoalmente os caminhos das questões que a própria vida nos coloca, indagando-lhes as origens em nossa experiência, procurando estudar o que outros disseram a seu respeito, e relacionando-as com a visão de realidade completa que temos, seja para confirmar o lugar que já lhes era imaginado, seja ajustando o quadro geral para que se responsabilize por elas também.

Metafísica é o conhecimento daquilo que a natureza física, não se bastando a si mesma para explicar-se, indica que haja. É o conhecimento dos princípios que coordenam as experiências humanas material e espiritual, interna e externa. Como a alma, que não ocupa espaço, pode estar no corpo? Essa é uma questão que a metafísica, sucedânea da mota, tentou responder. A alma não está no corpo propriamente. Descartes errou ao dizer que ela está na glândula pineal. Ela se relaciona à mente material e ao espírito.

"A mota é uma sensibilidade à realidade supramaterial que está começando a compensar o crescimento que não se completou, tendo por substância o conhecimento-razão e por essência o discernimento clarividente da fé. A mota é uma reconciliação suprafilosófica das percepções divergentes da realidade que não é alcançável pelas personalidades materiais; ela é baseada, em parte, na experiência de haver sobrevivido à vida material na carne." (LIVRO DE URÂNTIA, doc. 103, 6, p. 1136)

"A metafísica", diz o Livro de Urântia, "mas muito mais seguramente a revelação, proporciona um terreno comum de confluência para as descobertas tanto da ciência quanto da religião, e torna possível a tentativa humana de correlacionar logicamente esses domínios separados, porém, interdependentes, do pensamento, em uma filosofia bem equilibrada de estabilidade científica e de certeza religiosa." (LIVRO DE URÂNTIA, doc. 103, 7, p. 1139)

A revelação não é parcial, mas se subordina à capacidade que o fiel tem de recebê-la. Achar que a metafísica é uma via de acesso a Deus melhor do que a revelação é um erro. Se as religiões que surgem da revelação misturam-se, depois, com crendices e doutrinas duvidosas, cumpre à filosofia ajudá-las a evoluir, afastando do trigo o joio, aos poucos, se preciso, para não causar escândalo -- como fez Moisés, ao falar, embora muito incomodado, de um Deus iroso, ao invés do Deus que ele sabia ser amigo, porque os hebreus não o aceitariam -- e coordenando-a com as descobertas científicas.

"A metafísica tem-se revelado como sendo um fracasso; a mota, o homem não a pode perceber. A revelação é a única técnica que pode, em um mundo material, compensar pela ausência da verdadeira sensibilidade da mota. A revelação esclarece, com toda a autoridade, a desordem da metafísica desenvolvida pela razão em uma esfera evolucionária." (LIVRO DE URÂNTIA, doc. 103, 6, p. 1136)

O que Schuon, inspirado em Mestre Eckhart, chama de Inteligência, nas palavras desse "algo que na alma é incriado e incriável" (SCHUON, De l'Unité Transcendante des Religions, préface) é o Ajustador do Pensamento, o fragmento do Pai que em cada um de nós trabalha assoprando-nos a vontade do Pai Universal.

Schuon parece acreditar que essa Inteligência seja um princípio divino a ser compartilhado pelas criaturas que consigam e queiram acessá-lo. Os eus intelectuais têm sua origem na mente cósmica, a qual é a fonte dos potencias intelecto-espirituais que se especializam nas mentes humanas. Ela explica a afinidade entre várias mentes humanas. Nossa mente é um intelecto emprestado, a ser usado em nossa vida material. Nela se escolhe cumprir ou não a vontade do Pai.

Mas o Ajustador do Pensamento não é comum a vários homens. Cada homem é dotado com o seu no decorrer dos seus cinco anos de vida, uma vez que haja tomado sua primeira decisão moral.

Parece então que as mentes humanas compartilham da mente cósmica, ao passo que o Ajustador é uma graça personalíssima do Pai, embora, claro, aja sempre com o mesmo propósito, qual seja o de elevar a mente humana à adoração e agradecimento ao Pai, dispondo-se a fazer sua vontade.

Pelo trabalho de ambos, se apenas aspirar a ser como o Pai, o ser humano pode tomar posse da promessa de sobrevivência eterna.

