sexta-feira, julho 31, 2009

Wilber sobre a modernidade

"O que está acontecendo aqui? Como pode ser que algo universalmente difundido num ponto de nossa história coletiva tenha sido sumariamente apagado no ponto seguinte? É um cenário estonteante, comparável em grau máximo, à sua maneira, à extinção dos dinossauros. A noção mais espalhada da história e pré-história humanas (nomeie-se, a existência de alguma espécie de dimensão espiritual) foi simplesmente declarada, com a autoridade acachapante da ciência, estampada com um zelo inversamente proporcional à sua credibilidade, uma alucinação coletiva massiva. A dimensão espiritual, anunciou-se solenemente, não passava de um desejo de realização de necessidades infantis (Freud), uma ideologia opaca para oprimir as massas (Marx), ou a projeção de potenciais humanos (Feuerbach). A espiritualidade, portanto, é uma profunda confusão que parece haver devastado a humanidade por, aproximadamente, um milhão de anos, até há bem pouco tempo, alguns séculos atrás, quando a modernidade prestou obediência à ciência sensorial, e decidiu de pronto que o mundo inteiro continha apenas matéria, ponto final.

A desolação da proclamação científica moderna é deprimente. Naquela extraordinária jornada da matéria para o corpo, daí para a mente, depois para a alma, até o espírito, o materialismo científico parou a jornada logo no primeiro estágio, e proclamou que os desenvolvimentos subseqüentes não passavam de arranjos de poeira esvoaçante. Como essa poeira se levantaria e numa eventualidade começaria a escrever poesia não foi explicado. Ou então, explicou-se pela chance furtiva ou pela seleção ao acaso, como se acaso e chance fariam um Shakespeare. (...)" (WILBER, Ken. Integral Psychology, 2000, p. 55)

"Houve muitas respostas à pergunta, O que é a modernidade? A maioria delas é negativa. A modernidade, diz-se, marcou a morte de Deus, a morte dos deuses, a mercantilização da vida, a igualdade forçada de distinções qualitativas, as brutalidades do capitalismo, a substituição da qualidade pela quantidade, a perda do valor e do sentido, a fragmentação do mundo em que vivemos no dia-a-dia (fragmentação do Lebenswelt), medo existencial, industrialização poluente, um materialismo rampante e vulgar -- respostas as quais com freqüência foram resumidas na frase já famosa de Max Weber: "o desencantamento do mundo."

Sem dúvida existe alguma verdade em todas essas respostas, e precisamos dar-lhes a consideração devida. Mas também houve claramente aspectos positivos da modernidade, pois ela nos deu igualmente a democracia liberal; os ideais de igualdade, liberdade e justiça, sem consideração por raça, credo ou gênero; a medicina, física, biologia e química modernas; o fim da escravidão; o surgimento do feminismo; e os direitos universais da humanidade. Estes aspectos, com certeza, foram algo de mais nobre do que o mero "desencantamento do mundo."" (WILBER, Ken. Integral Psychology, 2000, p. 59)"

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Tradução minha

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A Wilber, faço apenas a observação de que o feminismo pode ser uma ideologia, e como tal algo ruim, quando pretende, nas palavras de Dinesh D'Souza que aqui subscrevo, "crer no valor do trabalho como maior que o valor do lar", e não como valor a ele complementar. Entretanto, o reconhecimento gradativo de homens e mulheres como seres iguais perante o Pai Universal de fato é uma conquista.

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