terça-feira, julho 01, 2008

César Borges festeja o 2 de julho, dia da "independência popular do Brasil"
















O senador César Borges (PR-BA) festejou, em discurso, o 2 de julho, "a data da independência popular do Brasil", quando as forças brasileiras finalmente conseguiram, com o apoio da esquadra do almirante inglês Thomas Cochrane, depor o governador da Bahia, Madeira de Melo, fiel aos portugueses.

Lembrou que, ao contrário da idéia "um tanto idílica" de que a independência do Brasil ocorreu no 7 de setembro de 1822 "com apenas um grito", a independência teve muito sangue na Bahia. A data, disse o senador, é comemorada todo ano na Bahia, quando autoridades se juntam ao povo para um desfile pelas ruas de Salvador.

César Borges lembrou que a independência na Bahia teve expressiva participação popular, especialmente dos negros, sendo lançada a semente da idéia do fim da escravidão. A história, acrescentou o senador, registra os nomes de duas mulheres, heroínas da independência - a da abadessa do Convento da Lapa Joana Angélica (assassinada pelos portugueses) e de Maria Quitéria de Jesus. Esta cortou os cabelos e vestiu-se de homem para lutar pela independência e, mais tarde, foi condecorada pelo próprio dom Pedro I.

Conforme o senador, questões levantadas há 185 anos na Bahia, como a participação das classes populares, dos negros e das mulheres na política, continuam atuais.

- É esse o espírito igualitário que precisamos invocar ao celebrar o 2 de julho - frisou. Ele informou que estará em Salvador, nesta quarta-feira (2), para os festejos.

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Notícia publicada na Agência do Senado de notícias.

Comento: Para quem não sabe, houve uma guerra de independência, que se travou sobretudo nos estados da Bahia, Pernambuco e Maranhão. Apenas em 1825 a independência brasileira foi reconhecida por Portugal, em tratado com a Inglaterra. O almirante escocês Thomas Cochrane, que recebera o apelido de "Lobo do Mar" do próprio Napoleão Bonaparte, na época estava afastado do serviço na marinha real britânica e foi contratado como mercenário pelo governo de Dom Pedro I após haver servido a causa semelhante de independência no Chile, tendo sido condecorado Marquês do Maranhão pelo primeiro imperador do Brasil.

Sobre a demagogia do senador, bom...

PS: Em tempo, aqui na Tijuca, bairro do Rio de Janeiro onde moro, há uma rua cujo nome é Almirante Cochrane.

A águia, a galinha e o pato

Malgrado a metáfora utilizada pelo autor Leonardo Boff que dá nome ao livro e percorre suas páginas ser válida, o mesmo não se pode dizer da linguagem empregada, que é sempre de uma simplicidade irritante, como se tratasse o leitor como criancinha. Ao que veremos, não condiz com o intuito do autor de transformar homens-galinha em homens-águia. As dimensões galinha e águia estão presentes em todos os homens, mas em alguns se destacam uma ou outra, sendo a galinha a dimensão cotidiana, prática e terrestre, enquanto a águia representa a visão de futuro e espiritual.

No primeiro parágrafo o autor já mostra suas credenciais marxistas, analisando a vida e obra de dois ganenses que se defrontaram contra a ocupação britânica de seu país, ressaltando a frase de N'Krumah ao tonar-se primeiro-ministro: "Sou socialista, sou marxista, sou cristão."

No quinto capítulo, Leonardo Boff demonstra conhecimentos de física citando as mudanças de paradigmas teóricos no século XX, fazendo uma comparação com a física praticada por Newton e Galileu em séculos anteriores. No fim do capítulo ele, que até então fizera distinções razoáveis entre a águia e a galinha, entrega-se ao discurso fácil de afirmar que falta ao homem atual a dimensão águia, devendo esse dedicar-se à luta contra o jugo dos dominadores. Eis aí a síntese da religião boffeana, cujo outro nome é revolta. Até mesmo o irmão de Leonardo Boff se deu conta que a teologia que dá primazia ao pobre sobre Deus não tem valor algum. A pobreza é uma qualidade acidental de um ser humano, é algo que chega e pode passar. O pobre não é uma realidade em si. Leonardo Boff abraça uma quimera confortável contra a difícil tarefa de entender o mundo, suas relações de poder, e a existência de Deus face a essas dificuldades. É tão simples o mundo de Leonardo Boff: há pessoas que não têm dinheiro porque os ricos, por serem maus, não querem deixar. Pensava eu assim quando tinha quatorze anos. O senhor Luiz Longuini, que ministrou a disciplina de Ética e cidadania para mim nas faculdades Moraes Júnior, acredita nisso.

Quando o senhor Longuini afirmou em sala de aula que a colonização era uma forma de exploração, retorqui dizendo que nem toda colonização envolve exploração, algo de uma obviedade ululante. Para citar um exemplo, os italianos que colonizaram o sul do Brasil vieram com o intuito de plantar uvas, não de expulsar indígenas ou portugueses de terras. O senhor Longuini disse que eu tinha mente de colonizado, no que foi respondido em tom firme com as mesmas palavras em seguida. E pensar que o homem tem doutorados mundo afora. Ou mái Gódi!

quinta-feira, junho 26, 2008

Raposa Serra do Sol, Monarquia Inglesa e Conselho de Segurança da ONU

Sobre a investida da monarquia inglesa sobre a reserva Raposa Serra do Sol, pareceu-me importante o seguinte trecho de editorial publicado no sítio Alerta em Rede:

"Em 1904, depois de aceitar a arbitragem do rei da Itália, o Brasil perdeu para a Grã-Bretanha a soberania sobre mais de 15.000 km2 da bacia do rio Pirara, hoje território da Guiana, tendo Londres pretextado a pretensão de proteger "indígenas independentes" interessados em ser súditos britânicos. De fato, o território inicialmente reivindicado pela Grã-Bretanha, mas não aceita pela arbitragem, incluía o que atualmente constitui a área da reserva indígena Raposa Serra do Sol."

A monarquia inglesa é um poder dinástico, que possui memória e não desiste fácil de seu objetivo, ainda que sua consecução dure mais de cem anos. Se a contrapartida da doação das terras do estado de Roraima para a monarquia inglesa é o ingresso na Conselho de Segurança da ONU, então estamos ganhando algo em troca. Não sou sonhador, mas seria muito melhor que esses negócios fossem feitos com mais transparência.

sábado, junho 21, 2008

John Marshall: Citizen Statesman Jurist



John Marshall foi o primeiro "chief justice" da Suprema Corte dos Estados Unidos da América a decidir que a Constituição, por ser a Lei maior, deve ter preponderância sobre outras leis e negar-lhes validade quando estão em desacordo com ela. Essa decisão, expressa no caso Marbury versus Madison ( aliás, como disse meu amigo Frederico Bonaldo, é uma pena que no Brasil os processos sejam conhecidos por números e não pelo nome das partes ) influencia a organização política de quase todos os países do Ocidente. John Marshall foi um dos homens mais influentes da história dos Estados Unidos da América. Esse filme de cinqüenta e sete minutos conta sua vida e obra; sabemos por exemplo como foi a educação do juiz, que aprendeu latim com o reverendo da cidade e leu os "Commentaries on the Law of England" na biblioteca de seu pai.

Quem quer que se interesse por direito constitucional deve assistir a esse vídeo.

quinta-feira, junho 19, 2008














cena da peça Édipo Rei encenada na Itália

Outro dia estava conversando com um colega a respeito de se a noção de análise da vida individual na Grécia Antiga era mais fraca que no cristianismo. Ele acreditava que na peça Édipo Rei, o personagem Édipo era levado a analisar sua vida individual. Discordei dele então. Édipo não analisou sua vida pregressa, sua vida pregressa se impôs a ele de forma fatal, e por esse motivo essa peça é uma tragédia. A concepção do cristianismo é diferente. O homem da Cristandade é chamado a analisar sua vida pregressa para conhecer-se melhor e então conduzir sua vida da maneira que escolher, sendo chamado a escolher os caminhos do Pai Celestial para participar do Reino dos Céus.

A tragédia que se abate sobre Édipo sequer é um resultado de escolhas que fez no passado, escolhas as quais resultariam no seu estado presente. Na verdade, Édipo não tem culpa alguma pela tragédia que se lhe abate, a consumação da tragédia estava configurada desde seu nascimento. Tanto assim que o ex rei tebano será recebido pelos deuses quando morre, na peça Édipo em Colônia, o que demonstra que os deuses reconhecem seu valor.

quarta-feira, junho 18, 2008



















Essa é uma foto de cartazes espalhados por todas as instalações da Universidade Estadual do Rio de Janeiro anunciando o vigésimo encontro internacional da juventude antifascista e antiimperialista.

Hay que se lamentar. Talvez os jovens não saibam, mas Che Guevara era racista e maquiavélico, segundo seus próprios colegas em treinamento de guerrilha no México.

Em tempo, não fico feliz com a morte de um ser de minha espécie, mas ao verme que primeiro roer as frias carnes do cadáver de Fidel Castro - um chapa de Guevara, dedico um biscoitinho de chocolate.

sexta-feira, junho 13, 2008

E aí, intelequituais?




















A empresa Inbev, que tem entre suas marcas a Brahma, fez uma oferta para comprar a empresa cervejeira Budweiser. A equipe que controlaria a Budweiser seria formada por brasileiros. E aí, intelequituais, com qu, vocês não teriam algo a opinar sobre o assunto? Que tal o imperialismo brasileiro sobre os EUA?

terça-feira, junho 10, 2008

quinta-feira, maio 29, 2008

Pena para o bandido ou pena pelo bandido?

O Jornal da Globo, exibido na Rede Globo de televisão à noite, está transmitindo uma série especial de reportagens sobre o sistema prisional brasileiro essa semana. O que vemos são cadeias superlotadas, presidiários tratados como cães da SUIPA. As condições são horríveis.

Qualquer ser humano assistindo àquela reportagem não consegue deixar de sentir dó pelos presos. Eu, que de liberal não posso ser acusado, fico com vontade de soltar todos eles. Só que ali estão homicidas, ladrões à mão armada e outros tipos nada atraentes.

Um secretário do governo do Rio Grande do Sul afirmava na cobertura jornalística que não há mais vagas no sistema prisional porque a sociedade não consente em investir dinheiro nessa área, preterindo a educação ou a saúde.

Ocorre que a conta, no final, será paga pela própria sociedade. Ao recusar-se a aplicar dinheiro na construção de um sistema prisional humano, terá depois que escutar grupos de direitos humanos defendendo os bandidos sem pudor. Desde 1984 - ano simbólico aliás - com a aprovação da lei de execuções penais, a criminalidade alcança vitória atrás de vitória, com o único revés da lei dos crimes hediondos de 1990, na busca por penas mais brandas. O grupo criminoso Comando Vermelho tinha como uma de suas bandeiras iniciais a luta por um sistema prisional menos torpe.

É bom, portanto, que a sociedade queira investir no sistema prisional. Não só os grupos de direitos humanos, que em nosso país só fazem defender os bandidos, perderiam força, como as penas seriam cumpridas sem que nós ficássemos com dor na consciência.

segunda-feira, maio 26, 2008

No diálogo Simpósio de Platão, o personagem Sócrates conta uma história que escutou de Diótima de Mantinea sobre o amor. Esse deus seria filho da Riqueza e da Pobreza. Um dia, durante a festa pelo nascimento da deusa Afrodite, Riqueza, um dos convidados, deitou-se no jardim de Zeus e adormeceu. A Pobreza bateu à porta implorando. Vendo que Riqueza adormecia, a Pobreza deitou-se ao seu lado e concebeu um filho, Amor. Por natureza, o Amor nunca passa necessidades nem abunda em riqueza. Ele é audacioso e está num meio entre a ignorância e a sabedoria. Por isso, é um filósofo nato. Ele busca a sabedoria, a qual não possui, como se diz dos outros deuses.

