segunda-feira, maio 19, 2008

Carta de um amigo

Recebi carta de um amigo, Paulo Gravina, comentando os últimos posts do blog, a qual reproduzo aqui. Minha resposta estará no próximo post.

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Olá, Daniel,

muito interessante o seu blog. É legal descobrir (para mim uma surpresa!) o seu interessem em psicologia, política e, o mais importante, nas duas misturadas. Também gosto da maneira que você escreve, de uma maneira jornalística, informando, mas mostrando claramente a sua opinião. Vejo também uma certa influência do Olavo e do Diogo Mainardi em termos de dicção e tom. Tente sair disso, não porque eles não sejam bons, mas para tentar encontrar sua própria voz.

Comentando cada texto:
- do lumpemproletariado, realmente entendo pouco do assunto. Acho muito importante e verdadeiro o seu respeito e fidelidade aos autores, mesmo por aqueles que, claramente, você não gosta. Tome só cuidado porque senti que faltaram maiores explicações nesse texto, quer dizer, quem é o movimento revolucionário e a bandidagem? São só as Farcs e os traficantes? E quem são exatamente os "iluminados intelectuais"? Qual o limite do seu objeto de estudo? Tome cuidado com as generelizações, mas, a princípio, parece já um texto voltado para um público específico, que já sabe do que você está falando. E vi um pequeno errinho, um "possue" no segundo parágrafo.

- Sobre a história afro-brasileira, daria uma ótima discussão e onde está a discussão? Em primeiro lugar, a denominação "afro-brasileiro", que é simplesmente impossível de definir. O Gilberto Freyre passou a vida inteira provando que os traços negros estão presentes na cultura brasileira como um todo, são indiscerníveis das influências européias e cristãs e estão presentes inclusive na nossa maneira de falar. Se fosse ensinado Gilberto Freyre nas escolas seria realmente muito interessante, mas é disso que se trata a lei? É muito difícil opinar só com aquilo. Aliás, o próprio conceito de raça foi cientificamente provado como inexistente entre os seres humanos, pois é possível que haja diferenças genéticas maiores entre membros da mesma etnia do que de etnias diferentes (ao contrário, por exemplo, dos cachorros, onde as raças necessariamente significam diferenças genéticas maiores).

- do pasquim da reação, bem legal! De novo, faltaram explicações sobre o que quer dizer romantismo e pensamento conservador. Comente e explique!

- sobre o psicólogo, ainda não li a entrevista, mas achei interessantíssimo o penúltimo parágrafo. "Nenhuma pena jamais será perfeitamente adequada ao ato punido." Nunca estudei direito, mas não seria exatamente por isso que se coloca todos os crimes na mesma unidade de medida? Aliás, sempre fui muito interessado nisso: qual é a metodologia para definir essa unidade (ex.: 30 anos)? Desenvolva!

- Sobre o Caetano já conversamos. É interessante ver o seu amor pela língua portuguesa. Tome só cuidado com os conceitos, chamar Caetano de poeta ou mestre é muito diferente de compará-lo a Camões, Pessoa ou Platão...

- Sobre o João e o cão basset, gostei! Tem uma certa confusão no diálogo entre os registros escrito (ex.: fora, fizeste) e falado (ex.: muleque), mas sinto, como falei no início, que você ainda está definindo sua voz. Tente ler Tchékov (os contos!), acho que é uma proposta literária parecida com a sua nesse conto (cenas do cotidiano), mas com a linguagem atravessando os personagens e cenas, ou seja, para escrever sobre uma criança ele assume uma linguagem apropriada. Também é interessante a dupla aproximação-distanciamento do João, você ora pensa com o personagem, ora descreve a cena. Leia Madame Bovary, Flaubert é o mestre nisso!

- Os vídeos, ainda não tive tempo de ver, mas verei!


Abraços,
Paulo.

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