terça-feira, outubro 23, 2007

O declínio do riso

por Roger Scruton

A razão se mostra em todas as nossas tentativas de entender o mundo e em todas as maneiras de nos relacionarmos uns com os outros. Está presente nas nossas escolhas, e também nas nossas reações involuntárias. Apenas um ser racional é capaz de chorar ou corar, mesmo que essas duas reações estejam fora do alcance de nossa vontade. E apenas o ser racional é capaz de rir. Hienas fazem um som como de riso, mas não se trata na realidade de um sinal de contentamento, nem tem a função social que o riso tem – que é iluminar as nossas diferenças e alegrar-se com o que compartilhamos. O riso não é somente regozijo e satisfação, é a principal maneira de aceitarmos os defeitos de nossos semelhantes. E o riso, embora restrito aos seres racionais, deve ser espontâneo caso se pretenda real. O riso programado é uma espécie de zombaria; a risada espontânea é uma aceitação daquilo que a provoca, mesmo quando, ao rirmos de alguém, quebramos sua auto-confiança.

Uma sociedade que não ri é uma sociedade sem uma válvula de escape importante, e uma sociedade onde não se interpreta o humor bruto como o primeiro passo em direção a relações amistosas, mas como uma ofensa mortal, é uma sociedade onde a vida cotidiana tornou-se perigosa. Seres humanos que vivem em comunidades de estrangeiros necessitam desesperadamente de rir, caso não queiram ver suas diferenças transformadas em guerra civil. Essa foi uma das funções desempenhadas pela piada étnica. Quando poloneses, irlandeses, judeus e italianos competiam por territórios no Novo Mundo para onde haviam fugido, eles se abasteciam com uma reserva de piadas étnicas para rirem de suas manifestas diferenças.

O humor étnico foi estudado com profundidade pelo sociólogo britânico Christie Davies, e suas descobertas – no livro Mirth of Nations – são uma lembrete salutar da facilidade com que as soluções espontâneas criadas pela sociedade podem ser confiscadas pelos censores sem humor que querem nos governar. As piadas e provocações são gestos de conciliação, em que as diferenças se tornam inofensivas, jogadas para escanteio pelo riso. No entanto, em qualquer lugar do mundo moderno uma espécie de vigilância puritana está destruindo a piada étnica, condenando-a como uma ofensa à nossa humanidade. O que tradicionalmente era considerado como uma forma de prevenir conflitos sociais agora é visto como uma de suas principais causas: A piada étnica é acusada de “criar estereótipos,” e então maculada com a indelével pecha de racismo.

Ainda mais reprovável que a piada étnica aos olhos de nossos guardiões morais está a velha comédia dos sexos. Apesar de todo o inventivo labor das feministas, as pessoas comuns notam as diferenças bem reais entre os sexos, e a bastante necessidade de se acomodar essas diferenças e reduzir os conflitos a que elas podem dar ensejo. O humor tem sido o recurso clássico da humanidade para esse propósito, com o homem submetendo-se com graça à sua “melhor metade” e a mulher acatando os editos do “chefe da casa”. Mas quem agora ousaria fazer uma piada sobre relações sexuais ou sobre o temperamento feminino no campus de uma faculdade? Você pode pensar que a censura tem apenas um sentido: Haja vista que denúncias ferozes contra os homens, e disciplinas pseudo-acadêmicas inteiras dedicadas a repetí-las, são traços familiares na vida universitária americana. Mas tente fazer uma piada sobre os defeitos masculinos, e você se verá nos mesmos apuros que se tivesse feito uma piada sobre a fragilidade feminina. Isso porque para as feministas as falhas dos homens não são objeto de riso. Não há surpresa, portanto, no fato de na literatura feminina o humor estar ausente – o que faz bastante sentido, porque se o humor fosse empregado na literatura feminina, ela morreria rindo de si mesma.

Há muitos textos sem piadas na nossa literatura religiosa. O Velho Testamento está cheio delas – pense no aterrador livro de Josué – e o Corão é tão rigidamente sem piadas como qualquer documento que tenha sobrevivido aos esforços da humanidade de trivializá-lo. Mas isso aponta para outra área em que o humor se tornou perigoso. Cristãos, Judeus, ateístas, e Muçulmanos, vivendo lado a lado com aguda consciência das divisões entre si, e precisando desesperadamente da piada religiosa. Pela experiência da Diáspora, vivendo como estrangeiros ou residentes temporários em comunidades que a qualquer momento poderiam se voltar contra eles, os Judeus há bastante tempo têm consciência disso. Como resultado, as tradições rabínicas estão cheias de piadas auto-depreciativas, que sublinham a absurda posição de povo escolhido de Deus, vivendo às margens de um mundo que não sabe que é isso o que eles são. O humor judaico é um dos melhores mecanismos de sobrevivência jamais inventados – que ajudou não somente a sua sobrevivência mas a preservação da identidade judaica, em meio a uma história sem igual de tentativas de apagá-la.

Está claro para mim que precisamos de um repertório de piadas religiosas e do hábito de expressá-las sem temor. No entanto, muitos muçulmanos têm uma susceptibilidade exagerada para sentir-se desdenhados, e mal se pode fazer uma piadinha sequer sobre o Islam que não venha a ser interpretada como expressão de hostilidade. Aqui também os censores trabalham duro, privando a humanidade de sua maneira natural de resolver conflitos, e forçando-nos a adotar todo tipo de cuidados e deferência temerosa que são em realidade muito mais hostis do que uma gargalhada bem dada. É óbvio que religião é um assunto sensível, e a resposta britânica tradicional, de que não se deve jamais mencioná-la em sociedade polida, é compreensível. Mas num mundo em que os artigos de fé são cada vez mais beligerantes, a solução britânica deixou de ser viável. Sátiras do tipo que Molière dirigiu a Tartufo são exatamente o que os mullahs merecem. Satirizando-os, nós acertamos as contas com eles; também distinguimos seu ridículo farisaísmo da branda vereda de acomodação que os muçulmanos querem e precisam.

Um observador de fora não pode deixar de ficar atônito com o declínio deste tipo de humor nos Estados Unidos. Esse recurso humano universal, que nas obras de James Thurber, H.L. Mencken, Nathanael West, e outros grandes expoentes permitiram à América atravessar sem riscos convulsões sociais, e até acomodar a nova mulher americana, agora foi marginalizado ou desaprovado. Uma piada de mau-gosto pode custar-lhe a carreira, como Don Ismus recentemente descobriu – e qualquer piada que fale de raça, sexo ou religião, sofisticada o quanto seja, traz um sério risco de punição. Consequência disso é que um lúgubre silêncio envolve as grandes questões da sociedade americana moderna – um silêncio pontuado aqui e ali pelas histéricas manifestações de falta de humor dos que vêem suas sensibilidades artificiais provocadas.

Que isso é uma situação pouco saudável não é necessário mencionar. Mais deprimente, no entanto, são os efeitos na moral ordinária. No passado, era axiomático que as faltas deviam ser perdoadas se seguidas de clara intenção de repará-las. Esse axioma, ao que parece, não se aplica ao mundo da censura americana. Uma observação julgada “racista”, “sexista”,“estereotipada”, ou “homofóbica”, e você deve deixar o mundo das almas salvas para sempre. É o fim de suas perspectivas em qualquer carreira sobre as quais os censores exerçam controle – e isso significa qualquer carreira na educação ou no governo. Você pode rastejar o quanto queira, como fez Don Ismus; você pode representar o equivalente à peregrinação descalça do rei Henry II a Canterbury, e não fará diferença. Uma falta e você já era.