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Um argumento dos defensores do aborto é que a mãe pode não ter condições financeiras de cuidar do filho. Às vezes não se tem tudo, nem o melhor que queremos dar para alguém. Mas esse não pode ser motivo para nos afastarmos da pessoa. Tempo vai, tempo vem, estamos numa melhor situação. A questão não é quantidade de dinheiro que temos, mas quanto estamos dispostos a buscar o bem.

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Um blogueiro foi felicíssimo ao notar que os socialistas são os mais preocupados com o capital.

sábado, maio 24, 2008



O Figueiredo deu a concessão para o SBT. Não lhe esqueceremos por isso.

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Para conhecer sobre o ex-presidente politicamente incorreto, veja a reportagem de Veja após sua morte.

Explicando o post anterior

Os jornalistas Marcelo Csettkey e Marcelo Gil querem que se acredite que o governo George W. Bush deu passe livre para terroristas efetuarem os ataques de onze de setembro e depois usou a perplexidade causada pelos ataques para exercer uma hegemonia global.

A hegemonia global americana não foi dada pelos ataques de onze de setembro. Ela já existia antes e continua existindo agora. O efeito número um do ataque terrorista foi a invasão americana ao Afeganistão. Como se explica a invasão a um país encravado na Asia Central, que só custou a morte de solados americanos, além dos civis já sacrificados nas Torres Gêmeas por um perverso governo cristão? Não se explica. O Afeganistão não tem petróleo, foi um país estratégico para a União Soviética nos anos 80 porque essa não tinha saída para o Oceano Índico. Para os EUA, não teria qualquer importância a não ser o fato de abrigar o terrorista causador dos ataques de onze de setembro, Osama Bin Laden.

A primeira justificativa para a Guerra ao Iraque que veio a seguir não foi a ligação do governo Sadam Hussein com o grupo terrorista de Osama Bin Laden, a Al-Qaeda, mas o desenvolvimento de armas de destruição em massa(ADM) por aquele país. De modo que os ataques às Torres Gêmeas não foram a justificativa principal para se destituir aquele tirano.

O petróleo? Os ganhos dos EUA com a exploração do petróleo iraquiano são relativos, face ao número de mortos de soldados que a guerra já trouxe e a pululação de tipos extravagantes como os senhores Michal Moore e os jornalistas que tiram proveito da guerra. Depois que o presidente George W. Bush declarou que a missão estava cumprida, já morreram muitos soldados americanos.

A sinopse do livro Crime de Estado diz que mais que um livro de investigação jornalística, aquele é um livro de denúncia. Isso significa que seus autores estavam mais interessados em fingir valentia denunciando fatos graves do que em cumprir o dever jornalístico de buscar a verdade doa a quem doer, mesmo que doa o próprio ego.

quarta-feira, maio 21, 2008

Elvis morreu



















O jornalistas Marcelo Csettkey e Marcelo Gil vão lançar o livro Crime de Estado, contando que o ataque de onze de setembro foi planejado pelo governo George W. Bush. Já não é hora de ser um pouco mais razoável para inventar histórias do tipo o homem não foi à lua, a Coca-Cola vai colocar um letreiro nesse satélite terrestre, por aí vai..

Tenha um pouquinho de razoabilidade para contar historinhas. Ai meu saco..

segunda-feira, maio 19, 2008

Eram os terroristas democratas?

Publicado hoje no blog de Reinado Azevedo.

Marco Antonio Villa, professor de história do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), é um intelectual raro em Banânia. É um dos poucos que escrevem com desassombro, preso apenas aos fatos. Não usa a academia para “fazer justiça” — o particularíssimo senso de justiça da esquerda acadêmica. Nem sempre concordamos. Quase sempre. Uma das melhores entrevistas que fiz na revista Primeira Leitura, que rendeu capa, foi com ele. Darei um jeito de recuperá-la. Ele é autor de vários livros importantes, mas um merece destaque: Jango, Um Perfil. Sem paixões, explicita a trajetória política e intelectual do presidente deposto pelo golpe de 1964 e evidencia o que o “oficialismo da resistência” sempre tentou esconder: Jango levou a “baderna” (a palavra é minha) para dentro do governo.

Na Folha de hoje, ele escreve um artigo sustentando uma posição que, muitas vezes, vocês já viram explicitada neste blog. E sem temor da patrulha. Uma das funções dos intelectuais é justamente esta: não ter medo do pensamento. Seguem trechos:
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A LUTA armada, de tempos em tempos, reaparece no noticiário. Nos últimos anos, foi se consolidando uma versão da história de que os guerrilheiros combateram a ditadura em defesa da liberdade. Os militares teriam voltado para os quartéis graças às suas heróicas ações. Em um país sem memória, é muito fácil reescrever a história. É urgente enfrentarmos essa falácia. A luta armada não passou de ações isoladas de assaltos a bancos, seqüestros, ataques a instalações militares e só. Apoio popular? Nenhum. O regime militar acabou por outras razões.
Argumentam que não havia outro meio de resistir à ditadura, a não ser pela força. Mais um grave equívoco: muitos dos grupos existiam antes de 1964 e outros foram criados logo depois, quando ainda havia espaço democrático (basta ver a ampla atividade cultural de 1964-1968). Ou seja, a opção pela luta armada, o desprezo pela luta política e pela participação no sistema político e a simpatia pelo foquismo guevarista antecedem o AI-5 (dezembro de 1968), quando, de fato, houve o fechamento do regime.
O terrorismo desses pequenos grupos deu munição (sem trocadilho) para o terrorismo de Estado e acabou usado pela extrema-direita como pretexto para justificar o injustificável: a barbárie repressiva.
Todos os grupos de luta armada defendiam a ditadura do proletariado. As eventuais menções à democracia estavam ligadas à "fase burguesa da revolução". Uma espécie de caminho penoso, uma concessão momentânea rumo à ditadura de partido único.
Conceder-lhes o estatuto histórico de principais responsáveis pela derrocada do regime militar é um absurdo. A luta pela democracia foi travada nos bairros pelos movimentos populares, na defesa da anistia, no movimento estudantil e nos sindicatos. Teve na Igreja Católica um importante aliado, assim como entre os intelectuais, que protestaram contra a censura. E o MDB, nada fez? E seus militantes e parlamentares que foram perseguidos? E os cassados?
Quem contribuiu mais para a restauração da democracia: o articulador de um ato terrorista ou o deputado federal emedebista Lisâneas Maciel, defensor dos direitos humanos, que acabou sendo cassado pelo regime militar em 1976? A ação do MDB, especialmente dos parlamentares da "ala autêntica", precisa ser relembrada. Não foi nada fácil ser oposição nas eleições na década de 1970.

Resposta à carta

Paulo,


Muito obrigado pela sua mensagem. Fico muito feliz que você tenha lido os textos.


De fato, existe uma série de conceitos que necessitariam uma melhor definição, mas não tenho tempo nem cabeça para explicar tudinho. Cada conceito desses exige uma quantidade de estudos grande e não tenho tempo para estudar de modo tão profundo para especificá-los de modo tão rigoroso. Quando chegar ao Mário Ferreira dos Santos, esse sim, rigorosíssimo, vou conseguir falar com mais propriedade de cada termo. O Olavo certamente é uma influência, o Diogo não muito, aliás leio os artigos dele vez ou outra.


Às vezes tenho vontade de escrever rápido e sai um erro ou outro. Por exemplo, num texto traduzi do inglês atheists por ateístas quando o correto é ateus, mas depois corrigi. Sei que é muito ruim para o leitor, pois também sou leitor, e sobretudo para um estudante de letras, ver esses erros de português, mas eu tento melhorar e peço desculpas. O movimento revolucionário são os intelectuais – os intelectuais iluminados – ou quando não têm um pingo de bom senso, intelequituais, de esquerda em geral que querem fazer a revolução, implantar a ordem perfeita divina na terra, o que, como foi explicado no verbete*, é um traço comum do nazismo, comunismo, socialismo em geral. Fiéis porém à idéia de que não se trata de interpretar, mas de transformar o mundo, os intelectuais revolucionários também trabalham para inaugurar a era perfeita, conforme o exemplo de Marx e Lenin, que lutaram em vida, o segundo com tremendo êxito, pela implantação do regime comunista. As idéias de soluções gerais perfeitas, de um modo muito mais modesto, também estão presentes no liberalismo americano ( quem diria que o partido do anti-comunista John Kennedy se tornaria o partido do socialista Obama? ) e até no conservadorismo, sobretudo nessa vertente néoconservadora que quer espalhar o modelo da democracia americana para os quatro cantos do globo, conforme o discurso inaugural do segundo mandato de George W. Bush. A bandidagem é exatamente o lumpemproletariado, ou seja, o bandido comum, o traficante de drogas, o homicida, o pivetinho marrento. Esse pessoal foi arregimentado pelo movimento revolucionário, ou seja, pelos guerrilheiros que lutavam contra a ditadura militar, os quais lhe ensinaram técnicas modernas de prática de crimes, como por exemplo o roubo a bancos. Isso até hoje é assim, não se esqueça das notícias dando conta do treinamento dado por membros das Farc a integrantes do MST. Um guerrilheiro comunista famoso no Brasil, Carlos Marighella, escreveu um livro chamado Mini manual do guerrilheiro urbano, em que fornece várias dicas para formar um grupo organizado de luta. Essa gente conviveu com os bandidos comuns e ensinou-lhes suas táticas. Leia o verbete Comando vermelho (http://pt.wikipedia.org/wiki/Comando_Vermelho) na wikipedia bem como o livro Comando vermelho, de Carlos Amorim.



Sobre a lei de ensino de história africana no Brasil, também acho importante conhecer a história da Africa, pouco importando aqui o conceito de raça, mas sim o fato de que a população brasileira é formada por muitos africanos. Não podemos nos esquecer, no entanto, da contribuição portuguesa e parar de ficar falando mal do português como se ele fosse mau e o africano bom. Este também praticava a escravidão, aliás, muitos, se não a maioria dos escravos que vinham para o Brasil já eram escravos na Africa e o português o comprava e trazia para cá.



Sobre o direito penal, obrigado pela pergunta, de fato quero falar mais sobre o assunto. Sim, no Brasil hoje os crimes são punidos com uma mesma unidade de medida, sendo razoável que os crimes mais graves tenham penas maiores que os menos graves. Porém, faço-lhe a pergunta: digamos que sujeito praticou três homicídios e pegou pena máxima em cada um deles, a qual é de trinta anos, devendo portanto permanecer na cadeia por noventa anos. Esqueçamos todos as possibilidades de redução de pena e soltura prévia para não prejudicar o raciocínio. Agora imagine outro sujeito que pratique seis homicídios, pegando também pena máxima por cada um deles, devendo permanecer na cadeia por cento e oitenta anos. Ambos os sujeitos, na prática, ficarão na cadeia pelo resto da vida. Eles terão a mesma pena, muito embora o sujeito que praticou seis homicídios devesse cumprir uma pena maior que o que praticou três. Aristóteles dizia que a justiça é dar a cada um o seu, e ele esté muito certo em relação ao direito civil, dos contratos, do casamento, etc. Por exemplo, se compro uma mercadoria na padaria da esquina, é justo que eu dê o preço da mercadoria à padaria. E a relação de justiça se encerra aí. No direito penal, muito embora o apenado receba uma pena que lhe cabe conforme o ato que praticou, extravagâncias como o caso citado dos dois homicidas em série vão ocorrer. E outra peculiaridade do direito penal é que a pena em concreto não é algo natural, que se enxerga pela lei natural, mas algo que será definido pelo Estado. Assim, a pena de prisão por exemplo é algo relativamente novo no Ocidente. Creio já ter havido a pena de prisão em culturas antigas, mas essa não era a regra. A regra era a pena corporal, o castigo corporal, o exílio ou a morte. Existia a prisão cautelar, enquanto o sujeito esperava o cumprimento da pena. O filósofo Sócrates ficou detido até que cumprisse sua pena de envenenamento.


