quarta-feira, dezembro 31, 2008

Dance!

"Louvada seja a dança
porque ela liberta o homem do peso das coisas materiais
e une os solitários para formar sociedade.

Louvada seja a dança, que tudo exige, e fortalece a saúde, uma mente serena e uma alma encantada.

A dança significa transformar o espaço, o tempo, e o homem,
que sempre corre perigo de se perder, ser ou somente cérebro,
ou só vontade ou só sentimento.

A dança porém exige o ser humano inteiro, ancorado no seu centro, e que não conhece a vontade de dominar gente e coisas, e que não sente a obsessão de estar perdido no seu próprio ego.

A dança exige o homem livre e aberto, vibrando na harmonia de todas as forças.

Ó homem, ó mulher, aprenda a dançar senão os anjos no céu
não saberão o que fazer contigo."

Santo Agostinho (354-430)


Tenham um bom ano novo. Não deixem de dançar no próximo ano.

Ps: Créditos para Érico e Rachel, professores de dança.

segunda-feira, dezembro 29, 2008

Dica de filme

Se eu fosse você 2 segue a receita do primeiro filme. Glória Pires e Toni Ramos trocam de lugar um com o outro quando pronunciam a expressão que é o título do filme. Nessa continuação, os ingredientes são a gravidez da filha e uma tentativa (frustrada, não preciso dizer) de divórcio. O casal se verá em apuros para manter a reputação estando um no corpo do outro. Como pai de Olavinho, o namorado da filha, Chico Anysio está impagável. A direção cabe a Daniel Filho. Se eu fosse você 2 é leve, tipo de filme que o Brasil poderia fazer mais. Melhor do que muita comediazinha romântica americana.

domingo, dezembro 21, 2008

As Razões da (minha) Fé

por Stella Caymmi

Muitas vezes me perguntei como uma pessoa de fé poderia explicá-la para uma pessoa sem fé. Certa vez, já não me lembro quando, mas há muito tempo atrás, eu ainda era bem jovem, passando de carro pela Lagoa Rodrigo de Freitas em direção ao Leblon, eu pensava, não só olhando para o belo conjunto do espelho d'água e montanhas ao fundo, mas também para os edifícios que se enfileiravam ante meus olhos, que a vida não poderia ser só isto. “Só isto” eu entendia como aquela realidade vivida. Não podia ser só isto. Eu percebia na beleza das coisas algo tão especial que sobrava, que não se esgotava naquilo que eu tinha diante de mim, mas, ao contrário, apontava para algo maior, infinitamente maior. Percebia também a grandeza do que era ser humano e poder ser sujeito desta contemplação.

Não é possível ter fé sem esperança. Há no ato de fé um otimismo muito próprio que aponta para o futuro, pois nada no presente parece ou pode sustentá-la. Me parece que longe de ser uma deficiência da fé sua incomunicabilidade, reside nisso sua maior e especial característica. A fé é individual, ainda que todos os que crêem creiam no mesmo Deus e na mesma Verdade. Deus é Uno e a Verdade é uma só. Mas a fé é incomunicável porque ela é pessoal, uma escolha do sujeito na sua individualidade, com todo o seu ser. Por isso ela é intransferível. Pode-se dar testemunho de fé, mas ela só é reconhecida por aqueles que aceitam a aventura solitária da fé. Existem tantas “fés” quanto pessoas, porque Deus fala conosco segundo nossa individualidade. Como Cristo acampou entre nós, o Espírito Santo faz morada no centro do nosso ser e se comunica conosco na nossa linguagem. Ele nos fala mais e melhor do que nós mesmos porque é do centro de nós que ele se faz presente e se oferece como mediador entre nossa vida terrena e nossa vida futura no céu. O único preço é desistirmos de sermos guiados pela força do nosso ego que é egoísta por natureza e que muitas vezes nos impede de enxergar as verdades fundamentais. Assim como necessitamos do sol para viver, precisamos do Espírito para nascer em Cristo, viver em Cristo, crescer em Cristo, morrer em Cristo e, finalmente, ressuscitarmos em Cristo.

