sexta-feira, janeiro 11, 2008
Confusão computadorizada
Thomas Sowell, sobre como os engenheiros de computador podem complicar nossas vidas. Aqui.
segunda-feira, janeiro 07, 2008
A filosofia de Sócrates
"Os medíocres vivem lúcidos
Somente eu aparento estar confuso"
(Lao-Tsé)
Acuado por opositores em julgamento que lhe poderia valer a morte, Sócrates contou a história de por que fazia perguntas incessantes às pessoas:
“O fato é, homens de Atenas, que adquiri essa reputação devido a nada além do que uma espécie de sabedoria. Que espécie de sabedoria é essa? Apenas a sabedoria humana. Talvez os homens de que estávamos falando sejam sábios em outra espécie de sabedoria, maior que a humana...”
“Não, não me interrompam, a palavra que falo sai da minha boca mas não fui eu em quem a disse, porém uma pessoa de peso: O próprio Oráculo de Delfos. Aqui está o irmão de Querofonte que não me deixa mentir. Ele pode testemunhar que seu irmão falecido foi a Delfos perguntar ao Oráculo se havia alguém mais sábio que eu. O Oráculo respondeu que não.”
“Ora, isso me deixou intrigado. 'O que será que esse deus quer dizer, como devo interpretar suas palavras? Pois sei que não sou sábio de modo algum. Mentindo o Oráculo não está, pois um deus não mente, mas então como ele pode ter declarado isso?' Fiquei espantado. Chegou o momento que decidi investigar o que o Oráculo dissera.”
“Fui conversar com uma dessas pessoas que as pessoas em geral dizem ser sábias. Minha intenção era descobrir alguém mais sábio que eu e então mostrar ao Oráculo que ele se enganara. Fui eu pois conversar com um homem, homem público de Atenas, e conversando com ele percebi que parecia bastante sábio para outras pessoas e até para si mesmo, mas não o era em realidade. Tentei-lhe então mostrar que pensava ser sábio sem o ser de verdade. Ele passou a me odiar, bem como muitas das pessoas ali reunidas. No caminho de volta fui pensando comigo mesmo: 'Esse homem pensa que é sábio, mas não é. Eu não sou sábio, nem penso que sou. Sou mais sábio que ele nesse respeito.”
“Segui minha jornada. Conversei com os poetas. Algumas poesias pareciam ser tão elaboradas que esperava encontrar neles a sabedoria que buscava. Para meu espanto, entretanto, os poetas não sabiam explicar bem a sua obra, e qualquer homem ali presente era capaz de explicá-la melhor que eles próprios. Então compreendi que o que os poetas compunham não o faziam por sabedoria, mas por uma inclinação natural e por uma inspiração do mesmo tipo que têm os profetas e as profetizas de oráculos, os quais também falam coisas magníficas, mas não têm idéia do que estão falando.”
“Por fim, entrevistei os artesãos. Pensava que ia encontrar homens que sabiam muitas coisas boas, e de fato não me decepcionei. Eles realmente sabiam muitas coisas boas. Porém, ó homens de Atenas, eles tinham o mesmo cacoete dos poetas. Porque praticavam bem a sua arte, criam ser muito sábios em todo e qualquer outro assunto.”
“Compreendi então o que o Oráculo dissera.”
......
Atualização de 11/08/2012.
Somente eu aparento estar confuso"
(Lao-Tsé)
Acuado por opositores em julgamento que lhe poderia valer a morte, Sócrates contou a história de por que fazia perguntas incessantes às pessoas:
“O fato é, homens de Atenas, que adquiri essa reputação devido a nada além do que uma espécie de sabedoria. Que espécie de sabedoria é essa? Apenas a sabedoria humana. Talvez os homens de que estávamos falando sejam sábios em outra espécie de sabedoria, maior que a humana...”
“Não, não me interrompam, a palavra que falo sai da minha boca mas não fui eu em quem a disse, porém uma pessoa de peso: O próprio Oráculo de Delfos. Aqui está o irmão de Querofonte que não me deixa mentir. Ele pode testemunhar que seu irmão falecido foi a Delfos perguntar ao Oráculo se havia alguém mais sábio que eu. O Oráculo respondeu que não.”
“Ora, isso me deixou intrigado. 'O que será que esse deus quer dizer, como devo interpretar suas palavras? Pois sei que não sou sábio de modo algum. Mentindo o Oráculo não está, pois um deus não mente, mas então como ele pode ter declarado isso?' Fiquei espantado. Chegou o momento que decidi investigar o que o Oráculo dissera.”
“Fui conversar com uma dessas pessoas que as pessoas em geral dizem ser sábias. Minha intenção era descobrir alguém mais sábio que eu e então mostrar ao Oráculo que ele se enganara. Fui eu pois conversar com um homem, homem público de Atenas, e conversando com ele percebi que parecia bastante sábio para outras pessoas e até para si mesmo, mas não o era em realidade. Tentei-lhe então mostrar que pensava ser sábio sem o ser de verdade. Ele passou a me odiar, bem como muitas das pessoas ali reunidas. No caminho de volta fui pensando comigo mesmo: 'Esse homem pensa que é sábio, mas não é. Eu não sou sábio, nem penso que sou. Sou mais sábio que ele nesse respeito.”
“Segui minha jornada. Conversei com os poetas. Algumas poesias pareciam ser tão elaboradas que esperava encontrar neles a sabedoria que buscava. Para meu espanto, entretanto, os poetas não sabiam explicar bem a sua obra, e qualquer homem ali presente era capaz de explicá-la melhor que eles próprios. Então compreendi que o que os poetas compunham não o faziam por sabedoria, mas por uma inclinação natural e por uma inspiração do mesmo tipo que têm os profetas e as profetizas de oráculos, os quais também falam coisas magníficas, mas não têm idéia do que estão falando.”
“Por fim, entrevistei os artesãos. Pensava que ia encontrar homens que sabiam muitas coisas boas, e de fato não me decepcionei. Eles realmente sabiam muitas coisas boas. Porém, ó homens de Atenas, eles tinham o mesmo cacoete dos poetas. Porque praticavam bem a sua arte, criam ser muito sábios em todo e qualquer outro assunto.”
“Compreendi então o que o Oráculo dissera.”
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Atualização de 11/08/2012.
Muitos comentaristas futebolísticos criticavam comentários de Pelé, o maior jogador de futebol de todos os tempos. Alguns, espantados, chegaram a se perguntar se ele não entendia de futebol. Ora, como pode ser isso?
No caso, Pelé seria como os poetas com que Sócrates conversou. Sabe jogar futebol, mas não saberia como se o faz.
sábado, dezembro 29, 2007
sexta-feira, dezembro 28, 2007
Um novo tipo de amor

Essa é uma mensagem para a oitava de Natal. O texto foi escrito por Dinesh D'Souza, que é autor do livro What's so Great About Christianity (O que há de tão formidável no Cristianismo), o qual pode ser adquirido na livraria virtual amazon.com. A página de Dinesh é dineshdsouza.com e já consta na seção de links ao lado.
....
Em seu belo livro Os quatro amores, C. S. Lewis descreve os quatro tipos distintos de amor. Três deles são universais e portanto familiares a todos. Primeiro há o STORGE ou amor familiar. Essa é a afeição que sentimos por parentes, vizinhos e as pessoas que convivem conosco. O amor entre pais e filhos provavelmente é o caso clássico de amor familiar. Curiosamente não escolhemos aqueles que serão objeto de amor familiar; por conseqüência, Storge nos introduz a pessoas com quem talvez não tivéssemos escolhido para conviver e cujas virtudes talvez jamais aprendamos a apreciar.
Segundo, há EROS ou o amor romântico. Tão poderosa é sua força que as pessoas feqüentemente se descrevem enamoradas[1], como se estivessem presas a uma força externa. Os personagens Paolo e Francesca de Dante buscam justificar seu adultério argumentando, de fato, que “Eros nos fez fazer isso.” O amor romântico parece encarnar uma espécie de altíssima moralidade que derruba as regras convencionais. O apelo de Eros é que ele nos dá aquela consciência momentânea de transcendência. Traz consigo a sugestão e até a explícita alegação de eternidade: “Eu sempre te amarei.” No entanto sabemos por experiência que Eros pode ser muito volúvel. Lewis escreve, “Eros é levado a prometer o que Eros não pode cumprir.”
A seguir há a FILIA ou amizade. A amizade não é um amor natural no sentido de que não necessitamos dela para sobreviver. Ao contrário dos pais e vizinhos, os amigos são realmente escolhidos. Os amigos não estão unidos muito por um interesse um no outro mas porque compartilham interesse em outra coisa: xadrez quem sabe ou a arte ou uma percepção comum daquilo que é importante na vida. Enquanto os amantes podem ser flagrados olhando intensamente um para o outro, os amigos podem ser flagrados lado a lado olhando intensamente na mesma direção.
Em seu máximo, argumenta Lewis, essas três formas de amor exigem de nós o mais alto compromisso. Cada um faz exigências que procura sobrepujar o outro e qualquer afeição competidora. Lewis mostra ainda que cada um contém severas limitações. O amor familiar pode ser tão forte a ponto de nos cegar para as necessidades dos outros fora desse atrativo círculo. Eros é um famoso mentiroso. A amizade pode se degenerar rapidamente em exclusividade mesquinha. Os três amores universais, escreve Lewis, devem ser integrados, reconciliados e governados por um quarto tipo de amor.
