segunda-feira, outubro 25, 2010
A unidade espiritual
Políticos como Heloísa Helena ou teólogos como Leonardo Boff, que misturam socialismo com cristianismo, ou mesmo líderes cristãos em geral que baixam cartilhas sobre como ser um bom fiel, fariam bem em conhecer as seguintes palavras de Jesus, reveladas no Livro de Urântia:
"Eu vim ao mundo para proclamar a liberdade espiritual, com o fito de que os mortais pudessem ter o poder de viver vidas individuais de originalidade e de liberdade, diante de Deus. Eu não desejo que a harmonia social e a paz fraterna sejam compradas com o sacrifício da livre personalidade e da originalidade espiritual. O que eu vos peço, meus apóstolos, é a unidade espiritual -- e isso vós podeis experimentar na alegria da vossa dedicação unida a fazer de todo o coração a vontade do meu Pai no céu. Vós não tendes que ver de um modo igual, nem tendes de sentir do mesmo modo, nem mesmo pensar da mesma maneira, para serdes espiritualmente iguais. A unidade espiritual deriva da consciência de que cada um de vós é residido, e crescentemente dominado, pela dádiva espiritual do Pai celeste. A vossa harmonia apostólica deve crescer do fato de que a esperança espiritual de todos vós é idêntica pela origem, natureza e destino."
"Desse modo podeis experimentar a unidade perfeccionada de propósito espiritual e compreensão espiritual, que nasce da consciência comum da identidade dos vossos espíritos residentes vindos do Paraíso; e podeis desfrutar de toda a profunda unidade espiritual, mesmo havendo grande diversidade entre vossas atitudes individuais de pensamento intelectual, sentimentos, temperamento e conduta social. As vossas personalidades podem ser diversas de um modo animador e mesmo marcadamente diferentes, enquanto as vossas naturezas espirituais e frutos espirituais, de adoração divina e amor fraterno, podem ser tão unificados que todos aqueles que contemplarem as vossas vidas certamente tomarão conhecimento dessa identidade de espírito e dessa unidade de alma; (...)" (Livro de Urântia, doc. 141, 5)
"Desse modo podeis experimentar a unidade perfeccionada de propósito espiritual e compreensão espiritual, que nasce da consciência comum da identidade dos vossos espíritos residentes vindos do Paraíso; e podeis desfrutar de toda a profunda unidade espiritual, mesmo havendo grande diversidade entre vossas atitudes individuais de pensamento intelectual, sentimentos, temperamento e conduta social. As vossas personalidades podem ser diversas de um modo animador e mesmo marcadamente diferentes, enquanto as vossas naturezas espirituais e frutos espirituais, de adoração divina e amor fraterno, podem ser tão unificados que todos aqueles que contemplarem as vossas vidas certamente tomarão conhecimento dessa identidade de espírito e dessa unidade de alma; (...)" (Livro de Urântia, doc. 141, 5)
sexta-feira, outubro 22, 2010
"Cum enim utilitas ad se rapere, honestas contra revocare ad se videtur (...)"
"Quando deveras a utilidade desaparecer, então se verá o honesto reaparecer."
Cícero, Dos Deveres.
"Quando deveras a utilidade desaparecer, então se verá o honesto reaparecer."
Cícero, Dos Deveres.
"Não afirmamos que o homem seja dominado pela busca do prazer ou a ambição de mando; pelo contrário, mantemos a opinião de que ele é animado no mais profundo de si, para não dizer "espiritualizado", pela "vontade" de sentido. A vontade de poder vê e procura exclusivamente o útil, ou seja, "um valor para mim"; a vontade de sentido, no entanto, vê, outrossim, a dignidade e dela cuida, e isto significa "um valor em si". Assim, a vontade de poder é uma vontade de sentido que degenerou." (Frankl, Viktor. O homem incondicionado, em Fundamentos antropológicos da psicoterapia, Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978, p. 177)
segunda-feira, outubro 18, 2010
quarta-feira, outubro 13, 2010
As primeiras letras de Agostinho
"Portanto, eu pecava quando criança, ao antepor todos aqueles conhecimentos vãos dos poetas a estes mais úteis, ou antes, quando simplesmente detestava a estes e amava àqueles." (Agostinho, Confissões, I, 13)
Não, Agostinho, preferir as aventuras de Enéas à alfabetização da tenra idade não é pecado. Denota um menino desejoso de aventuras que de quebra fertiliza sua imaginação moral. Aprender a ler e a escrever claro que é necessaríssimo, mas gostar mais de Virgílio do que do professor primário não é ruim. Faça como você fez depois, reconheça o seu trabalho; não rejeite a "ficção mais verdadeira que a vida."
Menosprezas o "espetáculo vão" do poeta mas não consegues deixar de citar-lhe "a sombra de Creusa", porque o amas, porque é bom que o ames.
domingo, outubro 03, 2010
O que acha meu alterego?
"Quien habla solo espera hablar con Dios un día."