Se temos fé é porque vemos em alguma medida a realidade à nossa volta tal como Cristo a vê. Se temos fé é porque Cristo habita em nós. E Cristo vem a nós se abandonamos a fé estéril, a pseudo fé, que temos em nós mesmos. É preciso esvaziar-se. A Fé se baseia em evidências invisíveis que não se apóiam em sentimentos ou certezas. Mas é algo que se impõe com a força da presença de uma rocha. O Senhor é minha rocha, meu Deus em quem eu confio. A evidência mais forte é aquela que nos diz que o que nos sustenta está fora de nós, é maior que nós. Que há algo que existia antes da minha existência e que existirá depois que eu partir, algo de uma grandeza avassaladora que apequena minh'alma e para a qual eu tendo, como na imagem da videira, porque sem ela não sei viver. Se houver sinceridade no coração essa evidência bastará. A Fé me move para Cristo porque é seu sangue que me sustenta para a vida eterna. Como se eu estivesse em coma e a única coisa que me mantém viva e em condições de Esperar é o sangue do Ressuscitado. E com ele ressuscitarei.

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Alexandrinos natalinos

Pelo arcanjo Gabriel foi anunciado
para o ventre da menina, que o recebeu.
José, muito aborrecido, permaneceu,
porém o arcanjo em sonho tirou-lhe o danado.

Foi a menina dá-lo a conhecer a prima,
o menino já era sabido de Isabel.
Ao se encontrarem João e Jesus, o céu
exclamou: "São os meninos que a terra animam."

Porém em Nazaré não puderam ficar
os pais do menino; Cesar queria o censo.
José, consigo levando Maria tenso,
à cidade de Davi não logra chegar.

Os dois terão que parar numa estrebaria.
É ali que o Mistério nascerá para o mundo.
O Filho de Deus tornado homem, pelos fundos
de um rochedo, dará início à sua travessia.

sábado, dezembro 13, 2008

A arte no Brasil

Num país que falta tanta coisa, faltam em primeiro lugar grandes homens, e os grandes homens precisam de beleza.

segunda-feira, dezembro 08, 2008

Dines sobre o acordo da Santa Sé com o Brasil

O renomado jornalista Alberto Dines dedicou o programa Observatório da Imprensa do dia 25 de Novembro ao tratado celebrado entre o Vaticano e o Brasil em viagem de Lula ao Estado Católico no começo de Novembro. Segundo Dines, a grande imprensa comeu mosca por não noticiar o tratado. A discussão do programa se deu em torno da laicidade da República Brasileira e da separação entre Igreja e Estado.

O conteúdo do tratado não confere em um momento sequer privilégios à Igreja Católica. Basta lê-lo para saber disso. Sendo assim, o único propósito do tratado só pode ser a ratificação dos direitos religiosos que já existem. É de se supor o interesse dos católicos romanos pelo tratado porque a Igreja Católica Brasileira sofre derrotas atrás de derrotas no âmbito jurídico. O tratado apenas impede a possibilidade de uma discriminação injusta, ao invés, como parecia pelo discurso do programa, de conferir privilégios à Igreja Romana.

Agora, Alberto Dines, jornalista tarimbado, seria justo também que você tivesse comentado sobre a "barriga coletiva," como você chamou a ausência da notícia do tratado na grande imprensa brasileira, no caso do Foro de São Paulo, o qual foi escondido do público brasileiro durante quinze anos pela grande imprensa e por observadores da grande imprensa como você.

sexta-feira, novembro 28, 2008

Diagnóstico da elite do segundo ciclo carioca

Os três colégios cariocas mais bem classificados na prova do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) do ano passado foram o São Bento, o Santo Agostinho e o Santo Inácio. O primeiro não aceita meninas nos quadros discentes, e por isso é bastante criticado, e os outros dois sofrem terrivelmente a influência da cantilena marxista.

O São Bento é um dos colégios mais antigos da cidade do Rio de Janeiro. Entre os formados no colégio, conta-se, por exemplo, o maior músico brasileiro, Heitor Villa-Lobos. O São Bento tem uma característica que o diferencia dos demais colégios da cidade. Ele oferece uma disciplina chamada cultura clássica, onde se aprende sobre as principais obras do gênio humano ocidental, o que torna os alunos beneditinos os mais cultos.

