sexta-feira, março 27, 2009

Basquete contribui para sociabilizar estudante autista nos EUA

A conversão de um aborteiro

Stojan Adasevic, que realizou mais de 48.000 abortos na Sérvia, seu país natal, soube que estava cometendo um crime quando foi avisado em sonho por Tomás de Aquino. O doutor da Igreja, diz agora Adasevic, queria ele próprio corrigir um erro de sua doutrina, pela qual, inspirado nos ensinamentos de Aristóteles, considerava que a vida humana só começava quarenta dias após a fertilização. Tenha sido ou não esse o motivo do santo, deu certo. Adasevic, repetindo a história de Bernard Nathanson, tornou-se um dos principais ativistas pela vida dos homens que ainda não nasceram. Veja a história na íntegra aqui.

Créditos para o saite ocidente.org, onde conheci o caso de Adasevic.

terça-feira, março 10, 2009

Segundo ano da lista de leitura do St. John's College

A quem interessar possa, o segundo ano da lista de leituras do St. John's College.

Veja a lista do primeiro ano.

Bíblia Hebraica,
Gênesis, 1-11

Gênesis, 12-23

Gênesis, 12-23

Gênesis, 24-50

Êxodo

Deuteronômio

Samuel,
8-31

Samuel, II

Reis, I, 1-2

Crônicas,
II, apenas o último capítulo

Salmos,
8, 14, 19, 22, 23, 38, 39, 46, 51, 90, 91, 107, 110, 130, 137, 139

Jeremias,
I, 24-45
Jonas



Tito Lívio,
Desde a fundação da cidade

Plutarco,
Vidas, Catão e o jovem César

Plutarco,
Antônio e Bruto

Virgílio,
Eneida

Tácito,
Anais, I-II

Anais,
III-VI

Epiteto,
Discursos
Livro I, Caps. 1, 2, 11, 16, 17, 18, 24; Livro II, Caps. 1, 2, 5, 6, 8

Novo Testamento,
Mateus

Novo Testamento,
João (Evangelho), I João (Epístola)

Novo Testamento,
Atos

Novo Testamento,
Romanos

Novo Testamento,
I Coríntios

Aristóteles,
Sobre a Alma
II, 1-7, 11-12

Sobre a Alma,
III, 3-13; I, 4, 408b
18-30

Plotino,
"Beleza" (I, 6) "Três primeiras hipóstases" (V, 1) "A descida da alma" (IV, 8)

Plotino,
"Contemplação" (III, 8)

"O Bom ou o Um" (VI, 9)

Agostinho,
Confissões

Maimônides,
Guia dos Perplexos
Parte I, Epístola Dedicatória, Introdução;

Parte II, Caps. 13-19, 25

Parte II, Caps. 32-40, 46-48, Volume II

Parte III, Caps. 17-23, Volume II

Sto. Anselmo,
Proslógio;
Objeção de Gaunilon e Resposta de Sto. Anselmo

Tomás de Aquino,
Suma Teológica
"Artigos de fé", Proslógio.
Parte 1: q. 1; q. 2; q. 3 arts. 3-4, 7

Suma Teológica,
I: q. 4: "Perfeição de Deus"; q. 12, arts. 12-13; q. 13, arts. 1-5 e 11-12

Suma Teológica,
"Sobre o fim do homem"

Dante,
Inferno

Dante,
Purgatório

Dante,
Paraíso

Tomás de Aquino,
Suma Teológica
Parte II, Seção 1: q. 90; q. 91; q. 92: "Sobre os efeitos da lei"; q. 93, arts. 1-3

Suma Teológica,
parte II, seção 1: q. 94, q. 95, arts. 1-2; q. 96: "Sobre o poder da lei humana"; q. 97: " Sobre a mudança nas leis"

Chaucer,
Os Contos de Cantuária
Prólogo, A lenda dos cavaleiros

Prólogos para as "As lendas de Miller e Reeve", "A lenda de Miller", "A lenda de Reeve"

Prólogo para "A lenda da esposa de Bath"

Shakespeare,
Como Gostais

Maquiavel,
O Príncipe

Shakespeare,
Medida por Medida

Montaigne,
Ensaios: "Educação das crianças" e "Sobre os canibais"