E não importa que não seja uma falta: Sua observação pode ter sido mal compreendida, sua piada pode ter ganho uma intenção não desejada, você pode ter cometido um ato falho – você pode, como o herói da grande novela de Philip Roth, The Human Stain, ter apenas usado no sentido comum uma palavra a que fora dado contexto político em algum romance.

De mais a mais, a habilidade dos auto-intitulados censores de discernir pecados ideológicos e heresias foi bastante acentuada pelo seu exercício diário de ressentimento. Esses acusadores sabem como distinguir crimes de pensamento racista, sexista e homofóbico na maior sem cerimônia. E eles não conhecem o perdão, porque eles não praticam, tal como todas as pessoas desprovidas de humor, o processo de auto-conhecimento. O desejo de acusar, que traz consigo a reputação de virtude sem o custo de adquirí-la, tomou o lugar da atitude humana habitual de perdoar, criando uma personalidade biônica familiar a todos que tenham tido de lidar com os lobbies que agora controlam a opinião pública na América.

Qual deveria ser nossa resposta a isso? É fácil de dizer que deveríamos rir disso. Mas perder sua carreira não tem graça alguma; menos graça ainda tem ser posto na lista negra da máquina de guerra islâmica. A mim parece que o necessário é uma classe de jornalistas rudes, arrogantes e cultos, que emprestariam apoio uns aos outros ao ridicularizarem a pretensão dos censores.

Nós tínhamos uma classe de jornalistas assim na Inglaterra até há bem pouco tempo. Durante todo o período de domínio das universidades pela extrema-esquerda nos anos 70, jornalistas como T.E. Utley, Peregrine Worsthorne, George Gale e Colin Welch dariam a seus leitores uma cobertura humorística, desrepeitosa e sem rodeios dos novos movimentos intelectuais. Como conseqüência, esses movimentos ganharam controle apenas das universidades e não da opinião pública. Alguns representantes daquela corajosa geração de jornalistas estavam na esquerda, como Alan Watkins e Hugo Young; alguns estavam na direita, como Utley e Worsthorne. Mas na disputa contra os censores eles juntavam forças, unidos no desprezo pela doença puritana. O resultado foi que cada um podia ser rude o quanto quisesse sobre o mar de estupidez que os cercava e ainda arrancar risadas acolhedoras dos leitores.

Infelizmente, a maioria daqueles jornalistas não está mais conosco, e lendo sobre o episódio de Don Ismus na mídia americana, eu imagino o que aconteceria se eles tivessem o seu equivalente por aqui.

tradução: Daniel Lourenço

sábado, outubro 20, 2007

Carta de um bebê

Recomendo o texto Carta de um bebê, no blogue de Leilah Carvalho, com link ao lado.

sexta-feira, outubro 19, 2007

Quando nada mais resta

por Viktor Frankl. Capítulo do livro O homem em busca de sentido.

Enquanto avançamos aos tropeços, quilômetros a fio, vadeando pela neve ou resvalando no gelo, constantemente nos apoiamos um no outro, erguendo-nos e arrastando-nos mutuamente. Nenhum de nós pronuncia uma palavra mais, mas sabemos neste momento que cada um ainda só pensa em sua mulher. Vez por outra olho para o céu aonde vão empalidecendo as estrelas, ou para aquela região no horizonte em que assoma a alvorada por detrás de um lúgubre grupo de nuvens. Mas agora meu espírito está tomado daquela figura à qual ele se agarra com uma fantasia incrivelmente viva, que eu jamais conhecera antes na vida normal. Converso com minha esposa. Ouço-a responder, vejo-a sorrindo, vejo seu olhar como que a exigir e a animar ao mesmo tempo e - tanto faz se é real ou não a sua presença - seu olhar agora brilha com mais intensidade que o sol que está nascendo. Um pensamento me sacode. É a primeira vez na vida que experimento a verdade daquilo que tantos pensadores ressaltaram como a quintessência da sabedoria, por tantos poetas cantada: a verdade de que o amor é, de certa forma, o bem último e supremo que pode ser alcançado pela existência humana. Compreendo agora as coisas últimas e extremas que podem ser expressas em pensamento, poesia - em fé humana: a redenção pelo amor e no amor! Passo a compreender que a pessoa, mesmo que nada mais lhe reste neste mundo, pode tornar-se bem-aventurada - ainda que somente por alguns momentos - entregando-se interiormente à imagem da pessoa amada. Na pior situação exterior que se possa imaginar, numa situação em que a pessoa não pode realizar-se através de alguma conquista, numa situação em que sua conquista pode consistir unicamente num sofrimento reto, num sofrimento de cabeça erguida, nesta situação a pessoa pode realizar-se na contemplação amorosa da imagem espiritual que ela porta dentro de si da pessoa amada. Pela primeira vez na vida entendo o que quer dizer: Os anjos são bem-aventurados na perpétua contemplação, em amor, de uma glória infinita. . .

A minha frente um companheiro cai por terra, e os que vão atrás dele também caem. Num instante o guarda está lá e usa seu chicote sobre eles. Por alguns segundos se interrompe minha vida contemplativa. Mas num abrir e fechar de olhos eleva-se novamente minha alma, salva-se mais uma vez do aquém, da existência prisioneira, para um além que retoma mais uma vez o diálogo com o ente querido: Eu pergunto - ela responde; ela pergunta - eu respondo.

"Alto!" Chegamos ao local da obra. "Cada qual busque sua ferramenta! Cada um pegue uma picareta e uma pá!" E todos se precipitam para dentro do galpão completamente às escuras para arrebanhar uma pá jeitosa ou uma picareta mais firme. "Como é, não vão se apressar, seus cachorros imundos?" Dali a pouco estamos no valo, cada um em seu lugar da véspera. A picareta estilhaça o chão congelado, soltando até fagulhas. Nem mesmo os cérebros ainda degelaram, os companheiros continuam calados. Meu espírito ainda se apega à imagem da pessoa amada. Continuo falando com ela, e ela continua falando comigo. De repente me dou conta: nem sei se minha esposa ainda vive! Naquele momento fico sabendo que o amor pouco tem a ver com a existência física de uma pessoa. Ele está ligado a tal ponto à essência espiritual da pessoa amada, a seu "ser assim" (nas palavras dos filósofos) que a sua "presença" e seu "estar aqui comigo" podem ser reais sem sua existência física em si e independentemente de seu estar com vida. Eu não sabia, nem poderia ou precisaria saber, se a pessoa amada estava viva. Durante todo o período do campo de concentração não se podia escrever nem receber cartas. Mas isto naquele momento de certa forma não tinha importância. As circunstâncias externas não conseguiam mais interferir no meu amor, na minha lembrança e na contemplação amorosa da imagem espiritual da pessoa amada. Se naquela ocasião tivesse sabido: minha esposa está morta - acho que este conhecimento não teria perturbado meu enlevo interior naquela contemplação amorosa. O diálogo intelectual teria sido intenso e gratificante em igual escala. Naquele momento me apercebo da verdade: "põe-me como selo sobre o teu coração... porque o amor é forte como a morte." (Cântico dos Cânticos 8.6).

quinta-feira, outubro 11, 2007

Filmando a grande fraude

por Jefrrey Nyquist

© 2007 MidiaSemMascara.org

O cineasta Robert Buchar está tentando montar um documentário sobre o fim da Guerra Fria e o colapso do comunismo na Europa. O título provisório é “The Grand Deception – Uncertain History.” [A Grande Fraude – História Incerta]. Baseado em entrevistas com ex-agentes de inteligência do bloco comunista, funcionários graduados da CIA e estudiosos, o filme mostra que o colapso do comunismo não foi espontâneo. A diretiva para a mudança veio de Moscou. O “Poder do Povo” nada teve a ver com esse colapso. De acordo com Buchar, “ao longo dos últimos três anos não pude descobrir qualquer órgão da mídia interessado nesse tópico”. “Autoridades”, “especialistas” e âncoras de TV nos diziam, repetidas vezes, que as revoluções no Leste Europeu foram causadas pelo descontentamento popular. De acordo com os partidários do conservadorismo americano, a União Soviética caiu porque Ronald Reagan a derrubou. Não foi bem assim, diz Buchar: “A versão dos eventos apresentada ao público é bastante diferente daquilo que realmente aconteceu”.