Santo Inácio e Santo Agostinho preparam fortemente seus alunos para os vestibulares e por isso contam muitos aprovados nas principais universidades do Estado fluminense. Entretanto, esses dois colégios, que são católicos, por terem abraçado sem reservas a ideologia utópica da esquerda, relegaram ao segundo plano os valores fundamentais da convivência humana, adotando em seu lugar valores que têm por égide a ultra-complacência para com criminosos ou, usando um termo cristão, para com o pecado. Muitos alunos formados nos colégios Santo Inácio e Santo Agostinho se tornam ateus ou agnósticos.

Seria injusto dizer que o São Bento está livre da influência marxista, porém ali o respeito pela obra clássica salva os alunos, os quais estão aptos a procurar por si as melhores idéias para norteaream suas vidas. Nos outros dois, embora letrados, os alunos sofrem de um certo 'cansaço moral' que os torna insensíveis à busca da verdade e também do belo.

Já que estamos falando de colégios católicos, é o caso de rezar pelo surgimento de colégios fortes e moralmente ricos. Antes que Stravoguine diga "Tudo me aborrece" ou Brás Cubas conte enfastiado (mesmo sem ter nada para fazer) a sua vida de fracassos, que tal seguir com Sócrates o caminho das pedras da verdade doa a quem doer? Clama o fantasma o juramento daqueles que devem perseguir a justiça, contra o novo rei embora.

sexta-feira, novembro 21, 2008

Bobagens de Inagaki

Alexandre Inagaki, que escreve o blogue Pensar enlouquece, disse bobagem ao comemorar a vitória eleitoral de Barack Obama em texto do dia 5 de novembro. No primeiro parágrafo, que aqui quero comentar, ele aponta a herança maldita que o próximo presidente terá que enfrentar. Segundo Inagaki, Bush é "um homem fraco e desastrado capaz de se engasgar com pretzels, deixa como legado a pior crise econômica desde o crash de 1929 e um país às voltas com os desafios impostos pela crise ambiental, tropas enredadas no Iraque, um sistema de saúde arruinado e a sombra do terrorismo que não se dissipa desde aquele dia 11 de setembro de 2001."

Bush pode ser um homem fraco porque em várias oportunidades evitou o confronto com seus adversários políticos democratas quando esses flertavam com os inimigos declarados dos EUA e aceitou ser o presidente norte-americano que colocou em marcha o plano do Conselho das Relações Exteriores de unir seu país ao México e Canadá, plano esse que não seria aprovado pelo povo americano se consultado.

Mas ô Inagaki, diminuir a figura de W. Bush dizendo que ele é capaz de se engasgar com pretzels é falta de honestidade. Você nunca se engasgou? Você acha que o fato de um homem da idade de W. Bush se engasgar denota algo contra a sua capacidade?

Os demais argumentos, com exceção da crise ambiental, que ninguém sabe ao certo se existe, e do sistema de saúde arruinado, tema o qual não estudei, foram tratados ou por mim, no artigo O saldo de George W. Bush, ou por Stephen Kanitz, no artigo A recessão deverá ser curta, e por isso remeto os leitores a esses dois textos.

quinta-feira, novembro 20, 2008

Numa República das Américas...

Presidente: Os senhores terão pão e terra farta.

Cidadão: Vossa Excelência, não faça promessas vãs.

Presidente: Quem lhe deu o direito de me chamar de Vossa Excelência? Não se dirija à minha pessoa dessa maneira.

Cidadão: Mas Vossa Excelência (ôps)...

Presidente: Olha aqui, Excelência é a sua mãe.

Cidadão: Obrigado, Vossa Excelência.

Presidente: Páre de me chamar de Vossa Excelência, eu sou um peculatário, ouviu, um peculatário, com muita ciência do meu valor.

Cidadão: Ok, Senhor Presidente. Hoje é dia da consciência negra, o senhor crê que devemos adotar alguma política para corrigir o atraso moral?

Presidente: Não me venha falar de consciência negra, seu rapaz. Sabe muito bem que eu tenho a consciência limpa, sei muito bem o que faço com o dinheiro público. Atraso moral, onde já se viu?