(Machado, Antonio. Campos de Castilla)
(Machado, Antonio. Campos de Castilla)
"As crianças, quando começam a aprender a fazer uso da linguagem, têm a propensão de pensar em voz alta, de expressar os seus pensamentos em palavras, mesmo quando não há ninguém por perto para ouvi-las. Com o alvorecer da imaginação criativa, elas evindenciam uma tendência de conversar com companheiros imaginários. Desse modo, um ego que se forma, busca manter a comunhão com um altergo fictício. Por meio dessa técnica, a criança aprende muito cedo a converter o seu monólogo em um diálogo fictício, no qual esse alterego responde ao seu pensamento verbal e à expressão dos seus desejos. Boa parte dos pensamentos dos adultos é mentalmente construída na forma de conversas.
(...)
(...) É inteiramente apropriado, quando faz uma prece, que o homem se esforce para captar o conceito do Pai Universal no Paraíso. Mas a técnica mais eficaz, para os propósitos mais práticos, será retornar ao conceito de um alterego próximo, exatamente com a mente primitiva tinha o hábito de fazer, e então reconhecer que a idéia desse alterego evoluiu de uma mera ficção até a verdade, que é Deus, residindo no homem mortal, por meio da presença factual do Ajustador, de um modo tal que o homem pode colocar-se face a face com Ele, como se fosse um alterego real, genuíno e divino, que reside nele e que é a própria presença e a essência do Deus vivo, o Pai Universal." (Livro de Urântia, doc. 91, 3)
(...)
(...) É inteiramente apropriado, quando faz uma prece, que o homem se esforce para captar o conceito do Pai Universal no Paraíso. Mas a técnica mais eficaz, para os propósitos mais práticos, será retornar ao conceito de um alterego próximo, exatamente com a mente primitiva tinha o hábito de fazer, e então reconhecer que a idéia desse alterego evoluiu de uma mera ficção até a verdade, que é Deus, residindo no homem mortal, por meio da presença factual do Ajustador, de um modo tal que o homem pode colocar-se face a face com Ele, como se fosse um alterego real, genuíno e divino, que reside nele e que é a própria presença e a essência do Deus vivo, o Pai Universal." (Livro de Urântia, doc. 91, 3)
terça-feira, setembro 28, 2010
A língua que não conversa
"(...) é uma grande ilusão considerar um termo simplesmente como a união de certo som com um certo conceito. Defini-lo assim seria isolá-lo do sistema do qual faz parte; seria acreditar que é possível começar pelos termos e construir o sistema fazendo a soma deles, quando, pelo contrário, cumpre partir da totalidade solidária para obter, por análise, os elementos que encerra." (Saussure, Ferdinand de. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 2006, p. 132)
Fosse assim, um bebê e até mesmo um adulto não conseguiriam expressar um significado qualquer, porque teriam que conhecer todas as palavras da língua para poder expressar, com uma delas, sabendo de sua diferença face às demais, um significado para seu semelhante. Que trabalheira, não?
Mas o homem, porém, não cria a linguagem apenas para transmitir um significado, ele a cria para revelar-se a si próprio ao outro, esperando reciprocidade, num processo de descoberta mútua. O homem conversa com o Ser que não poderia não ser e se relaciona com Ele, e o ouve, e também fala sozinho -- "Quien habla solo espera hablar con Dios un día" (Antonio Machado) --; mal se pode dizer que um transmite ao outro algum significado conceitual. Trata-se de troca de valores e experiências, como não? O homem também cria a linguagem para erigir as instituições que fundarão sua vida social. Por isso é boba a alegação de que a língua de Virgílio e Cícero não era o verdadeiro latim, uma vez que a população em geral não se expressava com o refinamento dos dois. O latim que condenou Catilina e concebeu a aventura de Enéas formava o imaginário popular e edificava o governo de todos os romanos. Estudamos esse latim, não o que o mesquinho Zé da esquina falou. Aquele é o que pode tentar ser o mais verdadeiro e fiel possível às emoções e necessidades de um povo e de qualquer homem em sua experiência real no mundo, esse é a pululação quotidiana de nossos fingimentos e desejos baixos, falso acerto de contas com um cosmos que nos aterroriza.
Saussure analisa a linguagem em seu nível lógico antes que no da impressão ou experiência real que o homem deseja compartilhar e trocar com seu semelhante. Tem-se a impressão de que Saussure analisa conceitos tecnológicos conhecidos por uma comunidade restrita de cientistas ou técnicos. Ele, no entanto, não era tonto para crer que as palavras não terão qualquer referência a um mundo real, o que equivaleria dizer que a linguagem seria um dicionário sem mundo exterior1, um sistema de palavras que se remeteriam umas às outras sem referência a um elemento externo, o qual, na carona de Gödel, e por analogia, diríamos ser auto-contraditório.
Indicar o significado de algo já realizado, ao invés do apelo, do chamado à realização ou à compreensão e ao reconhecimento de algo na vida criativa interior é uma das críticas de Rosenstock tanto à teoria naturalista-representativista quanto à estruturalista de Saussure e quejandos.
