quarta-feira, janeiro 30, 2008

Os marcianos atacam












“O Planeta Terra tem 4 bilhôes e 600 milhões de anos.

Faça de conta que a Terra é uma pessoa com 46 anos de idade. Fazendo a conversão das escalas de tempo, teremos o seguinte quadro comparativo:

(...)

. Três dias antes de completar 46 anos, a Terra sofreu a última era glacial em todo o planeta.
. O homem moderno surgiu nas últimas quatro horas.
. Há apenas uma hora o homem descobriu a agricultura e se fixou à terra como sedentário.
. A revolução industrial ocorreu no último minuto.
. Nos 60 segundos seguintes, o homem conseguiu transformar um paraíso num lixo.
. Multiplicou-se como uma praga em todas as regiões, causando a extinção de mais de 500 espécies de animais, e devastou o planeta, à procura de combustíveis fósseis e riquezas minerais.
. Não medindo as conseqüencias, como a criança que só enxerga a si própria, já inviabilizou muitas formas de vida. Agora está afetando todo o conjunto, prejudicando a si próprio.
. Há apenas alguns poucos segundos, parte da humanidade começou a perceber que o problema mais sério a ser resolvido é restabelecer a harmonia com a natureza.”

.................

Isso foi extraído do livro de estudos para tirar a primeira habilitação, da seção Meio Ambiente. Quando digo que a ideologia ambiental é a mais forte que existe não posso estar falando bobagem. Eric Voegelin diria se tratar de uma teologia civil, a mais poderosa acrescento eu. A teologia civil são as crendices de massas (mass beliefs) presentes em toda e qualquer sociedade mas que em algumas ameaçam reduzir a vida da razão a enclaves sociais insignificantes ou até mesmo suprimí-la. A vida da razão é a vida do amor à sabedoria e da intentio animi para com Deus no sentido agostiniano, e que só alguns indivíduos, sempre minoria dentro de uma sociedade, realizam.

segunda-feira, janeiro 28, 2008

Farsa

O credor e a viúva na peça de Tchekov





O teatro Sesc Ginástico, na rua Graça Aranha, 187, aqui no Rio de Janeiro abrigou até domingo a peça Farsa, uma coletânea de quatro peças cômicas breves. Duas peças me chamaram atenção, O urso, de Tchekov (que se lê Tchêrrav em russo, tendo sido mal traduzido para o alfabeto latino), e Os ciúmes de um pedestre, de Martins Penna. Na primeira, um grosseiro fazendeiro exige que uma viúva pague as dívidas de seu marido e recusa-se a arredar pé de sua casa enquanto a dívida não for paga. Entre discussões e acusações contra as mulheres, o credor rude diz que chamaria a viúva para um duelo se ela não fosse mulher. A viúva indignada não se faz de rogada, e mesmo sem nunca ter manejado uma arma aceita o embate. O fazendeiro cheio de ódio no coração enxerga na viúva uma mulher com força e disposição para enfrentá-lo e cai de amores por ela. Na segunda peça, um capitão-do-mato se vê às voltas com a traição de sua esposa. Imaginando haver cometido crimes contra a esposa e seu amante o capitão-do-mato interna-se num convento. Nas duas peças, há a presença do homem durão e violento. A diferença é que na primeira o homem violento redime-se e na segunda ganha um prêmio de consolação. Tchekov se preocupa bastante com o homem violento da primeira peça enquanto Martins Penna utiliza o homem violento como bode expiatório. A peça de Tchekov é cheia de vai-e-vens, amores e ódio. Engraçadíssima. A peça de Martins Penna tira sua graça da tapeação do capitão-do-mato violento.

