Saía João do colégio quando seus colegas de turma o abordaram, esbaforidos da corrida que fizeram pela escada.
--Você sabe que o Manuel vem atrás de você? Vai ficar aí parado?
Fez aquele muxoxo como se não desse importância.
--Pois que venha. Se ele vier, eu estou aqui.
João ficou esperando até que Manuel chegasse. Vinha uma tropa de alunos atrás dele. Todos tirando uma casquinha do grandalhão, emocionados com o momento da briga. As pernas de João tremiam, mas ele se mantinha firme e sua cara era decidida. Manuel foi falar com João.
--Tu sabes o que tu fizeste comigo? (deu um sorrisinho cínico). Atrás a turba esperava pelos momentos decisivos.
--O que que eu fiz contigo muleque?-- falou nervoso João, mas firme ainda. Mostrava que não fugiria da briga.
--Tu me sacaneaste muleque. Hunpf..--fez que ia sair Manuel. João também deu as costas, no que Manuel desferiu-lhe um tapa de leve no couro cabeludo sem olhar mais para trás. João ficou puto, mas não foi atrás de Manuel.
Não houve briga. João foi para casa sem saber se fora homem, ou melhor, fora homem, mas talvez não o bastante? Repisava essas coisas ainda e caminhava doido para chegar em casa. A brisa que soprava esfriou o seu corpo enquanto ele parava no cruzamento. Do outro lado da rua um cão basset remexia o lixo. O dono puxava a coleira para lá e para cá, mas o cãozinho, que não muda de feição nunca, não queria se afastar da cesta de detritos. O sinal fechou e dessa vez o dono puxou forte a coleira. O cãozinho então seguiu resignado. João e o cão basset cruzaram pela faixa entreolhando-se.
João chegou em casa e ligou o computador. Sentou no sofá e espreguiçou-se todo para colocar o nervosismo para fora. É, cria que fora homem o bastante. Talvez fosse mais em outra ocasião. Mas por ora servia.
quinta-feira, maio 08, 2008
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2 comentários:
Já li 3 vezes o seu texto, mas ainda to procurando uma ligação entre o cão e o João...
Algumas pessoas falam isso de alguns textos meus... só por isso não me senti meio tapado. rsrs
Li alguns outros também...
Prabéns seu blog é bem interessante.
Tu estás me pedindo algo que Sócrates dizia que os homens de letras eram incapazes de fazer, ou seja, explicar seus próprios textos. Mas vamos lá, tentarei fazer meu melhor: creio que o cão e João resignam-se de ter de seguir suas vidas conforme pedem ou exigem as situações. João estava apreensivo para saber se fora ou não homem. Teria feito o bastante? O cão tentava se desvencilhar do poder da coleira. Porém, teve que seguir com o dono, e foi resignado. É, a meu ver, o que une os dois personagens. Eles fizeram o que podiam, e confortam-se entreolhando-se ao cruzarem a faixa de pedestres. João vê no cão um cúmplice à situação de ter feito o melhor que se pode.
Obrigado pelo comentário e pelo elogio ao blógue.
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