Ensaios,
"Sobre a experiência"

Shakespeare,
Ricardo II

Shakespeare,
Henrique IV
Partes 1 e 2

Bacon,
Novo Organon
Prefácio, I, 1-69, 129, 130; II, 1-25, 52

Bacon,
Nova Atlantis; Grande Instauração

Descartes,
Discurso sobre o método,
I-III

Discurso sobre o método,
IV-VI

Shakespeare,
Hamlet

Shakespeare,
Macbeth

Shakespeare,
Rei Lear

Shakespeare,
Tempestade

segunda-feira, março 09, 2009

Frost/Nixon

O filme Frost/Nixon mostra a entrevista bombástica que o ex-presidente Richard Nixon deu ao apresentador britânico Robert Frost, em 1977, três anos depois de sua renúncia.

Frost era um apresentador popular, acostumado a entrevistar personalidas do mundo pop. Quando ficou decidido que iria entrevistar o ex-presidente, nem ele nem Richard Nixon acreditaram que o resultado poderia ser tão bom.

Para a entrevista, pagou uma soma de dinheiro extraordinária, e só conseguiu zerar o balanço uma vez concluída a entrevista, quando exibiu o seu conteúdo revelador, e conseguiu patrocinadores maiores.


Nixon e Frost antes da entrevista

Nixon não foi um mau presidente. Ele tirou os EUA do Vietnã porque a guerra do sudeste asiático já havia sido perdida, não para os vietcongues, mas para a imprensa americana, que execrava a participação no conflito. A invasão ao Camboja se deu no contexto da guerra contra o Vietnã do Norte; o território cambojano era utilizado como centro de operações pelos vietcongues. Muitos demonizam os EUA pelo envolvimento armado no sudeste asiático, mas não dar a perspectiva deste envolvimento é agir de má-fé. Assim que terminou a guerra, o Khmer Vermelho dominou o Camboja e matou dois milhões de pessoas, um genocídio reconhecido até pela ONU, que vem julgando dirigentes do regime. Os vietcongues, a seu turno, mataram um milhão de pessoas. O número de mortos durante a guerra nem de longe se assemelha ao número de mortos na paz comunista do pós-guerra.

Além de ter sido o presidente odiado por pacifistas hippies, Nixon também se encontrou com Mao Tse-Tung para reatar relações dos Estados Unidos com a China continental, uma ação de valor discutível arquitetada pelo lendário secretário Henry Kissinger.

Nixon, entretanto, é conhecido principalmente pelo escândalo de Watergate, nome do prédio-sede do partido Democrata, que foi invadido em busca de documentos numa ação de espionagem. Aos poucos, a imprensa conseguiu revelar a coordenação de um esquema de espionagem que começava na Casa Branca com a participação de assessores diretos de Nixon. O presidente não teve outro remédio a não ser renunciar.

A entrevista comandada por Frost aconteceria em quatro partes, cada uma versando sobre temas distintos e com a duração de duas horas.

Nas três primeiras, Nixon dominou a entrevista e falou sobre o que quis. Na quarta parte, justamente a que versaria sobre o escândalo Watergate, pivô da renúncia, Frost conseguiu arrancar de Nixon o pedido de desculpas ao povo americano.

O valor maior do filme está na comparação entre os dois homens, que começaram de baixo e se tornaram grandes personalidades, guardadas as proporções. Nixon põe em evidência a questão quando telefona para um Frost arrasado pelo fracasso das entrevistas anteriores e incita-o a se preparar para a última parte. Nixon buscava um homem merecedor de receber as desculpas. E encontra-o no surpreendente Frost.

O filme baseia-se numa peça teatral em que representaram os mesmos atores. Eles se valeram da experiência no palco para conquistar cenas bastante pujantes. A atuação de Frank Langella como Richard Nixon é esplêndida. Michael Sheen também está ótimo na pele do apresentador Frost.

Um filme para quem gosta de política e de bons atores.

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Dúvida

O filme Dúvida, em que estrelam Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman e Amy Adams, gira em torno da suspeita de uma freira experiente sobre a prática pedófila do padre com uma criança que estuda na escola da paróquia.