Sobre este tema, Buchar entrevistou vários insiders e analistas. O ex-chefe do departamento de contra-inteligência da CIA responsável pelo bloco soviético, Tennent H. “Pete” Bagley [1], contou a Buchar que havia uma obscura mão por trás do colapso do comunismo no Leste Europeu. “Havia uma verdade diferente a esse respeito”, diz Bagley. “[...] e essa é uma verdade que foi tão bem ocultada que eu não sei se um dia sequer virá à tona...”. De acordo com Ludvik Zivcak, um oficial da polícia secreta comunista cuja tarefa foi a de organizar a demonstração que serviu de gatilho à “Revolução de Veludo” [2] na Tchecoslováquia, “Muitas pessoas pensam ou acreditam que, em 1989, houve um levante em massa da nação. Considerando o que eu fiz, ou onde trabalhei, não houve levante algum. Hoje é difícil encontrar quem escreveu o script, mas este não foi escrito nos EUA. Os EUA simplesmente pegaram o bonde quase no final. Assim, o enredo foi escrito, muito mais provavelmente, no Leste Europeu”.

De acordo com o pesquisador dissidente e ex-preso político soviético Vladimir Bukovsky, “a KGB foi parte integrante de toda a perestroika de Gorbachev.” Bukovsky relatou a Buchar que o Ocidente “nunca entendeu o sistema soviético como tal”, falhando ao não compreender “porque era inerentemente agressivo” e perigoso. O Ocidente assinou tratados inúteis com a Rússia, “Como se um pedaço de papel pudesse algum dia deter o monstro.” O Ocidente não entendeu Stalin, nem Khrushchev ou Brezhnev e jamais compreenderia o lado sinistro da ofensiva de paz de Gorbachev. “Deste modo, acreditariam em qualquer nonsense”, enfatiza Bukovsky. “[Acreditariam] até no incrível nonsense de que havia uma disputa entre reformistas e a linha-dura no Politburo e na liderança do PCUS”.[3]

No fim da Guerra Fria, durante a Cúpula de Malta, mantida entre o presidente Bush (pai) e Gorbachev, a seguinte troca de idéias ficou registrada para a posteridade: o então Secretário de Estado James Baker levantou a questão de defender os valores ocidentais e os russos ficaram perturbados e agitados. O presidente George H. W. Bush interveio com um comentário decisivo: “Vamos evitar palavras descuidadas e outras discussões sobre ‘valores’. Do fundo de nossos corações, saudamos as mudanças vindouras”. Isso era tudo que os russos queriam ouvir. Valores americanos e ajuda na queda do comunismo não eram bem-vindos porque a KGB estava montando a sua própria versão de democracia e a sua própria versão de capitalismo.[4] Bukovsky interpreta esse diálogo da seguinte maneira: “Gorbachev simplesmente disse a Bush que mudaria completamente os regimes na Europa Oriental... e que pedia seriamente aos EUA e aos seus aliados ocidentais que não se envolvessem. Para não criar mais problemas, porque era uma transição muito frágil, um período muito delicado, etc. “Nós as faremos [as mudanças], não se preocupe, só não se meta. Não estrague tudo”. E Bush não se meteu.

Portanto, as mudanças foram iniciadas a partir de Moscou e aos EUA foi dito que ficassem de fora. Era um assunto da KGB administrar o colapso do comunismo, e agora vemos – mais claramente do que vimos em 1991 – para onde esse colapso nos levou. A atitude européia mudou para uma posição de confrontação à política externa americana. Para nossa consternação, um alto oficial da KGB é o presidente da Federação Russa. Ex-agentes e funcionários das polícias secretas comunistas são os líderes de muitos dos países “ex-membros” do Pacto de Varsóvia. A opressão da dissensão é levada a cabo ao estilo dos assassinatos entre gangues (tal como nas mortes de Anna Politkovskaya e Paul Klebnikov). O encarceramento de dissidentes é conduzido sob pretextos legais. O jornalista e político tcheco Jan Stetina disse a Buchar que: “Depois de alguns anos ficou claro que o termo ‘queda do comunismo’ não reflete a realidade. O entusiasmo não durou muito e eu diria que hoje estamos num estado de desilusão”. O dissidente e ex-prisioneiro político tcheco Petr Cibulka explicou: “Eu fui solto da prisão em 17 de novembro de 1989 e durante as duas primeiras semanas eu acreditei que estavam acontecendo mudanças. Mas bastaram apenas mais algumas semanas para que eu percebesse que as mudanças eram apenas cosméticas, mudanças de cenário; que o poder continuaria nas mãos dos comunistas e que eles não precisavam se preocupar quanto a perder o que quer que fosse”. Cibulka declarou ainda: “Isto não é uma revolução, mas outra trapaça comunista”.

O ex-prisioneiro político tcheco Vladimir Hucin relatou a Buchar: “Eu assinei a Carta 77 [5] depois de solto da prisão em 1986. Quando mais tarde eu tive acesso a documentos dos arquivos da STB (polícia secreta comunista), descobri quantas pessoas da Carta 77 estiveram envolvidas com a STB, quantos agentes a STB tinha nesse grupo. Isso foi um grande desapontamento para mim”. Conforme o historiador tcheco Pavel Zacek confirmou a Buchar: “A STB funcionou com muita eficácia. Eles se infiltraram em todos os grupos regionais de oposição. Eles manobraram de modo a colocar seus agentes nas principais posições de liderança do Fórum Cívico, além de recrutarem novos agentes entre os quadros dos partidos social-democratas populares da Tchecoslováquia. Não foram encontrados documentos sobre como essa operação foi conduzida...”.

Robert Buchar é um cineasta da Tchecoslováquia e que de lá fugiu em 1980, indo para os EUA em 1981. Trabalhou como operador de câmera para a rede de TV CBS e, desde 1990, ensina cinematografia no Columbia College, em Chicago. Em 1999 produziu o documentário Velvet Hangover [Ressaca de Veludo], que foi transformado em livro em 2003, sob o título Czech New Wave Filmmakers in Interviews [Novos Cineastas Tchecos em Entrevistas]. “Foi o trabalho que fiz para esse livro que me levou à idéia de rodar um filme”, explicou Buchar. “E foi o ex-dissidente e prisioneiro político tcheco Petr Cibulka quem me convenceu a fazê-lo quando me disse: ‘Se você não fizer o filme, ninguém mais o fará’. Assim, comecei a trabalhar neste documentário ‘The Grand Deception – Uncertain History’ em 2004 e finalizei a fotografia principal em junho de 2007. Estou editando entrevistas, mas está tudo parado, pois preciso levantar dinheiro para comprar imagens de arquivo de noticiários da época para terminar o filme. Talvez eu tenha de publicar o livro antes de acabar o filme”.