E sobre o texto sobre Caetano, foi exatamente isso que fiz, Paulo. Quem chamou Caetano de mestre foi o professor Pasquale e a anedota de colocá-lo no mesmo patamar de Platão é exatamente uma referência jocosa a essas pessoas que consideram Caetano um mestre.


Obrigado pelos comentários sobre o texto João e o cão basset.

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*verbete SOCIALISMO que escrevi para um dicionário, o qual entreguei para meu amigo ler.

Veja a carta de meu amigo no post anterior.

Carta de um amigo

Recebi carta de um amigo, Paulo Gravina, comentando os últimos posts do blog, a qual reproduzo aqui. Minha resposta estará no próximo post.

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Olá, Daniel,

muito interessante o seu blog. É legal descobrir (para mim uma surpresa!) o seu interessem em psicologia, política e, o mais importante, nas duas misturadas. Também gosto da maneira que você escreve, de uma maneira jornalística, informando, mas mostrando claramente a sua opinião. Vejo também uma certa influência do Olavo e do Diogo Mainardi em termos de dicção e tom. Tente sair disso, não porque eles não sejam bons, mas para tentar encontrar sua própria voz.

Comentando cada texto:
- do lumpemproletariado, realmente entendo pouco do assunto. Acho muito importante e verdadeiro o seu respeito e fidelidade aos autores, mesmo por aqueles que, claramente, você não gosta. Tome só cuidado porque senti que faltaram maiores explicações nesse texto, quer dizer, quem é o movimento revolucionário e a bandidagem? São só as Farcs e os traficantes? E quem são exatamente os "iluminados intelectuais"? Qual o limite do seu objeto de estudo? Tome cuidado com as generelizações, mas, a princípio, parece já um texto voltado para um público específico, que já sabe do que você está falando. E vi um pequeno errinho, um "possue" no segundo parágrafo.

- Sobre a história afro-brasileira, daria uma ótima discussão e onde está a discussão? Em primeiro lugar, a denominação "afro-brasileiro", que é simplesmente impossível de definir. O Gilberto Freyre passou a vida inteira provando que os traços negros estão presentes na cultura brasileira como um todo, são indiscerníveis das influências européias e cristãs e estão presentes inclusive na nossa maneira de falar. Se fosse ensinado Gilberto Freyre nas escolas seria realmente muito interessante, mas é disso que se trata a lei? É muito difícil opinar só com aquilo. Aliás, o próprio conceito de raça foi cientificamente provado como inexistente entre os seres humanos, pois é possível que haja diferenças genéticas maiores entre membros da mesma etnia do que de etnias diferentes (ao contrário, por exemplo, dos cachorros, onde as raças necessariamente significam diferenças genéticas maiores).

- do pasquim da reação, bem legal! De novo, faltaram explicações sobre o que quer dizer romantismo e pensamento conservador. Comente e explique!

- sobre o psicólogo, ainda não li a entrevista, mas achei interessantíssimo o penúltimo parágrafo. "Nenhuma pena jamais será perfeitamente adequada ao ato punido." Nunca estudei direito, mas não seria exatamente por isso que se coloca todos os crimes na mesma unidade de medida? Aliás, sempre fui muito interessado nisso: qual é a metodologia para definir essa unidade (ex.: 30 anos)? Desenvolva!

- Sobre o Caetano já conversamos. É interessante ver o seu amor pela língua portuguesa. Tome só cuidado com os conceitos, chamar Caetano de poeta ou mestre é muito diferente de compará-lo a Camões, Pessoa ou Platão...

- Sobre o João e o cão basset, gostei! Tem uma certa confusão no diálogo entre os registros escrito (ex.: fora, fizeste) e falado (ex.: muleque), mas sinto, como falei no início, que você ainda está definindo sua voz. Tente ler Tchékov (os contos!), acho que é uma proposta literária parecida com a sua nesse conto (cenas do cotidiano), mas com a linguagem atravessando os personagens e cenas, ou seja, para escrever sobre uma criança ele assume uma linguagem apropriada. Também é interessante a dupla aproximação-distanciamento do João, você ora pensa com o personagem, ora descreve a cena. Leia Madame Bovary, Flaubert é o mestre nisso!

- Os vídeos, ainda não tive tempo de ver, mas verei!


Abraços,
Paulo.

domingo, maio 11, 2008

Debate Peter Hitchens e Dinesh D'Souza



Debate sobre a existência de Deus entre o defensor do direito dos animais e o grande debatedor que escreveu o livro "O que há de tão formidável no Cristianismo?"(não traduzido para o português).

sexta-feira, maio 09, 2008

Ghost Hound



Ghost Hound é um anime muito legal, sobre três garotos com questões do passado a resolver. Um deles, quando criança, foi seqüestrado junto com sua irmã, que morreu. Já se passaram vários anos desde o fato, mas muita coisa não foi esclarecida, inclusive o suicídio do pai de outro dos garotos, apontado como o autor do seqüestro.
Para quem gosta de psicologia, é um prato cheio. Cada episódio trata de um tema específico da psicologia.

quinta-feira, maio 08, 2008

João e o cão basset

Saía João do colégio quando seus colegas de turma o abordaram, esbaforidos da corrida que fizeram pela escada.
--Você sabe que o Manuel vem atrás de você? Vai ficar aí parado?
Fez aquele muxoxo como se não desse importância.
--Pois que venha. Se ele vier, eu estou aqui.
João ficou esperando até que Manuel chegasse. Vinha uma tropa de alunos atrás dele. Todos tirando uma casquinha do grandalhão, emocionados com o momento da briga. As pernas de João tremiam, mas ele se mantinha firme e sua cara era decidida. Manuel foi falar com João.
--Tu sabes o que tu fizeste comigo? (deu um sorrisinho cínico). Atrás a turba esperava pelos momentos decisivos.
--O que que eu fiz contigo muleque?-- falou nervoso João, mas firme ainda. Mostrava que não fugiria da briga.
--Tu me sacaneaste muleque. Hunpf..--fez que ia sair Manuel. João também deu as costas, no que Manuel desferiu-lhe um tapa de leve no couro cabeludo sem olhar mais para trás. João ficou puto, mas não foi atrás de Manuel.
Não houve briga. João foi para casa sem saber se fora homem, ou melhor, fora homem, mas talvez não o bastante? Repisava essas coisas ainda e caminhava doido para chegar em casa. A brisa que soprava esfriou o seu corpo enquanto ele parava no cruzamento. Do outro lado da rua um cão basset remexia o lixo. O dono puxava a coleira para lá e para cá, mas o cãozinho, que não muda de feição nunca, não queria se afastar da cesta de detritos. O sinal fechou e dessa vez o dono puxou forte a coleira. O cãozinho então seguiu resignado. João e o cão basset cruzaram pela faixa entreolhando-se.
João chegou em casa e ligou o computador. Sentou no sofá e espreguiçou-se todo para colocar o nervosismo para fora. É, cria que fora homem o bastante. Talvez fosse mais em outra ocasião. Mas por ora servia.

domingo, maio 04, 2008

Enquanto os homens exercem seus podres poderes...

Estava assistindo ao programa Altas Horas na Globo depois de chegar da balada e preparava-me para dormir, mas não consegui resistir ao impulso de vir aqui fazer um comentariozinho sobre a entrevista do professor Pasquale Neto. Não é que o ultra badalado professor de língua portuguesa chama Caetano Veloso de mestre? Impossível não lembrar da entrevista de Bruno Tolentino na Veja quando disse que não podia matricular seu filho numa escola brasileira porque lhe ensinariam que Caetano Veloso era poeta, junto com Camões e Fernando Pessoa; aliás, acrescento eu, se é que ensinariam que esses são poetas.

Juremir Machado da Silva entrevistando Diogo Mainardi contou uma anedota que repito aqui: O sujeito assistia a uma aula de filosofia na Sorbonne quando o professor citou Platão. Não contente, ele rebateu:
--Mas o Caetano...

sábado, maio 03, 2008

Ainda Lyle Rossiter

Outro ponto explicado pelo psicólogo em sua entrevista é que um doente mental adulto foi na infância educado em um ambiente indulgente, que não apontava o errado nem praticava a punição. Procurava uma outra passagem na Ética de Aristóteles quando me deparei com essa (o que me fez lembrar da entrevista):
"O homem auto-indulgente, como dissemos, não está pronto para se arrepender; pois ele age por escolha própria; mas o homem incontinente está aberto ao arrependimento. Isso é porque a posição não é como foi expressada na formulação do problema, mas o homem auto-indulgente é incurável e o incontinente curável; pois a maldade é como uma doença como a hidropisia ou tísica, enquanto a incontinência é como a epilepsia; a primeira é permanente, a segunda é um mal intermitente." (Ética a Nicômaco, livro VII, capítulo 8)

Platão, por sua vez, dizia que o homem quando pratica um ato mau deve ser castigado. Ele precisa ser castigado para o seu próprio bem.

Meu amigo Antonio Fernando Borges criticou a decisão judicial que obrigou hackers a escreverem resumos de obras de escritores brasileiros importantes como forma de punição. Com a devida vênia, Antonio, discordo de você. A intenção do juiz não é transformar as pessoas que praticaram o hackerismo em literatos, apenas puní-las. A decisão é inventiva, de certo que sim, mas não entendo como pode ser pior do que mandá-las para o xadrez ou mesmo obrigá-las a distribuir cestas básicas.

O direito penal é um dos maiores problemas do mundo. Nenhuma pena jamais será perfeitamente adequada ao ato punido. Nesse ponto, a fórmula clássica de justiça de Aristóteles, "dar a cada um o seu", encontra um obstáculo.

Ficarei grato se alguém quiser discutir o assunto.

sexta-feira, maio 02, 2008

A morte de um movimento

retirado do blog português O Pasquim da reacção.

Há uns anos, numa conferência sobre Pensamento Conservador, ouvi da parte de um investigador italiano, uma afirmação muito interessante. Dizia ele que em Itália os conservadores haviam desaparecido com a ascensão ao Poder de Mussolini. Num período de meses, o conservadorismo, que teria tido algum peso em Itália até então, cindiu-se em apoiantes fascistas e resistentes liberais.
A história do conservadorismo italiano é interessante, mas mais importante é a forma como a debandada de conservadores para o movimento fascista é demonstrativa da forma como a ausência de fundamentação do pensamento conservador e das “Direitas”, pode levar à quase completa destruição de um movimento político.

O Romantismo como ideia política parece-me ter sido uma das causas para essa destruição. Onde o conservadorismo estava reduzido a uma crença na necessidade de manutenção do Estado, onde a política era vista como uma pertença política étnica desprovida de um “ethos” mais profundo, a debandada ganhou proporções desmedidas. Por outro lado, dos que defendiam as liberdades, sobraram meia-dúzia enquanto conservadores. Apenas os que perceberam que a liberdade ou se encontra fundada num princípio mais elevado, ou não existe, ficaram. E desta feita sem qualquer relevância política.

Independentemente dos méritos e deméritos do fascismo, a debandada dos conservadores é ainda hoje um tópico interessante, em particular para os que pretendem defender os movimentos políticos como conjuntos agregados de pontos programáticos desligados de uma racionalidade comum.