O pai que ampara seu bebê pelos braços incentivando-o a andar, o chefe que manda seu empregado buscar papéis, ou o estudioso da língua que diz "Eu te amo" à sua esposa não estão apenas transmitindo significados, estão encorajando, dando ordens, trocando experiências com a pessoa a quem se dirigem -- e que lhes presta mais ou menos atenção --, conforme a situação. Muitas vezes, aliás, troca-se uma experiência melhor pelo silêncio do que por palavras -- "Espera que cada um se realize e consume / com seu poder de palavra / e seu poder de silêncio" (Drummond). Por isto, os limites da linguagem não são os limites da interação com o cosmos, como queria Wittgenstein. O contrário seria mais justo. O homem intenta através da linguagem -- uma de suas melhores maneiras de fazê-lo --, dizer sua interação com o cosmos, 'no matter how short of it he may be'. As palavras são, ou deveriam ser, nossa tentativa de melhor nos fazer entender -- e também de entender --, de relacionar-nos em suma, com o semelhante, o Superior e até com o inferior -- você nunca conversou com um cão? Quando sei que Viktor Frankl conversava com sua esposa já falecida, a linguística saussuriana parece-me surda à experiência real do homem no amor do Cosmos.
Indicar o significado de algo já realizado, ao invés do apelo, do chamado à realização ou à compreensão e ao reconhecimento de algo na vida criativa interior é uma das críticas de Rosenstock tanto à teoria naturalista-representativista quanto à estruturalista de Saussure e quejandos.
O pai que ampara seu bebê pelos braços incentivando-o a andar, o chefe que manda seu empregado buscar papéis, ou o estudioso da língua que diz "Eu te amo" à sua esposa não estão apenas transmitindo significados, estão encorajando, dando ordens, trocando experiências com a pessoa a quem se dirigem -- e que lhes presta mais ou menos atenção --, conforme a situação. Muitas vezes, aliás, troca-se uma experiência melhor pelo silêncio do que por palavras -- "Espera que cada um se realize e consume / com seu poder de palavra / e seu poder de silêncio" (Drummond). Por isto, os limites da linguagem não são os limites da interação com o cosmos, como queria Wittgenstein. O contrário seria mais justo. O homem intenta através da linguagem -- uma de suas melhores maneiras de fazê-lo --, dizer sua interação com o cosmos, 'no matter how short of it he may be'. As palavras são, ou deveriam ser, nossa tentativa de melhor nos fazer entender -- e também de entender --, de relacionar-nos em suma, com o semelhante, o Superior e até com o inferior -- você nunca conversou com um cão? Quando sei que Viktor Frankl conversava com sua esposa já falecida, a linguística saussuriana parece-me surda à experiência real do homem no amor do Cosmos.
......
1 Quando falo em exterior não me refiro apenas a coisas do mundo material, refiro-me também aos sentimentos, como tal interiores, do homem, às instituições que criou, etc, trata-se de um mundo exterior apenas ao dicionário, não à mente-alma-espírito humana.
sábado, setembro 25, 2010
O sonho da borboleta
"Certa vez eu, Chuang Chou, sonhei que era uma borboleta, adejando daqui para acolá, com todos os fins e propósitos de uma borboleta. Só tinha consciência de minha felicidade como borboleta sem saber que eu era Chou. Depressa acordei e ali estava eu, eu mesmo, na verdade. Agora não sei se eu era um homem sonhando ser borboleta, ou se eu sou uma borboleta sonhando ser um homem. Entre um homem e uma borboleta há, naturalmente, uma distinção. A transição é chamada transformação de coisas materiais." (Zhuangzi)
A distinção é que o homem desperto pode pensar que é borboleta, mas a borboleta do sonho não pensaria que seja homem.
quinta-feira, setembro 23, 2010
A psicologia transpessoal de Wilber e o Livro de Urântia
Ken Wilber, é preciso esclarecer tua idéia de que o destino da alma é ceder lugar ao Espírito, quando "na onipresente consciência, tua alma expande-se para alcançar o Cosmos inteiro, de sorte que o Espírito permanece sozinho, como o mundo simples daquilo que é." (Wilber, Ken. Integral Psychology. Boston & London: Shambala, 2000, p. 108, tradução minha) Desejas dizer que, "conforme Moisés, a alma pode lobrigar, mas jamais realmente ingressar na Terra Prometida", que a alma deve transformar-se no Espírito para fazê-lo? A alma é a realidade da relação única entre a mente e o espírito e "resulta em um valor universal, de duração eterna, inteiramente original, novo e único." (Livro de Urântia, 2007, doc. 111, p. 1218) Ken Wilber tratará da alma quando trabalha os níveis do desenvolvimento interno do homem:
"Da mesma maneira, olhando com profundidade para dentro da mente, na parte mais interior do eu, quando a mente fica bastante, bastante tranqüila, e, naquele infinito Silêncio, se ouve calmamente, a alma começa a sussurrar, e sua voz de pluma leva a um ponto a mais do que a mente jamais poderia imaginar, além de qualquer coisa que a racionalidade poderia tolerar, além de qualquer coisa que a lógica suportaria. Em seus sussurros gentis, estão as míseras pistas do amor infinito, lampejos de uma vida que o tempo esqueceu, coriscos de felicidade que não se mencione, uma interseção infinita onde os mistérios da eternidade sopram vida no tempo mortal, onde o sofrimento e a dor esqueceram como pronunciar seus próprios nomes, a interseção calma e secreta do tempo com o próprio atemporal, uma interseção chamada alma." (Wilber, idem, p. 106, tradução minha)
Uma descrição belíssima.
