quarta-feira, janeiro 14, 2009

A virtude em Platão

No diálogo Mênon, Platão explica que a virtude não é uma ciência, pois se fosse, haveria mestres nessa ciência, ao passo que eles não existem. Também afirma que heróis da Grécia, bons em variadas atividades, e também virtuosos, procuraram educar seus filhos nessas atividades, porém na seara da virtude não eram capazes de transmití-la, como quem transmite o conhecimento matemático de que dois mais dois são quatro.

Para Platão, portanto, a virtude não é algo de que o virtuoso tem a posse, mas antes uma dádiva divina. "Se não é graças à ciência, então, resta que é graças a uma feliz opinião? Servindo-se dela os políticos administram as cidades, não sendo eles em nada diferentes, em relação ao compreender, dos pronunciadores dos oráculos e dos advinhos inspirados. Pois também estes, quando os deuses estão neles, falam com verdade, e mesmo muitas coisas, mas não sabem das coisas que dizem." Esse tema voltará a ser tratado por Platão no diálogo Apologia de Sócrates, quando retrata Sócrates fazendo sua defesa de que era o homem mais sábio da Grécia, mesmo sem ter plena consciência disso, comparando-se a outros personagens da vida grega, especialmente os do gênero poético, os quais são capazes de montar histórias e palavras belíssimas, mas nem sabem direito como o fizeram, enquanto ele, Sócrates, sabia que era ignorante em variados assuntos onde os outros tinham a certeza, equivocada, de que eram mestres. Claro que a crença comum de que Sócrates fosse um bobo atrás de respostas não é adequada, pois ele se mostrava tremendamente irônico e altaneiro conversando. Guardava Sócrates, não obstante, um profundo respeito pelo mistério da vida.

O filósofo da Academia arremata a questão da seguinte forma: "Mas se nós, agora, em toda essa discussão, pesquisamos e discorremos acertadamente, a virtude não seria por natureza coisa que se ensina, mas sim concessão divina, que advém sem inteligência àquele que advém." Essa frase de Platão derruba qualquer estudioso que algum dia pensou em chamá-lo de gnóstico. Aqui ele afirma claramente que a virtude não deriva do conhecimento, pois se derivasse, poderia ser ensinada, sendo no entanto uma graça divina. Séculos depois Jesus Cristo preferiria entre seus apóstolos aos homens comuns, sendo que dois deles poderiam ser considerados medíocres. Jesus não repudiava a inteligência, ao contrário, mas tampouco desprezava os que não a tinham.

No Livro de Urântia, conta-se que Jesus "ensinou a moralidade, não a moralidade saída da natureza do homem, mas da relação do homem com Deus." Ou seja, o homem solipsista não pode ser bom, pois o homem precisa da relação pessoal com Deus. "A moralidade de Jesus era sempre positiva. A regra de ouro restabelecida por Jesus demanda contato social ativo; a regra negativa mais antiga poderia ser obedecida em isolamento."

Outro dia falaremos sobre a natureza do conhecimento em Platão.

4 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom esse seu comentário sobre PLATÃO, simplesmente fantástico...! vc é um gênio!

Danielhenlou disse...

Obrigado pelo elogio!

Mas gênio é demais, eu procuro me esforçar.

Um forte abraço.

Ana disse...

Muito bom! Parabéns! Um esforço que vale a pena!

Danielhenlou disse...

Obrigado, Ana! Muito obrigado!