O padre e a jovem freira discutem sobre caso que é tempestade em copo d'água

O filme termina como começou: A dúvida que era tema do primeiro sermão do padre concretizou-se no choro da freira interpretada por Meryl Streep, que conseguiu a transferência do padre de quem suspeitava. A jovem freira representada por Amy Adams, excelente e bela atriz, é a mais razoável na história. Segue as instruções da freira señior de prestar atenção nos passos do padre, mas depois se percebe envolta numa trama injusta de difamação forjada a partir de um acontecimento trivial.

O padre não molestou a criança. O filme é uma espécie de história de Bentinho e Capitu, com a ressalva de que na história de Machado de Assis a questão flagrante não deve ser resolvida, se Capitu traiu ou não Bentinho talvez nem mesmo Machado de Assis quis saber. No filme, ao contrário, o padre não praticou a pedofilia. O tema de Bentinho e Capitu está presente, porque a freira, no papel de Bentinho, jamais acreditará que o padre não praticou o ato criminoso, não importa o que ele diga. E o padre, no papel de Capitu, não tem fibra moral o bastante para fazer valer por sua personalidade forte e confiável a sua versão fiel aos fatos. O padre é quase um covarde, ele assume uma culpa que não tem para evitar acusações sobre culpas menores que têm. A freira possui uma sanha inquisitorial que só uma postura muito firme de um padre disposto a bater nela com uma mão e rezar por ela com a outra poderia frear. O padre não faz isso. Fica com medo de que faltas do seu passado sejam investigadas e venham à tona e por isso aceita que a freira acerte sua transferência. O padre vai para outra congregação ocupar um nível hierárquico superior. A freira señior chora de dúvidas e apenas a jovem freira sai da história íntegra, mais calejada para disputas de poder e com sua inocência a salvo.

Outra tema lateral do filme é a recompensa que o padre tem por não ter resistido a falsas acusações que lhe eram imputadas. Ele não enfrenta o Leviatã e é promovido. Às vezes, o preço a ser pago por conseguir agüentar o tranco é alto, no caso do padre sua carreira poderia ser seriamente prejudicada.

Creio, acompanhado de Rubens Ewald Filho, que a atuação de Meryl Streep foi um pouco forçada no início. Ao longo do filme, porém, ela conquista o seu personagem e consegue uma ótima atuação. Philip Seymour Hoffman, por sua vez, também está impecável como o padre que não comete o pecado de que é acusado. Amy Adams, por fim, daqui a pouco arrebatará o seu Oscar. Te cuida, Anne Hathaway!

domingo, fevereiro 22, 2009

Senhora

Em São Francisco chega a sexta hora
da tarde, o mar se abre na enseada.
Ao fundo, entre névoas cinzas, ralas
estão o Corcovado e o Redentor.

O vento mexe as águas e o mar doutor.
Lembra-me de Parati, a beijada
por Drummond de Andrade, pousando jangadas
sobre as águas fulvas do cais, senhora!

Os barcos estão emparelhados.
Da marina, velas ventam para lá;
eu, no monte da igrejinha, observo,
querendo ser pintor, mas sou só poeta.

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Teoria filosófica contemporânea

Um sujeito inexistente não disse coisa alguma sobre aquilo que também não existe.

quinta-feira, janeiro 22, 2009

Eu fui à Bahia

Uma vez fui à Bahia conhecer o candomblé,
as crioulas gordas giravam ao redor de si,
eu, que não tou morto, não fiquei parado.
Fui atrás da crioula e derrubei-a sem
querer. Ela levantou e me disse: "Malvado."
Na roda de macumba, também tava lá o Zé,
gente boa ele, seu pé não parava no chão,
ele rodopiava com a baiana, e passava a mão,
o assanhado, mas a baiana não queria nada
com ele. Mandou embora o danado,

que foi chorar num bar. Chamou o garçom
e o moço chegou com ar indulgente:
o Zé disse que queria a marrom-bombom
mas que aceitava (já que não tinha opção)
uma pinga das boas, veja lá homem!