quinta-feira, janeiro 24, 2008

Zeus foi deposto, agora quem manda é o Turbilhão

Jacó briga com homem

















Alguém leu o artigo do Olavo de Carvalho de hoje no JB? É impressionante como algumas pessoas quando não gostam de alguma coisa fazem o máximo para vê-la completamente longe de si, e tentam cortar qualquer alusão à coisa em questão como se falar nela fosse tomar partido por ela ou defendê-la. No artigo anterior, Como ler a Bíblia, Olavo apenas ensinava a maneira com que se deve abordar o objeto de uma leitura, que é torná-lo parte de nossa imaginação, viver imaginativamente a história contada. No final do artigo, depois de falar das histórias ficcionais e das histórias de fatos reais, Olavo falou sobre a Bíblia, cujo personagem principal traz um complicador a mais, porque o próprio Deus está muito além de nossa imaginação. Durante a semana muitos ateus devem ter entendido o artigo como uma defesa de Deus. Ora, meu Deus do céu, absolutamente não foi isso que aconteceu. Ensinar alguém a tornar-se íntimo de um personagem não significa brigar pela existência dele. Essa gente parece que entende tudo como pró ou contra, como se estivessem num tribunal. Falar por exemplo no unicórnio, ou no Pinóquio, não significa dizer que eles existem de fato. Existem como personagens de ficção, e assim devem ser conhecidos. Se existem na realidade ou não, já é outra história. Da mesma forma, ao ler o Gênesis, é preciso imaginar Jacó brigando com um homem que depois veio dizer a ele tratar-se do próprio Deus que o estava provando. Imaginada essa situação, não significa pari passu que Deus existe, significa apenas que você conseguiu imaginar essa situação. Alguns ateus têm tanto pavor de Deus, que sequer se permitem pensar nele. Eles se tornam ateus militantes. Não querem nem ouvir falar de Deus que têm calafrios. Daqui a pouco a própria palavra Deus vão querer transfigurar para designar outro objeto qualquer, e não o Todo-Poderoso, ops, ops, nem fale nele, nem fale nele...

Quem acabou com a escravidão?


Escravos produzindo farinha









(Jean Victor-Frond)

por Dinesh D'Souza

Considere o ateu Sam Harris, que culpa o Cristianismo por apoiar a escravidão. Harris está com a razão quando diz que a escravidão existia entre os judeus do Antigo Testamento, e Paulo até orienta escravos a obedecerem seus mestres. Durante a Guerra Civil[1] ambos os lados citavam a Bíblia. Nós sabemos disso.

Mas a escravidão precedia o Cristianismo em centenas e até milênios de anos. Segundo lemos no trabalho do sociólogo Orlando Patterson, todas as culturas conhecidas tiveram escravidão. Por séculos, a escravidão não precisou de defensores porque não tinha críticos. Ateus que exaltam a Grécia Antiga e a Roma pré-cristã de algum modo parecem esquecer que aqueles impérios se baseavam na escravidão em larga escala.

O ateu Michael Shermer diz que os cristãos chegaram por último ao movimento contra a escravidão. Mas se isso é verdade, quem chegou primeiro? Não havia ninguém. Shermer provavelmente acredita que os cristãos só começaram a se opor a escravidão na era moderna.

Errado. A escravidão foi praticamente extinta da civilização ocidental – então chamada de Cristandade – entre os séculos quarto e décimo. As instituições escravocratas greco-romanas deram lugar à servidão. A servidão tem lá seus problemas mas ao menos o servo não é uma “ferramenta humana” e não pode ser comprado e vendido como uma propriedade. Então a escravidão foi abolida duas vezes no Ocidente, a primeira vez na era Medieval e depois novamente na era Moderna.

No sul dos Estados Unidos, o Cristianismo provou ser a consolação dos oprimidos. Como o historiador Eugene Genovese documenta em Roll, Jordan, Roll, quando os escravos negros buscaram dignidade durante a noite escura da escravidão, eles não a procuraram em Marco Aurélio ou David Hume; eles a procuraram na Bíblia. Quando buscaram esperança e inspiração para libertação, eles a encontraram não em Voltaire ou D’Holbach mas no Livro do Êxodo.

Os movimentos anti-escravistas liderados por Wilberforce na Inglaterra e abolicionistas na América eram dominados por cristãos. Eles acreditavam que como somos todos criados iguais aos olhos de Deus, ninguém tem o direito de subjugar outro sem o seu consentimento. Essa é a base moral não só da anti-escravidão mas da democracia.