Cidadão: Mas presidente...

Presidente: Nem mais nem menos. Ponha-se para fora deste recinto.

O cidadão sai sem conseguir se explicar. O Presidente volta para seu assessor.

Presidente: Eles acham que eu caio em armadilhas desta natureza. Que vão zombar da inteligência da oposição.

terça-feira, novembro 18, 2008

Quem é William Ayers?

William Ayers é um ex-terrorista do grupo Weathermen contra a guerra do Vietnã que participou de ataques a bombas a prédios públicos em Washington e outras cidades nos anos 70. Depois, se tornou um respeitado professor na Universidade de Illinois, Chicago. No ataque de onze de setembro, disse que não lamentava o que acontecera e que a Al-Qaeda não fizera o bastante. Enquanto líder da comunidade onde mora, Barack Obama o procurou para conseguir seu apoio à campanha para senador de Illinois. Ele é considerado um amigo de família. Obama condenou os ataques terroristas de que William Ayers participou.

segunda-feira, novembro 17, 2008

Frase

O fanatismo consiste em redobrar os esforços quando você esqueceu o objetivo.
Autor: Samuel Johnson

Efeitos do Politicamente Correto

Se Borges, como ele mesmo disse antes de morrer, não era cego, mas não-vidente, ou se Barack Obama não é mulato, mas afro-descendente, então Gisele Bündchen não é bela, mas fisicamente favorecida. Eu, no entanto, prefiro abençoada por Deus. E vocês, o que sugerem?

quarta-feira, novembro 12, 2008

Kanitz na mosca

O único sujeito que me faz entender alguma coisa de economia é Stephen Kanitz. Leiam o novo texto dele sobre a crise fincanceira nos EUA.

terça-feira, novembro 11, 2008

Padre Paulo Ricardo lança o primeiro livro da série terapia das doenças espirituais



Lançado o primeiro livro do padre Paulo Ricardo sobre a terapia das doenças espirituais. Na introdução, ele conta que encontrou nos Santos Padres, chamados os Pais da Igreja, a resposta para o problema que o afligia acerca do ensinamento da cura das doenças espirituais, as quais são: gula, luxúria, avareza, as três primeiras tratadas neste volume, ira, tristeza, acídia, vanglória e soberba. Diz o Padre que a representação habitual de Cristo com a face misericordiosa é parcial. Jesus Cristo não foi apenas o homem que perdou os pecados e a fraqueza humana, mas também quem expulsou irado os vendilhões do tempo. Jesus exige de nós comprometimento e esforço.

"Inspirada pela cena do Juízo Final (Mt 25, 31-46), a arte sacra representa Jesus com a feição ao mesmo tempo misericordiosa e irada. É o rei-juiz que diz aos que estão à sua direita: “Vinde benditos!”; e aos da esquerda: “Apartai-vos, malditos!”. Reúnem-se num só rosto, de forma paradoxal, as duas formas de Deus nos amar: a compaixão e a ira." (RICARDO, Paulo. Um olhar que cura. Introdução)

O livro pode ser adquirido aqui.

A pintura no alto é de autoria de Hieronymus Bosch e se chama Os Sete Pecados Capitais e as Últimas Quatro Coisas. Ao centro do círculo, Jesus emerge de sua tomba. Embaixo, uma frase em latim afirma 'Cuidado, cuidado, Deus vê.' Mais embaixo, no círculo, mostra-se o pecado da ira, seguido, no sentido do relógio, da inveja, ganância, gula, preguiça, luxúria e orgulho. Os quatro círculos nas extremidades significam A Morte, o Julgamento, Inferno e Glória.

segunda-feira, novembro 10, 2008

O saldo de George W. Bush

O presidente norte-americano George W. Bush deixará o cargo de presidente do país tendo evitado ataques terroristas no território norte-americano desde o onze de setembro, ataque o qual foi gestado sobretudo durante a administração Clinton.

Sobre a guerra no Iraque, Bush terá evitado a morte de 108.647 civis iraquianos, segundo dados de junho de 2007, caso Sadam Hussein não tivesse sido deposto. Tomando-se o total de civis mortos produzidos pela ditadura de Hussein desde 1979 até 2003 e fazendo uma regra de três para compará-lo com o números de civis mortos durante a guerra e ocupação norte-americanas, tem-se que o número acima referido de civis foram salvos. Veja a explicação e as contas aqui.