Schuon está certo ao dizer que nesta vida muitos fiéis não conseguirão se comunicar, por pensamentos, com seu Ajustador, em processo que o Livro de Urântia chama de auto-revelação, e que acontece pari passu com as revelações epocais, como as de Jesus de Nazaré ou de Melquisedeque, ou as que têm a participação de outros agentes celestes para dar voz ao profeta. Mas podem os fiéis, não obstante, sobreviver, porque mais importante que estar consciente do Pai é querê-lo estar. "Sede perfeitos como o Pai é perfeito".

O homem não precisa ser especificamente diferente do fiel para ter uma visão mais clara do divino. Cumpre-lhe, ao revés, extremar sua relação com o Pai do céu, seguindo suas aptidões e dons natos.

quarta-feira, novembro 17, 2010

A cidadela do espírito

Yo no soy Yo

Soy este
que va a mi lado sin yo verlo
que, a veces, voy a ver,
y que, a veces, olvido.
El que calla, sereno, cuando hablo,
el que perdona, dulce, cuando odio,
el que pasea por donde no estoy,
el que quedará en pié cuando yo muera.
(Juan Ramón Jiménez)

"Jesus retratou a profunda segurança do mortal sabedor de Deus ao dizer: “Para um crente do Reino, que conhece Deus, que importa se todas as coisas terrenas entrarem em colapso?” As seguranças temporais são vulneráveis, enquanto as seguranças espirituais são inexpugnáveis. Quando as torrentes da adversidade humana, do egoísmo, da crueldade, do ódio, da malícia e da inveja afluírem à porta da alma humana, podeis manter-vos na certeza de que há um bastião interior, a cidadela do espírito, que permanece absolutamente inatingível; e isso é verdadeiro, ao menos, para todo aquele ser humano que tenha entregado a guarda da sua alma ao espírito residente do Deus eterno." (Livro de Urântia, 2007, doc. 100, II, p. 1096)

segunda-feira, outubro 25, 2010

A unidade espiritual

Políticos como Heloísa Helena ou teólogos como Leonardo Boff, que misturam socialismo com cristianismo, ou mesmo líderes cristãos em geral que baixam cartilhas sobre como ser um bom fiel, fariam bem em conhecer as seguintes palavras de Jesus, reveladas no Livro de Urântia:

"Eu vim ao mundo para proclamar a liberdade espiritual, com o fito de que os mortais pudessem ter o poder de viver vidas individuais de originalidade e de liberdade, diante de Deus. Eu não desejo que a harmonia social e a paz fraterna sejam compradas com o sacrifício da livre personalidade e da originalidade espiritual. O que eu vos peço, meus apóstolos, é a unidade espiritual -- e isso vós podeis experimentar na alegria da vossa dedicação unida a fazer de todo o coração a vontade do meu Pai no céu. Vós não tendes que ver de um modo igual, nem tendes de sentir do mesmo modo, nem mesmo pensar da mesma maneira, para serdes espiritualmente iguais. A unidade espiritual deriva da consciência de que cada um de vós é residido, e crescentemente dominado, pela dádiva espiritual do Pai celeste. A vossa harmonia apostólica deve crescer do fato de que a esperança espiritual de todos vós é idêntica pela origem, natureza e destino."

"Desse modo podeis experimentar a unidade perfeccionada de propósito espiritual e compreensão espiritual, que nasce da consciência comum da identidade dos vossos espíritos residentes vindos do Paraíso; e podeis desfrutar de toda a profunda unidade espiritual, mesmo havendo grande diversidade entre vossas atitudes individuais de pensamento intelectual, sentimentos, temperamento e conduta social. As vossas personalidades podem ser diversas de um modo animador e mesmo marcadamente diferentes, enquanto as vossas naturezas espirituais e frutos espirituais, de adoração divina e amor fraterno, podem ser tão unificados que todos aqueles que contemplarem as vossas vidas certamente tomarão conhecimento dessa identidade de espírito e dessa unidade de alma; (...)" (Livro de Urântia, doc. 141, 5)

domingo, outubro 03, 2010

O que acha meu alterego?

