quarta-feira, outubro 15, 2008

Esboço de uma Teoria do Poder -- III

O Estado é a organização político-jurídica da sociedade. Sendo assim, o Estado é uma estrutura, ele não tem existência real, nem pode concretamente exercer o poder. Dizer que o Estado é um poder sobre o indivíduo ou um grupo social, é apenas uma maneira de dizer, uma metonímia, o importante é saber quem de fato exerce o poder.

Tal como o conhecemos hoje, o Estado é uma estrutura tripartite, nascido sobretudo das idéias iluministas de Montesquieu. Muitos comentaristas políticos caem no erro de pensar a política internacional em termos de Estado-nação ou Poder Nacional tão somente, escapando-lhes a atuação de forças cujos interesses não são necessariamente nacionais. O maior exemplo disso são os Partidos Comunistas, que além de atuar dentro de seus países, juntam forças no plano transnacional através das Internacionais Socialistas ou do Foro de São Paulo, para citar um caso próximo aos latino-americanos.

Ademais, grupos como o Conselho das Relações Exteriores nos EUA ou a Monarquia Britânica ultrapassam e moldam o Estado de uma nação, sendo que o primeiro pode até se contrapor aos interesses da nação onde tem origem. A Monarquia Britânica, como já foi explicado nesse sítio, tem interesses que perduram por gerações, e sem que se atente para essa peculiaridade não é possível compreender o exercício do poder britânico. As famílias tradicionais que formaram através dos séculos corporações financeiras cuja riqueza é incalculável constituíram centros de poder sem deixar seus negócios no mercado. A família mais poderosa do mundo, de origem judaica-européia, é a Rotschild. O Conselho das Relações Exteriores nos EUA foi formado por famílias americanas deste tipo.

Flaubert conta no romance Salammbo a anedota de dois mercenários que ao fim de uma guerra traçam planos para o seu futuro. Um deles pretende ter um pedaço de terra e um arado. O outro apenas mostra sua espada e diz: "Este é o meu arado."

Essa história mostra que o poder militar tem primazia sobre o econômico. De nada vale produzir se alguém roubar a sua produção. Sendo assim, o poder econômico só pode existir respaldado pelo poder militar. As próprias trocas comercias, quando ocorrem em larga escala, além é claro da confiança mínima que deve existir entre os negociantes, requerem o amparo legal, que nada mais é do que a imposição da força física sobre a parte que porventura decida descumprir o contrato.

Disse Camões:

"Diz-lhe que mande vir toda a fazenda
Vendíbil que trazia, para terra,
Para que, devagar, se troque e venda;
Que, quem não quer comércio, busca guerra.
Posto que os maus propósitos entenda
O Gama, que o danado peito encerra,
Consente, porque sabe por verdade
Que compra com a fazenda a liberdade."

(Os Lusíadas, Canto VIII, 92)

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