Noite de lua-cheia, mas não houve lobisomem,
houve briga à toa. Alguém tropeçou
nas pernas de um sonâmbulo encachaçado
e o enluarado se foi: Pau pra todo lado.
Ao fim a vitória do sonâmbulo, carregado
por seus amigos até o cais de Iemanjá:
E eu, então, ouvi o Caymmi cantar
com vozeirão: É doce morrer no mar.

Foi o que eu vi na Bahia. Adeus, Bahia! Fui-me
embora com uma stella-guia, numa jangada.
Fomos bem, com velocidade de dez nós
em direção à lua de Copacabana,
onde está a sós o meu Senhor.

quarta-feira, janeiro 14, 2009

Proprietários nas favelas

No artigo acadêmico O debate jurídico em torno da urbanização de favelas no Rio de Janeiro, Rafael Soares Gonçalves defende, ao invés da outorga de títulos de propriedade aos moradores das favelas, títulos imobiliários que possam "implicar numa atuação estatal mais forte, impondo certos limites à utilização do bem --como a concessão do uso para fins de moradia precariamente regulamentada pela medida provisória no 2020-- o que permite tanto assegurar o valor comercial do bem conforme regulamentado, como desencorajar uma descontrolada especulação imobiliária local."

O artigo todo é bastante bom, e me permitiu entender melhor a situação político-social das favelas, porém não posso concordar com o autor em preferir à outorga de títulos de propriedade, conforme propugnado pelo economista Hernando de Soto na obra O Mistério do Capital, o qual é citado por Rafael, a outorga de títulos sujeitos a certas limitações definidas pelo Poder Público. Não consigo entender por que ele defende isso. Logo no capítulo seguinte ele cita um caso de tentativa do Poder Público em aliança com uma rede de hotéis de demover a favela do Vidigal para a construção de um hotel no local, projeto este que não vingou. Nos EUA, no caso Kelo versus cidade de New London, que chegou à Suprema Corte daquele país, o Poder Público tentou com êxito desapropriar todo um conjunto habitacional para em seguida repassá-lo a um fundo de investimento que desejava a construção de um parque comercial no local. De modo que o argumento de que o Estado deva assitir os favelados para que eles não sejam vítimas de especulação imobiliária me parece fraco. E, mesmo considerando que o Estado fosse com toda a certeza possível proteger os moradores da especulação imobiliária, o que ele não vai, como apontamos, ainda assim seria melhor para os favelados possuírem o direito pleno de propriedade, sem mediação do Poder Público, pois um cidadão tem o direito de vender o imóvel se desejar fazê-lo.

O processo de regularização fundiária nas favelas traria a injustiça de tornar proprietários uma série de "latifundiários" das favelas, como os chama Rafael, que alugam os vários imóveis que possuem de fato para os favelados, porém junto com eles pequenos proprietários também receberiam seu título. Se, junto com o título, eles teriam que pagar tributos ao Poder Público, esse é o preço da legalidade, o preço que todo cidadão do asfalto paga. No caso de os tributos ficarem muito altos, aquele cidadão dono de propriedade na favela sempre terá o direito de vender seu imóvel para adquirir outro mais barato em outra localidade. Todo cidadão do asfalto, como passei a chamar quem tem seu título de propriedade devidamente regularizado, age desse modo. Por que os favelados não deveriam agir?

A atitude de indulgência excessiva frente a essa situação não desagrada de todo aos favelados, que continuam vivendo em seus imóveis sem precisar pagar os tributos correspondentes à legalidade, porém o preço dessa lerdeza em resolver o problema é o que todos cariocas sabemos: A ocupação das favelas pelos traficantes de drogas. A outorga do título de propriedade teria também o condão de criar nos favelados um maior zêlo pelo local onde vivem, em razão de que teriam a segurança jurídica de saberem que não poderiam ser expulsos da favela.

Que o exemplo do morro Dona Marta, recentemente ocupado pela Polícia Militar do Rio de Janeiro, sirva de parâmetro. Os imóveis da favela não páram de aumentar de valor e os moradores pensam em fazer obras em suas casas, agregando capital.

