domingo, junho 17, 2012

Carta de Hamlet

Duvide que as estrelas não sejam fogo
Duvide que o próprio sol seja um engano
Duvide que a verdade não fale engodos
Mas, Ofélia, nunca duvide que eu amo.

quinta-feira, junho 14, 2012

O escravo de Mênon

Sócrates acredita que seu método de mostrar a uma pessoa que ela não conhece para valer aquilo que acredita que conhece lhe faz um bem, muito embora a desnorteie como a uma barata tonta num primeiro momento. Pois, diz ele, "agora, ciente de que não sabe, terá, quicá, prazer em, de fato, procurar (...)".

Procedendo por perguntas e respostas, Sócrates faz com que o escravo dê o ar da graça àquilo que, segundo ele (não sei se concordo com isso), já sabia, ou seja, que o lado do quadrado de oito pés é um quadrado inscrito num quadrado de dezesseis pés. Já sabia, mas o tinha esquecido, dirá Platão. O trabalho socrático consiste portanto numa rememoração do que foi esquecido.
  (http://www.prof2000.pt/users/amma/af18/t5/menon.htm)

Dar aula é um exercício de extrair do aluno o que ele já sabe (e pelo que já sabe chegar ao que não sabe, porém desconfia, por degraus), fazendo-o expressar-se a seu jeito, com suas palavras. Sócrates costumava encorajar seus interlocutores meninos a expressarem-se sem medo sobre aquilo que pensavam. Lançar-se a falar, ter que esboçar aquilo que está dentro de si, é a melhor maneira de iniciar o aprendizado. Como ele dizia, se a pessoa não sabe, vai se embananar e perceberá que não sabe aquilo que lhe parecia fácil de longe. O seriado Chaves mostra algumas situações deste tipo no cenário da escola. "Mas isso é muito fácil." "Ok, então me responda", diz o professor Girafáles.  "Mas é muito fácil, me dá outra." "Não, responda-me essa antes." E o aluno vê que não sabe. Em matemática, acontece de montão.

Como Sócrates disse, é realmente um trabalho de parto. As dores vão aperecendo para o bebê vir à luz.

O trabalho de Jesus era um pouquinho diferente. Consistia antes em acionar o altruísmo da pessoa pedindo-lhe ajuda, trazer à luz seu lume divino, mas não em limar seus erros (não de início). Não era um ensino técnico. Era um ensino de bondade, que se dava pela sua própria vida, pelo que era capaz de inspirar nas pessoas por quem passava.

O método socrático dificilmente seria utilizado por Jesus, porque Sócrates com freqüência sobrecarregava o interlocutor (e podia causar antipatia) com sua série de perguntas e correções. Jesus procuraria antes tornar seu evangelho atraente, gracioso.

Na realidade, quando Sócrates aceitou morrer por Atenas, sua vida também define-se (se faltava alguma dúvida) como uma inspiração. Não é à toa que muita gente compara a trajetória de ambos. Sócrates quis fazer a vontade do Deus interior, que naquele momento lhe sussurrava para ficar.

......

Retirado do texto deste saite: Conhecimento em Platão.

segunda-feira, junho 11, 2012

Experimente falar mal de Caetano Veloso numa faculdade de letras para ver o cinturão de silêncio búdico que farão em seu torno. Queria ver só o que Tom Jobim responderia (se estivesse com saco) se alguém lhe chamasse de poeta: "Meu filho, Manuel Bandeira é poeta. Eu sou músico popular com requintes clássicos." Uma amiga minha ficou toda mexida e respondeu com algumas pedras na mão quando disse que Gilberto Gil não sabe o que é cultura. Gilberto Gil entende, no máximo, de música popular. Como ministro, foi um falastrão irresponsável. Existe uma idolatria desprezível no Brasil em torno de certas figuras. Intocáveis como Lula, Gilberto Gil, Caetano Veloso (coitado do Caetano, as pessoas dizem que é poeta, mas ele sabe que isso é tudo balela, só não tem saco de negá-las, dá muito trabalho e ele é baiano). Amiga minha, cresça. É preciso falar mal das pessoas (que fique claro: sem maledicência. É preciso criticar comportamentos ruins, comportamentos que podem ser mudados). Pode falar mal de mim.

sábado, junho 09, 2012