Jefferson foi de algumas maneiras o menos ortodoxo e o mais cético dos Fundadores dos Estados Unidos da América. Mesmo assim quando condenou a escravidão se viu usando linguagem bíblica. Nas Notes on the State of Virginia Jefferson advertiu que aqueles que fossem escravizar pessoas deveriam refletir que “o Todo-Poderoso não tem qualquer atributo que possa servir para essa causa.” Jefferson acresentou, “E podem as liberdades de uma nação serem tidas por seguras quando retiramos sua única base firme, a convicção na mente das pessoas de que essas liberdades são o presente de Deus? Que elas não devem ser violadas causando sua ira? De fato eu tremo pelo meu país quando reflito que Deus é justo: que Sua justiça não pode adormecer para sempre.”

Mas não era Jefferson também um homem de ciência? Sim ele era, e foi com base na mais recente ciência de seus dias que Jefferson expressou suas convicções sobre a inferioridade negra. Citando as descobertas da ciência moderna, Jefferson notou que “há variedades na raça do homem, distinguidas por seus poderes tanto de corpo como de mente... como noto ser o caso com as raças de outros animais.” Aos negros, continuou Jefferson, faltam os poderes da razão que são evidentes nos brancos e até nos índios nativos. Enquanto os ateus de hoje gostam de posar como exemplos da dignidade, o olhar científico e cético de Jefferson contribuiu não para seus sentimentos anti-escravistas mas para seu racismo. De alguma forma Harris e Shermer falham em apontar isso.

No final permance o fato de que os únicos movimentos que se opuseram à escravidão foram mobilizados no Ocidente, e foram em sua maioria absoluta liderados e constituídos por cristãos. Infelizmente o Ocidente teve que usar a força para acabar com a escravidão em outras culturas, como o tráfico muçulmano de escravos na costa da África. Em alguns lugares a campanha para erradicar a escravidão continua.

Então quem acabou com a escravidão? Os cristão acabaram com a escravidão, enquanto todo mundo parou pelo caminho e olhou.

...

[1]N. do T. A Guerra Civil americana foi uma guerra de grandes proporções entre Estados do Norte contra Estados do Sul nos anos de 1861 a 1865 que resultou na morte de 970.000 pessoas.

Dinesh D'Souza é autor do livro What's so great about Christianity(O que há de tão formidável no Cristianismo). Sua página web pode ser acessada em dineshdsouza.com

tradução Daniel Lourenço.

terça-feira, janeiro 15, 2008

Reportagem sobre a China na GloboNews

O canal de Tv por assinatura Globo News está anunciando uma reportagem sobre a prosperidade da “economia socialista de mercado” e de sua emergente classe média. Considero uma falta de escrúpulos do jornalista ou de seu superior dentro da empresa, ou dos dois, em fazerem uma matéria sobre a China exaltando sua prosperidade econômica, que é restrita a algumas cidades, sem falarem na miséria que grassa no campo, como se a China tivesse de repente se tornado modelo de desenvolvimento para outros países, o Brasil por exemplo. Muita gente acredita nisso mesmo. Talvez algum intelequitual queira trabalhar na fábrica da Nike para ganhar um salário que dê para pagar o almoço. Mas isso não importa, o importante é que a China se ergueu e faz frente aos EUA.. Bom, a própria prosperidade chinesa, que é nada se comparada à miséria do país, é movida pelos investimentos de empresas ocidentais e americanas em particular.