A melhor forma de tornar os favelados cidadãos é dar a eles os mesmos direitos que os cidadãos podem ter: títulos de propriedades plenos, na forma dos artigos nono e seguintes do Estatuto da Cidade. Falta agora quebrar a proibição genérica insculpida no parágrafo terceiro do art. 183 da Constituição Federal ao usucapião de imóvel público.

A virtude em Platão

No diálogo Mênon, Platão explica que a virtude não é uma ciência, pois se fosse, haveria mestres nessa ciência, ao passo que eles não existem. Também afirma que heróis da Grécia, bons em variadas atividades, e também virtuosos, procuraram educar seus filhos nessas atividades, porém na seara da virtude não eram capazes de transmití-la, como quem transmite o conhecimento matemático de que dois mais dois são quatro.

Para Platão, portanto, a virtude não é algo de que o virtuoso tem a posse, mas antes uma dádiva divina. "Se não é graças à ciência, então, resta que é graças a uma feliz opinião? Servindo-se dela os políticos administram as cidades, não sendo eles em nada diferentes, em relação ao compreender, dos pronunciadores dos oráculos e dos advinhos inspirados. Pois também estes, quando os deuses estão neles, falam com verdade, e mesmo muitas coisas, mas não sabem das coisas que dizem." Esse tema voltará a ser tratado por Platão no diálogo Apologia de Sócrates, quando retrata Sócrates fazendo sua defesa de que era o homem mais sábio da Grécia, mesmo sem ter plena consciência disso, comparando-se a outros personagens da vida grega, especialmente os do gênero poético, os quais são capazes de montar histórias e palavras belíssimas, mas nem sabem direito como o fizeram, enquanto ele, Sócrates, sabia que era ignorante em variados assuntos onde os outros tinham a certeza, equivocada, de que eram mestres. Claro que a crença comum de que Sócrates fosse um bobo atrás de respostas não é adequada, pois ele se mostrava tremendamente irônico e altaneiro conversando. Guardava Sócrates, não obstante, um profundo respeito pelo mistério da vida.

O filósofo da Academia arremata a questão da seguinte forma: "Mas se nós, agora, em toda essa discussão, pesquisamos e discorremos acertadamente, a virtude não seria por natureza coisa que se ensina, mas sim concessão divina, que advém sem inteligência àquele que advém." Essa frase de Platão derruba qualquer estudioso que algum dia pensou em chamá-lo de gnóstico. Aqui ele afirma claramente que a virtude não deriva do conhecimento, pois se derivasse, poderia ser ensinada, sendo no entanto uma graça divina. Séculos depois Jesus Cristo preferiria entre seus apóstolos aos homens comuns, sendo que dois deles poderiam ser considerados medíocres. Jesus não repudiava a inteligência, ao contrário, mas tampouco desprezava os que não a tinham.

No Livro de Urântia, conta-se que Jesus "ensinou a moralidade, não a moralidade saída da natureza do homem, mas da relação do homem com Deus." Ou seja, o homem solipsista não pode ser bom, pois o homem precisa da relação pessoal com Deus. "A moralidade de Jesus era sempre positiva. A regra de ouro restabelecida por Jesus demanda contato social ativo; a regra negativa mais antiga poderia ser obedecida em isolamento."

Outro dia falaremos sobre a natureza do conhecimento em Platão.

Pinturas de Camões


Forte de Copacabana 1920.


São Cristóvão e Serra dos Órgãos em 1820.

Mais pinturas do Rio Antigo você vê aqui.

terça-feira, janeiro 13, 2009

Consigne-se

Cesar Maia, o maior representante da direita brasileira, terminou o mandato de prefeito da cidade do Rio de Janeiro ostentando um broche do Partido Comunista.

terça-feira, janeiro 06, 2009

sexta-feira, janeiro 02, 2009

--Você leu esse livro de poesia, A Luta Corporal, do Ferreira Gullar? Uma droga, não é mesmo?

--Sim, tampouco gostei.

--Os temas dele são só o desespero, os versos são livres claro. Reconheço que ele escreve bem, tem talento, mas de que serve se for para escrever sobre temas imprestáveis? Tá tudo uma droga e vai piorar. Ou, como os russos dizem, depois da tempestade, vem a inundação. Digo, ele pensa assim, eu não.

