quinta-feira, dezembro 27, 2007

Entrevista com Tom Jobim

Essa semana assisti a uma entrevista concedida pelo mestre Antonio Carlos Brasileiro Jobim nos seus 60 anos de idade. O repórter, talvez pensando que o músico se torna automaticamente um sábio por ser um ancião, fez-lhe perguntas sobre problemas atuais como desmatamento, guerra, e o músico não se fez de rogado, dando seus pitacos em tom levemente indignado, ao sabor carioca. Eis aí um homem sábio naquilo que sabe fazer, que é a música, opinando sobre aquilo que não sabe. Cena ruim de se ver.

A entrevista foi concedida em 1987. Compreende-se que nessa época as pessoas quisessem opinar sobre tudo e falar sobre qualquer coisa, pois haviam recém saído de um regime ditatorial.
O que não se aceita é que vinte anos depois esse desejo tenha crescido.

Essa idéia de que toda opinião tenha que ser respeitada é uma defesa contra o dever de buscar a verdade sem se acomodar com o sabido e de calar quando não se sabe. Mas o importante não é a opinião, e sim a verdade, entendida aqui como correspondência entre pensamento e realidade. Como a realidade não se transforma no pensamento, o pensamento tem que se transformar na realidade e isso exige um esforço contínuo de humildade, que é condição básica para o aprendizado seja do que for.

Ao invés de noticiar, jornalistas incitam os consumidores a tomar parte naquilo que estão mostrando, e o homem mal sabendo o que está acontecendo já se sente louco para “fazer algo a respeito.” É que não se trata de interpretar o mundo, mas de transformá-lo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá!

Hoje eu tendo a ser bem flexível com a verdade, porque afinal de contas, o que é a verdade? Ela muda o tempo todo.

Danielhenlou disse...

Concordo com você em parte. A verdade muda o tempo todo só que ao mesmo tempo algo permanece. É a velha história de que não podemos nos banhar no mesmo rio duas vezes. Sim, as águas mudaram, porém o rio continua sendo o mesmo, ou então sequer poderíamos saber que estamos nos banhando naquele rio. Creio que o que importa é o esforço de buscar ver as coisas como elas são.