No Livro de Urântia, o Espírito mencionado por Wilber equivale ao Ajustador do Pensamento, um fragmento do Pai Eterno nas mentes de Seus filhos mortais planetários, Seu amor "tornado realidade e encarnado nas almas dos homens." (Livro de Urântia, idem, doc. 107, p. 1176) O destino do homem que haja escolhido com firmeza cumprir a vontade do Pai ao longo de uma carreira eterna é fusionar-se com Ele. Dir-se-á então que o homem se torna Ajustador, ou que o Ajustador se torna homem? "Nenhuma das duas coisas", "as duas identidades transformaram-se numa única." (Livro de Urântia, idem, doc. 112, p. 1238) Cada homem, lembremos a Wilber, deve ter seu Ajustador de Pensamento, ele não é um espírito comum aos homens em geral. Viktor Frankl, sem o saber, referir-se-ia a Ele ao dizer que "quando você estiver conversando consigo com plena sinceridade e suprema solidão -- este a quem você se dirige pode ser adequadamente chamado de Deus." As diferenças com Ken Wilber podem ser detalhes técnicos de nomenclatura, ao invés de uma discordância fundamental, mas a alma humana terá se tornado imortal pela aceitação sem reservas dos desejos do Espírito, ou seja, do Pai.
Ken Wilber considera também o caráter pessoal do homem em cada nível do "Great Nest of Being" que lhe acontece viver:
"Mas dizer que as mais profundas ondas do eu estão arqueologicamente expostas não significa em absoluto dizer que elas estão simplesmente dadas de antemão, como um tesouro enterrado no peito e à espera de excavação. Apenas significa que essas ondas mais profundas são todas potenciais básicos da condição humana (e sentiente). (...) cada indivíduo descobre as profundezas criando as características de superfície de cada onda que será unicamente sua (o que você faz com seu corpo, mente, alma e espírito cabe a você trabalhar). Como sempre, devemos construir o futuro que nos é dado; e o terapeuta que trabalha por todo o espectro ("full-spectrum therapist") é um assistente nesta extraordinária viagem ao mesmo tempo de descoberta e de criação." (Wilber, idem, pp. 109-110, tradução minha)
Sobre o tema, o Livro de Urântia dirá que a personalidade "unifica todas as atividades e que, por sua vez, lhes confere as qualidades de identidade e de criatividade." (Livro de Urântia, idem, doc. 112, p. 1227) "O propósito da evolução cósmica é conseguir a unidade de personalidade, por meio da predominância crescente do espírito, que é a resposta da vontade ao ensinamento e ao guiamento do Ajustador do Pensamento." (Livro de Urântia, idem, doc. 112, p. 1229) A personalidade, portanto, efetiva o caráter único do desenvolvimento de cada homem.
Atualização de 30 de janeiro de 2011: Veja também, leitor, uma comparação entre a obra de Viktor Frankl e o Livro de Urântia, aqui, realizada por Luiz Carlos Dolabella Chagas, tradutor para nosso idioma do Livro de Urântia. Advirta-se que o texto está em inglês.
segunda-feira, setembro 20, 2010
Direita
Urge a formação de um partido de direita no Brasil, mesmo que esse partido nasça dentro de um partido já existente. Por exemplo, o Democratas, agora com Indio da Costa corajosamente denunciando a aliança entre o PT e as Farc, poderia ser esse partido. Há, porém, dois empecilhos, os próprios Democratas não querem ser qualificados como direitistas (Indio da Costa, em entrevista a Veja, disse que se deve procurar a eficiente terceira via de Anthony Giddens, ao invés de se ocupar com definições partidárias), e o cacife do partido, Cesar Maia, é um comunista enrustido -- ele usou um broche comunista em seu último dia de governo como prefeito do Rio de Janeiro, como homenagem a seus ideais de outrora. Não vejo qualquer problema na pessoa ser fiel a seus ideais de juventude, como queria Schiller, mas deve sê-lo na medida em que eles apontam para os valores supremos, ainda que com idéias ruins, como o são as comunistas, as quais devem ser abandonadas. Permaneça o bom ideal e as idéias se aprimorem pela experiência. Cesar Maia provavelmente confundiu ambos.
Um partido de direita deve articular as seguintes políticas:
Defesa intransigente da democracia liberal. Não se admite que a direita, às vezes até covardemente, abandone o jogo da democracia para implorar a ação dos quartéis. Se é função das Forças Armadas assegurar pela força a ordem contra movimentos nazi-comunistas, não é preciso que elas sejam governo para tanto porém.
Apoio internacional a países e partidos defensores da democracia liberal, inclusive a participação em foros internacionais de debate. A UnoAmérica poderia ser o embrião de uma organização do tipo. A direita se perde em dois extremos, o liberalismo e o nacionalismo, políticas que muitas vezes são antagônicas. O liberalismo prima pela universalidade, ao passo que o nacionalismo apela ao singular, um coletivo singular, a nação. Sem 'ismos', respeitem-se as lealdades formadas dentro da nação, porém abra-se a possibilidade para novas lealdades no nível internacional. A direita deve atuar com decisão, prudência e confiança em governos transnacionais.