Vão ensinar história de Portugal também?

Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI No 10.639, DE 9 DE JANEIRO DE 2003.

Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o A Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 26-A, 79-A e 79-B:

"Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.

§ 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do
Brasil.

§ 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.

§ 3o (VETADO)"
"Art. 79-A. (VETADO)"
"Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’."

Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 9 de janeiro de 2003; 182o da Independência e 115o da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 10.1.2003

quinta-feira, maio 01, 2008

O lumpemproletariado e a revolução

"The “dangerous class”, [lumpenproletariat] the social scum, that passively rotting mass thrown off by the lowest layers of the old society, may, here and there, be swept into the movement by a proletarian revolution; its conditions of life, however, prepare it far more for the part of a bribed tool of reactionary intrigue."
(Communist manifesto, Marx and Engels, chapter 1).

O lumpemproletariado é a escória social, a bandidagem, que conforme diz o livro mais famoso do movimento revolucionário socialista pode ser usado como arma para a revolução. No Brasil, foi isso que aconteceu. Desde que foi relatada a convivência entre guerrilheiros comunistas presos e bandidos comuns no cárcere de Ilha Grande, e como os bandidos comuns aprenderam com aqueles métodos aperfeiçoados de praticar o crime, a relação entre o movimento revolucionário e a bandidagem é nítida. Não adianta Engels ter dito também que os ladrões comuns devem ser desprezados pelos revolucionários militantes, a lição foi aprendida e colocada em prática. O Comando Vermelho deve o adjetivo vermelho aos ensinamentos que seus primeiros líderes alcançaram com os guerrilheiros comunistas. Assim, também não é de espantar que o atual chefão do grupo, Fernandinho Beira-Mar, seja aliado fiel das Forças Armadas Revolucionárias Colombianas(FARC), o grupo que persegue a revolução comunista na Colômbia. Além do trabalho prático de ensinamento aos bandidos comuns, outra engrenagem foi utilizada. Os iluminados intelectuais apaziguam e culpam a própria vítima do crime pelo crime cometido. O raciocínio aplicado é o seguinte: Se a vítima não tivesse algo para ser roubado, ela não o seria, portanto a culpa é sua. O bandido não possui o bem que a vítima tem, portanto ele pode pegá-lo. Não importa o quão rico seja o bandido, haja vista que um "aviãozinho" do tráfico pode tirar mais dinheiro que um trabalhador comum. O cenário brasileiro é esse: por um lado, ajuda prática ao crime, que já se organizou, e agora pensa até em ação política duradoura, por outro ajuda intelectual, legitimando suas ações.

O maior estudioso da causa psicológica do comunismo é o psiquiatra forense Lyle Rossiter. Em entrevista(carregue o aúdio até próximo da metade, que é onde efetivamente começa a entrevista), ele explica por quê o liberalismo radical (trata-se do liberalismo americano, que é muito mais amplo que o econômico e contrário a ele) é uma doença mental. Ele faz uma divisão entre o liberalismo benigno e o "maligno". Há pessoas que se colocam dentro da lei e vivem de modo comum suas vidas, preocupam-se porém com a miséria no mundo e estão abertas para acreditar nas propostas radicais dos revolucionários, em quem Rossiter enxerga a doença mental. Ele afirma que no sociopata a doença mental mistura-se com o impulso maligno.

quinta-feira, abril 24, 2008

Nelson Rodrigues entrevistado por Otto Lara Resende



"O maior acontecimento do século vinte é a rebelião do cretino fundamental." Está na parte 2, não perca. Mas a melhor mesmo está na parte 3. Otto pergunta:
--O nome do seu livro, O Reacionário, é uma técnica de publicidade?
Responde Nelson:
--É uma técnica de sinceridade.

A Webb of Lies

por Wendy McElroy

Appeared in The Free Market, Volume 18, Number 2 (February 2000)

In The Foundations of Leninism, Stalin declared “For the overthrow of the bourgeoisie, we must have the efforts of the proletarians of several advanced countries.” What he secured instead was the slavish devotion of Western intellectuals who claimed to represent the proletariat: left intellectuals. With some exceptions, these apologists either ignored or adamantly denied the atrocities of Stalinism. In doing so, they became accomplices to the bloodbath that was Soviet communism; that is, Marxism as popularized by Lenin.
The carnage was inevitable. Soviet communism openly advocated using violence in order to create the “new Soviet man”—an evolved human being whose nature would conform to a collectivist ideal. This man, multiplied by millions, would constitute a brave new society dedicated to a common goal and acting as though directed by a single will. In short, Soviet communists wanted to reprogram human nature.

But how? Marx contended that a man who had grown up in isolation would not be a human being. By contrast, a man shipwrecked alone would be human because of his prior socialization. He would have already been exposed to language, reasoning, art...all the factors that create “humanity.” In essence, Marx argued that human beings are social constructs. Ludwig von Mises described the Marxist view of individual man, “The notion of an individual, say the critics, is an empty abstraction.” To fill this abstraction, to mold it into an ideal man, it was necessary to control absolutely the society that would define him. If he resisted redefinition, he could be eliminated.

The attempt to speed up and direct evolution was doomed. To no avail, classical liberals explained that a man who developed in isolation would remain a human being with human characteristics. For example, he would have a scale of preferences and act to achieve the highest one first. True, without social interaction, much of his potential would never develop. For example, he was unlikely to develop language skills. If he were placed within a society, however, these potentials might emerge. But if they did, the development would be possible only because of his inherent nature as a human being. Not because a collective defined them into existence. Thus, instead of evolving a new man to fit a political ideal, classical liberals adopted a political approach (natural rights) that fit human nature. Their ideal society required few controls.

As implausible as the new Soviet man might seem, left-wing radicals in the West applauded the Soviet Experiment. They clearly believed Trotsky’s description in Literature and Revolution: the “average human type” under communism would be the equal of Aristotle and “above this ridge new peaks” of humanity would rise. Among the loudest voices cheering were the prominent British socialist utopians, Sidney and Beatrice Webb.

In 1932, the Webbs traveled to Russia. This was the same year that Stalin directed a campaign of genocide against the kulaks—the millions of farmers, largely Ukrainian, who refused to be collectivized. When shooting them proved too slow, Stalin created a famine by sealing off roads and railway lines. Then the kulaks were stripped of all food, fuel, farm animals, and seed for planting. The death toll is estimated variously from six to ten million people.

The Webbs toured the Ukraine during the height of the famine (1932–1933), interviewing Soviet officials as they went. They concluded that anti-communists had invented the famine. The Webbs’ two-volume book Soviet Communism: A New Civilization (1935) repeated the claim: no famine had occurred, planned or otherwise.

Malcolm Muggeridge, a correspondent for the Manchester Guardian, also toured the Ukraine in 1932– 1933, but he strayed from the pre-packaged Soviet itinerary. He called the famine “the most terrible thing I have ever seen” and claimed that “all the correspondents in Moscow were distorting it.” He described the Webbs’ response to him. “The Webbs were furious. Mrs. Webb in her diary says, ‘Malcolm has come back with stories about a terrible famine in the USSR. I have been to see Mr. Maisky (the Soviet ambassador in Britain) about it, and I realize that he’s got it absolutely wrong.’ Who would suppose that Mr. Maisky would say, ‘No, no, of course he’s right’?”

Muggeridge continued, “My wife’s aunt was Beatrice Webb. And so one saw close at hand the degree to which they all knew about the regime, knew all about the Cheka (the secret police) and everything, but they liked it. I remember Mrs. Webb, who after all was a very cultivated upper-class liberal-minded person, an early member of the Fabian Society and so on, saying to me, ‘Yes, it’s true, people disappear in Russia.’ She said it with such great satisfaction that I couldn’t help thinking that there were a lot of people in England whose disappearance she would have liked to organize.” The Webbs staunchly supported Stalin through the Great Purge, the show trials and even the Hitler–Stalin Pact.

If the former USSR has any lessons for the world, they are in danger of being lost. The objective histories that should have been written remain blank pages. The wall of denial from the left continues. For example, Walter Duranty—the New York Times correspondent who won a Pulitzer Prize for his reports on Russia—also dismissed the famine as propaganda. To this day, the Times has not issued a retraction.

Meanwhile, a double standard is applied to Russia. As bombs devastate Chechnya, Clinton and much of the media look away. The chaos and collapse of Russia is ascribed to “failed capitalism” or to a drunken Yeltsin, not to the ruinous decades of totalitarianism. No wonder Soviet communism threatens to regain popularity among the Russian people. Left-wing radicals have betrayed working people by refusing to confront the failure of the “Soviet Experiment.” Some of them do it with silence, others with words that lie. In both cases, they deny to the dead the right to be mourned. And to the living, the need to remember.

Wendy McElroy escreve no site wendymcelroy.com

segunda-feira, abril 21, 2008

Nelson Rodrigues em Asa de Borboleta e Bárbara Heliodora

Leio no blog Asa de Borboleta um texto de Nelson Rodrigues. A autora teceu alguns comentários. Eu teço os meus. Vamos ao texto e depois aos comentários.

"Hoje, o sujeito vai ver uma peça e tem vontade de pedir como o Hélio Pellegrino: - 'Seja burro, meu amigo, seja burro!'. Não falo por ouvir dizer. Nos últimos tempos, tenho sofrido, na carne e na alma, experiências trágicas. As minhas peças Viúva porém honesta, Os sete gatinhos (a última virgem) e por fim O beijo no asfalto foram encenadas e todas por diretores inteligentíssimos.

Notem: - inteligentíssimos. E foi o mal, o grande mal. E há uma coincidência: - todos diretores paulistas. Por isso quero crer que, hoje, o teatro mais inteligente do Brasil é o de São Paulo. Há, nos palcos de lá, uma rapaziada feroz que reescreve qualquer texto. Que faça isso comigo, vá lá. Quem sou eu, senão um autor modesto, de uma bem-intencionada mediocridade? Portanto, é talvez justo que um diretor paulista sapateie em cima dos meus textos como uma bailarina espanhola. Mas ele fará o mesmo com Sófocles, Shakespeare, Ibsen, etc. etc.

(...)Em suma: - querem assassinar a palavra, e a pauladas, como se ela fosse uma gata prenha. Portanto não existe mais um único e escasso grego, não existe mais um único e escasso Shakespeare, não existe mais ninguém. Quem existe é a rapaziada de São Paulo. Vamos admitir que o teatro existe desde que se esboçou o primeiro gesto humano ou o homem disse a sua primeira palavra. Portanto, é essa tradição de 1 milhão de anos que os diretores paulistanos estão liquidando. é como se alguém afastasse com o lado do pé uma barata seca.

Se o jovem diretor não fosse inteligente, preservaria o texto, e seria fidelíssimo ao texto. E então o público veria O beijo no asfalto, e veria Nelson Rodrigues. Desgraçadamente, estamos diante da inteligência. De intérpretes inteligentíssimos. De contra-regras inteligentíssimos. De bilheteiros inteligentíssimos. Todos estão autorizados a improvisar. Por enquanto, sou eu. Mas quando for um Shakespeare? Façam idéia de um Otelo em arrancos triunfais de cachorro atropelado; e vociferando: - 'Vou-te às fuças!'. Mas esta paródia já fazia Dercy, há trinta anos, com seu maravilhoso histrionismo.