-- Mas você não acha que é um exercício razoável fazer de conta que está tudo ruim, falar da morte, do desejo de que tudo acabe, etc? Grandes autores trataram do desespero.

--Sim, estou por dentro disso. Mas o desespero dele não tem sentido. É um desespero por princípio, não aquele desespero silencioso, que todo homem pode ter, mas que volta e meia passa, se arranjamos algo de bom para fazer e nos dedicar, seja um curso de teatro, filosofia, dança. Parece que para o Gullar o mundo não tem jeito mesmo. Ponto final. Então, por que ele escreve isso?

--Ora, às vezes eles querem se expressar, só isso, jogar o desespero para fora, não sei direito.

--Nem eu sei. Alguns livros eu tenho vontade não apenas de me desfazer deles, mas de queimá-los, sabia?

--Isso inclui o livro do Gullar?

--Talvez, estou pensando no caso dele. Mas, por exemplo, O Manifesto do Partido Comunista é um livro que não quero que ninguém leia, joguei fora, podia ter vendido num sebo, mas joguei fora. Porque não quero que ninguém leia.

--Não seja tolo. O livro é influente, também não morro de amores pelo Marx, mas o livro deve ser lido.

--Por que deve ser lido? Vá lá, sei que é influente, mas acho um crime dar de ler a uma criança, a um jovem imberbe ainda, o Manifesto para ele. Que vá ler Platão, ou Aristóteles.

--E depois, bem depois, o Manifesto poderia ser lido, suponho?

--Supôs bem.

--E o que diria de quem chama isso de autoritarismo? Ou seja, essa tentativa de jogar para debaixo do tapete obras ruins para serem lidas só por gente madura?

--Chamaria de uma atitude platônica, ao invés de autoritária. Platão sabia que o jovem deve ser formado por obras edificantes. Vá lá que ele não gostava dos poetas, sobretudo da imitação tola...

--Eu tampouco gosto, tem imitação que não é tola, é macaquice.

--Foi o que eu disse. Indigna de um ser humano. Eu acho que não é errado você dar a ler ao jovem As nuvens, de Aristófanes, por exemplo, onde o autor satiriza Sócrates do início ao fim. Injustamente até, diria eu. Mesmo assim, é bom contrabalançar asperezas da filosofia com um pouco do senso do ridículo. Mas abusar da inteligência com filosofias pequenas, feito a de Marx, não.

--Pode ser, pode ser.

quarta-feira, dezembro 31, 2008

Dance!

"Louvada seja a dança
porque ela liberta o homem do peso das coisas materiais
e une os solitários para formar sociedade.

Louvada seja a dança, que tudo exige, e fortalece a saúde, uma mente serena e uma alma encantada.

A dança significa transformar o espaço, o tempo, e o homem,
que sempre corre perigo de se perder, ser ou somente cérebro,
ou só vontade ou só sentimento.

A dança porém exige o ser humano inteiro, ancorado no seu centro, e que não conhece a vontade de dominar gente e coisas, e que não sente a obsessão de estar perdido no seu próprio ego.

A dança exige o homem livre e aberto, vibrando na harmonia de todas as forças.

Ó homem, ó mulher, aprenda a dançar senão os anjos no céu
não saberão o que fazer contigo."

Santo Agostinho (354-430)


Tenham um bom ano novo. Não deixem de dançar no próximo ano.

Ps: Créditos para Érico e Rachel, professores de dança.

segunda-feira, dezembro 29, 2008

Dica de filme

Se eu fosse você 2 segue a receita do primeiro filme. Glória Pires e Toni Ramos trocam de lugar um com o outro quando pronunciam a expressão que é o título do filme. Nessa continuação, os ingredientes são a gravidez da filha e uma tentativa (frustrada, não preciso dizer) de divórcio. O casal se verá em apuros para manter a reputação estando um no corpo do outro. Como pai de Olavinho, o namorado da filha, Chico Anysio está impagável. A direção cabe a Daniel Filho. Se eu fosse você 2 é leve, tipo de filme que o Brasil poderia fazer mais. Melhor do que muita comediazinha romântica americana.