Redução de tributos e apoio à iniciativa empresarial. O desenvolvimento de novas tecnologias e projetos produtivos é tornado possível pela acumulação de capital -- outro nome para poupança -- de indivíduos e grupos de indivíduos. "O abuso do capital, da parte de alguns capitalistas injustos, não contradiz o fato de o capital ser a base da sociedade industrial moderna. Por meio do capital e das invenções, a geração atual desfruta de um nível mais elevado de liberdade do que qualquer outra que a haja precedido na Terra." (Livro de Urântia, 2007, doc. 69, p. 777)
Defesa dos valores tradicionais, sobretudo na medida em que comunguem dos valores supremos. "Os costumes têm sido o fio de continuidade a manter a civilização unida." (Livro de Urântia, 2007, doc. 68, p. 767) Peter Drucker dizia que o progresso deve ser acompanhado da continuidade. "(...) Nenhuma civilização que haja abandonado as suas tradições sobreviveu, a não ser adotando costumes melhores e mais adequados." (Livro de Urântia, doc. 68, p. 767) Um partido de direita deve gostar do bom, seja novo ou velho. Se for novo, ótimo, se for velho, tão logo o novo seja testado e estimado como inferior na comparação, prevaleça o velho.
Defesa dos valores tradicionais, sobretudo na medida em que comunguem dos valores supremos. "Os costumes têm sido o fio de continuidade a manter a civilização unida." (Livro de Urântia, 2007, doc. 68, p. 767) Peter Drucker dizia que o progresso deve ser acompanhado da continuidade. "(...) Nenhuma civilização que haja abandonado as suas tradições sobreviveu, a não ser adotando costumes melhores e mais adequados." (Livro de Urântia, doc. 68, p. 767) Um partido de direita deve gostar do bom, seja novo ou velho. Se for novo, ótimo, se for velho, tão logo o novo seja testado e estimado como inferior na comparação, prevaleça o velho.
Apoio ao agronegócio, responsável direito ou indireto pelo emprego de 35% da população do país e, atenção, pelo preço baixíssimo dos produtos primários no mercado brasileiro. No Brasil a carne custa R$10,00 o quilo. O modelo de pequenas propriedades rurais tem se revelado um fracasso, com raras exceções no sul do país, onde uma população de origem européia, com cultura camponesa e organizada em modernas cooperativas, consegue boa produção. Mais do que de capital, o pequeno agricultor precisa de assistência técnica.
Educação compulsória, seja organizada pelo Estado, paga pelo Estado porém escolhida pelos pais, ou paga e escolhida pelos pais.
Promoção da justiça social, o que se reflete, por exemplo, no reconhecimento da função social da propriedade, de resto já consagrado em nosso ordenamento jurídico, e no cuidado pelos desventurados. Não é errado querer promovê-la. O conceito não foi criado por socialistas, mas por um jesuíta no século XIX.1 "É assunto e dever da sociedade prover, ao filho da natureza, uma oportunidade justa e pacífica de buscar a automanutenção, de participar da autoperpetuação e, ao mesmo tempo, de desfrutar, em alguma medida, da autogratificação; e a soma de todas essas três constitui a felicidade humana." (Livro de Urântia, 2007, doc. 70, p. 794)
Trabalho forte de base. Os partidos brasileiros costumam ser dominados por políticos medalhões. Muito cacique para pouco índio. Um partido de direita deve realizar primárias para escolher seus candidatos.
1 E se relaciona à idéia aristotélica de justiça distributiva. Ver Shields, Leo. History and Meaning of a Social Justice, dissertação para obtenção do grau de doutor em filosofia. Notre Dame, Indiana: 1941.
sábado, setembro 18, 2010
Não se conserve o pensamento politicamente correto
Entrevistando Bruno Mazzeo no programa Globo News em Pauta, o jornalista Sergio Aguiar lhe perguntou como o pensamento politicamente correto atrapalhava o humor e se não se trataria de um conservadorismo.
Não, Sergio Aguiar, o pensamento politicamente correto surge no bojo do marxismo cultural dos anos 20, quando Antonio Gramsci, Georg Lukács e a Escola de Frankfurt advogam que a superestrutura da civilização ocidental é o obstáculo ao êxito da ideologia. Alcançará o auge e a partir de então uma hegemonia relativa nos anos 60, como a teoria da contra-cultura.
O conservadorismo se opõe ao pensamento politicamente correto, o qual freqüentemente o taxa, bem a seu feitio, de "hate speech" (discurso de ódio).
Está na hora de parar de considerar qualquer tema que desagrade como conservador.
Não, Sergio Aguiar, o pensamento politicamente correto surge no bojo do marxismo cultural dos anos 20, quando Antonio Gramsci, Georg Lukács e a Escola de Frankfurt advogam que a superestrutura da civilização ocidental é o obstáculo ao êxito da ideologia. Alcançará o auge e a partir de então uma hegemonia relativa nos anos 60, como a teoria da contra-cultura.
O conservadorismo se opõe ao pensamento politicamente correto, o qual freqüentemente o taxa, bem a seu feitio, de "hate speech" (discurso de ódio).
Está na hora de parar de considerar qualquer tema que desagrade como conservador.
segunda-feira, agosto 30, 2010
"If what you ask has spiritual value,
I will give you all that you ask.
For I desire you to have all you need
though I cannot give all you want,
Until all you want is what I want for you."
(Horn, Merritt. The Call of the Spirit)
"Se o que pedes tem valor espiritual,
Dar-te-ei tudo que pedires.
Porque desejo que tenhas tudo que precises
embora não possa dar-te tudo que queiras,
Até quando tudo o que queiras é o que quero para ti."
Tradução minha.
I will give you all that you ask.
