segunda-feira, março 09, 2009

Frost/Nixon

O filme Frost/Nixon mostra a entrevista bombástica que o ex-presidente Richard Nixon deu ao apresentador britânico Robert Frost, em 1977, três anos depois de sua renúncia.

Frost era um apresentador popular, acostumado a entrevistar personalidas do mundo pop. Quando ficou decidido que iria entrevistar o ex-presidente, nem ele nem Richard Nixon acreditaram que o resultado poderia ser tão bom.

Para a entrevista, pagou uma soma de dinheiro extraordinária, e só conseguiu zerar o balanço uma vez concluída a entrevista, quando exibiu o seu conteúdo revelador, e conseguiu patrocinadores maiores.


Nixon e Frost antes da entrevista

Nixon não foi um mau presidente. Ele tirou os EUA do Vietnã porque a guerra do sudeste asiático já havia sido perdida, não para os vietcongues, mas para a imprensa americana, que execrava a participação no conflito. A invasão ao Camboja se deu no contexto da guerra contra o Vietnã do Norte; o território cambojano era utilizado como centro de operações pelos vietcongues. Muitos demonizam os EUA pelo envolvimento armado no sudeste asiático, mas não dar a perspectiva deste envolvimento é agir de má-fé. Assim que terminou a guerra, o Khmer Vermelho dominou o Camboja e matou dois milhões de pessoas, um genocídio reconhecido até pela ONU, que vem julgando dirigentes do regime. Os vietcongues, a seu turno, mataram um milhão de pessoas. O número de mortos durante a guerra nem de longe se assemelha ao número de mortos na paz comunista do pós-guerra.

Além de ter sido o presidente odiado por pacifistas hippies, Nixon também se encontrou com Mao Tse-Tung para reatar relações dos Estados Unidos com a China continental, uma ação de valor discutível arquitetada pelo lendário secretário Henry Kissinger.

Nixon, entretanto, é conhecido principalmente pelo escândalo de Watergate, nome do prédio-sede do partido Democrata, que foi invadido em busca de documentos numa ação de espionagem. Aos poucos, a imprensa conseguiu revelar a coordenação de um esquema de espionagem que começava na Casa Branca com a participação de assessores diretos de Nixon. O presidente não teve outro remédio a não ser renunciar.

A entrevista comandada por Frost aconteceria em quatro partes, cada uma versando sobre temas distintos e com a duração de duas horas.

Nas três primeiras, Nixon dominou a entrevista e falou sobre o que quis. Na quarta parte, justamente a que versaria sobre o escândalo Watergate, pivô da renúncia, Frost conseguiu arrancar de Nixon o pedido de desculpas ao povo americano.

O valor maior do filme está na comparação entre os dois homens, que começaram de baixo e se tornaram grandes personalidades, guardadas as proporções. Nixon põe em evidência a questão quando telefona para um Frost arrasado pelo fracasso das entrevistas anteriores e incita-o a se preparar para a última parte. Nixon buscava um homem merecedor de receber as desculpas. E encontra-o no surpreendente Frost.

O filme baseia-se numa peça teatral em que representaram os mesmos atores. Eles se valeram da experiência no palco para conquistar cenas bastante pujantes. A atuação de Frank Langella como Richard Nixon é esplêndida. Michael Sheen também está ótimo na pele do apresentador Frost.

Um filme para quem gosta de política e de bons atores.

3 comentários:

Anônimo disse...

Daniel,

Muito bom seu texto. Vi o filme e gostei muito mas as informações que você postou ampliam em muito a perspectiva, dando um contexto maior ao acontecimento. Assim a gente não cai em simplificações grosseiras. Valeu, querido.

Stella

Anônimo disse...

Whaaaaaaat? Stella, não sei o que vc tomou, mas guarda aí um pouquinho pra mim, valeu?

Danielhenlou disse...

Ei, idiota, quer tomar alguma coisa? Toma uns livrinhos de história pra ler. Tem outra coisa que você pode tomar também, mas essa a gente deixa pra depois, valeu?