Sobre a economia, o presidente eleito Barack Hussein Obama herdará de George W. Bush uma crise financeira de grandes proporções. Entretanto, não é correto imputar a culpa da crise apenas nos ombros de Bush, posto que a atuação de congressistas norte-americanos, incluído entre eles o ex-senador Barack Obama, no sentido de impedir a regulamentação das organizações financeiras que emprestavam a grupos sociais com alto risco de calote, contribuiu para incentivar a chamada 'farra do crédito.'

A respeito das responsabilidades dos agentes públicos na prevenção, monitoramento e redução de danos do desastre causado pela passagem do furacão Katrina, não fui capaz de reunir informações o bastante para emitir um julgamento.

sábado, novembro 08, 2008

Programa de TV

Amigos, essa quarta-feira estarei na Rede Vida sendo entrevistado pelo jornalista Aristóteles Drummond. No programa, conversaremos sobre o desejo do Paraguai de rever contratos da usina de Itaipu, sobre o regime militar, Cuba, o movimento estudantil hoje e o PSDB. O programa vai ao ar às onze e trinta da noite. Não percam!

O bronzeado de Obama

O presidente eleito dos Estados Unidos da América, Barack Obama, deve ter pego muito sol e praia no Havaí, estado onde nasceu, se é que nasceu lá, pois se recusa a apresentar sua certidão de nascimento ou qualquer comprovante de que tem a nacionalidade norte-americana. Sua avó paterna, que apareceu comemorando na TV a vitória eleitoral do neto dileto, afirma ter presenciado seu parto no Quênia, país de origem do pai de Obama. Mas isso não vem ao caso. O bronzeado Obama foi chamado também de bonito e jovem pelo primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, que, como sabemos, vez ou outra diz algo que não soaria bem se sáido da boca de um primeiro-ministro britânico com maneiras solenes. Mas Berlusconi não é britânico e tampouco mede suas palavras como manda o pensamento politicamente correto. Por isso mandou às favas os cidadãos que implicaram com seu discurso, chamando-os de imbecis. Berlusconi preferia McCain porque trata-se de um homem mais velho que ele, e então não ostentaria nos encontros de cúpula dos países o título de mais idoso, mas foi eleito o bronzeado Obama e ele o chamou de jovem e bonito. A mim está muito bem que seja assim e quem não gostar, que vá colher batatas para o vencedor.

quinta-feira, novembro 06, 2008

Peraí, pausa!

José Carlos Zamboni está esculachando. Vocês têm que ler o blog do homem.

quarta-feira, novembro 05, 2008

Obamídia

Arnaldo Jabor já se remexeu de tiririca na bunda ontem. Reinaldo Azevedo respondeu bem. Outro que aderiu de corpo, alma e cachorros soltos foi Sergio Besserman Vianna, a quem era possível inclusive admirar por textos escritos para a finada (e ainda chorada, pelo menos por mim) revista Primeira Leitura, a qual contava com jornalistas do calibre de Eduardo Simantob e do maior deles, Hugo Estenssoro (este, quando a revista acabou, não foi chamado para escrever regularmente em uma única publicação brasileira sequer, o que demonstra o estado das coisas, como diria o político ranheta). Muito bem, depois da Obamania e da desavergonhada cobertura da Obamídia mundial e brasileira em particular, por favor, senhores adoradores de Obama, recolham seus fantasmas e sigam com um mínimo de respeito por si mesmos. Certos atributos a gente disfarça, não sai por aí anunciando a torto e direito.

Não sei se rio ou choro de Arnaldo Jabor. Ai Senhor, pelo menos se ele fosse o David Mamet, dramaturgo norte-americano que, vendo o ponto a que a esquerda chegara, reconheceu que não era de esquerda coisa alguma.

Síndrome do Cérebro



-- Cérebro, o que vamos fazer hoje à noite?

-- A mesma coisa que fazemos todas as noites, Pink, tentar dominar o mundo.