domingo, dezembro 21, 2008

As Razões da (minha) Fé

por Stella Caymmi

Muitas vezes me perguntei como uma pessoa de fé poderia explicá-la para uma pessoa sem fé. Certa vez, já não me lembro quando, mas há muito tempo atrás, eu ainda era bem jovem, passando de carro pela Lagoa Rodrigo de Freitas em direção ao Leblon, eu pensava, não só olhando para o belo conjunto do espelho d'água e montanhas ao fundo, mas também para os edifícios que se enfileiravam ante meus olhos, que a vida não poderia ser só isto. “Só isto” eu entendia como aquela realidade vivida. Não podia ser só isto. Eu percebia na beleza das coisas algo tão especial que sobrava, que não se esgotava naquilo que eu tinha diante de mim, mas, ao contrário, apontava para algo maior, infinitamente maior. Percebia também a grandeza do que era ser humano e poder ser sujeito desta contemplação.

Não é possível ter fé sem esperança. Há no ato de fé um otimismo muito próprio que aponta para o futuro, pois nada no presente parece ou pode sustentá-la. Me parece que longe de ser uma deficiência da fé sua incomunicabilidade, reside nisso sua maior e especial característica. A fé é individual, ainda que todos os que crêem creiam no mesmo Deus e na mesma Verdade. Deus é Uno e a Verdade é uma só. Mas a fé é incomunicável porque ela é pessoal, uma escolha do sujeito na sua individualidade, com todo o seu ser. Por isso ela é intransferível. Pode-se dar testemunho de fé, mas ela só é reconhecida por aqueles que aceitam a aventura solitária da fé. Existem tantas “fés” quanto pessoas, porque Deus fala conosco segundo nossa individualidade. Como Cristo acampou entre nós, o Espírito Santo faz morada no centro do nosso ser e se comunica conosco na nossa linguagem. Ele nos fala mais e melhor do que nós mesmos porque é do centro de nós que ele se faz presente e se oferece como mediador entre nossa vida terrena e nossa vida futura no céu. O único preço é desistirmos de sermos guiados pela força do nosso ego que é egoísta por natureza e que muitas vezes nos impede de enxergar as verdades fundamentais. Assim como necessitamos do sol para viver, precisamos do Espírito para nascer em Cristo, viver em Cristo, crescer em Cristo, morrer em Cristo e, finalmente, ressuscitarmos em Cristo.

Se temos fé é porque vemos em alguma medida a realidade à nossa volta tal como Cristo a vê. Se temos fé é porque Cristo habita em nós. E Cristo vem a nós se abandonamos a fé estéril, a pseudo fé, que temos em nós mesmos. É preciso esvaziar-se. A Fé se baseia em evidências invisíveis que não se apóiam em sentimentos ou certezas. Mas é algo que se impõe com a força da presença de uma rocha. O Senhor é minha rocha, meu Deus em quem eu confio. A evidência mais forte é aquela que nos diz que o que nos sustenta está fora de nós, é maior que nós. Que há algo que existia antes da minha existência e que existirá depois que eu partir, algo de uma grandeza avassaladora que apequena minh'alma e para a qual eu tendo, como na imagem da videira, porque sem ela não sei viver. Se houver sinceridade no coração essa evidência bastará. A Fé me move para Cristo porque é seu sangue que me sustenta para a vida eterna. Como se eu estivesse em coma e a única coisa que me mantém viva e em condições de Esperar é o sangue do Ressuscitado. E com ele ressuscitarei.

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Alexandrinos natalinos

Pelo arcanjo Gabriel foi anunciado
para o ventre da menina, que o recebeu.
José, muito aborrecido, permaneceu,
porém o arcanjo em sonho tirou-lhe o danado.

Foi a menina dá-lo a conhecer a prima,
o menino já era sabido de Isabel.
Ao se encontrarem João e Jesus, o céu
exclamou: "São os meninos que a terra animam."

Porém em Nazaré não puderam ficar
os pais do menino; Cesar queria o censo.
José, consigo levando Maria tenso,
à cidade de Davi não logra chegar.

Os dois terão que parar numa estrebaria.
É ali que o Mistério nascerá para o mundo.
O Filho de Deus tornado homem, pelos fundos
de um rochedo, dará início à sua travessia.