Esse amor é AGAPE ou a caridade. É o amor que temos para com aqueles que não são nada para nós. É o menos egoísta de todos os amores e também o menos natural. Simplesmente não há explicação darwinista sobre por que as pessoas se preocupam e procuram ajudar aqueles que são completos estranhos. Agape é quem mais se aproxima do amor de Deus por nós. Deus nos amou por nenhuma outra razão a não ser porque Ele escolheu nos amar. Nós somos chamados a experimentar e nos aproximar desse amor na maneira com que tratamos os outros. Nenhuma outra religião ensina Agape, que é uma invenção toda do Cristianismo. Pouco se dão conta as pessoas seculares de que quando fazem coisas boas que não as beneficiam de maneira alguma, estão agindo de acordo com o legado do Cristianismo.
Esse é o amor que o menino Jesus trouxe ao mundo, uns dois mil anos atrás. Ateus pugilistas como Richard Dawkins e Sam Harris brigam longe de Jesus, não acertando nele um golpe sequer e revelando no processo sua ríspida insignificância. De modo que se todas as pessoas - incluindo cristãos professos - tomassem com mais seriedade os ensinamentos de Cristo, e buscassem incorporar em suas vidas a virtude cristã por definição, Agape, não seria essa terra um lugar mais doce e amável?
...................................
[1] Nota do tradutor: no original, “in love”.
tradução de Daniel Lourenço
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Em seu belo livro Os quatro amores, C. S. Lewis descreve os quatro tipos distintos de amor. Três deles são universais e portanto familiares a todos. Primeiro há o STORGE ou amor familiar. Essa é a afeição que sentimos por parentes, vizinhos e as pessoas que convivem conosco. O amor entre pais e filhos provavelmente é o caso clássico de amor familiar. Curiosamente não escolhemos aqueles que serão objeto de amor familiar; por conseqüência, Storge nos introduz a pessoas com quem talvez não tivéssemos escolhido para conviver e cujas virtudes talvez jamais aprendamos a apreciar.
Segundo, há EROS ou o amor romântico. Tão poderosa é sua força que as pessoas feqüentemente se descrevem enamoradas[1], como se estivessem presas a uma força externa. Os personagens Paolo e Francesca de Dante buscam justificar seu adultério argumentando, de fato, que “Eros nos fez fazer isso.” O amor romântico parece encarnar uma espécie de altíssima moralidade que derruba as regras convencionais. O apelo de Eros é que ele nos dá aquela consciência momentânea de transcendência. Traz consigo a sugestão e até a explícita alegação de eternidade: “Eu sempre te amarei.” No entanto sabemos por experiência que Eros pode ser muito volúvel. Lewis escreve, “Eros é levado a prometer o que Eros não pode cumprir.”
A seguir há a FILIA ou amizade. A amizade não é um amor natural no sentido de que não necessitamos dela para sobreviver. Ao contrário dos pais e vizinhos, os amigos são realmente escolhidos. Os amigos não estão unidos muito por um interesse um no outro mas porque compartilham interesse em outra coisa: xadrez quem sabe ou a arte ou uma percepção comum daquilo que é importante na vida. Enquanto os amantes podem ser flagrados olhando intensamente um para o outro, os amigos podem ser flagrados lado a lado olhando intensamente na mesma direção.
Em seu máximo, argumenta Lewis, essas três formas de amor exigem de nós o mais alto compromisso. Cada um faz exigências que procura sobrepujar o outro e qualquer afeição competidora. Lewis mostra ainda que cada um contém severas limitações. O amor familiar pode ser tão forte a ponto de nos cegar para as necessidades dos outros fora desse atrativo círculo. Eros é um famoso mentiroso. A amizade pode se degenerar rapidamente em exclusividade mesquinha. Os três amores universais, escreve Lewis, devem ser integrados, reconciliados e governados por um quarto tipo de amor.
Esse amor é AGAPE ou a caridade. É o amor que temos para com aqueles que não são nada para nós. É o menos egoísta de todos os amores e também o menos natural. Simplesmente não há explicação darwinista sobre por que as pessoas se preocupam e procuram ajudar aqueles que são completos estranhos. Agape é quem mais se aproxima do amor de Deus por nós. Deus nos amou por nenhuma outra razão a não ser porque Ele escolheu nos amar. Nós somos chamados a experimentar e nos aproximar desse amor na maneira com que tratamos os outros. Nenhuma outra religião ensina Agape, que é uma invenção toda do Cristianismo. Pouco se dão conta as pessoas seculares de que quando fazem coisas boas que não as beneficiam de maneira alguma, estão agindo de acordo com o legado do Cristianismo.
Esse é o amor que o menino Jesus trouxe ao mundo, uns dois mil anos atrás. Ateus pugilistas como Richard Dawkins e Sam Harris brigam longe de Jesus, não acertando nele um golpe sequer e revelando no processo sua ríspida insignificância. De modo que se todas as pessoas - incluindo cristãos professos - tomassem com mais seriedade os ensinamentos de Cristo, e buscassem incorporar em suas vidas a virtude cristã por definição, Agape, não seria essa terra um lugar mais doce e amável?
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[1] Nota do tradutor: no original, “in love”.
tradução de Daniel Lourenço
quinta-feira, dezembro 27, 2007
Entrevista com Tom Jobim
Essa semana assisti a uma entrevista concedida pelo mestre Antonio Carlos Brasileiro Jobim nos seus 60 anos de idade. O repórter, talvez pensando que o músico se torna automaticamente um sábio por ser um ancião, fez-lhe perguntas sobre problemas atuais como desmatamento, guerra, e o músico não se fez de rogado, dando seus pitacos em tom levemente indignado, ao sabor carioca. Eis aí um homem sábio naquilo que sabe fazer, que é a música, opinando sobre aquilo que não sabe. Cena ruim de se ver.
A entrevista foi concedida em 1987. Compreende-se que nessa época as pessoas quisessem opinar sobre tudo e falar sobre qualquer coisa, pois haviam recém saído de um regime ditatorial.
O que não se aceita é que vinte anos depois esse desejo tenha crescido.
Essa idéia de que toda opinião tenha que ser respeitada é uma defesa contra o dever de buscar a verdade sem se acomodar com o sabido e de calar quando não se sabe. Mas o importante não é a opinião, e sim a verdade, entendida aqui como correspondência entre pensamento e realidade. Como a realidade não se transforma no pensamento, o pensamento tem que se transformar na realidade e isso exige um esforço contínuo de humildade, que é condição básica para o aprendizado seja do que for.
Ao invés de noticiar, jornalistas incitam os consumidores a tomar parte naquilo que estão mostrando, e o homem mal sabendo o que está acontecendo já se sente louco para “fazer algo a respeito.” É que não se trata de interpretar o mundo, mas de transformá-lo.
A entrevista foi concedida em 1987. Compreende-se que nessa época as pessoas quisessem opinar sobre tudo e falar sobre qualquer coisa, pois haviam recém saído de um regime ditatorial.
O que não se aceita é que vinte anos depois esse desejo tenha crescido.
Essa idéia de que toda opinião tenha que ser respeitada é uma defesa contra o dever de buscar a verdade sem se acomodar com o sabido e de calar quando não se sabe. Mas o importante não é a opinião, e sim a verdade, entendida aqui como correspondência entre pensamento e realidade. Como a realidade não se transforma no pensamento, o pensamento tem que se transformar na realidade e isso exige um esforço contínuo de humildade, que é condição básica para o aprendizado seja do que for.
Ao invés de noticiar, jornalistas incitam os consumidores a tomar parte naquilo que estão mostrando, e o homem mal sabendo o que está acontecendo já se sente louco para “fazer algo a respeito.” É que não se trata de interpretar o mundo, mas de transformá-lo.
domingo, dezembro 23, 2007
Dez anos do Indivíduo
O jornal eletrônico O Indivíduo completou 10 anos. Leia aqui o texto de Lucas Mafaldo que faz um balanço da influência da Internet na cultura brasileira. Está crescendo..
quinta-feira, dezembro 20, 2007
Liberais e conservadores
Vez ou outra utilizo o termo liberal contraposto ao de conservador, sem maiores explicações. Minha intenção é que os termos ganhem a mesma conotação que têm nos EUA, onde o liberal é o esquerdista, ou seja, aquele que defende o relativismo moral, e todas as implicações disso em políticas que vão desde a liberalização do aborto até a defesa do casamento de homossexuais, e o conservador é aquele que acredita que existem o certo e o errado, muito embora possa ser super difícil identificá-los na situação concreta. No Brasil o termo liberal se identifica em primeiro lugar com o defensor do livre-mercado, da tradição da economia clássica. Ocorre que não necessariamente, no entanto, um defensor do livre-mercado também acredita em valores morais, por isso a definição política de liberal é precária, dado faltar-lhe explicação sobre componente que é essencial no caráter político, qual seja, o componente moral (ou amoral).