"Quien habla solo espera hablar con Dios un día."
(Machado, Antonio. Campos de Castilla)

"As crianças, quando começam a aprender a fazer uso da linguagem, têm a propensão de pensar em voz alta, de expressar os seus pensamentos em palavras, mesmo quando não há ninguém por perto para ouvi-las. Com o alvorecer da imaginação criativa, elas evindenciam uma tendência de conversar com companheiros imaginários. Desse modo, um ego que se forma, busca manter a comunhão com um altergo fictício. Por meio dessa técnica, a criança aprende muito cedo a converter o seu monólogo em um diálogo fictício, no qual esse alterego responde ao seu pensamento verbal e à expressão dos seus desejos. Boa parte dos pensamentos dos adultos é mentalmente construída na forma de conversas.

(...)

(...) É inteiramente apropriado, quando faz uma prece, que o homem se esforce para captar o conceito do Pai Universal no Paraíso. Mas a técnica mais eficaz, para os propósitos mais práticos, será retornar ao conceito de um alterego próximo, exatamente com a mente primitiva tinha o hábito de fazer, e então reconhecer que a idéia desse alterego evoluiu de uma mera ficção até a verdade, que é Deus, residindo no homem mortal, por meio da presença factual do Ajustador, de um modo tal que o homem pode colocar-se face a face com Ele, como se fosse um alterego real, genuíno e divino, que reside nele e que é a própria presença e a essência do Deus vivo, o Pai Universal." (Livro de Urântia, doc. 91, 3)

quinta-feira, setembro 23, 2010

A psicologia transpessoal de Wilber e o Livro de Urântia

Ken Wilber, é preciso esclarecer tua idéia de que o destino da alma é ceder lugar ao Espírito, quando "na onipresente consciência, tua alma expande-se para alcançar o Cosmos inteiro, de sorte que o Espírito permanece sozinho, como o mundo simples daquilo que é." (Wilber, Ken. Integral Psychology. Boston & London: Shambala, 2000, p. 108, tradução minha) Desejas dizer que, "conforme Moisés, a alma pode lobrigar, mas jamais realmente ingressar na Terra Prometida", que a alma deve transformar-se no Espírito para fazê-lo? A alma é a realidade da relação única entre a mente e o espírito e "resulta em um valor universal, de duração eterna, inteiramente original, novo e único." (Livro de Urântia, 2007, doc. 111, p. 1218) Ken Wilber tratará da alma quando trabalha os níveis do desenvolvimento interno do homem:

"Da mesma maneira, olhando com profundidade para dentro da mente, na parte mais interior do eu, quando a mente fica bastante, bastante tranqüila, e, naquele infinito Silêncio, se ouve calmamente, a alma começa a sussurrar, e sua voz de pluma leva a um ponto a mais do que a mente jamais poderia imaginar, além de qualquer coisa que a racionalidade poderia tolerar, além de qualquer coisa que a lógica suportaria. Em seus sussurros gentis, estão as míseras pistas do amor infinito, lampejos de uma vida que o tempo esqueceu, coriscos de felicidade que não se mencione, uma interseção infinita onde os mistérios da eternidade sopram vida no tempo mortal, onde o sofrimento e a dor esqueceram como pronunciar seus próprios nomes, a interseção calma e secreta do tempo com o próprio atemporal, uma interseção chamada alma." (Wilber, idem, p. 106, tradução minha)

Uma descrição belíssima.

No Livro de Urântia, o Espírito mencionado por Wilber equivale ao Ajustador do Pensamento, um fragmento do Pai Eterno nas mentes de Seus filhos mortais planetários, Seu amor "tornado realidade e encarnado nas almas dos homens." (Livro de Urântia, idem, doc. 107, p. 1176) O destino do homem que haja escolhido com firmeza cumprir a vontade do Pai ao longo de uma carreira eterna é fusionar-se com Ele. Dir-se-á então que o homem se torna Ajustador, ou que o Ajustador se torna homem? "Nenhuma das duas coisas", "as duas identidades transformaram-se numa única." (Livro de Urântia, idem, doc. 112, p. 1238) Cada homem, lembremos a Wilber, deve ter seu Ajustador de Pensamento, ele não é um espírito comum aos homens em geral. Viktor Frankl, sem o saber, referir-se-ia a Ele ao dizer que "quando você estiver conversando consigo com plena sinceridade e suprema solidão -- este a quem você se dirige pode ser adequadamente chamado de Deus." As diferenças com Ken Wilber podem ser detalhes técnicos de nomenclatura, ao invés de uma discordância fundamental, mas a alma humana terá se tornado imortal pela aceitação sem reservas dos desejos do Espírito, ou seja, do Pai.

