sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Revolução 1a parte

“Os Peloponésios assim partiram com pressa à noite para casa, margeando a costa; e puxando seus navios ao lado do Istmo de Leucas, de modo a não serem vistos dobrando-o, desta forma partiram. Os Corciranos, conscientes da aproximação da frota Ateniense e da partida do inimigo, trouxeram os Messenianos de fora das muralhas para a cidadela, e ordenaram a frota que eles haviam tripulado a navegar em volta em direção ao porto Hilaico; e enquanto o estava fazendo, matou os inimigos conforme colocava as mãos neles, despachando em seguida, ao pô-los em terra, aqueles que persuadiram a subir a bordo dos navios. Em seguida foram ao santuário de Hera e convenceram cerca de cinqüenta homens a experimentarem seu teste, e os condenaram todos à morte. A massa dos suplicantes que se recusaram a fazê-lo, vendo o que estava acontecendo, mataram-se uns aos outros no solo consagrado; enquanto alguns se enforcavam nas árvores, e outros destruíam-se do modo que eram capazes. Durante os sete dias que Eurímedo permaneceu com seus sessenta navios, os Corciranos se dedicaram a assassinar aqueles de seus conterrâneos a quem consideravam seus inimigos: e embora o crime atribuído era o de tentar derrubar a democracia, alguns foram mortos por ódio privado, outros pelos devedores por causa do dinheiro que lhes deviam. A morte pois assolava de toda maneira; e, como freqüentemente acontece em tempos como este, não havia limites aonde a violência não chegava; os filhos eram mortos por seus pais, e suplicantes arrastados para fora do altar ou mortos lá mesmo; enquanto alguns eram até mesmo emparedados no templo de Dionísio e morriam ali.”

“Então o sangue era a marcha da revolução, e a impressão que causava era maior por ser a primeira a acontecer. Mais tarde, poder-se-ia dizer, todo o mundo Helênico estava em convulsão; lutas feitas em toda parte pelos chefes populares para trazer os Atenienses, e pelos Oligarcas para introduzir os Lacedemônios. Na paz não haveria nem o pretexto nem a vontade de fazer tal convite; mas na guerra, com uma aliança sempre no comando de quaisquer das facções para prejuízo dos adversários e sua vantagem correspondente, oportunidades para trazer o estrangeiro nunca faltavam aos partidos revolucionários. Os sofrimentos que a revolução impunha às cidades eram muitos e terríveis, como ocorreram e sempre ocorrerão enquanto a natureza da humanidade for esta; embora de uma forma mais severa ou menos severa, e variando nos sintomas, de acordo com a variedade dos casos particulares. Na paz e prosperidade, estados e indivíduos têm melhores sentimentos, porque não se encontram confrontados de modo repentino com necessidades imperiosas; mas a guerra acaba com a fácil provisão das necessidades diárias, e então prova-se uma mestra bruta, que conduz o caráter da maioria dos homens para um mesmo nível junto com suas fortunas(...)”

Tucídides, em A História da Guerra do Peloponeso, capítulo 10, livro terceiro.

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