Na qualidade de ex-cidadão da Tchecoslováquia comunista, o que Buchar aprendeu dessas entrevistas? “De antemão, você tem uma idéia desse evento”, diz Buchar, “e essa idéia muda quando você ouve todos os detalhes descritos por testemunhas oculares. E então, é claro, ao ligar os pontos de diferentes lugares, você é levado a um quadro terrificante e a uma conclusão que me preocupa. As pessoas normalmente me olham de um jeito estranho quando digo que decidi fugir do meu país, porque, lá pelo final dos anos 70, eu cheguei à conclusão de que o processo de mudança do sistema já estava em curso e quando acontecesse de verdade seria orquestrado desde dentro, com um resultado predeterminado e inaceitável para mim. Eu só não imaginava que aconteceria tão cedo. Eu imaginava mais uns dez anos para que acontecesse”.

Os leitores podem estar curiosos quanto ao que Buchar pensa a respeito da reação ocidental ao colapso do comunismo. “Bem…”, diz ele, “uma coisa que eu aprendi e da qual eu não estava nada ciente antes – é o nível de incompetência da CIA no que diz respeito ao seu grau de compreensão do sistema comunista, do modo de operação nos países do Bloco Oriental; uma incompetência que ignorava a importância da ideologia e o nível da infiltração soviética na própria agência. É algo parecido ao que Bill Gertz chama de mentalidade ‘antianticomunista’ [contrária ao anticomunismo] na CIA. Isso foi realmente chocante para mim”.

© 2007 Jeffrey R. Nyquist

Publicado por Financialsense.com

Tradução: MSM

[1] Ver CIA: Mito e História

[2] NT: A expressão "Revolução de Veludo" foi cunhada por jornalistas após os acontecimentos, aceita pela mídia mundial e em seguida, usada pela própria Tchecoslováquia.

[3] NT: Liderança do Partido Comunista da União Soviética, órgão colegiado e composto por muitos membros, dentre os quais eram escolhidos os membros do Politburo. O Politburo sempre contou, necessariamente, com membros da KGB e esteve sempre acima do comando das forças armadas soviéticas.

[4] Ou seja, captação de pesados investimentos estrangeiros, especialmente europeus, em petróleo e gás, e a máfia russa, desde sempre controlada pela KGB.

[5] Charta 77 (em Tcheco e Eslovaco) foi, nominalmente, uma iniciativa cívica informal na Tchecoslováquia, de 1977 a 1992, cujo nome deriva do documento Carta 77, de janeiro de 1977. Os seus membros fundadores e arquitetos foram Václav Havel, Jan Patočka, Zdeněk Mlynář, Jiří Hájek, e Pavel Kohout. Depois da “Revolução de Veludo” de 1989, muitos de seus membros desempenharam papéis importantes na política tcheca e eslovaca.

Verdade inconveniente com reservas

Juiz britânico admite que o filme Verdade inconveniente seja exibido em colégios britânicos, porém os alunos deverão ser avisados de que ele contém nove mentiras. Um pai de um aluno entrara na Justiça pedindo a proibição da exibição do filme. O juiz considerou que o filme tem viés político, porém limitou-se a mandar que as mentiras do filme sejam identificadas para os alunos.

ver reportagem em: http://www.dailymail.co.uk/pages/live/articles/news/news.html?in_article_id=486969&in_page_id=1770

terça-feira, outubro 02, 2007

True Outspeak

Quem quer que queira entender algo do que acontece no Brasil e no mundo, escute ao programa de rádio do jornalista brasileiro Olavo de Carvalho. O link é esse: www.blogtalkradio.com/olavo. O programa é transmitido pela rede.

segunda-feira, setembro 17, 2007

A Xeroxona

Bruno Tolentino

A bela Espinozona é mesmo um ás!
Filha da Maria Antônia, e sumidadede
que a USP garante a idoneidade,
se bem me lembra há pouco tempo atrás

era ainda uma vulva tão voraz
que deglutia os mestres à vontade,
chegou a fazer seu mais da metade
de um livro do Leffort - o que aliás

assustou o Merquior... Essa araruta,
que a fim de ter seu dia de mingau,
chupa o trabalho alheio pelo pau,

pode até ser o que ninguém disputa
- a Vênus que dá tudo pela luta -
mas xerox em xereca é genial!

.....................
A homenageada é Marilena Chauí, professora de filosofia da USP. Explica-se: Marilena Chauí foi acusada por José Guilherme Merquior de ter plagiado um livro de Claude Leffort, ao que ela respondeu que teve um caso amoroso com o plagiado em Paris.

domingo, setembro 16, 2007

O filósofo mecanicista

"O filósofo mecanicista professa rejeitar a idéia de uma vontade soberana e universal, a mesma vontade soberana cuja atividade na elaboração das leis universais ele reverencia tanto. Que homenagem sem intenção o mecanicista acaba por prestar ao Criador das leis quando concebe essas leis como sendo atuantes por si próprias e auto-explicativas!
É um erro crasso humanizar Deus, exceto no conceito do Ajustador de Pensamento residente, mas mesmo isso não é tão estúpido quanto mecanizar por completo a idéia da Primeira Grande Fonte e Centro." (Capítulo 6, Documento 3, Livro de Urântia).

segunda-feira, setembro 10, 2007

Cuba em números

Na seção de comentários do artigo Dois pesos e duas medidas, disse que a ditadura castrista matou cem mil pessoas. Os números são esses aqui:

"Fuzilados: 5.621. Assassinados extrajudicialmente: 1.163. Presos políticos mortos no cárcere por maus-tratos, falta de assistência médica ou causas naturais: 1.081. Guerrilheiros anticastristas mortos em combate: 1.258. Soldados cubanos mortos em missões no exterior: 14.160. Mortos ou desaparecidos em tentativas de fuga do país: 77.824. Civis mortos em ataques químicos em Mavinga, Angola: 5.000. Guerrilheiros da Unita mortos em combate contra tropas cubanas: 9.380. Total: 115.127 (não inclui mortes causadas por atividades subversivas no exterior)."

fonte: Cuba em números, por Olavo de Carvalho, publicado no saite midiasemmascara.org

Lista de leitura do St. John´s college

O curso de leitura dos clássicos no St. John´s College dá-se em quatro anos. Os alunos lêem os livros em casa e se reúnem para discutir suas impressões em sala de aula mediados por um professor que limita-se a extrair deles o que eles próprios já sabem. Valei-me Sócrates. Mais informações no próprio saite do St. John´s College ( link ao lado ) e no excelente saite Aristoi ( também com link ao lado ), uma grata surpresa, feito por um monte de bobocas que além de quererem uma educação de verdade aspiram a transmití-la a outros. Devem estar loucos!

Primeiro ano (primeiro semestre):

Homero: Ilíada.

Homero: Odisséia.

Platão: Mênon.

Ésquilo: Agamêmnon.

Ésquilo: Coéforas e Eumênides.

Platão: Górgias.

Plutarco: Vidas de Licurgo e de Sólon.

Heródoto: História (livros I; II, 50-53 112-120; III, 37, 38, 66-87).

Heródoto: História (V, 76-78, 91-93, 105; VI, 48 56-72, 94-120; XII)

Heródoto: História (VIII; IX).

Platão: República.

Aristófanes: As nuvens.

Platão: Apologia de Sócrates e Críton.

Platão: Fédon.

Tucídides: A guerra do Peloponeso.

Platão: O banquete (ou Simpósio)

domingo, setembro 09, 2007

"Honrar pai e mãe"

Filosofia da ética: tópico na comunidade Filosofia em Olavo de Carvalho, no orkut.