Sobre a China, é importante também comentar sobre a proibição dos casais de terem mais de um filho, o que aliás faz com que o infanticídio cresça, pois famílias preferem ter apenas um filho macho e matam o bebê do sexo feminino. O Tibet parece estar saindo da moda, agora que até o líder do país, o sr. Dalai Lama, quer entregar os pontos para a ditadura comunista. De qualquer modo, o segundo líder espiritual do país, o décimo primeiro Panchem Lama, foi raptado pelo governo de Pequim e é o prisioneiro político mais jovem do planeta. A censura à Internet continua, claro.. O governo chinês até ensaiou a proibição de entrada de Bíblias no país, mas parece que a política não pegou, haja vista que em 2008 o país abrigará as Olimpíadas.

segunda-feira, janeiro 14, 2008

Indios Tabajaras



Os indios tabajaras tocam uma valsa de Chopin. Um celular malinha aparece no meio da música, mas nada que atrapalhe..

sexta-feira, janeiro 11, 2008

Confusão computadorizada

Thomas Sowell, sobre como os engenheiros de computador podem complicar nossas vidas. Aqui.

segunda-feira, janeiro 07, 2008

A filosofia de Sócrates

"Os medíocres vivem lúcidos
Somente eu aparento estar confuso"
(Lao-Tsé)

Acuado por opositores em julgamento que lhe poderia valer a morte, Sócrates contou a história de por que fazia perguntas incessantes às pessoas:

“O fato é, homens de Atenas, que adquiri essa reputação devido a nada além do que uma espécie de sabedoria. Que espécie de sabedoria é essa? Apenas a sabedoria humana. Talvez os homens de que estávamos falando sejam sábios em outra espécie de sabedoria, maior que a humana...”

“Não, não me interrompam, a palavra que falo sai da minha boca mas não fui eu em quem a disse, porém uma pessoa de peso: O próprio Oráculo de Delfos. Aqui está o irmão de Querofonte que não me deixa mentir. Ele pode testemunhar que seu irmão falecido foi a Delfos perguntar ao Oráculo se havia alguém mais sábio que eu. O Oráculo respondeu que não.”

“Ora, isso me deixou intrigado. 'O que será que esse deus quer dizer, como devo interpretar suas palavras? Pois sei que não sou sábio de modo algum. Mentindo o Oráculo não está, pois um deus não mente, mas então como ele pode ter declarado isso?' Fiquei espantado. Chegou o momento que decidi investigar o que o Oráculo dissera.”

“Fui conversar com uma dessas pessoas que as pessoas em geral dizem ser sábias. Minha intenção era descobrir alguém mais sábio que eu e então mostrar ao Oráculo que ele se enganara. Fui eu pois conversar com um homem, homem público de Atenas, e conversando com ele percebi que parecia bastante sábio para outras pessoas e até para si mesmo, mas não o era em realidade. Tentei-lhe então mostrar que pensava ser sábio sem o ser de verdade. Ele passou a me odiar, bem como muitas das pessoas ali reunidas. No caminho de volta fui pensando comigo mesmo: 'Esse homem pensa que é sábio, mas não é. Eu não sou sábio, nem penso que sou. Sou mais sábio que ele nesse respeito.”

“Segui minha jornada. Conversei com os poetas. Algumas poesias pareciam ser tão elaboradas que esperava encontrar neles a sabedoria que buscava. Para meu espanto, entretanto, os poetas não sabiam explicar bem a sua obra, e qualquer homem ali presente era capaz de explicá-la melhor que eles próprios. Então compreendi que o que os poetas compunham não o faziam por sabedoria, mas por uma inclinação natural e por uma inspiração do mesmo tipo que têm os profetas e as profetizas de oráculos, os quais também falam coisas magníficas, mas não têm idéia do que estão falando.”

“Por fim, entrevistei os artesãos. Pensava que ia encontrar homens que sabiam muitas coisas boas, e de fato não me decepcionei. Eles realmente sabiam muitas coisas boas. Porém, ó homens de Atenas, eles tinham o mesmo cacoete dos poetas. Porque praticavam bem a sua arte, criam ser muito sábios em todo e qualquer outro assunto.”

“Compreendi então o que o Oráculo dissera.”

......

Atualização de 11/08/2012.

Muitos comentaristas futebolísticos criticavam comentários de Pelé, o maior jogador de futebol de todos os tempos. Alguns, espantados, chegaram a se perguntar se ele não entendia de futebol. Ora, como pode ser isso?

No caso, Pelé seria como os poetas com que Sócrates conversou. Sabe jogar futebol, mas não saberia como se o faz.