Agora que Barack Hussein Obama foi eleito presidente dos Estados Unidos da América (nossa, que legal, ele é o primeiro presidente negro da história, uhhhuuuuu), convém dizer que a síndrome do Cérebro se alastrará mundo afora. Vocês devem se lembrar do desenho dos dois ratos de laboratório, sendo um um bobão completo e o outro um ultra-talentoso megalomaníaco. Bom, deixando as rédeas soltas para ditadores latino-americanos, fascínoras islâmicos, megainvestidores sem qualquer peia moral, a julgar pelos discursos de campanha, Obama fará pulular pequenos Cérebros. Eu, aqui, humildemente, direto da minha cidade natal, que tem um Cristo Redentor, tentarei, à moda Pink se preciso for, fazer os planos do Cérebro saírem pela culatra.

Pôxa, está na hora de parar de querer transformar o mundo, ele já é complicado demais, se for mexer muito, aí já viu...

terça-feira, novembro 04, 2008

Lista de leitura do St. John's College Primeiro Ano

Caros, essa é a lista de leitura do St. John's College da temporada 2008-2009 para os estudantes do primeiro ano. A universidade americana tem um curso de leitura prestigiado das obras clássicas do gênio humano ocidental, onde os alunos ficam três dias em casa lendo a obra da vez e vão para sala de aula discutir a obra lida sob a mediação do professor.

Embora a lista seja americana, especialmente nesse primeiro ano, ela serve para qualquer país do planeta. Nos dois últimos anos é que se fará sentir o fato de a lista ser destinada ao alunado americano. Mas quando chegarmos lá, procurarei dar algumas dicas para suplementar o currículo com as obras que não podem faltar para o brasileiro.

Homero,
Ilíada livros 1-6

Ilíada livros 7-12

Ilíada livros 13-18

Ilíada livros 19-24

Homero,
Odisséia livros 1-8

Odisséia livros 9-16

Odisséia livros 17-24

Ésquilo,
Agamenon

Ésquilo,
Coéforas e Eumênides

Heródoto,
História I; III, 37-38

História V, 62-78; VI, 94-140; VII, 1-60, 99-final

História VIII, IX

Platão,
Mênon

Platão,
Górgias 447a-481b

Górgias 481b-527c

Sófocles,
Antígona

Platão,
República I

República II-III

República IV-V

República VI-VII

República VIII-IX

República X

Aristófanes,
Nuvens

Platão,
Apologia e Críton

Platão,
Fedro 57a-89a

Fedro 89b-118a

Sófocles,
Édipo Rei

Platão,
Protágoras 309a-335d

Protágoras 335d-fim

Platão,
Teeteto 142a-187a

Teeteto 187a-210c

Ésquilo,
Prometeu acorrentado

Tucídides,
Guerra do Peloponeso I; II, 1-46

Guerra do Peloponeso II, 47-65; III, 1-86; IV, 1-41

Guerra do Peloponeso IV, 42-135; V, 1-26, 84-116; VI, 1-32

Guerra do Peloponeso VI, 32-105; VII; VIII, 1-18

Platão,
Fédon 227a-257c

Platão,
Fédon 257c-fim

Platão,
Banquete 172a-201c

Banquete,
201d-223d

Aristóteles,
Ética a Nicômaco I

Ética a Nicômaco II; III, Caps. 1-5(1109b30 – 1115a6)

Ética a Nicômaco III, Caps. 6-12 (1115a7-1119b19); IV, Cap. 3 (1123a33-1125a35); V

Ética a Nicômaco VI; VII, Caps. 1-10 (1145a15-1152a35)