Os dois últimos posts foram esses:

Daniel
Concordo, Álvaro. Só adicionaria que em casos de desespero total, quando a pessoa está praticamente insensível, como no caso do personagem de O estrangeiro, e também no de Nicolas Stavroguine, do romance Os demônios, de Dostoievski, só um Viktor Frankl pode ajudar. Ele viveu os horrores do campo de concentração e saiu de lá para ajudar pessoas a encontrarem sentido para suas vidas. O Primo Levi, outro sobrevivente do campo de concentração nazista, escreveu um livro de denúncia e em seguida se suicidou. Frankl, por sua vez, iniciava a sessão de terapia perguntando a seus pacientes por que eles não se suicidavam; a partir de suas respostas ajudava-os a ver o que era importante para suas vidas, por que ela valia a pena. (...)

Álvaro
Viktor Frankl possui uma história fantástica mesmo. Como aquela em que ele encontrou nos escombros de uma igreja bombardeada pelos nazistas uma pedra com o mandamento: "Honrar pai e mãe". O que o levou a ficar na Alemanha cuidando de seus pais até ser preso pelos nazistas.
O título do primeiro livro que eu publiquei (O Amor ao Teatro e o Sentido da Vida) faz uma alusão direta à logoterapia e nele eu discorro sobre Viktor Frankl.

sábado, setembro 08, 2007

Freaking conclusions

Steven Levitt, autor do livro Freakonomics, cujo blog está agora na página do New York Times, chegou à brilhante conclusão de que permitir abortos dimunui o número de crimes. Isso porque as crianças indesejadas, as quais poderiam ser abortadas, são propensas a cometerem crimes quando crescerem. Ok. Mas que tal considerarmos o próprio aborto como um crime? Aí as conclusões se revelam completamente furadas, não é mesmo?
Essa pesquisa foi alardeada em várias páginas da imprensa, e não houve um jornalista sequer para formular a questão nesses termos. Só não me pergunte se agiram por má fé ou por estupidez.

Meu filho ( 8 anos ) perguntou: para que serve ler?

Tópico discutido na comunidade Olavo de Carvalho, no orkut.

Marcelo
meu filho (8 anos) perguntou: para que serve ler?
Ele estava fazendo comparação com o nosso presidente , que não gosta muto de leitura...e não estudou...e é presidente..

leiam mais:

http://cienciabrasil.blogspot.com/2007/09/o-super-ignorante.html

Comentários?

Caio
Se hoje em dia alguém quer viver honestamente, sem passar a perna nos outros, deve se instruir para se inserir na economia

Daniel
Não só para se inserir na economia, uma pessoa tem que buscar conhecimento para saber dos sentimentos humanos, saber o que está sentindo, se conhecer. É mais fácil se relacionar com outras pessoas conhecendo-se e conhecendo aos outros. Pergunte a seu filho se ele quer ser que nem o Lula, um sujeito que nem sabe do que está falando, cujo raciocínio é X igual a A, logo X igual a A, um homem totalmente inócuo, cuja vida é um vexame inconsciente.

Fale para o seu filho que ser presidente da República não é nada perto de ser um Dante Aligheri, um Homero, Platão ou Ésquilo. É nesses ele tem que se esmerar.

Fora Lula

www.grandevaia.org.

terça-feira, setembro 04, 2007

O riso

por Roger Scruton

A razão se mostra em todas as nossas tentativas de entender o mundo e em todas as meneiras de nos relacionarmos uns com os outros. Está presente nas nossas escolhas, e também nas nossas reações involuntárias. Apenas um ser racional é capaz de chorar ou corar, mesmo que essas duas reações estejam fora do alcance de nossa vontade. E apenas o ser racional é capaz de rir. Hienas fazem um som como de riso, mas não se trata na realidade de um sinal de contentamento, nem tem a função social que o riso tem – que é iluminar as nossas diferenças e alegrar-se com o que compartilhamos. O riso não é somente regozijo e confôrto, é a principal maneira de aceitarmos os defeitos de nossos semelhantes. E o riso, embora restrito aos seres racionais, deve ser espontâneo caso se pretenda real. O riso programado é uma espécie de zombaria; a risada espontânea é uma aceitação daquilo que a provoca, mesmo quando, rindo de alguém, jogamos no chão sua auto-confiança.

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trecho do artigo O declínio do riso, que pode ser acessado no site do autor, com link aqui ao lado.

A tradução do trecho é minha.

sexta-feira, agosto 31, 2007

Falsificações da História – O soldado brasileiro e a contra-revolução de 64

por Heitor De Paola em 25 de agosto de 2007

Resumo: A esquerda vocifera com tremendo estardalhaço a necessidade de serem abertos os “arquivos da ditadura”. Apesar de estarem no poder e terem autoridade para obrigar os Comandos Militares a abri-los, apenas seguem vociferando. Será que é por medo de verem seus atos de terrorismo, banditismo e assassinatos revelados ao público?

© 2007 MidiaSemMascara.org

“Quem domina o passado, domina o presente;
quem domina o presente, domina o futuro”.

GEORGE ORWELL, “1984”

O Dia do Soldado é uma ocasião propícia para retomar o tema das Falsificações da História. Cada vez que este dia se aproxima a mídia chapa branca revira os “porões da ditadura” em busca de novos embustes. A principal trapaça deste ano de 2007 é uma série de reportagens do jornal O Globo, do Rio, intitulada “Os brasileiros que ainda vivem na ditadura”. A extensa matéria focaliza a verdadeira ditadura exercida pelos narcotraficantes e as milícias sobre a população mais pobre do Rio de Janeiro, particularmente os favelados. No próprio texto são feitas comparações com os “terríveis anos de chumbo”, mas o must vem no final: um encarte diário, mais ou menos longo, com testemunhos das “vítimas indefesas da ditadura militar”. Traduzindo: subliminarmente equiparam os soldados aos bandidos!
Possivelmente a História, como a conhecemos, tenha sido aqui e ali falsificada, de forma voluntária ou não. Seja por interesse de ocultar ou acrescentar alguma coisa ou por distorção involuntária, seja por se tratar de registro de relatos orais muito antigos já modificados no próprio tempo, o caso é que os documentos históricos nem sempre apresentam os fatos como eles realmente ocorreram. O estudioso de história deve contar com estas possíveis deturpações, principalmente no que toca a relatos de períodos muito antigos, aos quais as teorias não podem mais ser testadas nem a História pode encontrar uma sólida fundação em fatos.
No entanto, os historiadores antigos, sinceros e de certa forma ingênuos, jamais poderiam imaginar que a falsificação da História se transformasse num ofício, numa arte espúria, exercida sistematicamente por milhares de escribas selecionados por autoridades que necessitam manipular os conhecimentos sobre o passado para, seletivamente, expurgar o que lhes retiraria legitimidade ou revelaria suas atrocidades. Pois isto aconteceu exatamente no século em que o crescimento exponencial da capacidade de armazenamento de documentos históricos parecia indicar um futuro promissor para esta bela arte. Desde o golpe de Estado bolchevista na Rússia em 1917 a criação de uma nova História, de novas “verdades”, vem ocupando lugar de destaque na estruturação dos departamentos de desinformação comunista. Ironicamente, Orwell chamou a repartição que tinha esta função em Oceania de Ministério da Verdade.
Basta olhar quem hoje está no poder político no Brasil para perceber que são os derrotados militarmente em 64, os herdeiros dos bolchevistas, que venceram uma das batalhas mais importantes: a cultural. Refugiando-se nesta área negligenciada pelos governos militares, e baseando-se na desinformação e nas orientações de Féliks Dzerzhinsky, o mestre da desinformação e fundador da primeira polícia secreta bolchevista – a Tcheka - passaram a escrever grande parte da História, principalmente aquela de alcance público, acadêmico e nas escolas de todos os níveis, novelas e minisséries de TV. Tornaram-se “donos” dos significados das palavras. Temos hoje muito mais mitologia induzida do que história ocorrida. É trabalho para décadas – se houver liberdade para tanto – desfazer todos os mitos dos chamados “anos de chumbo”. Mas o tempo funciona a favor dos trapaceiros, pois dentro de alguns anos não existirá mais ninguém das gerações que viveram a vida adulta naqueles tempos, hoje já acima dos sessenta. Contam com o tempo para completar o verdadeiro genocídio da História: a morte dos que a conheceram vivamente. E a verdade sumirá se não for tentado algo para salvá-la. Tento fazer a minha parte contando o que vivi.