E cabe uma dúvida: - querem acabar com a palavra. Mas acabar com o que não existe? o teatro brasileiro não chegou à sua palavra, não inventou a sua língua. Está certo que o francês faça algo parecido. Já realizou infinitas variações com a sua música verbal. A prosa francesa pensa pelos seus autores e faz os seus autores. Escrevendo aqui, na pobre língua que não temos, Valéry seria talvez nosso J.G. de Araújo Jorge. Primeiro, vamos fazer a nossa Palavra para assassiná-la, depois, com rútilas patadas." (crônica publicada no jornal O Globo em 17/01/1970, republicada em O Reacionário, páginas 125/126, Ed. Companhia das Letras, 2002, São Paulo)

Náo sei se em São Paulo ainda é assim, mas aqui no Rio é. Vejam, essa peça Otelo de William Shakespeare, que foi montada à maneira clássica, não recebe indicação do jornal O Globo enquanto a peça de Chico Buarque por óbvio sim. A mera apresentação de uma peça de William Shakespeare é um evento. Não é nem o caso de a peça ter sido mal montada. Ah, quero dizer que não sou contra reinterpretações, revisões, etc. Isso pode ser muito saudável e até dar um sopro de vitalidade à obra clássica. Por exemplo, o filme Hamlet(não sei quem foi o diretor, mas o ator que intrepretava Hamlet era Ethan Hawke e Polônio foi interpretado por Bill Murray) teve um ótimo resultado substituindo o cenário do reino da Dinamarca por uma grande corporação moderna. O filme Otelo, onde o personagem Otelo não é um general mas chefe da polícia de Londres, também foi bem feito. Pois então, não sou contra revisões, relativizações, mas o relativismo tem que ser feito com conhecimento de causa, com conhecimento do clássico. Só com o fundamento você pode "viajar" depois. Uma casa precisa do alicerce antes de chegar ao telhado. Agradeço à autora do Asa de Borboleta, que aliás se bem me lembro foi o primeiro blog que visitei, pelo texto. E recomendo o blog da Bárbara Heliodora que entra em ativa na próxima semana na revista Bravo. Quem já assistiu a uma palestra da Bárbara, sabe que valerá a pena o blog. A mulher tem tanta autoridade que se ela mandar alguém calar a boca, é impossível a pessoa dizer não, restando apenas obedecer.

Tlön, Urântia, Borges, Deus

por Yuri Vieira

“Não rir, não lamentar, nem detestar, mas compreender.” Baruch Espinosa

Em 1941, Jorge Luis Borges publicou El Jardín de los senderos que se bifurcan e, neste livro, o conto “Tlön, Uqbar, Orbis Tertius”, que mais tarde também apareceu em Ficciones(1944). O conto narra, de início, as supostas peripécias de Borges e de seu amigo Bioy Casares, outro conhecido escritor argentino, em busca do porquê de o verbete “Uqbar” constar na enciclopédia deste último mas não no volume correspondente da de Borges. Uqbar, segundo a Anglo-American Cyclopaedia, seria um país localizado na Ásia Menor, com sua própria história, geografia, literatura, língua, etc. O termo Tlön surge aí pela primeira vez, relacionado a uma “região imaginária” presente com certa freqüência nas epopéias e lendas de Uqbar. No entanto, por mais que os dados do verbete tragam certa verossimilhança, a tal enciclopédia não lhes parece senão uma falaz reprodução da Encyclopaedia Britannica(1902) — certamente criada com o único intuito de divulgar semelhante fraude. Afinal, além desse país não ser mencionado por nenhum atlas oficial, a estranha história de Uqbar e Tlön leva-os tão somente a infrutíferas pesquisas. Assim, anos mais tarde, ainda segundo o próprio conto, tendo esquecido o assunto, o narrador descobre entre os pertences do engenheiro inglês Herbert Ashe — um amigo de seu pai, falecido havia pouco — um livro de 1001 páginas intitulado A First Encyclopaedia of Tlön. vol. XI em cuja primeira página se vê um “óvalo azul” com a inscrição: “Orbis Tertius“. E não pára aí. Aos poucos, toda uma enciclopédia sobre o planeta Tlön vem à luz, magnetizando as atenções gerais. Sim, ao invés de um único verbete perdido numa enciclopédia comum, despontam, ao redor do globo, volumes e mais volumes de uma enciclopédia tratando unicamente da vida num estranho planeta. Borges, então, passa a descrever detalhes minuciosos das crenças, da ciência, da filosofia, da psicologia, da história, da literatura, enfim, dos mais diversos âmbitos da vida inteligente de Tlön. E avisa: com o correr dos anos, todo esse conteúdo chegou a afetar a humanidade a tal ponto que nosso mundo simplesmente passou a ser Tlön, uma vez que, nas escolas, nas universidades e na vida cotidiana, a Terra deixou de ter qualquer importância, não se estudando, respeitando ou vivendo senão os aspectos e atributos desse novo orbe: “El contacto y el hábito de Tlön han desintegrado este mundo”. E então, sem deixar de lembrar que no latim inventar e descobrir são sinônimos, Borges indaga: “¿Quiénes inventaron a Tlön?”

Em 1997, recebi em meu apartamento, na Universidade de Brasília, a visita de uma amiga que me apresentou um livro de 2100 páginas, em inglês, com três círculos azuis concêntricos na capa e o título The Urantia Book. Comecei a folheá-lo distraído e, sem que me apercebesse, acabei virando a noite sobre ele. Quando finalmente me senti cansado, o sol já dourava o lago Paranoá. Minha inclinação pela literatura de cunho fantástico não me permitiria outra atitude: tive a sensação de estar com o Graal dos livros de literatura fantástica em minhas mãos. Do que tratava? Bem, a mera leitura de seu índice me causou vertigens, haja vista suas 59 páginas. Sim, 59 páginas apenas de sumário. Havia capítulos e seções com títulos tais como: “Os níveis espaciais do Universo Mestre”, “O circuito de gravidade mental”, “Os sete Superuniversos do Espaço-Tempo”, “Os mundos Vorondadec”, “A respiração do espaço”, “A energia, a mente e a matéria”, “Os ultimátons, os elétrons e os átomos”, “As Personalidades do Universo Local”, “As sedes centrais das constelações”, “As hostes seráficas”, “A união trinitária da Deidade”, “A natureza da Ilha Eterna”, “Os domínios do Absoluto Não Qualificado”, “O sistema Paraíso-Havona”, “Os artesãos celestiais”, “O superuniverso de Orvonton”, “As Esferas Arquitetônicas”, “Os Serafins Transportadores”, “Os Sete Espíritos Reitores”, “O Espírito Materno do Universo”, “A estabilidade dos sóis”, “A origem dos mundos habitados”, “Os manipuladores da energia”, “Tipos físicos planetários”, “Os mundos dos que não respiram”, “As criaturas volitivas evolucionárias”, “A rebelião de Lúcifer”, “A origem de Monmátia - o sistema solar de Urântia”, “Os níveis da realidade no Universo”, “A associação terciária transcendental da realidade”, “O conceito filosófico do EU SOU”, “A supervisão da evolução”, “O fim da idade dos répteis”, “A origem das raças de cor”, “Os Príncipes Planetários”, “Os Adãos Planetários”, “Os sete Mundos das Mansões”, “O governo de um planeta vizinho”, “Dalamátia — a cidade do Príncipe”, “Os edenitas entram na Mesopotâmia”, “Os adanitas entram na Europa”, “A encarnação de Maquiventa Melquisedec”, “A verdadeira natureza da religião”, “A ciência e a religião”, “A finalidade do destino”, “As auto-outorgas de Cristo Miguel”, “A viagem de Jesus a Roma”, “O significado da morte na cruz”, “O totalitarismo secular”, “O problema do cristianismo”, “O futuro”… Eu lia trechos e mais trechos de arrepiar os cabelos, como, por exemplo, a informação de que, na sede central do Universo Local, mais de um bilhão de seres materiais, “moronciais” e espirituais assistiram, ao vivo, juntos e embasbacados, no anfiteatro em torno ao “Mar de Cristal”, ao martírio e à crucificação do Soberano de Nebadon no mísero planeta Urântia, um dos planetas isolados pela rebelião de Lúcifer, que havia sido escolhido previamente como cenário para a experiência material de seu próprio Criador. Sim, o livro narra a vida de Jesus na Terra — Urântia — sem saltar um dia sequer… Embora a princípio tudo se assemelhasse à mera explanação da excêntrica doutrina de mais uma possível seita de fanáticos cristãos, eu lia aquelas páginas como quem se depara com o guia do mais vasto, completo e coerente mundo de Role Playing Game. O texto parecia elaborado por uma equipe de seis Jorges Luises Borges e quatro J.R.R.Tolkiens juntos. E, no correr dos últimos onze anos, tal impressão não se desvaneceu, ao contrário, amplificou-se, uma vez que uma coesa unidade de conceitos e princípios perpassa toda a obra. O responsável por aquilo tudo não há de ter sido nenhum idiota. A obra traz conhecimentos avançados sobre teologia, religião comparada, filosofia, antropologia, sociologia, política, física, astronomia, biologia e, ousarei dizer?, história. Até mesmo o prêmio Nobel de química Kary Mullis publicou artigos confessando sua surpresa diante de dados científicos exatos apontados pelo livro com décadas de antecedência. Na minha singela opinião, ou o livro é resultado de toda uma vida de elucubrações espantosas — a obra dum anônimo e delirante gênio — ou é a evidência de que alguma sociedade secreta decidiu entrar para valer na guerra cultural que assolou todo o século XX e que continua a agir por trás de todos os grandes conflitos deste novo milênio. As alternativas me assombram. Principalmente porque há também a opção — nem um pouco impossível, vale lembrar — defendida pelo próprio livro: trata-se da “Quinta Revelação Epocal”. Quem enfim teria inventado (descoberto?) O Livro de Urântia?


