segunda-feira, junho 28, 2010

"O filósofo se parece com o poeta, porque ambos se ocupam do maravilhoso."

Tomás de Aquino, em Comentário à Metafísica, I, 3.

Créditos para o saite Contra Impugnantes.

terça-feira, junho 15, 2010

A educação brasileira tende a se fundar sobre três pilares: Inclusão digital, ambientalismo e prática esportiva superdimensionada. Para quem gosta de siglas, seria a educação de MALUCOS, ou seja, Meio Ambiente Limpo, Universalidade Computacional e Overdose de Sports. Os três 'R's, no inglês, de Reading, Writing and Arithmetics, não fazem mais a cabeça dos educadores.

Certa feita, Ferreira Gullar disse-me que um bom professor forma um aluno até mesmo debaixo de uma árvore. Parecia reverberar a lição de Josué Montello, seu conterrâneo maranhense.

O Barão "tirou do baú um de seus livros que o muito manuseio ensebara, e disse a Damião, debaixo da sombra de uma ingazeira.

-- Vou te ensinar a ler.

E ali mesmo principiou-lhe a mostrar as letras (...), ao cabo de um mês, já o Barão passara a ler com ele a História de Carlos Magno e os doze pares da França." (Montello, Josué. Os tambores de São Luís)

Por que não retomar o ensino de latim? Além do benefício lógico -- um gramático poderia dizer que cada aula de latim é uma aula de lógica --, obrigar-se-ia o aluno a passar largo tempo consultando o dicionário, tal que ao efeito positivo atribuído ao esporte, qual seja, de afastar da rua e seus perigos o menino e adolescente, o estudo de latim igualmente se prestaria.

quarta-feira, junho 02, 2010

Erro de Zubiri

Ele comete o erro primário de confundir psique com alma, erro que Rene Guénon procura desfazer já no título do capítulo XXXV de seu 'O reino da quantidade e o sinal dos tempos'. Zubiri diz: "O aspecto psíquico da substantividade humana tampouco é, como se costuma dizer, "espírito" (termo também muito vago). Poderia chamar-se alma se o vocábulo não estivesse sobrecarregado de um sentido especial, arquidiscutível, a saber: o sentido de uma entidade "dentro" do corpo e "separável" de si. Prefiro portanto chamar a este aspecto simplesmente "psique"." (Zubiri, El hombre y su cuerpo, tradução minha) Nem alma nem espírito, Zubiri, na realidade, a psique se pode chamar também de mente. Alma e espírito são termos impróprios porque correspondem a outro aspecto da substantividade humana, que não o psíquico. Vejamos o trecho do Livro de Urântia que explica resumidamente os níveis da realidade na experiência humana:

"1. Corpo. O organismo material ou físico do homem. O mecanismo eletro-químico vivo de natureza e origem animal.

2. Mente. O mecanismo de pensar, perceber e sentir do organismo humano. A experiência total, consciente e inconsciente. A inteligência associada à vida emocional, buscando, por meio da adoração e da sabedoria, alcançar o nível acima, do espírito.

3. Espírito. O espírito divino que reside na mente do homem -- o Ajustador do Pensamento. Este espírito imortal é pré-pessoal -- não é uma personalidade, se bem que esteja destinado a transformar-se em uma parte da personalidade da criatura mortal, quando da sua sobrevivência.

4. Alma. A alma do homem é uma aquisição experiencial. À medida que uma criatura mortal escolhe "cumprir a vontade do Pai dos céus", assim o espírito que que reside no homem torna-se o pai de uma nova realidade na experiência humana. A mente mortal e material é a mãe dessa mesma realidade emergente. (...) Essa é a alma emergente que está destinada a sobreviver à morte física e iniciar a ascensão ao Paraíso." (Livro de Urântia, Introdução, seção V)

Zubiri acredita que o homem forma uma unidade estrutural psico-orgânica. Exagerando as conseqüências desta teoria, incorre em outro erro ao dizer o seguinte: "(...) Quando o cristianismo, por exemplo, fala de sobrevivência e imortalidade, quem sobrevive e é imortal não é a alma mas o homem, isto é, a substantividade humana inteira." (Zubiri, El hombre y su cuerpo, tradução minha) Destrinchemos suas palavras: Por alma, no caso, ele deseja significar a psique, apenas utilizou o termo mais caro à tradição cristã, ao qual entretanto ele prefere o termo "psique". Este não é o ponto. Zubiri afirma que a substantividade humana inteira sobrevive. Que é, então, essa substantividade humana inteira? "O homem não é psique "e" organismo, porém sua psique é formal e constitutivamente "psique-de" este organismo, e este organismo é formal e constitutivamente "organismo-de" esta psique." (Zubiri, El hombre y su cuerpo, tradução minha) Ele acredita portanto que o corpo, junto com a psique, enquanto sub-sistemas do sistema constitutivo humano, deverão sobreviver. Isto é erradíssimo. Pois:

"No tempo, o corpo do homem é tão real quanto a mente ou o espírito, mas, na morte, tanto a mente (a identidade) quanto o espírito sobrevivem, enquanto o corpo não." (Livro de Urântia, doc. 12, seção 8)

Conceda-se a Zubiri, entretanto, que o homem sobrevivente em sua ascensão até o Paraíso ganhará novas formas -- termo empregado aqui conforme o uso corriqueiro --, ou vestimentas, com que se apresenta -- em termos zubirianos, o equivalente ao "momento de corporeidade" da substância psico-orgânica -- mas que não são, obviamente, um organismo físico-químico*, nem se concebe que Zubiri as tenha imaginado assim, o que seria um erro bisonho. "Tais formas, embora totalmente reais, não são os padrões de energia da ordem material, como vós entenderíeis agora. Contudo, ela vos servem, nos mundos do universo local, aos mesmos propósitos que os vossos corpos materiais vos serviram nos planetas do vosso nascimento humano." (Livro de Urântia, doc. 112, seção 6)

Do pouco ainda que conhecemos de sua obra, podemos já dizer que Zubiri é um filósofo de excelentes "insights". Sua teoria de que a substantividade humana consiste numa unidade estrutural em que "seus elementos não se determinam como ato e potência mas co-determinam-se mutuamente" (Zubiri, 'El hombre, realidad personal', tradução minha), de sorte que a psique seria estruturamente orgânica, porque vertida a um corpo, e o organismo, por sua vez, estruturalmente psíquico, pelo mesmo motivo, é realmente importante. Entretanto, Zubiri parece ter deixado de lado os outros e, por assim dizer, mais "estruturais" níveis de realidade humana, como o espírito, o qual é dotado ao ser humano tão logo ele tome sua primeira decisão moral, geralmente quando criança. A personalidade, crème de la crème, é a qualidade estruturadora, ela unifica os níveis da realidade e coordena suas relações.


*Em termos zubirianos, novamente, é impreciso igualar o organismo físico-químico ao corpo. Dir-se-ia, mais corretamente, que o corpo é o organismo na sua função somática, ou seja, enquanto "fundamento material da corporeidade do sistema." (Zubiri, El hombre y su cuerpo, tradução minha)

terça-feira, junho 01, 2010

Cecília Meirelles, em Metal Rosicler, 35

Embora chames burguesa,
ó poeta moderno, a rosa,
não lhes tira a beleza.

A tua sanha imprevista
contra a vítima formosa,
é um mero ponto de vista.

Pode a sanha ser moderna,
pode ser louvada, a glosa:
mas sendo a Beleza eterna,

que vos julgue o tempo sábio:
entre os espinhos, a rosa,
entre as palavras, teu lábio.