segunda-feira, setembro 20, 2010

Direita

Urge a formação de um partido de direita no Brasil, mesmo que esse partido nasça dentro de um partido já existente. Por exemplo, o Democratas, agora com Indio da Costa corajosamente denunciando a aliança entre o PT e as Farc, poderia ser esse partido. Há, porém, dois empecilhos, os próprios Democratas não querem ser qualificados como direitistas (Indio da Costa, em entrevista a Veja, disse que se deve procurar a eficiente terceira via de Anthony Giddens, ao invés de se ocupar com definições partidárias), e o cacife do partido, Cesar Maia, é um comunista enrustido -- ele usou um broche comunista em seu último dia de governo como prefeito do Rio de Janeiro, como homenagem a seus ideais de outrora. Não vejo qualquer problema na pessoa ser fiel a seus ideais de juventude, como queria Schiller, mas deve sê-lo na medida em que eles apontam para os valores supremos, ainda que com idéias ruins, como o são as comunistas, as quais devem ser abandonadas. Permaneça o bom ideal e as idéias se aprimorem pela experiência. Cesar Maia provavelmente confundiu ambos.

Um partido de direita deve articular as seguintes políticas:

Defesa intransigente da democracia liberal. Não se admite que a direita, às vezes até covardemente, abandone o jogo da democracia para implorar a ação dos quartéis. Se é função das Forças Armadas assegurar pela força a ordem contra movimentos nazi-comunistas, não é preciso que elas sejam governo para tanto porém.

Apoio internacional a países e partidos defensores da democracia liberal, inclusive a participação em foros internacionais de debate. A UnoAmérica poderia ser o embrião de uma organização do tipo. A direita se perde em dois extremos, o liberalismo e o nacionalismo, políticas que muitas vezes são antagônicas. O liberalismo prima pela universalidade, ao passo que o nacionalismo apela ao singular, um coletivo singular, a nação. Sem 'ismos', respeitem-se as lealdades formadas dentro da nação, porém abra-se a possibilidade para novas lealdades no nível internacional. A direita deve atuar com decisão, prudência e confiança em governos transnacionais.

Redução de tributos e apoio à iniciativa empresarial. O desenvolvimento de novas tecnologias e projetos produtivos é tornado possível pela acumulação de capital -- outro nome para poupança -- de indivíduos e grupos de indivíduos. "O abuso do capital, da parte de alguns capitalistas injustos, não contradiz o fato de o capital ser a base da sociedade industrial moderna. Por meio do capital e das invenções, a geração atual desfruta de um nível mais elevado de liberdade do que qualquer outra que a haja precedido na Terra." (Livro de Urântia, 2007, doc. 69, p. 777)

Defesa dos valores tradicionais, sobretudo na medida em que comunguem dos valores supremos. "Os costumes têm sido o fio de continuidade a manter a civilização unida." (Livro de Urântia, 2007, doc. 68, p. 767) Peter Drucker dizia que o progresso deve ser acompanhado da continuidade. "(...) Nenhuma civilização que haja abandonado as suas tradições sobreviveu, a não ser adotando costumes melhores e mais adequados." (Livro de Urântia, doc. 68, p. 767) Um partido de direita deve gostar do bom, seja novo ou velho. Se for novo, ótimo, se for velho, tão logo o novo seja testado e estimado como inferior na comparação, prevaleça o velho.

Apoio ao agronegócio, responsável direito ou indireto pelo emprego de 35% da população do país e, atenção, pelo preço baixíssimo dos produtos primários no mercado brasileiro. No Brasil a carne custa R$10,00 o quilo. O modelo de pequenas propriedades rurais tem se revelado um fracasso, com raras exceções no sul do país, onde uma população de origem européia, com cultura camponesa e organizada em modernas cooperativas, consegue boa produção. Mais do que de capital, o pequeno agricultor precisa de assistência técnica.

Educação compulsória, seja organizada pelo Estado, paga pelo Estado porém escolhida pelos pais, ou paga e escolhida pelos pais.

Promoção da justiça social, o que se reflete, por exemplo, no reconhecimento da função social da propriedade, de resto já consagrado em nosso ordenamento jurídico, e no cuidado pelos desventurados. Não é errado querer promovê-la. O conceito não foi criado por socialistas, mas por um jesuíta no século XIX.1 "É assunto e dever da sociedade prover, ao filho da natureza, uma oportunidade justa e pacífica de buscar a automanutenção, de participar da autoperpetuação e, ao mesmo tempo, de desfrutar, em alguma medida, da autogratificação; e a soma de todas essas três constitui a felicidade humana." (Livro de Urântia, 2007, doc. 70, p. 794)

Trabalho forte de base. Os partidos brasileiros costumam ser dominados por políticos medalhões. Muito cacique para pouco índio. Um partido de direita deve realizar primárias para escolher seus candidatos.

1 E se relaciona à idéia aristotélica de justiça distributiva. Ver Shields, Leo. History and Meaning of a Social Justice, dissertação para obtenção do grau de doutor em filosofia. Notre Dame, Indiana: 1941.

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