Escreveu Borges: “¡Oh dicha de entender, mayor que la de imaginar o la de sentir!” Sim, a vida interior é detentora dos maiores prazeres. E nada excita mais o intelecto do que um complexo quebra-cabeça, por mais esdrúxulo e improvável que ele pareça. Tal quebra-cabeça pode ser, o que é muito comum, uma mulher. Ou, quem sabe, o sentido da vida. Ou um livro sem autor. A descoberta de uma resposta pode vir a ser um verdadeiro orgasmo psíquico. Ou não, depende do valor dessa resposta. Há sempre a possibilidade de uma ejaculação precoce ou de uma simples e frustrante broxada. Borges descreve assim a descoberta do primeiro volume da enciclopédia sobre Tlön: “Numa noite do Islã, que se chama a Noite das Noites, abrem-se de par em par as secretas portas do céu e é mais doce a água nos cântaros; se essas portas se abrissem, eu não sentiria o que senti naquela tarde.” Foi assim que me senti ao ter O Livro de Urântia nas mãos pela primeira vez. Por mais cético que um homem seja — e Borges, apesar de seu gosto literário, era um cético — nada poderá satisfazê-lo mais do que a revelação de que a Terra não está só no cosmos. A não ser, é claro, a comunhão plena com outro indivíduo. Porque há de fato gente que passa pela vida sem jamais ter seu coração minimamente tocado por outra pessoa. Há gente que vive como um planeta sem sistema a flutuar solitário, carente de sol, no negro infinito. Ninguém a comove, ninguém a aquece. Ser amado é mais fácil que ser compreendido; mas certamente não há compreensão real sem amor. Henry Miller foi apaixonado por June e pela vida desde o início, mas talvez só as tenha compreendido de verdade ao encerrar sua Crucificação Encarnada, a trilogia formada pelos romances Sexus, Plexus e Nexus, na qual exercita sua capacidade de amar a… a criação literária. Foi nesta trilogia que li, pela primeira vez, uma apologia a Oswald Spengler (1880-1836), polêmico filósofo e historiador alemão, que se autodenominava “o primeiro Filósofo do Destino”. Isto porque o quebra-cabeça predileto de Spengler — a sua, digamos, “mulher abstrata” — era a história e o destino das civilizações. Partindo dos estudos botânicos de Goethe — que tornou notória a teoria segundo a qual toda e qualquer planta é formada por metamorfoses parciais ou completas do simples modelo raíz-caule-folhas (o princípio da planta primordial)–, o historiador chegou à conclusão de que não há uma linha temporal constante através da qual uma suposta evolução leva os homens de uma cultura primitiva até uma civilização cada vez mais avançada. Não. Na verdade, cada civilização seria um organismo único e original que, como qualquer outro ser vivo, nasce, cresce, amadurece, decai e morre, segundo uma ordem constante e claramente discernível. (Ele diferencia o termo Cultura do termo Civilização, sendo o primeiro a fase criativa e o segundo a fase degenerativa do organismo.) Tal teoria foi exposta num livro com o significativo título de A Decadência do Ocidente. Nele, ele demonstra como é absurdo imaginar uma Cultura superior sem religião. E vai além: a essência de toda Cultura superior ou Civilização é sempre religiosa e, conforme essa essência vai se tornando desacreditada, perde-se a necessária coesão vital e inicia-se o declínio do organismo. Afirma ainda que toda Cultura se inicia quando um indíviduo — ou pequeno grupo de indivíduos — é arrebatado por um novo e fecundo páthos, por uma profunda reação interior a um acontecimento e/ou situação concretos completamente inéditos e fundamentais, que, como nas ondas concêntricas causadas por uma pedra na superfície de um lago, vai se ampliando e literalmente animando todo um povo. O mito fundante seria, portanto, algo que de fato aconteceu, algo sobrenatural. Partindo deste insight, o historiador chega a defender que mesmo os princípios científicos de uma Civilização em estudo não são senão elementos da sua doutrina religiosa trasladados para o pensamento racional. E então discorre, não apenas sobre a física, mas também sobre a matemática, a arte, a filosofia, a política e a religião Antigas (greco-romana), Ocidentais (ou Fáusticas), Chinesas, Árabes, etc., apontando as características únicas de cada uma delas. Spengler assevera categoricamente que o Ocidente não se encontra senão em sua fase final, tendo também ocorrido, em outras civilizações já mortas, como agora ocorre, o mesmo ceticismo e descaso da elite pensante para com a sua própria essência mítico-religiosa. O dito ateísmo, aliás, seria tão diverso quanto as diferentes religiões, tendo cada Civilização seu próprio e exclusivo exemplar de ateu. Em outras palavras: um ateu é como um “radical livre” especialmente preparado para atacar as bases daquela, e apenas daquela, Cultura superior, tal como um determinado reagente químico só entra em ação ao encontrar determinada molécula afim. Todo esse processo se passa simplesmente por ser algo natural, isto é, porque a Cultura já atualizou todo o seu potencial criativo, já expressou e gerou toda a beleza, sabedoria e conhecimento de que era capaz. Extenuados e oprimidos pelas obras de seus antecessores, os homens de uma época tardia não têm outra opção senão apegar-se à sua herança cultural ou, ora por tédio, ora por desespero, liquidar com o mundo em que vive, preparando, de forma inconsciente, o terreno das consciências para uma futura Civilização. Além disso, segundo o historiador, todo aquele interesse de sua época pelas filosofias e tradições orientais — seu livro foi publicado em 1917, quando o orientalismo já estava em moda — não impediria, como sempre costuma ocorrer numa etapa final, uma revitalização tardia e burlesca da religião original. O cristianismo, escreveu ele, se reergueria de forma canhestra e paródica, sendo esse fenômeno nada mais que a manifestação dos últimos estertores de uma Civilização agonizante. Escreveu Platão: “Quando os sacerdotes vendem seus ritos e os soldados têm medo da morte, a sociedade está decadente”. Sim, porque um mundo pelo qual não vale a pena lutar e um significado religioso sem outro valor que o financeiro nada podem sustentar. Os protestos pacifistas contra determinadas guerras e a proliferação de igrejas pentecostais interessadas nos bolsos dos fiéis não comprovam outra coisa.




Na verdade, a idéia de uma manifestação cíclica na cultura e na sociedade data de Platão, idéia essa exposta pelo personagem Sócrates na República. De acordo com Sócrates, a aristocracia, ordem social superior (governo dos melhores), degeneraria em timocracia (governo dos ricos) e esta, sucessivamente, em oligarquia (governo de alguma facção), democracia (governo da maioria, seja ela educada ou burra) e, por fim, em tirania (governo da violência). O aristocrata autêntico, fixado num extremo da escala, seria o homem bom e justo; o tirano, situado no extremo oposto, o mau e injusto. O ciclo, portanto, caminharia de uma época de luz para uma de trevas cada vez mais acentuadas. (Platão nos ensina que a tirania sempre nasce da democracia.) Giambattista Vico (1668-1744), que estudou Platão, propôs uma teoria semelhante. Contudo, em sua visão — definida por três fases consecutivas(Idade Divina ou Teocrática, Heróica ou Aristocrática e Humana ou Democrática) –, a manifestação cíclica seria permanente, sem uma clara expressão de decadência. A Providência se encarregaria de levar a humanidade adiante, através dessas tonalidades anímicas, evitando um fim sem esperanças. Mesmo Harold Bloom, partindo de Vico, subdividiu seu estudo sobre O Cânone Ocidental nas literaturas das Eras Aristocrática, Democrática, do Caos e, arrisca-se ele a prever cheio de receio, eis que desponta no horizonte uma nova Era Teocrática, tal como aquela que nos legou o Antigo Testamento… (Marx e Hegel também desenvolveram suas próprias teorias históricas, sendo que, para o primeiro, a história culminaria necessariamente no comunismo e, para o segundo, culminaria no estado prussiano ou, pode-se também dizer, no próprio umbigo de Hegel, mais conhecido como Idéia. Para Nietzsche, esse ciclo (o Eterno Retorno) ultrapassou a história e tornou-se uma verdadeira prisão ontológica que só poderia ser vencida pelo “Übermensch” ou “Sobrehomem”.)



Esta digressão pode parecer sem propósito, mas ela vem justamente para tornar, ao menos para mim mesmo, ainda mais aterrador o, por assim dizer, advento do Livro de Urântia. Ao ler a República, de Platão, é impossível evitar o susto de nos depararmos com a descrição extremamente atual do estado de coisas que nos levou a ver, nesses últimos 100 anos, pessoas como Churchill, Vargas, Mussolini, Hitler, Stálin, Mao, Castro, Kennedy, Kubitschek, Goulart, Castelo Branco, Sarney, Collor, Chávez, Lula, Clinton, Bush e muitos outros chegarem a postos de elevado poder. Todos os tipos já estavam ali delineados. Tão admiráveis são também as observações de Vico e Spengler, além do próprio Harold Bloom, sobre a sucessão das fases culturais, que torna-se irreprimível não inferir certas possibilidades futuras. O filósofo Mário Ferreira dos Santos, apesar de acusar Nietzsche(cujas intuições ele admira) e quase toda a filosofia posterior de incorrer em erros refutados com séculos de antecedência pelos escolásticos, adapta à sua própria visão a escala nietzscheana para discorrer sobre nossa época. Segundo esta escala, viveriam mesclados, hoje, os Homens da Tarde, os da Noite e os da Madrugada, prenunciando estes últimos a chegada do Homem do Meio-dia. Os Homens da Tarde seriam aqueles cuja negatividade não faz senão corroer ainda mais todos os valores e princípios caros à nossa civilização. Eles aceleram o pôr do sol, o ocaso da civilização. Os Homens da Noite seriam aqueles que, em meio à escuridão de um céu sem lua ou estrelas, buscam ainda um fio de Ariadne que lhes permita atravessar um mundo absurdo e carente de sentido. Eles não têm a certeza, mas sim a esperança. Os Homens da Madrugada são aqueles que já encontraram esse mesmo fio e que, em seus corações, já imaginam como será o Homem que viverá na claridade plena de um Meio-dia cheio de sentido, valores e luz. E Mário Ferreira dá um nome ao causador desse páthos definido por Spengler, esse capaz de animar todo um povo e de iniciar um novo Meio-dia: Revelação, isto é, a comunicação ao homem da vontade divina. Mas… como então saber se uma revelação é de fato autêntica? Simples: se sua manifestação der origem, no correr dos séculos, a uma nova Cultura superior, a uma nova Civilização, então ela é. E o filósofo brasileiro faz ainda uma distinção clara entre as religiões tradicionais e as seitas: as primeiras teriam necessariamente origem numa revelação legítima; já as seitas, em idéias, insights e idiossincrasias de indivíduos, as quais, no fundo, não teriam valor real senão para esses mesmos indivíduos. E isto significa: seu impacto social seria equivalente, na história das Culturas, a um punzinho.



Sim, eu sei que falar sobre o conceito de revelação divina, nesta época em que os “radicais livres” praticamente dominam os meios de cultura, soa tão sem propósito quanto discursar sobre carne de soja numa churrascaria. Hoje em dia, se você for um escritor, mais atenção conseguirá se emitir, em meio a uma narrativa, ou proposições místico-nebulosas embebidas de “pensamento positivo”; ou acusações em grande parte justificadas contra a hipocrisia e a perversidade de certos religiosos; ou, o que é ainda mais comum e mais egoicamente lucrativo junto à crítica dita séria, observações cínicas e arrasadoras sobre tudo o que se refere à humanidade, enquanto, entre um dito sarcástico e outro, o personagem central discorre sobre como friccionar, da maneira mais eficiente, um clitóris com os dedos da mão esquerda ao mesmo tempo em que penetra uma buceta com seu pau duro e um cuzinho com os dois dedos da mão direita. Enfim, ou o escritor se debruça em meditações fleumáticas sobre o absurdo da existência, ou se desespera, ou sai por aí abraçando o capeta, afinal, se já está no inferno, pensa, vamos ao menos nos divertir. No fundo, o máximo a ser tolerado, se o cara quiser tratar de “espiritualidade”, é adotar uma postura panteísta com pitadas de budismo chique e satisfeito, de preferência com explicações baseadas na física quântica. E ninguém nota, como notou Leo Gilson Ribeiro em relação ao angustiado Kafka, e Lou Andreas-Salomé em relação ao atormentado Nietzsche, que eram ambos “almas profundamente religiosas”. Quem não se cansa de indagar “por quê” (por causa de quê), quem não se cansa de buscar as causas primeiras, as origens, não pode evitar, por mais que se perca, de adotar uma postura religiosa, que, claro, não se confunde com carolice e pode manifestar-se tanto de forma positiva quanto negativa. A palavra religião é de etimologia incerta, pode tanto vir do latim religare (ligar de novo), quanto do latim relegere (ler ou colher de novo) ou do verbo grego alegeyn (venerar). Mas todas as alternativas apresentam a idéia de dois termos que se ligam, um termo final que volta a se nutrir de um inicial. Em “Tlön, Uqbar, Orbis Tertius”, conforme descrevi, Borges relata seu espanto ao ver a Terra tornar-se Tlön. Ao homem comum não interessam as refutações lógicas: se algo dá um sentido mais abrangente à sua vida, este algo será adotado. Há porém um problema: num epílogo ao conto, Borges confessa ter descoberto, anos depois do seu primeiro encontro com a enciclopédia sobre Tlön, a origem desta. Tlön nunca existiu. A Noite das Noites foi uma ilusão e a revelação dos autores uma grande broxada. A verdade era que uma sociedade secreta havia decidido criar um país. Assim, seus membros buscaram patrocínio e o milionário norte-americano que aceitou bancá-los fez duas exigências: 1) se era para gastar seu dinheiro, que pensassem grande e criassem todo um planeta, pois um país era muito pouco; 2) que a obra “não compactuasse com o impostor Jesus Cristo”. Semelhante dado é de causar espécie, principalmente quando, ao se comparar o Livro de Urântia com o “livro de Tlön“, percebemos que o primeiro não apenas compactua com Jesus Cristo, mas o enaltece e o ilumina de forma nunca antes vista desde os evangelhos. Sim, essa estranha “contracoincidência” dá o que pensar. Teria Borges tomado conhecimento desse livro escrito entre os anos 1920 e 1930? Creio que nunca o saberemos. Ao contrário de J.J.Benítez, cuja série Operação Cavalo de Tróia teve como fonte básica de pesquisa o Livro de Urântia, Borges jamais fez qualquer menção direta a ele. Benítez, que também o utilizou para escrever A Rebelião de Lúcifer, no qual o planeta Terra é chamado de Iurancha – daí meus amigos me sacanearem citando o “Livro de Yurântia” –, chegou a ser alertado para jamais publicar nos Estados Unidos, pois a Fundação Urântia poderia processá-lo por plágio. Mas, tendo Benítez assumido sua crença de que o livro é de fato uma revelação, por que então alguém o impediria de usá-lo como inspiração? Quando Thomas Mann escreveu José e Seus Irmãos, estaria ele plagiando o Antigo Testamento?