Ética a Nicômaco VIII, IX, X

Sófocles,
Ajax

Aristóteles,
Política I; II, 1260 b27-1264 b26, 1266 a30-1269 a25

Política III; VII, 1323 a14-1326 b27

Lucrécio,
Sobre a natureza das coisas I-II

Sobre a natureza das coisas III-IV

Sobre a natureza das coisas V-VI

Platão,
Timeu 17a-53e

Newton,
Princípios matemáticos de filosofia natural Livro III O sistema do mundo

Aristóteles,
Física I, 184 a9-184 b14 e 189 b30-192 b7; II, 192 b8-195 b30

Física II, 195b31-200 b11

Física III, 200b12-202b29; IV, 217b29-224a16

Física III, 202b30-208a25; IV, 208a26-217b28

Física VIII, 250 b11-260 a19 and 265 a13-267 b27

Aristóteles,
Metafísica, Livro I (A) Caps. 1-2; Livro IV (Γ) Caps. 1-3

Metafísica Livro VII (Ζ) Caps. 1-5; Livro IX (Θ), Caps. 1, 3, 5-6; Livro XII (Λ), Caps. 6-10

Eurípides,
Medéia

Eurípides,
As Bacantes

Sófocles,
Édipo em Colônia

Aristóteles,
Poética

Sófocles,
Filocteto

segunda-feira, novembro 03, 2008

Sugestão de leitura

O artigo de Thomas Sowell Obama e a esquerda, para quem puder ler em inglês. Thomas Sowell é um homem admiradíssimo nos Estados Unidos da América; para mim, trata-se do melhor articulista do planeta. Aliás, ele é negro como Obama, mas jamais precisou ou quis usar sua cor de pele como fator de crescimento pessoal.

Faço votos que os norte-americanos tenham discernimento para escolher o seu presidente amanhã.

quinta-feira, outubro 30, 2008

Quer saber mesmo o que é aborto?

Então veja as fotos de bebês abortados nos segundo e terceiro trimestres de gravidez. Se depois disso você falar do direito da mulher sobre o próprio corpo, bom, azar o seu.

A criança roubada

por William Butler Yeats

Para onde pende a montanha rochosa
De Slewth Wood no lago,
Ali repousa uma ilha frondosa
Onde garças vibrantes acordam
Os modorrentos ratos d’água;
Ali nós escondemos nossas caixas de fadas,
Cheias de bagas
E das mais rubras cerejas roubadas.
Vem embora, ó criança humana!
Para as águas e para o mundano
Com uma fada, de mãos dadas,
Pois mais do que tu podes compreender, o mundo é cheio de [lágrimas.

(...)

tradução minha

sexta-feira, outubro 24, 2008

Diálogo irreverente e relevante

--Filho, vai estudar, garoto. Tá demorando muito tempo em frente do videogeime.

--Ah, mãe, eu já dei uma olhada na matéria. A prova é só na sexta. Eu consigo fazer.

--Você sabe que precisa estudar mais, você está se dedicando pouco. Sabe o que pode acontecer, o que você vai ser se não tiver estudos?

--Ora, mãe. O Presidente Lula não estudou muito e é presidente.

--!!!!!

quinta-feira, outubro 16, 2008

O ÚNICO ASSASSINATO DE LIMA BARRETO

por José Carlos Zamboni

Rua Luís de Camões. O céu com um ar de
Chuva. Sozinho estou e abraço o chão,
Na noite vinda antes do fim da tarde.
Dona Morte abre as pernas? Quero e não...

Antes dissesse resoluto: sim!
Mendigo de mim mesmo, o que me sobra
Deposito nas mãos da minha Obra,
Que sai correndo com pavor de mim.

Grão-Duque russo tonto de cachaça,
Assombração dum padre jacobino,
Sou um pobre diabo — e chove. Um cão que passa

Ladra um soneto sobre o meu destino.
A custo me ergo... Mas quem vem lá adiante?
Dom Policarpo com seu Rocinante?

Você esteve sempre na minha mente



Elvis Presley, o Rei, cantando Always on my mind, uma das canções mais bonitas que existe e bastante blue, para falar a verdade.

quarta-feira, outubro 15, 2008

Gullarizar

Estranheza do Mundo

por Ferreira Gullar

Olho a árvore e indago:
está aí para quê?
O mundo é sem sentido
quanto mais vasto é.
Esta pedra esta folha
este mar sem tamanho
fecham-se em si, me
repelem.
Pervago em um mundo estranho.
Mas em meio à estranheza
do mundo, descubro
uma nova beleza
com que me deslumbro:
é teu doce sorriso
é tua pele macia
são teus olhos brilhando
é essa tua alegria.
Olho a árvore e já
não pergunto "para quê"?
A estranheza do mundo
se dissipa em você.