Mais sobre o tema, e melhor explicado por homem da área de tradução, ver em http://www.pedrosette.com/2007/03/08/liberals-e-liberais-conservatives-e-conservadores/.
Mais sobre o tema, e melhor explicado por homem da área de tradução, ver em http://www.pedrosette.com/2007/03/08/liberals-e-liberais-conservatives-e-conservadores/.
segunda-feira, dezembro 17, 2007
Dez princípios conservadores.
por Russell Kirk, traduzido por Paulo Ricardo.
Clique aqui e baixe o texto.
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sábado, dezembro 08, 2007
Os EUA na Nova Ordem Mundial
Os EUA são o país onde a resistência à Nova Ordem Mundial se dá com mais intensidade. Embora hajam nascido nesse país diversos movimentos político-ideológicos contemporâneos, também nesse país se construiu a mais forte resistência a esses movimentos.
Quando a URSS se dissolveu, muitos analistas apontaram os EUA como a única superpotência do planeta, a que exerceria uma hegemonia sobre outras nações. Até mesmo o ultra perspicaz Olavo de Carvalho apontou os EUA como o novo Império. Na década de 90, porém, outros centros de poder consolidaram-se e passaram a exercer influência enorme. A ONU e entidades transnacionais como a União Européia pressionam governos a adotarem aquele rol de direitos citado no post anterior. Fundações bilionárias, as mais conhecidas dentre elas de origem americana, dão apoio financeiro a projetos relacionados. O Centro de Estudos e Pesquisas no Ensino do Direito (CEPED) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro foi fundado com apoio da Fundação Ford. Deve ser um dos motivos pelos quais minha ex-faculdade é tão liberal...
A origem de vários desses movimentos da Nova Era é americana. O feminismo, o ambientalismo, o movimento homossexual, se não tiveram suas origens nos EUA, ao menos tornaram-se bandeiras globais pelo barulho que fizeram nesse país. Por esse motivo muitas pessoas tomam os EUA como o criador da Nova Ordem Mundial. Essa idéia, porém, não é correta. Esses movimentos não são exatamente apoiados pela população. Na década de 70, a chamada “maioria silenciosa” já mostrava que não compartilhava desses valores relativistas elegendo o presidente Richard Nixon. Na década seguinte, a eleição do presidente Ronald Reagan tirou a “maioria silenciosa” do armário e o movimento conservador começou a ganhar força. Antes disso, autores conservadores como Russell Kirk e Eric Voegelin, entre outros, conquistavam o coração de estudantes sinceros. Ronald Reagan disse as seguintes palavras de Russell Kirk: “Como profeta do conservadorismo americano, Russell Kirk ensinou, estimulou e inspirou uma geração. Desde... Piety Hill, ele foi fundo nos valores americanos, escrevendo e editando trabalhos centrais de filosofia política. Sua contribuição intelectual foi um profundo ato de patriotismo. Aposto que no futuro seu trabalho continuará a exercer profunda influência na defesa de nossos valores e de nossa estimada civilização.”
Mês passado completaram-se 20 anos da publicação do livro “The closing of the american mind”, de Allan Bloom, que foi um marco na crítica à burrice universitária. Desde 1987, dois movimentos são bastante claros na sociedade americana. Por um lado, o Estado tem cada dia mais controle sobre a vida do cidadão. Por outro, no meio intelectual, a esquerda sofre derrotas atrás de derrotas. Christopher Hitchens não tem como discutir com Dinesh D' Souza a não ser apelando para um senso comum barato ao qual não falta cinismo. (ver o vídeo do debate entre os dois na página de Dinesh D' Souza, com link ao lado). O primeiro desses movimentos é o refexo político de décadas de domínio liberal da cultura, bem como das enormes somas de capital investidas pelas Fundações bilionárias. A reação a esse movimento pode ser ilustrada pelo convite feito pela American Family Association, organização conservadora americana, a boicotar os produtos da Ford, o que resultou, dentre outras causas, em queda vertiginosa no faturamento dessa empresa. O mais importante evento, no entanto, foi o surgimento dessa geração fantástica de jornalistas e escritores, que inclui Ann Coulter, Thomas Sowell, Sean Hannity - e vários outros que o autor conhece só de nome, os quais desmascaram uma a uma as artimanhas de políticos desejosos de exercer controle enorme sobre a vida do homem. Até George W. Bush não escapa da mira desses jornalistas. Se você acredita que ele é direitista, passe a ler os artigos dessa turma da pesada. Mais do que a guerra contra o Iraque, o presidente George W. Bush talvez entre para a história como o homem que permitiu o fim da soberania e identidade americanas, dissolvendo-as numa entidade transnacional chamada North American Union, que é um arremedo de União Européia para a América do Norte.
Olavo de Carvalho já disse que precisaria reescrever o capítulo de seu livro em que aponta os EUA como o novo Império. Ele tem razão. Os EUA são a bucha de canhão da Nova Ordem Mundial. A própria hegemonia americana é usada como forma de aumentar o poder do Concerto das Nações. Eu imagino se a Inglaterra do século XIX aceitaria discutir assuntos polêmicos com Brasil, China, Japão..
Presidentes dos EUA confusos aceitam políticas que vão de encontro aos valores mais americanos. A Nova Ordem Mundial é uma época de desordem.
Quando a URSS se dissolveu, muitos analistas apontaram os EUA como a única superpotência do planeta, a que exerceria uma hegemonia sobre outras nações. Até mesmo o ultra perspicaz Olavo de Carvalho apontou os EUA como o novo Império. Na década de 90, porém, outros centros de poder consolidaram-se e passaram a exercer influência enorme. A ONU e entidades transnacionais como a União Européia pressionam governos a adotarem aquele rol de direitos citado no post anterior. Fundações bilionárias, as mais conhecidas dentre elas de origem americana, dão apoio financeiro a projetos relacionados. O Centro de Estudos e Pesquisas no Ensino do Direito (CEPED) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro foi fundado com apoio da Fundação Ford. Deve ser um dos motivos pelos quais minha ex-faculdade é tão liberal...
A origem de vários desses movimentos da Nova Era é americana. O feminismo, o ambientalismo, o movimento homossexual, se não tiveram suas origens nos EUA, ao menos tornaram-se bandeiras globais pelo barulho que fizeram nesse país. Por esse motivo muitas pessoas tomam os EUA como o criador da Nova Ordem Mundial. Essa idéia, porém, não é correta. Esses movimentos não são exatamente apoiados pela população. Na década de 70, a chamada “maioria silenciosa” já mostrava que não compartilhava desses valores relativistas elegendo o presidente Richard Nixon. Na década seguinte, a eleição do presidente Ronald Reagan tirou a “maioria silenciosa” do armário e o movimento conservador começou a ganhar força. Antes disso, autores conservadores como Russell Kirk e Eric Voegelin, entre outros, conquistavam o coração de estudantes sinceros. Ronald Reagan disse as seguintes palavras de Russell Kirk: “Como profeta do conservadorismo americano, Russell Kirk ensinou, estimulou e inspirou uma geração. Desde... Piety Hill, ele foi fundo nos valores americanos, escrevendo e editando trabalhos centrais de filosofia política. Sua contribuição intelectual foi um profundo ato de patriotismo. Aposto que no futuro seu trabalho continuará a exercer profunda influência na defesa de nossos valores e de nossa estimada civilização.”
Mês passado completaram-se 20 anos da publicação do livro “The closing of the american mind”, de Allan Bloom, que foi um marco na crítica à burrice universitária. Desde 1987, dois movimentos são bastante claros na sociedade americana. Por um lado, o Estado tem cada dia mais controle sobre a vida do cidadão. Por outro, no meio intelectual, a esquerda sofre derrotas atrás de derrotas. Christopher Hitchens não tem como discutir com Dinesh D' Souza a não ser apelando para um senso comum barato ao qual não falta cinismo. (ver o vídeo do debate entre os dois na página de Dinesh D' Souza, com link ao lado). O primeiro desses movimentos é o refexo político de décadas de domínio liberal da cultura, bem como das enormes somas de capital investidas pelas Fundações bilionárias. A reação a esse movimento pode ser ilustrada pelo convite feito pela American Family Association, organização conservadora americana, a boicotar os produtos da Ford, o que resultou, dentre outras causas, em queda vertiginosa no faturamento dessa empresa. O mais importante evento, no entanto, foi o surgimento dessa geração fantástica de jornalistas e escritores, que inclui Ann Coulter, Thomas Sowell, Sean Hannity - e vários outros que o autor conhece só de nome, os quais desmascaram uma a uma as artimanhas de políticos desejosos de exercer controle enorme sobre a vida do homem. Até George W. Bush não escapa da mira desses jornalistas. Se você acredita que ele é direitista, passe a ler os artigos dessa turma da pesada. Mais do que a guerra contra o Iraque, o presidente George W. Bush talvez entre para a história como o homem que permitiu o fim da soberania e identidade americanas, dissolvendo-as numa entidade transnacional chamada North American Union, que é um arremedo de União Européia para a América do Norte.