For I desire you to have all you need
though I cannot give all you want,
Until all you want is what I want for you."
(Horn, Merritt. The Call of the Spirit)
"Se o que pedes tem valor espiritual,
Dar-te-ei tudo que pedires.
Porque desejo que tenhas tudo que precises
embora não possa dar-te tudo que queiras,
Até quando tudo o que queiras é o que quero para ti."
Tradução minha.
terça-feira, agosto 24, 2010
Marina Silva é íntegra. Ela pode estar pronta, o seu partido é que ainda está, por assim dizer, verde.
No debate promovido pelo canal Canção Nova, da Igreja Católica, gastou o latim. Lamento que um de seus momentos felizes, quando disse que rotular as pessoas é uma maneira de se afastá-las de um debate, e que, como numa igreja, dentro de um partido há pessoas boas, pessoas mais ou menos, e pessoas difíceis, momento em que chegou a ser aplaudida, não foi disponibilizado em vídeo pela emissora de TV. Abaixo, a partir do oitavo minuto, ela diz como o político pode ser a favor da vida e respeitar o procedimento democrático, e, citando Cristo Jesus, que os cristãos podem ser contra a prática homossexual mas não devem discriminar injustamente homossexuais, o que, ressalva, padres e pastores não fazem.
sexta-feira, agosto 20, 2010
Lirilizando a política
"Embora chames burguesa,
ó poeta moderno, à rosa,
não lhes tira a beleza.
A tua sanha imprevista
contra a vítima formosa,
é um mero ponto de vista.
Pode a sanha ser moderna,
pode ser louvada, a glosa:
mas sendo a Beleza eterna,
que vos julgue o Tempo sábio:
entre os espinhos, a rosa,
entre as palavras, teu lábio.
(Meirelles, Cecília. Metal Rosicler, 35)
......
"Eu nada entendo da questão social.
Eu faço parte dela, simplesmente...
E sei apenas do meu próprio mal,
Que não é bem o mal de toda a gente,
Nem é deste Planeta... Por sinal
Que o mundo se lhe mostra indiferente!
E o meu anjo da Guarda, ele somente,
É quem lê os meus versos afinal...
E enquanto o mundo em torno se esbarronda,
Vivo regendo estranhas contradanças
No meu vago País de Trebizonda...
Entre os Loucos, os Mortos e as Crianças,
É lá que eu canto, numa eterna ronda,
nossos comuns desejos e esperanças!...
(Quintana, Mario. A Rua dos Cataventos, IV)
ó poeta moderno, à rosa,
não lhes tira a beleza.
A tua sanha imprevista
contra a vítima formosa,
é um mero ponto de vista.
Pode a sanha ser moderna,
pode ser louvada, a glosa:
mas sendo a Beleza eterna,
que vos julgue o Tempo sábio:
entre os espinhos, a rosa,
entre as palavras, teu lábio.
(Meirelles, Cecília. Metal Rosicler, 35)
......
"Eu nada entendo da questão social.
Eu faço parte dela, simplesmente...
E sei apenas do meu próprio mal,
Que não é bem o mal de toda a gente,
Nem é deste Planeta... Por sinal
Que o mundo se lhe mostra indiferente!
E o meu anjo da Guarda, ele somente,
É quem lê os meus versos afinal...
E enquanto o mundo em torno se esbarronda,
Vivo regendo estranhas contradanças
No meu vago País de Trebizonda...
Entre os Loucos, os Mortos e as Crianças,
É lá que eu canto, numa eterna ronda,
nossos comuns desejos e esperanças!...
(Quintana, Mario. A Rua dos Cataventos, IV)
segunda-feira, agosto 09, 2010
Cícero sobre o estudo
"Ainda quanto a ti, meu filho Marco, que naquele ano freqüentaste Crátipo, na própria Atenas considera-se preciso abundar em preceitos e pelos institutos de filosofia em busca de apogeu e da autoridade de doutor e da cidade, capaz de progredir na ciência de um, e outros exemplos ainda, entretanto, para a minha utilidade, sempre conjugo as idéias latinas com as gregas, tampouco fico apenas com a filosofia, além de me exercitar com discurso, realizei-os, igualmente para teu proveito, julgo para fazer, que tenhas igual habilidade em qualquer discurso. E no que deveras nos toca, como somos vistos, prestamos grande ajuda a nossos próximos, não como na maneira rude dos livros gregos; que os doutores, entretanto, em alguma medida se justifiquem para adeptos e para quem se deva falar e expor considerações.
Quão vantajosamente estudas ao menos sobre o principal da geração dos filósofos e estudas durante muito tempo o que queres; no entanto, deverás querer muito durante este longo tempo, até o ponto em que conquanto avances não será o bastante. Todavia, nossos escolhidos não dissentem muito dos peripatéticos, porque tanto os socráticos quanto os platônicos devem ser queridos, faz uso no teu julgamento das próprias coisas -- nada o impede deveras --, proferirás com êxito discurso na língua latina para nossos leitores satisfeitos. Que eu não queira superestimar-me deveras. A seu turno, não se concede a muitos a ciência de filosofar, sejas consagrado ao que é próprio da oratória, apto, distinto e ornamentado, uma vez que pelo estudo se atravessa a vida inteira, se para mim o assumo, sou considerado em meu dever apto de alguma maneira a reivindicá-lo."