Seria o Livro de Urântia, tal como previu Spengler, apenas um último estertor da nossa religião original? Não creio. Quase todas as manifestações “paródicas” do cristianismo costumam dar-se como anticlímax, impondo conceitos e valores completamente aquém dos ensinados por Jesus. A irmandade, antes aplicada por Cristo a todos os humanos do planeta, recai hoje apenas nos membros desta ou daquela igreja; estimula-se as orações para solicitar não bens espirituais, mas materiais; nos cultos, fala-se mais de demônios, diabos e “encostos” do que de Deus; a expressão estética da experiência religiosa jamais é estimulada, os cultos ocorrem em templos feios e ordinários; sublinha-se a importância deste ou daquele grupo enquanto intermediário quando, na verdade, Jesus ensinou que religião é o nome da relação pessoal que cada indivíduo mantém com Deus; e assim por diante. Embora Spengler ainda esteja correto no tocante às civilizações regionais, isoladas tanto no tempo quanto no espaço, o Livro de Urântia parece apoiar a tese de Vico, segundo a qual, ao menos no concernente ao planeta com um todo, haveria uma influência externa interessada em guiar a humanidade para fases cada vez mais avançadas. Deste modo, a Revelação se daria em etapas, sendo as comunicações divinas proporcionais à capacidade de compreensão média dos seres humanos de uma determinada época. O Livro de Urântia seria a quinta revelação de época à coletividade planetária, o quinto upgrade — porque existem revelações pessoais de valor meramente individual — sendo estas as revelações anteriores: 1) a chegada do Príncipe Planetário (não físico) e de seu séquito de cem instrutores (físicos, porém imortais); 2) a chegada de Adão e Eva (os humanos, evoluídos de animais, já existiam nessa época); 3) a encarnação de Melquisedec; 4) a encarnação de Jesus Cristo, soberano do Universo Local; 5) a transmissão do Livro de Urântia, de autoria de diversas personalidades espirituais e moronciais. Claro, diversas vezes o planeta teria andado para trás, confirmando novamente Spengler. Mas tal fato não poderia ser explicado senão pela expressão shit happens e pelo fato de que há o livre arbítrio. Lúcifer explica. Sem esquecer a epígrafe deste ensaio — “não rir, não lamentar, não detestar, mas compreender” — vamos, pois, a um resumo da cosmogonia urantiana, que, no mínimo, é algo que ou dará um bom RPG, ou humilhará os ETs da Cientologia.





Segundo o Livro, no centro do Grande Universo — o cosmos como um todo — há uma singularidade conhecida como “Ilha Estacionária Paradisíaca”, centro da gravidade material e fonte de toda energia radiante (servidor dos circuitos de energia do espaço), incluindo a luz visível. Este “local”, onde ocorre tanto a “repiração do espaço” quanto o retorno da energia radiante à fonte — tal como nosso sangue retorna ao coração — é o ponto de contato da finitude com a infinitude. É a manifestação mais fantástica do cosmos e Deus Pai está pessoalmente manifestado ali. Aí também se manifesta pessoalmente o Espírito Infinito, terceira pessoa da trindade e centro gravitacional mental do cosmos. O Espírito é o doador de mente (servidor do circuito de mente) — nossos cérebros são alguns dos receptores existentes — e o Pai é o doador de personalidade (servidor do circuito de personalidade), que é aquilo que há de constante e único em nós, passível de sobreviver à morte física e que reage à presença do Pai, sendo atraída por Ele, por sua força de gravidade. Do Pai também recebem os mortais uma Centelha Divina ou Monitor Residente ou Ajustador de Pensamentos, que é um fragmento Dele residente em nossa mente, o qual reage aos influxos da divindade. Todos os astros do espaço giram ao redor da Ilha Estacionária Paradisíaca, tal como a Terra em torno do Sol. Em torno da Ilha encontra-se o Universo Central de Havona, universo modelo, sem história, eterno e perfeito, no qual os Filhos Criadores iniciam suas carreiras e no qual se inspiram para criar seus próprios Universos Locais. O Filho Eterno, segunda pessoa da trindade, pode ser encontrado aí. Não é Jesus. Jesus (Micael ou Miguel) é um Filho Criador, soberano do Universo Local de Nebadon, que ele criou em associação amorosa com o Espírito Materno do Universo, uma filha direta do Espírito Infinito. Em torno do Universo Central de Havona, giram Sete Superuniversos evolucionários do espaço-tempo, cada qual formado por cerca de 100.000 Universos Locais e governados pelos Anciãos dos Dias. Existem, pois, além de Jesus, outros 699.999 Filhos Criadores, cada qual o Caminho, a Verdade e a Vida de suas próprias criações. O número de seres de diferentes classes, funções e natureza existentes tanto na Ilha, quanto em Havona e nos sete Superuniversos tende ao infinito. Existem seres pessoais, pré-pessoais e apessoais, ascendentes (como nós) e descendentes (como Jesus), materiais, moronciais, espirituais, e assim por diante. Cada Superuniverso é constituído de 10 Setores Maiores; cada Setor Maior, de 100 Setores Menores; Cada Setor Menor, de 100 Universos Locais; cada Universo, de 100 Constelações; cada Constelação, de 100 Sistemas de Mundos (que não é o mesmo que um sistema solar); e cada Sistema, de 1000 mundos habitáveis. Essas subdivisões não são exatamente astronômicas, mas administrativas. Cada Superuniverso possui, pois, cerca de um trilhão de mundos habitados.



O papel do ser humano, na Criação, ainda segundo o Livro, é sobreviver à morte física, ascender de mundo em mundo, de esfera em esfera, até atingir a presença pessoal do Pai Celestial, tornando-se então um Finalista, um ser de função ainda não revelada. A vida em Urântia (o planeta Terra, o “planeta da cruz”) surgiu como em qualquer outro planeta habitado, ou seja, sob a direção do Filho Criador, um grande número de seres espirituais — incluindo aí os Arquitetos Mestres do universo e os Portadores de Vida — iniciam a criação de formas primitivas de vida que, animadas pelo Espírito Materno, passam então a evoluir sozinhas. O objetivo da vida animal num planeta é, um dia, chegar a produzir um ser com cérebro capaz de abarcar a mente volitiva autoconsciente. Existem planetas nos quais, por uma razão qualquer, os humanos evoluíram de animais completamente diferentes dos da Terra. O mortal filho de Deus não depende da evolução de uma espécie específica, mas apenas da capacidade mental do cérebro. Os mortais ascendentes, portanto, são classificados segundo o número de cérebros: humanos com um cérebro, com dois e com três. Nós, terrestres, temos dois cérebros, o esquerdo e o direito. A partir do momento em que uma espécie animal, por mutação repentina e espontânea, dá à luz seres volitivos, o planeta recebe o status de planeta habitado, sendo designado, para ele, um Príncipe Planetário, um ser descendente invisível aos seres materiais. Acompanham-no um séquito de cem voluntários que são materializados no planeta e que constroem a primeira cidade universitária, para a qual convidam os membros proeminentes das mais diversas tribos então existentes. Esse séquito consegue ver e se reunir com, no caso de Urântia, Caligástia, o Príncipe Planetário. Sendo belos, gigantes e — graças a uma conexão especial com os circuitos do Espírito — imortais, passam a educar, sem envelhecer, gerações e mais gerações das mais diversas raças locais. Apesar de desestimular tal comportamento entre os humanos, são vistos como deuses, o que, na Terra, deu origem às mais diversas tradições e mitos. Em Urântia, tudo corria bem, até que o soberano do Sistema de Mundos Habitados, Lúcifer, emitiu uma Declaração de Liberdade. Acusou ele aos Anciãos dos Dias de estrangeiros invasores e declarou que não acreditava que seu Senhor, o Cristo, se reunia pessoalmente com a personalidade de Deus. Caligástia, o Príncipe de Urântia, aderiu à rebelião, levando o séquito a uma dissensão, o que, por sua vez, botou as tribos humanas em pé de guerra umas contra as outras, segundo suas afinidades com os mestres. Como efeito dessa rebelião, o Sistema foi isolado em quarentena, a qual permanece até hoje. Encerraram-se as comunicações e os intercâmbios mais ostensivos em quase 1000 planetas. Com isso, o séquito do Príncipe perdeu seu status de imortalidade. Quando Adão e Eva chegaram — eram Filhos Materiais da raça violeta — encontraram um planeta em estado de caos. Despreparados, sucumbiram às suas próprias idéias, atentando contra o mandato da Constelação, o que os fez perder também a imortalidade. Desde então, shit happens atrás de shit happens. Nesse entretempo, Melquisedec — cujo estandarte contém os três círculos concêntricos azuis — veio então ao planeta e, após instruir um grande grupo, enviou-os em pequenos grupos aos quatro cantos do mundo, fato esse que deu origem às mais diversas religiões. No entanto, a rebelião só foi finalizada quando da vinda de Jesus, que experimentava a forma de vida material, etapa necessária para assumir sua soberania plena. A narrativa completa de sua vida na Terra é um dos textos mais tocantes que já li. Hoje, Lúcifer está preso e o sistema está sendo pouco a pouco reconectado. O Livro de Urântia supostamente faz parte desse processo.

Sim, eu sei que tudo parece uma imensa loucura. Mas não creio que o universo seja bobo e sem Graça como querem os céticos sistemáticos. (”Ah, o cosmos surgiu com o Big Bang.” Ok, e de onde veio o Big Bang?) Algumas pessoas me dizem que toda essa cosmologia e hierarquia celeste é muito humana para ser real. Mas e se o que chamamos de humano for apenas uma cópia imperfeita dessa organização divina? Sim, isso nos leva a uma antinomia sem solução satisfatória. É preciso aqui dar aquele salto chamado “fé”. A Hilda Hilst, o Bruno Tolentino, o Bruno Galas e o Olavo de Carvalho me ensinaram pessoalmente que a fé não apenas não atrapalha a inteligência e a criatividade como, muito pelo contrário, as estimula e fortalece. Eu sei que não necessito d’O Livro de Urântia para chegar a tal conclusão e para finalmente aceitar o convite divino. Eles não precisaram dele e, quando lhes falei sobre esse livro, encararam-no com grande reserva. Mas, sinceramente, desconfio que ao menos o planeta Terra necessita desse impacto “tlöniano”.