Olavo de Carvalho já disse que precisaria reescrever o capítulo de seu livro em que aponta os EUA como o novo Império. Ele tem razão. Os EUA são a bucha de canhão da Nova Ordem Mundial. A própria hegemonia americana é usada como forma de aumentar o poder do Concerto das Nações. Eu imagino se a Inglaterra do século XIX aceitaria discutir assuntos polêmicos com Brasil, China, Japão..
Presidentes dos EUA confusos aceitam políticas que vão de encontro aos valores mais americanos. A Nova Ordem Mundial é uma época de desordem.
quarta-feira, dezembro 05, 2007
O Brasil na Nova Ordem Mundial
O Brasil é o país que se adequou perfeitamente ao projeto da Nova Ordem Mundial. Desde que George Bush o anunciou, pouco antes de a cidade do Rio de Janeiro receber a Eco-92, o Brasil vem adotando um a um os programas da ONU sobre direitos sexuais, ambientais, raciais, indígenas e outros - sem querer discriminar esse OUTROS, é que o autor dessas linhas não consegue lembrá-los agora.
O ambientalismo talvez seja a ideologia que mais forte toca o coração das pessoas. Inteligente articulista do site Mídia sem Máscara comparou o projeto TAMAR com o projeto de legalizar o aborto, chamando-o, em feliz trocadilho, de projeto MATAR. Não se toca nos ovos de tartaruga, porém o feto humano pode ser cortado com tezoura e jogado em um balde. Aquecimento global é quase um mantra, muito embora aqui e ali vozes se levantem para dizer que talvez esse seja apenas um ciclo passageiro, como o de ligeiro esfriamento global nos anos 50, o qual o jornal NY Times anunciava então com estardalhaço..
A Nova Ordem Mundial é a ordem da liberdade irrestrita. Faz-se o que quer, e ninguém tem nada com isso. Nessa era em que só se fala de democracia, seria bom voltar a ler o velho mestre Platão, cujas advertências sobre os riscos da liberdade irrestrita são bastante atuais... Traduzo do livro VIII de A República: "E a sua humanidade para com os condenados não chega a ser charmosa? Você não reparou que, em uma democracia, muitas pessoas, embora tenham sido sentenciadas à morte ou ao exílio, continuam no lugar que estão e caminham livres e soltas - os cavalheiros posam de heróis, e ninguém repara ou se importa?"
Nenhuma sociedade bem organizada se funda na idéia de liberdade, mas na de virtude. A liberdade irrestrita, o relativismo, e o ateísmo militante invariavelmente conduzem à tirania.
O ambientalismo talvez seja a ideologia que mais forte toca o coração das pessoas. Inteligente articulista do site Mídia sem Máscara comparou o projeto TAMAR com o projeto de legalizar o aborto, chamando-o, em feliz trocadilho, de projeto MATAR. Não se toca nos ovos de tartaruga, porém o feto humano pode ser cortado com tezoura e jogado em um balde. Aquecimento global é quase um mantra, muito embora aqui e ali vozes se levantem para dizer que talvez esse seja apenas um ciclo passageiro, como o de ligeiro esfriamento global nos anos 50, o qual o jornal NY Times anunciava então com estardalhaço..
A Nova Ordem Mundial é a ordem da liberdade irrestrita. Faz-se o que quer, e ninguém tem nada com isso. Nessa era em que só se fala de democracia, seria bom voltar a ler o velho mestre Platão, cujas advertências sobre os riscos da liberdade irrestrita são bastante atuais... Traduzo do livro VIII de A República: "E a sua humanidade para com os condenados não chega a ser charmosa? Você não reparou que, em uma democracia, muitas pessoas, embora tenham sido sentenciadas à morte ou ao exílio, continuam no lugar que estão e caminham livres e soltas - os cavalheiros posam de heróis, e ninguém repara ou se importa?"
Nenhuma sociedade bem organizada se funda na idéia de liberdade, mas na de virtude. A liberdade irrestrita, o relativismo, e o ateísmo militante invariavelmente conduzem à tirania.
terça-feira, dezembro 04, 2007
segunda-feira, dezembro 03, 2007
Notas sobre A República de Platão
Mais do que o desenho que faz do Estado em A República, é importante notar em Platão sua idéia de fundo de sociedade. Há pessoas que consideram Platão um tirano, mas essa é uma visão muito superficial. Algumas frases de A República são significativas para derrubar essa tese. Quando, ao ser perguntado por seu interlocutor se o guardião não rejeitaria a vida contrita que lhe é designada tornando-se um tirano, Sócrates - o personagem-voz de Platão no livro - responde, citando Hesíoso, que a "metade é melhor que o todo", ou seja, que viver as paixões com parcimônia é melhor que vivê-las desregradamente. Essa frase indica que Platão não acreditava nesse Estado modelo de uma forma utópica, muito menos imposta, mas demonstra que Platão lamenta que o guardião - o governante - possa abandonar a vida contrita feliz que tem para tiranizar os governados, tornano-se ao final infeliz também. De nada adianta todo o desenho constitucional do Estado se o guardião não estiver disposto a levar uma vida contrita. É coisa a se lamentar apenas, pois fará mal a si mesmo e à cidade. Platão sabe que a lei é feita para os homens. Uma lei boa não faz um homem bom. Ao contrário, o homem bom faz a lei boa. De forma intuitiva talvez, Platão prescreveu uma lei fundamental de conduta ao guardião a qual é a tentativa de captar a lei moral que rege o coração do grande homem, e que só esse pode conhecer. O grande homem é que ele chama de o guardião.
sábado, novembro 24, 2007
Domingo com poesia
Vale a pena ler o último Domingo com poesia de Pedro Sette Câmara (ver link ao lado). O homenageado é Bruno Tolentino, a um ano de seu último aniversário.
Não dá para não se encantar com o poema O segredo, do livro As horas de Katharina.
Não dá para não se encantar com o poema O segredo, do livro As horas de Katharina.
A educação liberal e a educação brasileira
por Daniel Lourenço
A educação liberal constitui-se dos famosos 3R's no inglês: "reading", "writing", "arithmetics". Ler, escrever e contar são os fundamentos de qualquer educação que se pretenda verdadeira. Relegar esse aprendizado a um segundo plano ou igualá-lo ao aprendizado de técnicas profissionalizantes é o erro por trás do emburrecimento de uma população.
Muito se tem falado no Brasil de inclusão digital. O governo quer que as escolas tenham computadores para que os estudantes estejam preparados a usar essas máquinas no mercado de trabalho. Preparar um estudante para mexer com computadores não é ruim, desde que não se esqueça do que é fundamental. Quem sabe ler e escrever bem tem muito mais capacidade de aprender novidades do que quem que não sabe. A técnica de usar computadores será aprendida de uma forma ou de outra durante a vida. Apenas demonstra o desinteresse pela formação humana a preocupação excessiva com esse aprendizado. Assim, não espanta que o Brasil ocupe os últimos lugares nas competições internacionais de estudantes.
Outro ponto bastante discutido é a educação através do esporte. Comenta-se que o esporte tira crianças da rua e que ensina valores como lealdade e competição. Mais uma vez há um desvio de foco do que é principal. Não se trata de condenar a educação física, mas de dar-lhe o seu devido lugar. Até grandes esportistas que ganharam salários bastante altos puderam encerrar suas carreiras em dificuldades financeiras por não saberem administrar seu dinheiro. Isso em parte porque não aprenderam a fazer contas direito.
Por fim, a política de passar de série o aluno independente de seu rendimento acadêmico tende a ser desastrosa. Alunos bons e talentosos ver-se-ão desprestigiados e desmotivados, como se já não bastasse o Presidente da República orgulhar-se de não gostar de ler.
O cenário da educação brasileira não é promissor. A ênfase dada a aspectos secundários é um erro, sem falar na ideologização do ensino. Um país não se faz apenas de profissionais, mas de homens em primeiro lugar. A educação liberal clássica cria esses homens.
A educação liberal constitui-se dos famosos 3R's no inglês: "reading", "writing", "arithmetics". Ler, escrever e contar são os fundamentos de qualquer educação que se pretenda verdadeira. Relegar esse aprendizado a um segundo plano ou igualá-lo ao aprendizado de técnicas profissionalizantes é o erro por trás do emburrecimento de uma população.
Muito se tem falado no Brasil de inclusão digital. O governo quer que as escolas tenham computadores para que os estudantes estejam preparados a usar essas máquinas no mercado de trabalho. Preparar um estudante para mexer com computadores não é ruim, desde que não se esqueça do que é fundamental. Quem sabe ler e escrever bem tem muito mais capacidade de aprender novidades do que quem que não sabe. A técnica de usar computadores será aprendida de uma forma ou de outra durante a vida. Apenas demonstra o desinteresse pela formação humana a preocupação excessiva com esse aprendizado. Assim, não espanta que o Brasil ocupe os últimos lugares nas competições internacionais de estudantes.
Outro ponto bastante discutido é a educação através do esporte. Comenta-se que o esporte tira crianças da rua e que ensina valores como lealdade e competição. Mais uma vez há um desvio de foco do que é principal. Não se trata de condenar a educação física, mas de dar-lhe o seu devido lugar. Até grandes esportistas que ganharam salários bastante altos puderam encerrar suas carreiras em dificuldades financeiras por não saberem administrar seu dinheiro. Isso em parte porque não aprenderam a fazer contas direito.