Ken Wilber considera também o caráter pessoal do homem em cada nível do "Great Nest of Being" que lhe acontece viver:

"Mas dizer que as mais profundas ondas do eu estão arqueologicamente expostas não significa em absoluto dizer que elas estão simplesmente dadas de antemão, como um tesouro enterrado no peito e à espera de excavação. Apenas significa que essas ondas mais profundas são todas potenciais básicos da condição humana (e sentiente). (...) cada indivíduo descobre as profundezas criando as características de superfície de cada onda que será unicamente sua (o que você faz com seu corpo, mente, alma e espírito cabe a você trabalhar). Como sempre, devemos construir o futuro que nos é dado; e o terapeuta que trabalha por todo o espectro ("full-spectrum therapist") é um assistente nesta extraordinária viagem ao mesmo tempo de descoberta e de criação." (Wilber, idem, pp. 109-110, tradução minha)

Sobre o tema, o Livro de Urântia dirá que a personalidade "unifica todas as atividades e que, por sua vez, lhes confere as qualidades de identidade e de criatividade." (Livro de Urântia, idem, doc. 112, p. 1227) "O propósito da evolução cósmica é conseguir a unidade de personalidade, por meio da predominância crescente do espírito, que é a resposta da vontade ao ensinamento e ao guiamento do Ajustador do Pensamento." (Livro de Urântia, idem, doc. 112, p. 1229) A personalidade, portanto, efetiva o caráter único do desenvolvimento de cada homem.
Atualização de 30 de janeiro de 2011: Veja também, leitor, uma comparação entre a obra de Viktor Frankl e o Livro de Urântia, aqui, realizada por Luiz Carlos Dolabella Chagas, tradutor para nosso idioma do Livro de Urântia. Advirta-se que o texto está em inglês.

quarta-feira, junho 02, 2010

Erro de Zubiri

Ele comete o erro primário de confundir psique com alma, erro que Rene Guénon procura desfazer já no título do capítulo XXXV de seu 'O reino da quantidade e o sinal dos tempos'. Zubiri diz: "O aspecto psíquico da substantividade humana tampouco é, como se costuma dizer, "espírito" (termo também muito vago). Poderia chamar-se alma se o vocábulo não estivesse sobrecarregado de um sentido especial, arquidiscutível, a saber: o sentido de uma entidade "dentro" do corpo e "separável" de si. Prefiro portanto chamar a este aspecto simplesmente "psique"." (Zubiri, El hombre y su cuerpo, tradução minha) Nem alma nem espírito, Zubiri, na realidade, a psique se pode chamar também de mente. Alma e espírito são termos impróprios porque correspondem a outro aspecto da substantividade humana, que não o psíquico. Vejamos o trecho do Livro de Urântia que explica resumidamente os níveis da realidade na experiência humana:

"1. Corpo. O organismo material ou físico do homem. O mecanismo eletro-químico vivo de natureza e origem animal.

2. Mente. O mecanismo de pensar, perceber e sentir do organismo humano. A experiência total, consciente e inconsciente. A inteligência associada à vida emocional, buscando, por meio da adoração e da sabedoria, alcançar o nível acima, do espírito.

3. Espírito. O espírito divino que reside na mente do homem -- o Ajustador do Pensamento. Este espírito imortal é pré-pessoal -- não é uma personalidade, se bem que esteja destinado a transformar-se em uma parte da personalidade da criatura mortal, quando da sua sobrevivência.

4. Alma. A alma do homem é uma aquisição experiencial. À medida que uma criatura mortal escolhe "cumprir a vontade do Pai dos céus", assim o espírito que que reside no homem torna-se o pai de uma nova realidade na experiência humana. A mente mortal e material é a mãe dessa mesma realidade emergente. (...) Essa é a alma emergente que está destinada a sobreviver à morte física e iniciar a ascensão ao Paraíso." (Livro de Urântia, Introdução, seção V)