Chegamos a um ponto da História humana em que uma grande mudança se faz não apenas necessária, mas inevitável. A Era do Caos preconizada por Harold Bloom através de Vico, vai dando seus últimos frutos. Essa era do Caos seria o que, na Teoria Geral de Sistemas, se chama “constelação”: um momento em que os elementos de um sistema dado se encontram dispersos por não haver mais um “princípio dominante” que dê conta de influenciar e guiar o todo. É uma fase de transição, porque, sem o advento de um novo princípio dominante, ocorrerá a morte dos elementos remanescentes. Nos sistemas conhecidos como “Cultura” ou “Civilização”, tal princípio dominante seria, como já disse, uma intuição espiritual original. E, se toda Cultura nasce duma intuição nova e mais abrangente, duma visão cósmica mais universal, fecunda e cheia de sentido, creio que jamais se viu outra visão mais estimulante que a apresentada nesse Livro. Jesus cumpriu sua missão no tocante ao indivíduo, que é o principal, mas a narrativa completa de sua vida e de sua obra — assim como a descrição dos seres, da estrutura e das regras que regem as demais “moradas”– poderia, digamos assim, por “ressonância” e influxo idealista, orientar a organização desse nosso variegado e caótico mundo. Pela primeira vez na história, nosso “mundo conhecido” se confunde com todo o planeta. “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce. Deus quis que a Terra fosse toda uma. Que o mar unisse, já não separasse.” (Mensagem, Fernando Pessoa.) Os remanescentes das Culturas outrora pujantes — Ocidente Cristão, Islã, Oriente hinduísta, budista, etc. — não se sentem à vontade uns com os outros e temem ser sobrepujados e engolidos pelos demais. Não há como imaginar que, agora que esses sistemas distintos se tocam, que o princípio dominante de um deles sobrepujará aos demais sem derramamento de sangue. Na Europa, o avanço do islamismo é patente, pois uma civilização irreligiosa, como a do ocidente tardio, é sempre mais fraca que uma religiosa. (Sem falar que, enquanto um casal europeu dá à luz dois filhos — um ateu e outro agnóstico — os muçulmanos dos subúrbios dão à luz nove ou doze islâmicos, metade radical, metade meramente crente.) E apesar de o Livro de Urântia estar mais próximo daquilo que entendemos por cristianismo, ele talvez tenha vindo não apenas confirmar tudo o que este tem de positivo e verdadeiro, mas também purificá-lo de seus erros e malentendidos, o que, por isso mesmo, poderia levá-lo ainda mais longe e torná-lo mais palatável aos demais povos. Ele não revoga a Bíblia, os Evangelhos e demais livros sagrados. Não. Ele os alarga, esclarece e amplia. Também apresenta muitas questões polêmicas passíveis de gerar conflitos, isto é, se lidas isoladamente do restante da obra. Mas creio que, dum modo geral, os efeitos do livro poderiam ser positivos e duradouros a longo prazo. Tlön era uma obra falsa, conforme diz Borges, um mero trabalho de “enxadristas”, mas, no conto, dominou todo o mundo. Ocorrerá o mesmo com o Livro de Urântia? É bem provável que, da mesma forma que o Império Romano não conseguiu se livrar do “imperativo cristão” — e que o Oriente Próximo não conseguiu evitar o Islã — tampouco o planeta Terra conseguirá evitar tornar-se… Urântia. Eu estou cagando e andando para o que meus amigos, familiares e desconhecidos possam achar dessa minha posição. Eu apenas não consigo deixar de imaginar um outro futuro menos ruim do que esse e, como dizia a Clarice Lispector, “imaginar é adivinhar a realidade”. Que culpa eu tenho se algumas coisas nascem mesmo póstumas e impossíveis de serem provadas agora? Uma revelação só se prova como revelação no correr dos séculos, quando então funda uma nova Cultura. Quem escreveu esse livro sabia disso e nem se deu ao trabalho de assiná-lo. Foi apenas um transmissor? Criou todos aqueles “heterônimos” fantásticos que assinam os capítulos? Eu não sei. Tal imprecisão autoral não impediu que o Pentateuco fundasse uma nação (Cultura) avançadíssima ou que o tribal Islã alimentasse e ressuscitasse a então complexa e decadente Pérsia. Meu maior temor em relação ao Livro era que ele fosse mais um gnosticismo. Mas quanto mais o estudo, mais me convenço de que não é. Mas, bem, essa é uma outra história.

Enfim, a revelação é uma forma de conhecimento possível e legítima da qual o homem é digno. (Vide “O Homem Perante o Infinito”, de Mário Ferreira dos Santos.) As pessoas se acham vermes rastejantes abandonadas pelos Céus? Já não me sinto assim. Deixei isso para trás. Agora sou, após muitos percalços, capaz da fé. Vale lembrar que, quando algo ocorre na Europa, não há como nós, aqui na América do Sul, termos acesso a tais fatos senão através do que nos é revelado pelos meios de comunicação. Eles nos transmitem as notícias ou novas. Vivemos mergulhados em informações. Como confiamos nelas? São verdadeiras? São falsas? Em que medida? Um cético sistemático absoluto certamente não acreditaria sequer que o Saddan Hussein foi derrotado, afinal, são tomé que é, não o tocou com os dedos através das grades duma prisão iraquiana. Muita gente mais paranóica que eu acha que o próprio Bush atacou o WTC. É preciso confiar nas fontes, não é? E as novas nem sempre são “boas novas”, que é, aliás, a exata tradução de evangelho: a “boa notícia”. Depois de mil e um livros sagrados escritos por inspiração, algum maioral lá de cima teria decidido usar um repórter anônimo, afinal, parece que só Maomé é profeta. Os islâmicos não precisam se chatear com o Livro de Urântia. Nenhum profeta reivindicou sua autoria. São talvez apenas notícias que nos alcançam dos confins do Cosmos. Eu não tenho mais medo de apostar nisso. Você tem?… O quê? E se Lúcifer estiver certo e os Anciãos dos Dias forem imperialistas cósmicos opressores?! E se a difusão desse livro fizer parte de uma conspiração universal?!!… Entonces, amigo mío, estamos todos jodidos!

Yuri Vieira, 36 anos, paulistano, é escritor e cineasta.
Sua página web pode ser acessada em yuriviera.com, bem como o blog Garganta de Fogo que escreve em parceria.

sábado, abril 19, 2008

Santiago

Está em cartaz no teatro Sesc Ginástico aqui no Rio a peça Otelo de William Shakespeare. É uma rara oportunidade de assistir a uma montagem clássica do autor inglês. A peça trata do ciúme, e mais do que isso, da inveja causadora do ciúme.

sexta-feira, abril 18, 2008

Democrata é a puta quiu pariu

O jornal O Globo de hoje traz em sua página de opinião um artigo do deputado federal Flávio Dino com o singelo título O valor da democracia. Não fosse o deputado Flávio Dino membro do Partido Comunista do Brasil, talvez o artigo tivesse algum valor. Como o é, então vale menos que cocô de cavalo, pois este pode ser usado ainda como adubo. O Partido Comunista do Brasil é o partido que apóia a China comunista, o partido maoísta, o partido que defende o regime mais criminoso da história humana, que matou setenta e seis milhões setecentas e duas mil pessoas durante os anos de 1949 a 1987. E essa merda de partido existe no Brasil. A existência do Partido Comunista do Brasil é pior do que a existência de um partido nacional socialista. Para não dizer que não poderia ser pior, o jornal O Globo abriu seu espaço para os lindos democratas. É que a morte é igual para todos, como eles matam mais, devem ser os mais democratas.

quarta-feira, abril 16, 2008

Podemos, em primeiro lugar, pensar no Maior.
Ou pensamos que o Maior existe ou que o Maior não existe. Em qualquer dos casos sempre pensamos no Maior. Se pensamos que o maior não existe, o seu pensamento não se refere ao Maior, pois o pensamento do Maior implica sua existência.
Resta agora provar que ele exista.
Vejamos os pensamentos implícitos nesse juízo. Como podemos imaginar o Maior? Temos experiência sensível dele? Absolutamente não.
E se não temos experiência sensível dele, como podemos concebê-lo?

Mas essas coisas finitas podem ser concebidas como não existentes, e o que não podemos conceber como não existente é o ser. Essas coisas finitas podem ser concebidas como tendo princípio e tendo um fim, mas o ser não podemos concbê-lo como tendo princípio nem fim. Essas coisas têm o começo, e o ser, não tendo começo, é eterno. E ser eterno não é uma mera negação do finito e do tempo; é uma superação do finito e do tempo.
E nós podemos concebê-lo, esse Maior, e ele existe necessariamente, não por que podemos concebê-lo, mas podemos concebê-lo porque ele existe. É por que nele estamos e como é nele que surgimos e nele subsistimos, dele temos uma "experiência", cujo símbolo nos aparece nesse poder conceber um ser que nada de maior se pode conceber.

Mário Ferreira dos Santos

sábado, abril 12, 2008

Histórias de sala de aula

Aula de Ética e cidadania. O professor usa um exemplo tendo-me como protagonista.
-- Digamos que o Daniel forme um grupo para matar o prefeito César Maia.
-- Agora virei terrorista.
(...)
-- Prefiro matar o mosquito (da dengue, motivo pelo qual a discussão foi posta).

sexta-feira, abril 04, 2008

O sonho do professor Rosamaria

O professor Rosamaria resolvera passar o filme O ponto de mutação, baseado na obra de Frithjof Capra, para seus alunos. Espantara-se que os alunos saíam no meio do filme com cara de poucos amigos. Por que será que não gostavam? O filme era tão bom, falava de consciência global, da falta de consciência ecológica; considerava essas coisas ainda em casa quando tomava banho. Foi dormir e sonhou que um globo terrestre acertava-lhe a cabeça. O globo terrestre estava preso à ponta de um tacape. Olhou para baixo e viu que sua própria mão segurava o tacape.

Acordou então assustado. Já era manhã e o pássaro cantava. Saiu de casa para trabalhar.

terça-feira, abril 01, 2008

Asterix e Obelix vão à biblioteca

Estavam Asterix e Obelix na biblioteca. O cãozinho Idéiafix deixaram do lado de fora amarrado a um bispo. Gania o pobre. Pesquisavam sobre o céu. Eles criam que o céu era capaz de cair sobre suas cabeças e queriam saber mais sobre ele. Entrou então um professor de faculdade. Vendo a dupla que insinuava um esforço sincero para aprender sobre o céu, o professo Rosamaria puxou uma cadeira e interrompeu sua leitura.
--Oh, vous étudiez le ciel. (a partir de agora, traduz-se, pois nem o leitor--não todo leitor, claro--nem o autor sabem muito de francês)
--Sim, gostaríamos de saber mais sobre o céu. Temos medo que ele venha abaixo sobre nossas cabeças.
--Não sejam tolos. O céu não pode cair sobre suas cabeças--afirmou Rosamaria.--O céu não existe.
Entreolharam-se Asterix e Obelix.
--O céu não existe?!Ora, conta outra.
--Não, é verdade. Ele é só uma invenção da cabeça de vocês.
Lá fora, Idéiafix gania.
--Vejam, eu vou provar-lhes. Acompanhem-me até o terraço do prédio.

Chegando ao terraço, apressou-se a falar o professor Rosamaria. Convidou-os a olharem pelo telescópio e verem as estrelas. Estão vendo, as estrelas são maiores vistas através da lente. Isso mostra que as coisas não são exatamente como as percebemos, nossos sentidos nos enganam, não podemos confiar neles e nem na nossa mente, que cria o céu e tudo o mais, vocês vêem.. ôps, escorregou, bateu no parapeito e caiu.

Espatifou-se no chão. O professor Rosamaria ainda conseguiu gritar lá de baixo. "Ele não existe."

Asterix e Obelix então desceram e pegaram Idéiafix. Foram para casa e fartaram-se de javalis. Aquele dia o céu não caiu sobre suas cabeças.