Por fim, a política de passar de série o aluno independente de seu rendimento acadêmico tende a ser desastrosa. Alunos bons e talentosos ver-se-ão desprestigiados e desmotivados, como se já não bastasse o Presidente da República orgulhar-se de não gostar de ler.
O cenário da educação brasileira não é promissor. A ênfase dada a aspectos secundários é um erro, sem falar na ideologização do ensino. Um país não se faz apenas de profissionais, mas de homens em primeiro lugar. A educação liberal clássica cria esses homens.
quarta-feira, novembro 21, 2007
Da bondade no homem
"Até que você atinja os níveis do Paraíso, a bondade será sempre mais uma busca do que uma posse, mais um objetivo do que uma experiência de obtenção."
No homem, pelo menos aqui no espaço-tempo, a bondade parece mais um deixar-se fazer do que um fazer efetivo. É como ficar feliz por algo que você nem sabe direito como aconteceu, e aconteceu através de você.
Por isso não consigo acreditar muito em responsabilidade social, campanhas disso ou daquilo. Parece-me mais um modo de a pessoa dar um pouco de seu dinheiro e esquecer-se do resto.
No homem, pelo menos aqui no espaço-tempo, a bondade parece mais um deixar-se fazer do que um fazer efetivo. É como ficar feliz por algo que você nem sabe direito como aconteceu, e aconteceu através de você.
Por isso não consigo acreditar muito em responsabilidade social, campanhas disso ou daquilo. Parece-me mais um modo de a pessoa dar um pouco de seu dinheiro e esquecer-se do resto.
quinta-feira, novembro 15, 2007
Desculpas
Por falta de atenção, não notei que hoje é dia de Proclamação da República. Creio que o humor do post anterior seria cabível em outra data, não hoje. Peço desculpas.
Por qué no te callas?
Depois das últimas manifestações de Lula sobre o cala-boca de Chavez, eu tenho uma proposta: que voltemos ao sistema político da União Ibérica e o Brasil seja governado pelo rei Juan Carlos.
quarta-feira, novembro 14, 2007
Revolução russa
Indico o site http://www.revolucaorussa.org/. O texto Tinta vermelha, capítulo do livro Tragédia de um povo, de Orlando Figes, é excelente.
domingo, novembro 11, 2007
História e ação do cinema
por Daniel Lourenço
Desde seu início, o cinema tem sido considerado a sétima arte. Os efeitos do cinema no imaginário popular são reais, e ele chega inclusive a ser usado por governos totalitários desejosos de amoldar o imaginário coletivo à sua ideologia.
O cinema se estabeleceu durante os anos 20 e 30. Nesse período grandes diretores como Fritz Lang e F. W. Murnau produziram verdadeiras obras-primas. Pessoas que jamais compreenderiam a loucura satânica de um Dr. Mabuse lendo tratados de psicologia clínica agora podiam entender sua ação perigosa sobre a sociedade em apenas duas horas. Ou ainda, crianças e jovens que ouviam as histórias do Conde Drácula, ratificavam seus temores com a forte impressão deixada pelo filme Nosferatu. Casais em crise podiam enxergar no filme Aurora um farol de esperança.
No entanto, o cinema não produziu apenas histórias edificantes. Ele também foi usado por pessoas sem escrúpulos que tentavam introduzir mentiras na sociedade. Os cinemas soviético e nazista são exemplos patentes disso. Até mesmo nos EUA, durante as décadas de 40 e 50 sobretudo, houve uma série manipulação da arte por comunistas. Fato curioso foi o filme Tropa de elite, sucesso absoluto no Brasil, que arrebatou uma legião de fãs. O filme foi produzido por dois diretores que, a julgar pelas entrevistas que concederam, são esquerdistas; o filme, porém, é o mais anti-esquerdista que já houve nesse país. Às vezes a retórica e a intenção dos diretores cedem espaço ao turbilhão de imagens reais produzidas, e o filme ganha um contexto bem diferente do que foi pretendido.
O cinema é uma novidade na história da humanidade. Ele existe desde o século XX. Seu apelo imaginativo e facilidade de acesso - que o teatro infelizmente não possue - dão à arte um poderoso meio de formar o imaginário coletivo e seus efeitos, para o bem e para o mal, são reais, embora nem sempre evidentes.
Desde seu início, o cinema tem sido considerado a sétima arte. Os efeitos do cinema no imaginário popular são reais, e ele chega inclusive a ser usado por governos totalitários desejosos de amoldar o imaginário coletivo à sua ideologia.
O cinema se estabeleceu durante os anos 20 e 30. Nesse período grandes diretores como Fritz Lang e F. W. Murnau produziram verdadeiras obras-primas. Pessoas que jamais compreenderiam a loucura satânica de um Dr. Mabuse lendo tratados de psicologia clínica agora podiam entender sua ação perigosa sobre a sociedade em apenas duas horas. Ou ainda, crianças e jovens que ouviam as histórias do Conde Drácula, ratificavam seus temores com a forte impressão deixada pelo filme Nosferatu. Casais em crise podiam enxergar no filme Aurora um farol de esperança.
No entanto, o cinema não produziu apenas histórias edificantes. Ele também foi usado por pessoas sem escrúpulos que tentavam introduzir mentiras na sociedade. Os cinemas soviético e nazista são exemplos patentes disso. Até mesmo nos EUA, durante as décadas de 40 e 50 sobretudo, houve uma série manipulação da arte por comunistas. Fato curioso foi o filme Tropa de elite, sucesso absoluto no Brasil, que arrebatou uma legião de fãs. O filme foi produzido por dois diretores que, a julgar pelas entrevistas que concederam, são esquerdistas; o filme, porém, é o mais anti-esquerdista que já houve nesse país. Às vezes a retórica e a intenção dos diretores cedem espaço ao turbilhão de imagens reais produzidas, e o filme ganha um contexto bem diferente do que foi pretendido.
O cinema é uma novidade na história da humanidade. Ele existe desde o século XX. Seu apelo imaginativo e facilidade de acesso - que o teatro infelizmente não possue - dão à arte um poderoso meio de formar o imaginário coletivo e seus efeitos, para o bem e para o mal, são reais, embora nem sempre evidentes.
quinta-feira, novembro 08, 2007
Sociopatia e revolução
por Olavo de Carvalho
publicado no Diário do comércio em 23 de outubro de 2006
Com toda a sua presunção e arrogância, a ciência social moderna não conseguiu produzir nenhuma descoberta que se aproximasse, em exatidão e força explicativa, da doutrina hindu das quatro castas, da qual a concepção marxista da luta de classes é uma imitação caricatural e remota, daí derivando a impressão de veracidade que possa exercer sobre a mente simplória do "proletariado intelectual" universitário.
É impossível, a quem tenha se dado o trabalho de estudar um pouco a explicação hinduísta do processo histórico, observar a seqüência das estruturas de poder que se sucedem ao longo da história ocidental sem notar que ela repete ipsis litteris a transição do governo brâhmana para o kshatryia, deste para o váishyia e deste para o desgoverno shudra e para a confusão dos párias que prenuncia ou o fim da sociedade ou o retorno à ordem inicial.
Vou aqui resumir brevemente essa doutrina, não como ela é em sua pura formulação originária, mas na adaptação que lhe dei, em cursos e conferências proferidos desde 1980, para torná-la mais flexível como instrumento explicativo de processos histórico-culturais mais recentes.
Os brâhmana são a casta intelectual, voltada à busca do conhecimento espiritual e à construção de uma ordem social que reflita mais ou menos a "vontade de Deus" – as leis que determinam a estrutura inteira da realidade.
Os kshatryia são os guerreiros e aristocratas, que sobrepõem à estrutura da realidade a glorificação das suas próprias tradições dinásticas e a expansão do seu poder militar.
Os váishyia são os burgueses e comerciantes. Buscam em tudo o lucro e a eficácia econômica, que tomam ilusoriamente como um poder efetivo, ignorando as bases militares e espirituais da sociedade e terminando por ser rapidamente destruídos pelos shudra. Estes são os "proletários", no sentido romano do termo. Incapazes de governar-se a si mesmos, importam somente pelo poder do número, pela extensão quantitativa da "prole".
Os brâhmana caem pela sua dificuldade de manter-se fiéis à intuição espiritual originária, esfarelada entropicamente em confrontações doutrinais de um artificialismo sufocante, cada vez mais insolúveis e violentas.
A ascensão do poder aristocrático, com a formação dos modernos Estados nacionais, nasceu diretamente da necessidade de apaziguar os conflitos religiosos por meio de uma força externa, político-militar.