-- Cícero, em De Officiis, ou Dos Deveres, tradução minha, com revisão de José Serrano.
Quão vantajosamente estudas ao menos sobre o principal da geração dos filósofos e estudas durante muito tempo o que queres; no entanto, deverás querer muito durante este longo tempo, até o ponto em que conquanto avances não será o bastante. Todavia, nossos escolhidos não dissentem muito dos peripatéticos, porque tanto os socráticos quanto os platônicos devem ser queridos, faz uso no teu julgamento das próprias coisas -- nada o impede deveras --, proferirás com êxito discurso na língua latina para nossos leitores satisfeitos. Que eu não queira superestimar-me deveras. A seu turno, não se concede a muitos a ciência de filosofar, sejas consagrado ao que é próprio da oratória, apto, distinto e ornamentado, uma vez que pelo estudo se atravessa a vida inteira, se para mim o assumo, sou considerado em meu dever apto de alguma maneira a reivindicá-lo."
-- Cícero, em De Officiis, ou Dos Deveres, tradução minha, com revisão de José Serrano.
sexta-feira, agosto 06, 2010
No debate presidencial de ontem, o candidato Plínio, não o Salgado mas Sampaio, perguntou a outros candidatos o que eles pensavam a respeito de limitar o tamanho das propriedades. Nenhum dos adversários respondeu a contento, apenas usaram evasivas dizendo que o Brasil é um país muito grande, ou que é prudente respeitar as diferenças regionais, ou então "é melhor não arranjar sarna para se coçar" (José Serra, como você deseja ser presidente da República sem valer-se de princípios e ideais, que os homens amam e os movem, apenas tratando de questões operacionais dentro de um "debate de idéias"?). O candidato Plínio saiu-se então triunfante, dizendo que seus adversários eram a favor do latifúndio.
Tanto Dilma Roussef quanto José Serra deveriam ter-lhe respondido que o preço da carne no supermercado custa R$10,00 o quilo, porque o agronegócio alcançou níveis impressionantes de produtividade. O brasileiro pode adquirir alimentos por um preço relativamente baixo porque o latifúndio consegue produzí-los.
Algumas palavras-mantras inibem e envergonham o pensamento humano. No caso brasileiro, evoca-se latifúndio para imantar o pensamento numa irrealidade carregada de pseudo-significados, a respeito da qual supõe-se que se deva ter uma "atitude". Ora, quem é a favor do latifúndio é mal, não é verdade? Mas se o latifúndio for produtivo e alimentar a população brasileira, não parecerá ser tão ruim assim.
O pensamento ideológico pode fazer uma mixórdia de significados em palavras esvaziadas de sentido, "tubos vazios onde cada um coloca o que quer", assim Pirandello entendia o fascismo. Às vezes, no entanto, sequer se lhes pode colocar o que quer, porque a corrupção de significado já se implementou e direcionou de tal maneira que à mente humana resta ou aderir a ela, ou, o que aqui tento fazer, buscar decodificá-la, mostrando que o rei está nu.
Uma hora os conceitos precisam descer de seu "palácio matemático" para beber da água da vida.
Tanto Dilma Roussef quanto José Serra deveriam ter-lhe respondido que o preço da carne no supermercado custa R$10,00 o quilo, porque o agronegócio alcançou níveis impressionantes de produtividade. O brasileiro pode adquirir alimentos por um preço relativamente baixo porque o latifúndio consegue produzí-los.
Algumas palavras-mantras inibem e envergonham o pensamento humano. No caso brasileiro, evoca-se latifúndio para imantar o pensamento numa irrealidade carregada de pseudo-significados, a respeito da qual supõe-se que se deva ter uma "atitude". Ora, quem é a favor do latifúndio é mal, não é verdade? Mas se o latifúndio for produtivo e alimentar a população brasileira, não parecerá ser tão ruim assim.
O pensamento ideológico pode fazer uma mixórdia de significados em palavras esvaziadas de sentido, "tubos vazios onde cada um coloca o que quer", assim Pirandello entendia o fascismo. Às vezes, no entanto, sequer se lhes pode colocar o que quer, porque a corrupção de significado já se implementou e direcionou de tal maneira que à mente humana resta ou aderir a ela, ou, o que aqui tento fazer, buscar decodificá-la, mostrando que o rei está nu.
Uma hora os conceitos precisam descer de seu "palácio matemático" para beber da água da vida.
quinta-feira, agosto 05, 2010
Tive um instrutor, enganado, que acreditava que ética, disciplina que ministrava, era sinônimo de revoltar-se com as injustiças do mundo. Ética, na realidade, é querer o bem ao próximo, e cuidar de querer os maiores valores.
Lá atrás, quando Moisés repassou os mandamentos para o povo hebreu, qual era o primeiro? "Amar a Deus sobre todas as coisas". Indignar-se com uma injustiça pode ser importante, desde que o sentimento se subordine a um dever para com a presença do Pai.
