segunda-feira, fevereiro 28, 2011


"Les épines, ça ne sert à rien, c'est de la pure méchanceté de la part des fleurs!"

O piloto estava errado ao dizê-lo e o pequeno príncipe o corrigiu. As flores, na verdade, tinham espinhos para se defender.

Num país distante da Terra, também as flores têm espinhos. Elas são criadas pelas pessoas para defendê-las de vizinhos hostis, jamais para atacá-los. Estão de prontidão para qualquer eventualidade, e em dias de paz se comportam como damas da sociedade, servindo buquês às namoradas ou dando pólen a beija-flores. Sua estripulia é causar espirro às formigas.

Defendem a civilização construída por ratos-estadistas, elefantes-filósofos, pumas-poetas e cientistas sabugosos. E, de quebra, aspergem o ar com suas doces essências.

sexta-feira, fevereiro 25, 2011

No livro A Educacão da Vontade, Jules Payot diz que "toda percepção, mesmo a elementar, é uma interpretação de determinados signos. Eu não vejo uma laranja;", diz ele, "apena julgo por determinados signos que deva ser uma laranja. Mas com o hábito, esta interpretação se torna instantânea e automática e, por conseguinte, não é facilmente atrapalhada."
No entanto, não é assim. A forma se nos apresenta para que a conheçamos. Mas como então chegamos a confundir uma laranja com uma tangerina? A forma da laranja, sua estrutura interna, não chegou a se nos apresentar, fomos informados apenas por certos signos seus, sobretudo por sua cor, os quais, muito parecidos com os da tangerina, não foram suficientes para distinguí-la.
Os signos que a forma disponibiliza podem com razoável grau de certeza indicá-la, mas ela, a forma, pode também vir a ser conhecida, desde que tenhamos, nós e a coisa, chegado a uma relação proporcionada em que ela consegue se nos mostrar e nós podemos e queremos percebê-la. Há uma diferença de fundamento, e não de mero grau, entre os signos que uma coisa disponibiliza e sua forma, aqueles se podem perceber na agitação útil do mundo, mas essa exige-nos solene respeito.
Ademais, o hábito de reconhecer algo por seus signos só pode acontecer porque já se conheceu uma vez sua forma.
O livro de Jules Payot, entretanto, tem sido muito bom. Já me ensinou como direcionar a atenção, não a deixando ao léu das dispersões pelos menores interesses.

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

É desligar o carro
e ver-me no silêncio da noite;

antes me fazia companhia
o motor.

Creiam-me! A noite me queria engolir
e o motor me foi fiel.

De resto, a fumaça do cigarro esvanece o breu,
ela contrariada, eu temeroso,
mas logo, conciliados, somos dois: na noite eu.

sábado, fevereiro 12, 2011

Quando o autor disser: "Os fatores econômicos determinam (...)", deixa passar, porque no mais o livro é bom, ou venda-o. Se precisar lê-lo, é porque ele é um fator econômico na sua vida.

sexta-feira, fevereiro 04, 2011

Cabelo cheio, dia para ir ao barbeiro,
recortam as medeixas tesoira e canivete
e eu a relaxar enquanto passa a charrete
lá fora. Pudesse cochilar, fá-lo-ia..
Pronto, toalha sacudida, espelho à nuca,
tome, pro café. Lembranças à dona Lia!

Agora um banho e depois namorar pela Urca.

Lá ra lá ra lá, mas se não tenho dinheiro?

Lá ra lá ra lá.