O governo kshatryia cai porque o establishment aristocrático-militar é um poder essencialmente centralizador e expansionista, que tem de se apoiar numa burocracia crescente cujos funcionários ele próprio não pode continuar fornecendo indefinidamente e que ele colherá, portanto, entre os membros mais talentosos das duas castas inferiores, aos quais dará o adestramento necessário para o exercício de suas novas funções administrativas, judiciais, diplomáticas etc. Daí nasce a "intelectualidade" moderna, como subproduto de um sistema de ensino voltado à formação de funcionários para o Estado. Por outro lado, tão logo a burocracia se consolida como meio de ascensão social, os candidatos a ela são sempre em número maior do que os cargos disponíveis, ao mesmo tempo que o ensino, sendo ele próprio um instrumento de seleção, tem necessariamente de atingir um círculo maior de alunos do que aqueles aos quais pode garantir um cargo no funcionalismo público. A burocracia com que o Estado kshatryia controla a sociedade torna-se assim uma bomba de efeito retardado. De um lado, não é preciso dizer que a intelectualidade burocrática logo tem em suas mãos o controle efetivo do Estado, sonhando em sacudir de seus ombros o jugo de uma casta aristocrática cada vez mais ociosa e dispendiosa. De outro lado, há a multidão dos rejeitados. Suas ambições foram despertadas pelo ensino, frustradas pela seleção profissional. Eles formam o contingente daquilo que denominei "burocracia virtual" – o exército crescente daqueles indivíduos relativamente adestrados, mas sem função. Seu único lugar possível na sociedade é dentro do Estado, mas o Estado não tem lugar para eles. Eles são a classe revolucionária por excelência, o personagem central da aventura moderna. Não demorarão a sonhar com um Estado amoldado às suas necessidades. Enquanto não conseguem criá-lo, ocupam-se de tagarelar infindavelmente sobre todos os assuntos, espalhando por toda a sociedade seu rancor e suas frustrações e, sobretudo, adornando-se usurpatoriamente do prestígio dos antigos brâhmana, dos quais constituem a caricatura invertida. Os "intelectuais" são o clero leigo da Revolução. Se vocês já ouviram falar em PT, sabem do que estou falando. Mais adiante voltarei a isso.
Por outro lado, o Estado aristocrático custa caro e não pode se manter indefinidamente com os recursos de uma economia agrária tradicional e simplória; a expansão econômica requer a mobilização de capacidades específicas que são as dos váishyia. Os banqueiros e industriais fornecem a nova base econômica do Estado, arregimentando a mão-de-obra shudra em proporções jamais sonhadas antes e substituindo à antiga economia agrária o moderno capitalismo.
É nesse momento – e só sob esse aspecto – que a diferença entre dois sistemas de propriedade dos meios de produção se torna determinante historicamente, criando uma situação peculiar que Karl Marx projetará enganosamente sobre todo o curso da História. Mas também é claro que a ascensão do capitalismo, em si, não apresenta risco para a classe aristocrática, a qual facilmente se adapta aos novos modos de adquirir riqueza e integra nas suas fileiras, por meio de casamentos e da distribuição de títulos nobiliárquicos, os novos ricos ascendidos sem nobreza ancestral, sine nobilitate (abreviatura s. nob., donde o termo "esnobe"). A essa adaptação corresponde, politicamente, a passagem do Estado monárquico absoluto à moderna monarquia parlamentar, um processo que não tem por que ser violento ou traumático, só vindo a sê-lo na França porque o crescimento excessivo da burocracia estatal tinha ocasionado fatalmente um crescimento ainda maior da "burocracia virtual" e transformado em puro rancor revolucionário as ambições frustradas da intelectualidade. Foi esta que fez a revolução. Não havia um só capitalista entre os líderes revolucionários, e a burguesia, como se viu na Inglaterra, jamais precisou de revolução nenhuma para se elevar socialmente a um status ao qual a própria aristocracia a convidava insistentemente. O conceito de "revolução burguesa" é uma das maiores fraudes da história das ciências sociais. Os componentes da burocracia virtual, por sua vez, não podem ser definidos economicamente. Seu único traço em comum era a educação que os diferenciava da massa. Vinham de todas as classes – do campesinato, do antigo clero, da pequena burguesia, dos setores empobrecidos da própria aristocracia. Não tinham unidade de origem, mas de situação social e ambições. A fórmula verdadeira da sua unidade residia no futuro: na imagem do Estado perfeito, investido de todas as virtudes que eles próprios julgavam encarnar. Vivendo de fantasia autoglorificante, compensação psicológica de sua posição social vexatória, não é de estranhar que se concebessem como herdeiros da autoridade intelectual dos brâhmana mas também se imaginassem os sucessores naturais da Igreja como porta-vozes e protetores dos pobres e oprimidos, os shudra. Por toda parte falam em nome da "ciência", mas também da "justiça social". Imaginam encarnar ao mesmo tempo a autoridade espiritual mais alta e os direitos espezinhados da casta mais baixa. Mas assim como não houve burgueses na vanguarda da "revolução burguesa", não haverá proletários entre os líderes da "revolução proletária". Toda a sociologia revolucionária é uma fraude ideológica destinada a encobrir o poder dos "intelectuais". Estes não são casta nenhuma. São uma interface nascida acidentalmente do inchaço canceroso da burocracia, e por isso mesmo lutarão para fazê-la crescer ainda mais onde quer que adquiram os meios para isso. São, a rigor, párias – uma mescla confusa e delirante de fragmentos de discursos das várias castas. São a pseudo-casta sem função nem eixo, sociopática por nascimento e vocação.
A ascensão da burguesia capitalista não é um processo revolucionário. É um longo e complexo processo de incorporação e adaptação. O capitalismo francês nasceu e permaneceu raquítico por causa da Revolução, que veio com a expansão burocrática e continuou vivendo dela até hoje, numa nação que é, por excelência, o paraíso dos "intelectuais". O capitalismo desenvolveu-se, isto sim, na Inglaterra, onde a aristocracia se adaptou suavemente às suas novas funções capitalistas, e na América, onde, sendo rala a presença da aristocracia de sangue, a própria burguesia capitalista se investiu do ethos heróico-aristocrático, gerando uma nova casta kshatryia. Observo, de passagem, que essa transfiguração da burguesia americana em aristocracia – o fenômeno mais importante e vigoroso da história moderna – jamais teria sido possível sem a profunda impregnação cristã da nova classe, que fazia dela, em contraste com a farsa dos "intelectuais", a herdeira parcial e longínqua, mas autêntica, da autoridade brâhmana.
Na doutrina hindu, não há jamais um governo shudra. Os shudra são, por definição, governados e não governantes. O sujeito pode nascer shudra mas ao ascender a funções de importância já é um "intelectual" (se Lula continuasse torneiro mecânico, seria apenas torneiro mecânico). O que pode haver é o governo dos intelectuais fazendo-se passar por vanguarda shudra e, é claro, oprimindo os shudra mais do que nunca, para que criem a base econômica de uma burocracia estatal ilimitadamente expansiva.
Economicamente, o governo shudra, ou socialismo, só tem existência verbal. Em 1921, Ludwig von Mises deu a demonstração cabal de que a economia totalmente estatizada é inviável e de que, portanto, todo regime autonomeado socialista nunca passaria de um capitalismo disfarçado sob a carapaça de ferro da burocracia estatal. A história não cessou de lhe dar razão desde então.
Dessa breve exposição é possível tirar algumas conclusões que a experiência histórica comprova abundantemente:
1 Onde quer que a burocracia estatal se torne a via predominante de ascensão social, como aconteceu na França do século XVIII ou na Rússia do século XIX, a burocracia virtual tende a crescer indefinidamente e a tornar-se geradora de pressões revolucionárias. Muitas nações modernas aliviam essas pressões criando um número indefinido de sinecuras culturais e universitárias para integrar e "oficializar" de algum modo a burocracia virtual, mas isso, por um lado, é um paliativo caríssimo, que só pode ser custeado por um capitalismo pujante, o que supõe, precisamente, que a Revolução seja abortada em tempo; por outro lado, a burocracia virtual oficializada pode se satisfazer por algum tempo com suas novas funções na sociedade capitalista, mas a ascensão social mesma acabará por torná-la ainda mais presunçosa e arrogante. Isso explica que precisamente nas nações onde os intelectuais têm as melhores condições de vida eles sejam os mais rancorosos inimigos da sociedade que os nutre e lisonjeia, mas em compensação não consigam ou talvez nem queiram desferir o golpe mortal nessa sociedade, limitando-se a constituir um fator de corrosão estrutural permanente, neutralizado, no conjunto, pelo progresso técnico e pelo crescimento capitalista.
2 Onde a burocracia virtual ainda não perfeitamente oficializada tenha como principal veículo de integração social um partido político, esse partido, encarnando a seus próprios olhos ao mesmo tempo a suprema autoridade intelectual e os direitos de todas as vítimas reais ou imaginárias da injustiça social, se colocará necessariamente acima das leis e instituições, arrogando-se todos os direitos e todas as virtudes e não reconhecendo julgamento superior ao seu.
3 Toda esperança de integrar esse partido no processo democrático normal será repetidamente frustrada, pois ele jamais entenderá sua participação nesse processo senão como concessão temporária – e, em si mesma, repugnante – às condições que impedem a consecução dos seus objetivos.
