quarta-feira, maio 06, 2009

Lendo Mário Ferreira dos Santos

Apenas na mente do homem é possível fazer a distinção sobre a singularidade ou universalidade de um ente. A essência, antes de existir, tem a potencialidade de determinar, é um determinante possível, como pensamento de Deus, sem existir.

Uma vez que atualiza a matéria e passa a existir, a essência não ganha uma qüididade distinta, ao revés, ela continua sendo o que sempre foi, mas cumpre sua causa final, qual seja a de determinar a matéria. Ao fazê-lo, ela atualiza-se na matéria, e passa a existir na coisa concreta à qual dá o ser que faz dessa coisa o que ela é.

Uma vez determinada a coisa concreta, o homem pode distinguir essa essência de modo individual ou universal. Assim, Sócrates tem a racionalidade (universal) e a animalidade (universal), bem como a socraticidade (individual). O ato individualizante é condição para que a essência atualize a matéria, mas ele em si não é essência, pois se o fosse, determinaria outra espécie de ser, o que ele não faz, ele apenas traz a realidade última (ultima realitas entis) para a essência existir, é o filtro da essência, o "sopro de Deus" antes da essência existir determinando a matéria.

Como possível, antes da existência, a essência tem "natureza indeterminada quanto à individualidade, como quanto à universalidade, mas determinável por ambas", ou seja, quando ela sai do reino das possibilidades no ser e atualiza a matéria, ela pode, no pensamento racional -- e aí apenas -- ser distinguida como um universal -- a animalidade por exemplo -- ou como individual -- a socraticidade.

Não faz sentido dizer que a essência é singular ou universal. Ela o é sob certo aspecto, dependendo da análise de um ser racional que a pense como universal ou como individual, mas antes disso a essência existe como tal e é assim percebida por qualquer animal, racional ou não, o qual enxerga a humanitas de Sócrates, na qual se incluem as determinações universal e singular, imediatamente, sem necessidade da razão, a qual, por sua vez, servirá apenas para fazer as distinções formais da coisa. A essência humanitas de Sócrates tem consistência no ser antes de ser determinada na existência como ser individual e como um genérico da espécie animal racional. O pensamento referir-se-á ao mesmo objeto, a essência humanitas de Sócrates, porém a pensará como individual ou universal. Trata-se de uma distinção real, porque, além de fundada na coisa, deve sua distinção à própria coisa.

Outra seria a distinção quando dizemos que "Sócrates é filósofo e guerreiro." Essa distinção foi feita por nós com base em atividades distintas de Sócrates, porém, referindo-nos a Sócrates como filósofo e guerreiro, não nos referimos a suas atividades, mas a ele mesmo, e portanto tratamos de uma única e mesma coisa. É uma distinção conceitual.

Mas chega de filosofês para não sair fumaça da cabeça.

Qualquer erro por favor me corrijam.

PS: Aviso aos desprevenidos. O texto teve por base o capítulo A posição gnoseológica de Duns Scot, do livro Teoria do Conhecimento, porém a ele não se ateve.

PS II: Além da correção de eventuais erros, contribuições positivas são muito queridas.

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