sexta-feira, agosto 06, 2010

No debate presidencial de ontem, o candidato Plínio, não o Salgado mas Sampaio, perguntou a outros candidatos o que eles pensavam a respeito de limitar o tamanho das propriedades. Nenhum dos adversários respondeu a contento, apenas usaram evasivas dizendo que o Brasil é um país muito grande, ou que é prudente respeitar as diferenças regionais, ou então "é melhor não arranjar sarna para se coçar" (José Serra, como você deseja ser presidente da República sem valer-se de princípios e ideais, que os homens amam e os movem, apenas tratando de questões operacionais dentro de um "debate de idéias"?). O candidato Plínio saiu-se então triunfante, dizendo que seus adversários eram a favor do latifúndio.

Tanto Dilma Roussef quanto José Serra deveriam ter-lhe respondido que o preço da carne no supermercado custa R$10,00 o quilo, porque o agronegócio alcançou níveis impressionantes de produtividade. O brasileiro pode adquirir alimentos por um preço relativamente baixo porque o latifúndio consegue produzí-los.

Algumas palavras-mantras inibem e envergonham o pensamento humano. No caso brasileiro, evoca-se latifúndio para imantar o pensamento numa irrealidade carregada de pseudo-significados, a respeito da qual supõe-se que se deva ter uma "atitude". Ora, quem é a favor do latifúndio é mal, não é verdade? Mas se o latifúndio for produtivo e alimentar a população brasileira, não parecerá ser tão ruim assim.

O pensamento ideológico pode fazer uma mixórdia de significados em palavras esvaziadas de sentido, "tubos vazios onde cada um coloca o que quer", assim Pirandello entendia o fascismo. Às vezes, no entanto, sequer se lhes pode colocar o que quer, porque a corrupção de significado já se implementou e direcionou de tal maneira que à mente humana resta ou aderir a ela, ou, o que aqui tento fazer, buscar decodificá-la, mostrando que o rei está nu.

Uma hora os conceitos precisam descer de seu "palácio matemático" para beber da água da vida.

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