4 A conquista do poder total será sempre o objetivo e a única razão de ser desse partido, que tentará toda sorte de golpes de Estado e ao mesmo tempo verá como golpe de Estado qualquer tentativa, por mais tímida e limitada, de impedi-lo de chegar a seus objetivos. Exemplos não faltam no Brasil. O mais recente é aquele em que os líderes do partido dominante pregam abertamente a resistência violenta a uma possível derrota nas eleições, ao mesmo tempo que denunciam literalmente como “golpe de Estado” a simples revelação jornalística do dinheiro que usaram num truque sujo contra o adversário (vejam a maravilha de retórica invertida em http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/394501-395000/394778/394778_1.html ).
5 Como a função primordial do partido revolucionário, por baixo dos mais variados pretextos ideológicos, é justamente criar um Estado burocrático para servir a seus próprios membros, é normal e inevitável que esse partido, uma vez investido do poder estatal, encare o Estado como sua propriedade, usando-o para seus próprios fins e não vendo nisso a menor imoralidade. A burocracia virtual é sociopática por nascimento e por definição; e sua forma de governo, tão logo tenha as condições de implantá-la, é e será sempre a sociopatia organizada.
6 A afinidade do partido revolucionário com o banditismo comum é algo mais que conjunção temporária de interesses. Na perspectiva da burocracia virtual, o único mal no mundo é ela não ter o poder absoluto, é existir uma sociedade que a transcende e não a obedece. Todos os outros males, se enfraquecem essa sociedade e favorecem a conquista do poder total pelo partido revolucionário, são bens. A auto-idolatria solipsística do chefe de gangue e a do líder revolucionário são exatamente a mesma, com a leve diferença do requinte intelectual um pouco maior a favor desta última. É ridículo dizer que um partido como o PT "se transformou" numa quadrilha de delinqüentes. Ele nasceu delinqüente.
7 A insistência dos adversários em fazer de conta que esse partido pode participar honradamente do processo político normal levará sempre a condições de “guerra assimétrica”, em que um dos lados terá todos os encargos, e o outro todos os direitos.
PS – Para aqueles que tiveram a infelicidade de nascer membros da burocracia virtual, só há três caminhos de vida possíveis: (1) integrar-se na farsa revolucionária e sair alardeando que são benfeitores da humanidade; (2) cair para a marginalidade, a doença mental, a autodestruição ou o banditismo; (3) compreender sua situação histórica, lutar para escapar a uma condição social essencialmente farsesca e para adquirir, por meio do estudo e da autodisciplina espiritual, a dignidade do verdadeiro estatuto brâhmana, o que implica renunciar a todo poder político e a todas as vantagens psico-sociais da participação na intelectualidade revolucionária. Economicamente, sobreviver da atividade intelectual fora do esquema revolucionário de proteção mútua é um desafio temível.
Para os que nasceram váishyias, o desafio é resistir ao canto-de-sereia revolucionário e impor o capitalismo como modo de vida moralmente superior. Isto não é possível sem o cultivo da disciplina kshatryia e a aceitação dos encargos heróicos de uma nova casta nobre, o que implica a absorção, mesmo longínqua, do legado brâhmana. A luta no mundo moderno é entre os váishyia e os burocratas virtuais – isto é, entre aqueles que alimentam o Estado e aqueles que se alimentam dele. Se os primeiros se deixam hipnotizar pela cultura revolucionária, estão liquidados, e, com eles, os shudra, que perdem o estatuto de trabalhadores livres para ser escravos da burocracia comunista.
publicado no Diário do comércio em 23 de outubro de 2006
Com toda a sua presunção e arrogância, a ciência social moderna não conseguiu produzir nenhuma descoberta que se aproximasse, em exatidão e força explicativa, da doutrina hindu das quatro castas, da qual a concepção marxista da luta de classes é uma imitação caricatural e remota, daí derivando a impressão de veracidade que possa exercer sobre a mente simplória do "proletariado intelectual" universitário.
É impossível, a quem tenha se dado o trabalho de estudar um pouco a explicação hinduísta do processo histórico, observar a seqüência das estruturas de poder que se sucedem ao longo da história ocidental sem notar que ela repete ipsis litteris a transição do governo brâhmana para o kshatryia, deste para o váishyia e deste para o desgoverno shudra e para a confusão dos párias que prenuncia ou o fim da sociedade ou o retorno à ordem inicial.
Vou aqui resumir brevemente essa doutrina, não como ela é em sua pura formulação originária, mas na adaptação que lhe dei, em cursos e conferências proferidos desde 1980, para torná-la mais flexível como instrumento explicativo de processos histórico-culturais mais recentes.
Os brâhmana são a casta intelectual, voltada à busca do conhecimento espiritual e à construção de uma ordem social que reflita mais ou menos a "vontade de Deus" – as leis que determinam a estrutura inteira da realidade.
Os kshatryia são os guerreiros e aristocratas, que sobrepõem à estrutura da realidade a glorificação das suas próprias tradições dinásticas e a expansão do seu poder militar.
Os váishyia são os burgueses e comerciantes. Buscam em tudo o lucro e a eficácia econômica, que tomam ilusoriamente como um poder efetivo, ignorando as bases militares e espirituais da sociedade e terminando por ser rapidamente destruídos pelos shudra. Estes são os "proletários", no sentido romano do termo. Incapazes de governar-se a si mesmos, importam somente pelo poder do número, pela extensão quantitativa da "prole".
Os brâhmana caem pela sua dificuldade de manter-se fiéis à intuição espiritual originária, esfarelada entropicamente em confrontações doutrinais de um artificialismo sufocante, cada vez mais insolúveis e violentas.
A ascensão do poder aristocrático, com a formação dos modernos Estados nacionais, nasceu diretamente da necessidade de apaziguar os conflitos religiosos por meio de uma força externa, político-militar.
O governo kshatryia cai porque o establishment aristocrático-militar é um poder essencialmente centralizador e expansionista, que tem de se apoiar numa burocracia crescente cujos funcionários ele próprio não pode continuar fornecendo indefinidamente e que ele colherá, portanto, entre os membros mais talentosos das duas castas inferiores, aos quais dará o adestramento necessário para o exercício de suas novas funções administrativas, judiciais, diplomáticas etc. Daí nasce a "intelectualidade" moderna, como subproduto de um sistema de ensino voltado à formação de funcionários para o Estado. Por outro lado, tão logo a burocracia se consolida como meio de ascensão social, os candidatos a ela são sempre em número maior do que os cargos disponíveis, ao mesmo tempo que o ensino, sendo ele próprio um instrumento de seleção, tem necessariamente de atingir um círculo maior de alunos do que aqueles aos quais pode garantir um cargo no funcionalismo público. A burocracia com que o Estado kshatryia controla a sociedade torna-se assim uma bomba de efeito retardado. De um lado, não é preciso dizer que a intelectualidade burocrática logo tem em suas mãos o controle efetivo do Estado, sonhando em sacudir de seus ombros o jugo de uma casta aristocrática cada vez mais ociosa e dispendiosa. De outro lado, há a multidão dos rejeitados. Suas ambições foram despertadas pelo ensino, frustradas pela seleção profissional. Eles formam o contingente daquilo que denominei "burocracia virtual" – o exército crescente daqueles indivíduos relativamente adestrados, mas sem função. Seu único lugar possível na sociedade é dentro do Estado, mas o Estado não tem lugar para eles. Eles são a classe revolucionária por excelência, o personagem central da aventura moderna. Não demorarão a sonhar com um Estado amoldado às suas necessidades. Enquanto não conseguem criá-lo, ocupam-se de tagarelar infindavelmente sobre todos os assuntos, espalhando por toda a sociedade seu rancor e suas frustrações e, sobretudo, adornando-se usurpatoriamente do prestígio dos antigos brâhmana, dos quais constituem a caricatura invertida. Os "intelectuais" são o clero leigo da Revolução. Se vocês já ouviram falar em PT, sabem do que estou falando. Mais adiante voltarei a isso.
Por outro lado, o Estado aristocrático custa caro e não pode se manter indefinidamente com os recursos de uma economia agrária tradicional e simplória; a expansão econômica requer a mobilização de capacidades específicas que são as dos váishyia. Os banqueiros e industriais fornecem a nova base econômica do Estado, arregimentando a mão-de-obra shudra em proporções jamais sonhadas antes e substituindo à antiga economia agrária o moderno capitalismo.