AS OPÇÕES POLÍTICAS NA DÉCADA DE 60

Uma das maiores distorções é o mito de que soldados maldosos, aliados à “burguesia” nacional “ameaçada em seus privilégios” - e subordinados às demandas maquiavélicas dos Estados Unidos - resolveram abortar pelas armas a política conduzida por um governo legítimo e que atendia aos “anseios populares”. Em primeiro lugar, esconde-se o fato de que em 1959 a geopolítica da América Latina tinha virado do avesso pela tomada do poder em Cuba por Castro, que logo assumiu sua condição de comunista e se aliou à URSS. Seguiu-se um banho de sangue de proporções inimagináveis – do qual é proibido falar! - e a lenta e progressiva instalação na ilha de numerosos instrutores soviéticos que adestraram tropas cubanas, formaram e exportaram guerrilheiros e terroristas, e re-estruturaram o sistema de Inteligência. Através desta “cabeça de ponte” aumentou sobremaneira a influência da URSS na AL. Os jornais noticiavam diariamente as tentativas de derrubada do governo legitimamente eleito da Venezuela, país-chave pela produção petrolífera. O próximo objetivo estratégico era o Brasil, país imenso, já em fase inicial de industrialização e cujas Forças Armadas representavam um poderoso obstáculo à penetração comunista no Continente.
25 de agosto de 1961, a renúncia de Jânio Quadros marca um momento importante. O Vice, João Goulart, encontrava-se na China e declarou que iria comandar o processo de “reformas sociais” tão logo assumisse. Os Ministros Militares e amplos setores civis se opuseram à posse de Jango por suas notórias ligações com a esquerda. Seu cunhado Brizola, Governador do Rio Grande do Sul reagiu, o Comandante do Terceiro Exército, Gen. Machado Lopes, ficou do lado dele e o Brasil esteve à beira da guerra civil. A Força Aérea chegou a dar uns tiros no Palácio Piratini. Brizola tomou todas as rádios de Porto Alegre e obrigou as demais a entrarem em cadeia, a Cadeia da Legalidade! E lá estava eu, “comandando” uma mesa em plena rua na cidade de Rio Grande-RS, a uns 4° C, com uma lista de assinaturas para quem quisesse “pegar em armas pela legalidade”, atuando em conjunto com membros do extinto PCB. Com a emenda parlamentarista tudo se acalmou, mas em janeiro de 63, num plebiscito nada confiável, o país retorna ao Presidencialismo.
Fiz parte da Juventude Trabalhista e só não entrei para os Grupos dos 11, do Brizola, sobre os quais hoje quase nada se ouve, porque não tinha idade e, portanto, não era confiável. No início dos anos 60 o hoje santificado Betinho, junto com o Padre Vaz, elaborou o “Documento Base da Ação Popular”, que previa a instalação de um governo socialista cristão no Brasil. Mas o documento em que a AP se declarava francamente a favor da instalação de uma ditadura ao estilo maoísta foi mantido secreto até para os militantes da base. Só vim a ter contato com ele através de Duarte do Lago Brasil Pacheco Pereira (um dos membros do Comando Nacional de AP) em agosto de 65, quando, ocupando uma Vice-Presidência da UNE, eu já era mais “confiável”. O documento, que era obviamente o produto de uma luta interna na esquerda mundial, defendia a luta em três etapas: reivindicatória (movimentos populares, greves); política (início das guerrilhas no campo, como na China e Vietnam) e ideológica (a formação do Exército Popular de Libertação). Contrariava a teoria do foco guerrilheiro, preferida por Guevara e Debray.
O MASTER (nome do MST da época), do Brizola, invadia terras no RS (como a do Banhado do Colégio, em Camaquã) e as Ligas Camponesas, de Francisco Julião, com apoio explícito do Governador Arraes, no Nordeste. A CGT, (presidida por Dante Pelacani) e a UNE (José Serra) propunham abertamente um golpe com fechamento do Congresso. Armas tchecas começaram a surgir. O ano de 1963 foi uma agitação só. O movimento estudantil, do qual posso falar, estava dividido entre a Ação Popular (AP) e o PCB. Quem não viveu aqueles tempos dificilmente pode imaginar o nível de agitação que havia por aqui. O re-início das aulas em março de 64 praticamente não houve.
Num encontro em Pelotas, onde eu estudava Medicina, com o último Ministro da Educação do Jango, Sambaqui, no início de março, ele nos revelou que tudo começaria com o comício marcado para o dia 13, em local proibido para manifestações públicas (em frente ao Ministério da Guerra) já em desafio aberto e simbólico à lei, seria continuado pelo levante dos sargentos do Exército e da Marinha - formando verdadeiros soviets - e pelos Fuzileiros Navais em peso, comandados pelo “Almirante do Povo”, Aragão. Pregava-se a subversão da hierarquia e disciplina militares. Seguir-se-ia pelo já programado discurso de Jango no Automóvel Clube do Brasil. A pressão final sobre o Congresso seria em abril e maio: se não aprovasse as “reformas de base”, seria fechado com pleno apoio popular.
Na mesma época, participei de uma ação comandada por um agitador da Petrobrás e da SUPRA (Superintendência da Reforma Agrária), em Rio Grande, pela encampação da Refinaria de Petróleo Ipiranga o qual, num discurso na Prefeitura, declarou que a República Socialista do Brasil estava próxima. As ocorrências de março só confirmaram a conspiração acima mencionada. No comício do dia 13 Brizola pregou o fechamento do Congresso se não aprovasse as tais “Reformas de Base” (na lei ou na marra) – ninguém me contou, eu ouvi no rádio. Prestes dizia que os comunistas já estavam no Governo, só faltava tomarem o Poder.
Não havia, pois, opção democrática alguma. Restava decidir se teríamos o predomínio dos comunistas ou de uma ditadura ao estilo peronista, chefiada por Jango. As passeatas civis – as Marchas da Família com Deus pela Liberdade - estavam nas ruas exigindo o fim da baderna e em apoio ao Congresso. Sugerir que se devia esperar que Jango desse o golpe para depois tirá-lo, me parece uma idéia legalista infantil, pois então teria que ser muito mais cruento. Foi, na verdade, um contra-golpe cívico-militar preventivo.