Zubiri acredita que o homem forma uma unidade estrutural psico-orgânica. Exagerando as conseqüências desta teoria, incorre em outro erro ao dizer o seguinte: "(...) Quando o cristianismo, por exemplo, fala de sobrevivência e imortalidade, quem sobrevive e é imortal não é a alma mas o homem, isto é, a substantividade humana inteira." (Zubiri, El hombre y su cuerpo, tradução minha) Destrinchemos suas palavras: Por alma, no caso, ele deseja significar a psique, apenas utilizou o termo mais caro à tradição cristã, ao qual entretanto ele prefere o termo "psique". Este não é o ponto. Zubiri afirma que a substantividade humana inteira sobrevive. Que é, então, essa substantividade humana inteira? "O homem não é psique "e" organismo, porém sua psique é formal e constitutivamente "psique-de" este organismo, e este organismo é formal e constitutivamente "organismo-de" esta psique." (Zubiri, El hombre y su cuerpo, tradução minha) Ele acredita portanto que o corpo, junto com a psique, enquanto sub-sistemas do sistema constitutivo humano, deverão sobreviver. Isto é erradíssimo. Pois:

"No tempo, o corpo do homem é tão real quanto a mente ou o espírito, mas, na morte, tanto a mente (a identidade) quanto o espírito sobrevivem, enquanto o corpo não." (Livro de Urântia, doc. 12, seção 8)

Conceda-se a Zubiri, entretanto, que o homem sobrevivente em sua ascensão até o Paraíso ganhará novas formas -- termo empregado aqui conforme o uso corriqueiro --, ou vestimentas, com que se apresenta -- em termos zubirianos, o equivalente ao "momento de corporeidade" da substância psico-orgânica -- mas que não são, obviamente, um organismo físico-químico*, nem se concebe que Zubiri as tenha imaginado assim, o que seria um erro bisonho. "Tais formas, embora totalmente reais, não são os padrões de energia da ordem material, como vós entenderíeis agora. Contudo, ela vos servem, nos mundos do universo local, aos mesmos propósitos que os vossos corpos materiais vos serviram nos planetas do vosso nascimento humano." (Livro de Urântia, doc. 112, seção 6)

Do pouco ainda que conhecemos de sua obra, podemos já dizer que Zubiri é um filósofo de excelentes "insights". Sua teoria de que a substantividade humana consiste numa unidade estrutural em que "seus elementos não se determinam como ato e potência mas co-determinam-se mutuamente" (Zubiri, 'El hombre, realidad personal', tradução minha), de sorte que a psique seria estruturamente orgânica, porque vertida a um corpo, e o organismo, por sua vez, estruturalmente psíquico, pelo mesmo motivo, é realmente importante. Entretanto, Zubiri parece ter deixado de lado os outros e, por assim dizer, mais "estruturais" níveis de realidade humana, como o espírito, o qual é dotado ao ser humano tão logo ele tome sua primeira decisão moral, geralmente quando criança. A personalidade, crème de la crème, é a qualidade estruturadora, ela unifica os níveis da realidade e coordena suas relações.


*Em termos zubirianos, novamente, é impreciso igualar o organismo físico-químico ao corpo. Dir-se-ia, mais corretamente, que o corpo é o organismo na sua função somática, ou seja, enquanto "fundamento material da corporeidade do sistema." (Zubiri, El hombre y su cuerpo, tradução minha)

quarta-feira, julho 16, 2008

A transformação da água em vinho

Maria, a mãe de Jesus, ficou abatida; estava atordoada! Enquanto ela permanecia ali, imóvel diante dele, com as lágrimas caindo em seu rosto, o coração humano de Jesus tinha sido dominado de compaixão pela mulher que o tinha concebido na carne; e, inclinando-se para frente, ele colocou a sua mão ternamente na cabeça dela, dizendo: “Espere, espere, Mãe Maria, não lamentes pelas minhas palavras aparentemente duras, pois eu já não te disse muitas vezes que eu vim apenas para cumprir a vontade do Pai celeste? Eu faria de bom grado o que me pediste, se fosse uma parte da vontade do Pai” – e Jesus logo parou, hesitando. Maria pareceu sentir que alguma coisa estava acontecendo. Num pulo, ela jogou os braços em volta do pescoço de Jesus, beijou-o e correu para a sala dos serviçais, dizendo: “O que quer que meu filho tenha dito, façam-no”. Mas Jesus não tinha dito nada. Ele agora compreendia que tinha já dito demais – ou melhor, que tinha imaginado, desejando –, por demais.