Lá atrás, quando Moisés repassou os mandamentos para o povo hebreu, qual era o primeiro? "Amar a Deus sobre todas as coisas". Indignar-se com uma injustiça pode ser importante, desde que o sentimento se subordine a um dever para com a presença do Pai.
quarta-feira, julho 28, 2010
Semana passada uma colega me disse que a construção crescente de presídios nos Estados Unidos da América responde a uma política de segregação do negro, tido como inferior. Pior: disse que consiste numa visão de direita, o que não poderia ser mais falso, uma vez, por exemplo, que Salvador Allende escreveu em sua tese de doutorado que a raça judaica ou cigana inclinava os indivíduos a si pertencentes para a prática de crimes, ou que Karl Marx advogava o extermínio eugênico de raças inferiores. A evidência de se discernir raças entre os homens, e o mau uso que disso se pode fazer, o que constitui o racismo precisamente, são compartilhados por esquerda e direita.
A política estadunidense de construir mais presídios visa a alojar criminosos, sejam eles brancos ou negros. Se os negros cometem mais crimes, é óbvio que eles serão a população carcerária majoritária. Não ignoro o fato de que negros possam ser condenados a prisão em processos que em algum momento foram movidos segundo um automatismo racista, não obstante, valendo-me aqui da teoria realeana sobre o direito, o fato não implica o valor, tampouco a norma. Dificilmente se pode dizer que a construção de presídios se inclui dentro de uma política de segregação do negro. Talvez ainda não seja uma realidade a 'post-racial America', sobretudo em estados do Sul, porém as baterias da Administração Pública estadunidense estão menos voltadas contra que a favor do negro.
A política estadunidense de construir mais presídios visa a alojar criminosos, sejam eles brancos ou negros. Se os negros cometem mais crimes, é óbvio que eles serão a população carcerária majoritária. Não ignoro o fato de que negros possam ser condenados a prisão em processos que em algum momento foram movidos segundo um automatismo racista, não obstante, valendo-me aqui da teoria realeana sobre o direito, o fato não implica o valor, tampouco a norma. Dificilmente se pode dizer que a construção de presídios se inclui dentro de uma política de segregação do negro. Talvez ainda não seja uma realidade a 'post-racial America', sobretudo em estados do Sul, porém as baterias da Administração Pública estadunidense estão menos voltadas contra que a favor do negro.
terça-feira, julho 27, 2010
Bem-te-vis de São Luís
Na direção do Palácio do Governo, o céu tinha-se aberto. E debaixo das nesgas azuis, irromperam das árvores, ainda úmidas de chuva, bandos ruidosos de bem-te-vis. De início, Dom Manuel ouviu-lhes o tatalar das asas nervosas. E eram tantas, que ele se assustou. Depois, começou, no largo espaço entre o Palácio do Bispo e o Palácio do Governo, a bulha dos gritos divertidos, ora aqui, ora ali, ora mais além, depois novamente aqui, e sempre no tom de uma vaia peralta, que só mesmo os bem-te-vis sabem dar.


Dá gosto ouvi-los, ainda cedo, à primeira luz matutina, ou depois de uma pancada de chuva, assim que o sol se abre, esses bem-te-vis de São Luís. Umas cidades têm as suas andorinhas; outras, os seus pardais; São Luís tem os seus bem-te-vis, que nascem com a luz do sol e parecem cantar com ela pelo resto do dia. De relance, dir-se-ia que voam em bando. Na verdade, ao contrário das andorinhas, voam solitários, sem prejuízo das reuniões eventuais no mesmo fio telegráfico, no beiral do mesmo telhado, nos ramos da mesma árvore. Destemidos, apesar de medirem pouco mais de meio-palmo, lançam-se aos urubus em pleno vôo, e os afugentam. Cá embaixo parecem passarinhos bem comportados.

Um deles grita, escandindo as sílabas:
-- Bem-te-vi!

Embora circunscrito às três sílabas inconfundíveis, o grito nada tem de monótono, porque varia de inflexão e disposição oral. Assim: bem-em-em-em-te-vi! Ou simplesmente: te-vi! Por vezes, ouvindo-os ao raiar do dia ou ao cair da tarde, salteia-nos a impressão de que um deles, mais moleque e jovial, zomba do outro, com este grito diferente: eh, eh, eh. E logo ouve a réplica, depois de um ruído repetido de asas no ar: bem-te-vi! bem-te-vi!" (Montello, Josué. Os tambores de São Luís)
sábado, julho 24, 2010
Contra o cálculo por juros nominais, a favor do cálculo por juros reais, que desconta a inflação (ou deflação) antes de remunerar o credor, a seguinte lição de Mr. Slang:
"Eis a razão do horror que o Brasil inspira ao capital europeu e americano. Os homens de negócios preferem 3% lá a 12% aqui, porque 3 lá são 3, e os 12 de cá valem tanto como uma parada em roleta. Podem ser muito, podem ser zero." (LOBATO, Monteiro. Mr. Slang e o Brasil)
O britânico referia-se à oscilação violenta da moeda nos anos 20, mas suas palavras adequar-se-iam com justeza se tratassem do padrão de juros.
"Eis a razão do horror que o Brasil inspira ao capital europeu e americano. Os homens de negócios preferem 3% lá a 12% aqui, porque 3 lá são 3, e os 12 de cá valem tanto como uma parada em roleta. Podem ser muito, podem ser zero." (LOBATO, Monteiro. Mr. Slang e o Brasil)
O britânico referia-se à oscilação violenta da moeda nos anos 20, mas suas palavras adequar-se-iam com justeza se tratassem do padrão de juros.
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