PARTICIPAÇÃO DOS EEUU

Outro mito é sobre a participação americana no “golpe” de 64. Chamada de “Operação Thomas Mann” (nome do então Secretário de Estado Adjunto para a AL) não passa de uma mentira baseada em documentos forjados pelo Departamento de Desinformação através da espionagem Tcheca. Quem montou a operação foi o espião Ladislav Bittman que, em 1985 revelou tudo no seu livro “The KGB and Soviet Disinformation: An Insiders View”, Pergamon-Brasseys, Washington, DC, 1985. Segundo suas declarações, “A Operação foi projetada para criar no público latino-americano uma prevenção contra a política linha dura americana, incitar demonstrações mais intensas de sentimentos antiamericanos e rotular a CIA como notória perpetradora de intrigas antidemocráticas”. Outra fonte é o livro de Phyllis Parker “Brazil and the Quiet Intervention: 1964”, Univ of Texas Press, 1979, onde fica claro que os EEUU acompanhavam a situação de perto, faziam seus lobbies e sua política com a costumeira agressividade, e tinham um plano B para o caso de o país entrar em guerra civil. Entretanto, não há provas de que os Estados Unidos instigaram, planejaram, dirigiram ou participaram da execução do “golpe” de 64. Embora as revelações tenham sido tornadas públicas em 79/85, a imprensa brasileira nada publicou a respeito não permitindo que a opinião pública tomasse conhecimento da mentira que durante anos a enganou. Apenas a revista Veja na sua edição nº 1777, de 13/11/02, publica a matéria “O Fator Jango” de autoria de João Gabriel de Lima, onde este assunto é abordado. Recentemente (3/7/2007), O Globo publicou com grande estardalhaço documentos que eram conhecidos desde 31 de março de 2004, aos 40 anos do movimento, quando a CIA desclassificou documentos da época que revelam um grande interesse da Casa Branca, do Departamento de Estado e da CIA no que estava por ocorrer no Brasil. Qual o interesse de “revelar” documentos já conhecidos há mais de 3 anos como se novidade fosse? Não sei, mas é mais uma peça de desinformação, pois o que demonstram é que havia planos para apoiar o movimento cívico-militar, o que já era sabido por todos que viveram aqueles tempos ou se interessaram em estudar.

A LUTA ARMADA E O AI-5

Finalmente, o mito de que brasileiros patriotas e democratas se levantaram em armas contra o “endurecimento da ditadura” através do Ato Institucional Nº 5, 12/68. A UNE, foco permanente de agitação esquerdista ficou acéfala com a fuga para o exterior do Presidente eleito em 1963, José Serra, hoje Governador de São Paulo e foi extinta pela Lei Suplicy (Lei Nº. 4.464, de 9/11/64). No mesmo ano, Alberto Abraão Abissamara, Presidente da UEE da Guanabara, tomou conta dos arquivos que sobraram e convocou um Congresso para julho de 1965 que veio a ser realizado no Centro Politécnico em SP no qual fui eleito Vice-Presidente de Intercâmbio Internacional. Em outubro fui preso em Fortaleza, o que impediu minha ida ao Congresso da União Internacional de Estudantes na Mongólia, onde seria traçada uma estratégia de recrudescimento da violência revolucionária na AL. Quando retornei ao Rio a Diretoria eleita naquele Congresso estava dissolvida só restando o Presidente, Antonio Alves Xavier, o Primeiro Vice, José Fidelis Augusto Sarno, Altino Dantas e eu. O primeiro estava tomado de uma megalomania revolucionária que fez com que nos afastássemos dele e Altino tomou seu lugar. Eu pensei que seria impossível levar avante a tarefa. Como me afastei, só vim a saber bem mais tarde que a missão que seria minha naquele Congresso da UIE era de denunciar o “reformismo e a conciliação” daquela entidade com os “imperialistas”. A denúncia foi feita e há notícias de que 13 delegações se retiraram do Congresso, entre as quais a delegação da UNE, a chinesa, a cubana e uma delegação norte-americana, o que foi confirmado por Carlos I. Azambuja.

NOS “PORÕES DA DITADURA”

Fui preso pelo DOPS e encaminhado ao 23º Batalhão de Caçadores, em Fortaleza, onde permaneci durante dois meses. A única tortura a que fui submetido foi permanecer este tempo todo incomunicável. Fisicamente jamais me tocaram, pelo contrário, fui bem tratado, inclusive em função de uma diarréia inicialmente verdadeira e artificialmente “prolongada” por mim, passei a comer do cassino de oficiais. Vale recordar dois episódios, um hilário e outro que guardo com gratidão.
Terminado o IPM eu poderia sair do quartel mas como estava por chegar um Promotor do Superior Tribunal Militar para me re-inquirir para a instrução do processo junto ao STM, o encarregado do inquérito, Major Edísio Facó, sugeriu que eu ficasse no quartel entre os toques de recolher e o de alvorada. Criou-se um impasse: como ficariam meus pertences durante minha ausência? Na época eu estava no xadrez da Enfermaria e o Sargento encarregado encontrou a solução: trancou o cadeado e entregou-me a chave! Que eu saiba fui o único prisioneiro da história a ter a chave da cela!
O outro episódio se deu porque, apesar da incomunicabilidade, consegui que um soldado que terminara sua pena passasse um cabograma para meu pai avisando que eu estava preso. Meu pai era maçom tendo galgado todos os postos dentro da Ordem, menos o de Grão-Mestre. Mas o Grão-Mestre do Rio Grande do Sul era muito amigo e comunicou-se com o do Ceará, Sr. José Ramos Torres de Melo que foi me visitar sem poder falar comigo a não ser através do Chefe da S2 e quando saí tratou-me com um pai, emprestou-me a quantia que eu precisava para retornar ao Sul sem me permitir sequer passar um recibo – “entre irmãos isto não é necessário, sei que seu pai me pagará”. Muitos anos depois, já nesta luta “do outro lado”, vim a saber que se tratava do pai do General Francisco Batista Torres de Melo, Presidente do Grupo Guararapes.

DE VOLTA

De 66 – ano da Conferencia Tricontinental de Havana e da fundação da Organización Latino Americana de Solidaridad (OLAS) - a 68 participei, no Sul, das intensas discussões clandestinas sobre a luta armada conduzidas por militantes da AP treinados em Pequim. Em janeiro de 68, 11 meses antes da edição do AI-5, a luta foi implementada por todas as organizações revolucionárias, menos o PCB. A AP “rachou”, eu fiquei do lado contrário à maluquice da luta armada. Logo depois, mudou o nome para Ação Popular Marxista-Leninista do Brasil, o que já estava previsto no citado documento secreto desde 63/64. Como vários autores mais credenciados já têm se manifestado sobre isto, não vejo necessidade de mais para deixar claro que o AI-5 não passou de uma reação ao incremento das atividades revolucionárias, e não o oposto, como reza a “história oficial”.
Um outro fator a influenciar minha decisão de sair foi quando, numa reunião do “Comando Zonal Sul - RS”, discutia-se o caso de um militante recém “ampliado” que, por força de nosso apoio tornara-se Presidente de um importante Centro Acadêmico e dava mostras de “fraqueza ideológica” e independência de pensamento. Passou-se a discutir se num processo revolucionário aberto, que estava em preparação, alguém teria coragem de matar um “companheiro” ou ao menos dar a ordem para isto. Eu disse que teria coragem de dar a ordem. No momento, até a mim mesmo pareceu uma bravata, mas, mais tarde, pensando comigo mesmo fiquei horrorizado com a possibilidade de chegar a um ponto em que isto se tornaria inevitável: numa situação plenamente revolucionária pode chegar o momento do “ou ele ou eu”. Isto aconteceu em final de 1967; logo em janeiro de 1968 fomos informados das preparações para a “luta armada contra a ditadura”. Era a hora de dar o fora, o que fiz não sem sofrer ameaças por parte de meus antigos “companheiros”.
Anos depois, ao re-encontrar a esposa de um antigo “companheiro”, ela me contou que o mesmo tinha passado para a clandestinidade tornando-se um revolucionário profissional. Ela o acompanhara até o momento em que ele lhe mostrou a “necessidade revolucionária” de estar disponível para satisfazer sexualmente outros militantes clandestinos que não tinham como fazê-lo sem risco, fora da organização. Profundamente decepcionada ela o abandonara e voltara para sua cidade e sua família. Mas não pensem os leitores que isto é uma exceção: é a regra!
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O estranho em tudo isto é que a esquerda vocifera com tremendo estardalhaço a necessidade de serem abertos os “arquivos da ditadura”. Apesar de estarem no poder e terem autoridade para obrigar os Comandos Militares a abri-los, apenas seguem vociferando. Conheço inúmeros militares que desejam ardentemente que estes documentos sejam abertos, mas não podem fazê-lo sem ordem superior. Um deles, o Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, vem tentando inutilmente discutir os fatos ocorridos naqueles tempos e não rejeita ser acusado; o que pede – e é de seu pleno direito – são provas e não boatos, fofocas, meros testemunhos sussurrados nas universidades, nas redações e nas reuniões sociais do jet set! Porém, parece que a intenção da esquerda é julgá-lo a priori, antes de ser condenado, só porque pertenceu à odiada “comunidade de informações”.
Quem teme a abertura que tanto pedem by lip service são os que construíram esta mentira em toda a América Latina; temem que as novas gerações descubram que foram seus atos terroristas que levaram à auto-defesa dos governos militares das décadas de 60-70, e não ao contrário.
Os soldados brasileiros não têm de que se envergonhar. Comemorem o seu dia!