É nesse momento – e só sob esse aspecto – que a diferença entre dois sistemas de propriedade dos meios de produção se torna determinante historicamente, criando uma situação peculiar que Karl Marx projetará enganosamente sobre todo o curso da História. Mas também é claro que a ascensão do capitalismo, em si, não apresenta risco para a classe aristocrática, a qual facilmente se adapta aos novos modos de adquirir riqueza e integra nas suas fileiras, por meio de casamentos e da distribuição de títulos nobiliárquicos, os novos ricos ascendidos sem nobreza ancestral, sine nobilitate (abreviatura s. nob., donde o termo "esnobe"). A essa adaptação corresponde, politicamente, a passagem do Estado monárquico absoluto à moderna monarquia parlamentar, um processo que não tem por que ser violento ou traumático, só vindo a sê-lo na França porque o crescimento excessivo da burocracia estatal tinha ocasionado fatalmente um crescimento ainda maior da "burocracia virtual" e transformado em puro rancor revolucionário as ambições frustradas da intelectualidade. Foi esta que fez a revolução. Não havia um só capitalista entre os líderes revolucionários, e a burguesia, como se viu na Inglaterra, jamais precisou de revolução nenhuma para se elevar socialmente a um status ao qual a própria aristocracia a convidava insistentemente. O conceito de "revolução burguesa" é uma das maiores fraudes da história das ciências sociais. Os componentes da burocracia virtual, por sua vez, não podem ser definidos economicamente. Seu único traço em comum era a educação que os diferenciava da massa. Vinham de todas as classes – do campesinato, do antigo clero, da pequena burguesia, dos setores empobrecidos da própria aristocracia. Não tinham unidade de origem, mas de situação social e ambições. A fórmula verdadeira da sua unidade residia no futuro: na imagem do Estado perfeito, investido de todas as virtudes que eles próprios julgavam encarnar. Vivendo de fantasia autoglorificante, compensação psicológica de sua posição social vexatória, não é de estranhar que se concebessem como herdeiros da autoridade intelectual dos brâhmana mas também se imaginassem os sucessores naturais da Igreja como porta-vozes e protetores dos pobres e oprimidos, os shudra. Por toda parte falam em nome da "ciência", mas também da "justiça social". Imaginam encarnar ao mesmo tempo a autoridade espiritual mais alta e os direitos espezinhados da casta mais baixa. Mas assim como não houve burgueses na vanguarda da "revolução burguesa", não haverá proletários entre os líderes da "revolução proletária". Toda a sociologia revolucionária é uma fraude ideológica destinada a encobrir o poder dos "intelectuais". Estes não são casta nenhuma. São uma interface nascida acidentalmente do inchaço canceroso da burocracia, e por isso mesmo lutarão para fazê-la crescer ainda mais onde quer que adquiram os meios para isso. São, a rigor, párias – uma mescla confusa e delirante de fragmentos de discursos das várias castas. São a pseudo-casta sem função nem eixo, sociopática por nascimento e vocação.
A ascensão da burguesia capitalista não é um processo revolucionário. É um longo e complexo processo de incorporação e adaptação. O capitalismo francês nasceu e permaneceu raquítico por causa da Revolução, que veio com a expansão burocrática e continuou vivendo dela até hoje, numa nação que é, por excelência, o paraíso dos "intelectuais". O capitalismo desenvolveu-se, isto sim, na Inglaterra, onde a aristocracia se adaptou suavemente às suas novas funções capitalistas, e na América, onde, sendo rala a presença da aristocracia de sangue, a própria burguesia capitalista se investiu do ethos heróico-aristocrático, gerando uma nova casta kshatryia. Observo, de passagem, que essa transfiguração da burguesia americana em aristocracia – o fenômeno mais importante e vigoroso da história moderna – jamais teria sido possível sem a profunda impregnação cristã da nova classe, que fazia dela, em contraste com a farsa dos "intelectuais", a herdeira parcial e longínqua, mas autêntica, da autoridade brâhmana.
Na doutrina hindu, não há jamais um governo shudra. Os shudra são, por definição, governados e não governantes. O sujeito pode nascer shudra mas ao ascender a funções de importância já é um "intelectual" (se Lula continuasse torneiro mecânico, seria apenas torneiro mecânico). O que pode haver é o governo dos intelectuais fazendo-se passar por vanguarda shudra e, é claro, oprimindo os shudra mais do que nunca, para que criem a base econômica de uma burocracia estatal ilimitadamente expansiva.
Economicamente, o governo shudra, ou socialismo, só tem existência verbal. Em 1921, Ludwig von Mises deu a demonstração cabal de que a economia totalmente estatizada é inviável e de que, portanto, todo regime autonomeado socialista nunca passaria de um capitalismo disfarçado sob a carapaça de ferro da burocracia estatal. A história não cessou de lhe dar razão desde então.
Dessa breve exposição é possível tirar algumas conclusões que a experiência histórica comprova abundantemente:
1 Onde quer que a burocracia estatal se torne a via predominante de ascensão social, como aconteceu na França do século XVIII ou na Rússia do século XIX, a burocracia virtual tende a crescer indefinidamente e a tornar-se geradora de pressões revolucionárias. Muitas nações modernas aliviam essas pressões criando um número indefinido de sinecuras culturais e universitárias para integrar e "oficializar" de algum modo a burocracia virtual, mas isso, por um lado, é um paliativo caríssimo, que só pode ser custeado por um capitalismo pujante, o que supõe, precisamente, que a Revolução seja abortada em tempo; por outro lado, a burocracia virtual oficializada pode se satisfazer por algum tempo com suas novas funções na sociedade capitalista, mas a ascensão social mesma acabará por torná-la ainda mais presunçosa e arrogante. Isso explica que precisamente nas nações onde os intelectuais têm as melhores condições de vida eles sejam os mais rancorosos inimigos da sociedade que os nutre e lisonjeia, mas em compensação não consigam ou talvez nem queiram desferir o golpe mortal nessa sociedade, limitando-se a constituir um fator de corrosão estrutural permanente, neutralizado, no conjunto, pelo progresso técnico e pelo crescimento capitalista.
2 Onde a burocracia virtual ainda não perfeitamente oficializada tenha como principal veículo de integração social um partido político, esse partido, encarnando a seus próprios olhos ao mesmo tempo a suprema autoridade intelectual e os direitos de todas as vítimas reais ou imaginárias da injustiça social, se colocará necessariamente acima das leis e instituições, arrogando-se todos os direitos e todas as virtudes e não reconhecendo julgamento superior ao seu.
3 Toda esperança de integrar esse partido no processo democrático normal será repetidamente frustrada, pois ele jamais entenderá sua participação nesse processo senão como concessão temporária – e, em si mesma, repugnante – às condições que impedem a consecução dos seus objetivos.
4 A conquista do poder total será sempre o objetivo e a única razão de ser desse partido, que tentará toda sorte de golpes de Estado e ao mesmo tempo verá como golpe de Estado qualquer tentativa, por mais tímida e limitada, de impedi-lo de chegar a seus objetivos. Exemplos não faltam no Brasil. O mais recente é aquele em que os líderes do partido dominante pregam abertamente a resistência violenta a uma possível derrota nas eleições, ao mesmo tempo que denunciam literalmente como “golpe de Estado” a simples revelação jornalística do dinheiro que usaram num truque sujo contra o adversário (vejam a maravilha de retórica invertida em http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/394501-395000/394778/394778_1.html ).
5 Como a função primordial do partido revolucionário, por baixo dos mais variados pretextos ideológicos, é justamente criar um Estado burocrático para servir a seus próprios membros, é normal e inevitável que esse partido, uma vez investido do poder estatal, encare o Estado como sua propriedade, usando-o para seus próprios fins e não vendo nisso a menor imoralidade. A burocracia virtual é sociopática por nascimento e por definição; e sua forma de governo, tão logo tenha as condições de implantá-la, é e será sempre a sociopatia organizada.
6 A afinidade do partido revolucionário com o banditismo comum é algo mais que conjunção temporária de interesses. Na perspectiva da burocracia virtual, o único mal no mundo é ela não ter o poder absoluto, é existir uma sociedade que a transcende e não a obedece. Todos os outros males, se enfraquecem essa sociedade e favorecem a conquista do poder total pelo partido revolucionário, são bens. A auto-idolatria solipsística do chefe de gangue e a do líder revolucionário são exatamente a mesma, com a leve diferença do requinte intelectual um pouco maior a favor desta última. É ridículo dizer que um partido como o PT "se transformou" numa quadrilha de delinqüentes. Ele nasceu delinqüente.
7 A insistência dos adversários em fazer de conta que esse partido pode participar honradamente do processo político normal levará sempre a condições de “guerra assimétrica”, em que um dos lados terá todos os encargos, e o outro todos os direitos.
PS – Para aqueles que tiveram a infelicidade de nascer membros da burocracia virtual, só há três caminhos de vida possíveis: (1) integrar-se na farsa revolucionária e sair alardeando que são benfeitores da humanidade; (2) cair para a marginalidade, a doença mental, a autodestruição ou o banditismo; (3) compreender sua situação histórica, lutar para escapar a uma condição social essencialmente farsesca e para adquirir, por meio do estudo e da autodisciplina espiritual, a dignidade do verdadeiro estatuto brâhmana, o que implica renunciar a todo poder político e a todas as vantagens psico-sociais da participação na intelectualidade revolucionária. Economicamente, sobreviver da atividade intelectual fora do esquema revolucionário de proteção mútua é um desafio temível.
Para os que nasceram váishyias, o desafio é resistir ao canto-de-sereia revolucionário e impor o capitalismo como modo de vida moralmente superior. Isto não é possível sem o cultivo da disciplina kshatryia e a aceitação dos encargos heróicos de uma nova casta nobre, o que implica a absorção, mesmo longínqua, do legado brâhmana. A luta no mundo moderno é entre os váishyia e os burocratas virtuais – isto é, entre aqueles que alimentam o Estado e aqueles que se alimentam dele. Se os primeiros se deixam hipnotizar pela cultura revolucionária, estão liquidados, e, com eles, os shudra, que perdem o estatuto de trabalhadores livres para ser escravos da burocracia comunista.
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