Maria dançava de júbilo. Ela não sabia como o vinho seria produzido, mas confiante acreditava que finalmente tinha persuadido o seu primeiro filho a afirmar a sua autoridade, a ousar dar um passo adiante e reivindicar a sua posição, e a exibir o seu poder messiânico. E, por causa da presença e da coligação de certos poderes e personalidades do universo, das quais todos os presentes ignoravam totalmente, ela não ficaria decepcionada. O vinho, que Maria desejara e que Jesus, o Deus-homem fez, humana e compassivamente, por aspirar, estava sendo produzido.

À mão estavam seis grandes potes de pedra, cheios de água, em cada um cabendo quase oitenta litros. Essa água estava ali para ser usada nas cerimônias da purificação final da celebração do casamento. A agitação dos serviçais por causa desses vasos imensos de pedra, sob o comando ativo da sua mãe, atraiu a atenção de Jesus que, indo até lá, observou que eles estavam tirando vinho delas, com jarras repletas.

Gradativamente Jesus tomava consciência do que acontecera. De todos aqueles, que estavam presentes à festa de casamento de Caná, Jesus era o mais surpreso. Os outros tinham aguardado que fizesse algo prodigioso, mas isso era exatamente o que ele tinha como propósito não fazer. E então, o Filho do Homem lembrou-se da advertência que o seu Ajustador Personalizado do Pensamento lhe tinha feito nas colinas. Ele lembrou-se de como o Ajustador o tinha prevenido sobre a incapacidade, que qualquer poder ou personalidade tinha, de privá-lo das suas prerrogativas de criador, na independência do tempo. Nessa ocasião, os transformadores do poder, os seres intermediários e todas as outras personalidades imprescindíveis estavam reunidos perto da água e de outros elementos necessários e, em presença do desejo expresso do Soberano Criador do Universo, não havia como evitar o aparecimento instantâneo do vinho. E essa ocorrência fez-se duplamente certa, pois o Ajustador Personalizado tinha sinalizado que a execução do desejo do Filho não era em nada uma contravenção à vontade do Pai.

Mas isso, em nenhum sentido, era um milagre. Nenhuma lei da natureza foi modificada, ab-rogada ou mesmo transcendida. Nada aconteceu a não ser uma ab-rogação do tempo, em ligação com a reunião celeste dos elementos químicos necessários à elaboração do vinho. Em Caná, nessa ocasião, os agentes do Criador fizeram o vinho, exatamente pelo modo como é feito comumente, pelo processo natural, exceto que eles o fizeram independentemente do tempo, e com a intervenção de agências supra-humanas para reunir, do espaço, os elementos químicos necessários.

Ademais estava evidente que a realização desse chamado milagre não era contrária à vontade do Pai do Paraíso, ou então não teria acontecido, posto que Jesus se submetia a si próprio, para todas as coisas, à vontade do Pai.

Quando os serviçais tiraram esse novo vinho e o levaram ao padrinho, o “mestre-de-cerimônias”, ele o provou e chamou o noivo dizendo: “O costume é servir primeiro o melhor vinho, e, depois, quando os convidados já tiverem bebido o bastante, oferecer o vinho do fruto inferior; mas tu seguraste o melhor dos vinhos para o fim da festa”.

Maria e os discípulos de Jesus estavam grandemente jubilosos com o suposto milagre, pois pensavam que Jesus o tinha executado intencionalmente, mas Jesus retirara-se para um canto abrigado do jardim e entrou em pensamento sério, por uns poucos breves momentos. Ele tinha finalmente decidido que o episódio acontecera fora do seu controle pessoal, dadas as circunstâncias, e, não sendo adverso à vontade do seu Pai, tinha sido inevitável. Quando ele retornou ao povo, foi olhado com temor; eles todos acreditaram nele como sendo o Messias. Contudo, Jesus estava dolorosamente perplexo, sabendo que eles acreditaram nele apenas por causa da ocorrência inusitada que tinham inadvertidamente presenciado. De novo, Jesus retirou-se para uns momentos no terraço de modo que pudesse pensar em tudo.

Jesus agora compreendia totalmente que devia ficar constantemente em guarda, para que a indulgência da compaixão e da piedade não se tornasse responsável por repetidos episódios desse tipo. Contudo, muitos eventos similares ocorreram, antes que o Filho do Homem deixasse finalmente a sua vida mortal na carne.


Documento 137, O tempo de espera na Galiléia, do Livro de Urântia. Retirado da página Associação Urântia do Brasil.