Nota do autor: Este artigo é uma versão revisada e ampliada de outro já publicado aqui (Desfazendo alguns mitos sobre 64).

quarta-feira, agosto 29, 2007

Recomendo vivamente..

o texto de Pedro Sette Câmara sobre Bruno Tolentino quando se completam dois meses do falecimento desse.

quarta-feira, agosto 22, 2007

Dois pesos e duas medidas

Aristóteles Drummond
aristotelesdrummond@mls.com.br

Nada mais parecido com o tipo de dialética praticada nos tempos do estalinismo do que o episódio envolvendo os dois pugilistas cubanos. Uma onda cínica tenta ocultar um fato mais do que grave, vergonhoso.

Uma ocorrência normal não faria com que um governo de país reconhecidamente pobre fretasse um avião para buscar dois de seus cidadãos. Não poderiam esperar o vôo comercial que liga Havana a São Paulo? Qual a dúvida de que estaria havendo uma forte pressão sobre as famílias em Havana e uma conivência abominável em Brasília?

No caso Olga Benário, cercado de inverdades, inclusive quanto à participação do então Chefe de Polícia e futuro senador Filinto Müller, um grande brasileiro que presidiu o Senado e foi líder de dois partidos majoritários naquela casa (PSD, com JK, e ARENA, com Costa e Silva), houve julgamento pelo Tribunal de Segurança, presidido por um jurista da estatura de Vicente Rao. A mais, a Alemanha de 1936, quando se deu o fato, vivia seus últimos momentos de democracia e a comunista companheira de Prestes na Intentona de 35 era condenada por crime de morte, que, aliás, nunca negou. Mas a história procura apresentar o presidente Getúlio Vargas como o homem que entregou a militante que aqui chegou a serviço da União Soviética a campos de concentração que só foram criados em 1942.

Os dois pugilistas estão sendo punidos. Não mais poderão sair do país, que, todos sabem, é uma prisão. Fidel é homem rigoroso no ódio e na punição aos que ousam preferir a liberdade. E não tem escrúpulos em castigar as famílias dos que aproveitam a primeira oportunidade para a fuga, como, aliás, ocorreu com dois outros atletas. Estes, no entanto, foram mais rápidos e trataram de sair logo do Brasil, que começa a ganhar feições cubanas e venezuelanas nesse particular.

A reação internacional está aí. Aqui, embora constrangidos por se tratar de contrariar o “Comandante”, boa parte da imprensa já se manifestou além dos editoriais. No Congresso, um grupo de combatentes clama, comandados pelos senadores Heráclito Fortes e José Agripino Maia.

Os senadores sabem que a nota do Ministério da Justiça e as entrevistas dos infelizes atletas possuem a mesma autenticidade e credibilidade do que as operações agropecuárias do presidente do Senado e de sua distância de meios de comunicação em Alagoas. E o país a tudo assiste triste e revoltado, pois se joga com a opinião pública como se esta fosse formada por pessoas com inteligência no limite na imbecilidade.

Para emendar as situação, só mesmo o desafio a Castro de permitir a visita dos dois a nossa Embaixada, para uma conversa com senadores brasileiros. Se possível, com membros da Anistia Internacional e do Comitê Olímpico Internacional.

É preciso que o governo reconheça que houve precipitação no tratamento do assunto. Não se deixa embarcar, em avião fretado, para um país conhecido pelas prisões e por impedir o direito de ir e vir de seus cidadãos, como foi feito. Afronta a todos este tipo de entrega. A América Latina já conviveu com dezenas de ditaduras ao longo de sua história, mas a única que impede a saída dos descontentes é a cubana.

No Brasil, quando um grupo dominado por ódios tais que foram levados à violência, surgiu o movimento do “Brasil: Ame-o ou deixe-o”. Fidel não teria coragem de lançar igual movimento. Ficaria, certamente, com meia dúzia em torno de sua fantasia. Na Europa também, só as ditaduras comunistas erguiam muros e abatiam os que tentavam pular a fronteira. Nos regimes fortes de direita, como os vividos por Portugal, Espanha, Itália e Grécia, nunca se impediu o cidadão comum de sair, como, aliás, muitos o fizeram, inclusive judeus alemães até o inicio da guerra..

Esses fatos precisam ser meditados. Neste milênio, não podemos conviver com a farsa, a mentira, a hipocrisia. A mais, vivemos um momento que supostamente é de liberdade, respeito aos direitos humanos, à ordem e à lei. O episódio foi lamentável.Precisa ser melhor esclarecido e a vida dos dois infelizes em Cuba acompanhada de alguma forma pelos brasileiros.

terça-feira, julho 24, 2007

Saite ( ou sítio ) Língua Brasil

Adicionei na lista de links ao lado o site Língua Brasil, desenvolvido por Maria Lucia Piacentini. Lá se pode tirar várias dúvidas de português. Vou até dar uma olhada para saber se essa última frase está correta.

A escrita de Otto Maria Carpeaux

por José Carlos Zamboni, como parte do ensaio Amigos e inimigos do Carpeaux ( ver em http://br.geocities.com/jc.zamboni/ )

Se o estilo é o homem, e por ele se conhece o autor, a escrita enxuta de Carpeaux, admiravelmente limpa de retórica, não poderia ser opção de um homem moralmente desqualificado: há outras alternativas estilísticas para esse tipo de gente.

João Ribeiro, grande escritor e não menor caráter, afirmava que “o verdadeiro estilo, o estilo do homem de gênio, em certa maneira é falho e pobre de beleza e de outros agrados; porque no estilo é cousa muito principal o caráter e é raro que um homem de caráter seja de trato amável. Assim o estilo. Cícero escrevia excelentemente, mas não há estilo seu, porque é fora de dúvida que foi um mau caráter e um bandoleiro político. Tácito, ao contrário, não tem a pompa de Cícero, os seus períodos são breves e atalhados como que de cólera: mas deixou um estilo e era ao mesmo tempo grande homem de caráter.” (Páginas de estética)