Intenção paradoxal

por Victor Frankl

A logoterapia baseia a sua técnica denominada "intenção paradoxal" no fato duplo de que o medo produz aquilo de que temos medo e de que a intenção excessiva impossibilita o que desejamos. Em alemão, descrevi a técnica da intenção paradoxal em 1939, e nesta abordagem o paciente que sofre de fobia é convidado a intencionar precisamente aquilo que teme, mesmo que apenas por um momento.

Vou lembrar um caso. Um jovem médico me consultou por causa do seu medo de transpirar. Sempre que ele esperava uma emissão de suor, esta ansiedade antecipatória já era suficiente para precipitar a transpiração excessiva. Com a finalidade de romper este círculo vicioso, aconselhei o paciente a que, quando voltasse essa transpiração, deliberadamente mostrasse às pessoas o quanto ele conseguia suar. Uma semana depois ele voltou, relatando que sempre que encontrava alguém que nele provocava ansiedade antecipatória, dizia para si mesmo: "Antes eu só conseguia suar meio litro, mas agora eu vou despejar pelo menos cinco litros!" O resultado foi, depois de sofrer desta fobia durante quatro anos, com uma única sessão ele foi capaz de se libertar da mesma permanentemente, em questão de uma semana.

O leitor perceberá que este procedimento consiste numa inversão da atitude do paciente, uma vez que seu temor é substituído por um desejo paradoxal. Através deste tratamento tira-se o vento das velas da ansiedade.

Semelhante procedimento, entretanto, precisa fazer uso da capacidade especificamente humana do auto-distanciamento, inerente a um certo senso de humor. Esta capacidade básica da pessoa distanciar-se de si mesma entra em ação sempre que se aplica a técnica logoterápica chamada "intenção paradoxal". Ao mesmo tempo, o paciente é capacitado a se colocar numa posição distanciada de sua própria neurose. Li uma afirmação coerente como esta, no livro The Individual and His Religion, de Gordon W. Allport: "O neurótico que, aprende a rir de si mesmo pode estar a caminho da autonomia (self management), talvez da cura." A intenção paradoxal é a validação empírica e aplicação clínica da afirmação de Allport.

Retirado do livro Em busca de sentido, parte II, capítulo Logoterapia como técnica. Você encontra o livro em formato eletrônico aqui.

Esboço de uma Teoria do Poder -- III

O Estado é a organização político-jurídica da sociedade. Sendo assim, o Estado é uma estrutura, ele não tem existência real, nem pode concretamente exercer o poder. Dizer que o Estado é um poder sobre o indivíduo ou um grupo social, é apenas uma maneira de dizer, uma metonímia, o importante é saber quem de fato exerce o poder.

Tal como o conhecemos hoje, o Estado é uma estrutura tripartite, nascido sobretudo das idéias iluministas de Montesquieu. Muitos comentaristas políticos caem no erro de pensar a política internacional em termos de Estado-nação ou Poder Nacional tão somente, escapando-lhes a atuação de forças cujos interesses não são necessariamente nacionais. O maior exemplo disso são os Partidos Comunistas, que além de atuar dentro de seus países, juntam forças no plano transnacional através das Internacionais Socialistas ou do Foro de São Paulo, para citar um caso próximo aos latino-americanos.

Ademais, grupos como o Conselho das Relações Exteriores nos EUA ou a Monarquia Britânica ultrapassam e moldam o Estado de uma nação, sendo que o primeiro pode até se contrapor aos interesses da nação onde tem origem. A Monarquia Britânica, como já foi explicado nesse sítio, tem interesses que perduram por gerações, e sem que se atente para essa peculiaridade não é possível compreender o exercício do poder britânico. As famílias tradicionais que formaram através dos séculos corporações financeiras cuja riqueza é incalculável constituíram centros de poder sem deixar seus negócios no mercado. A família mais poderosa do mundo, de origem judaica-européia, é a Rotschild. O Conselho das Relações Exteriores nos EUA foi formado por famílias americanas deste tipo.

Flaubert conta no romance Salammbo a anedota de dois mercenários que ao fim de uma guerra traçam planos para o seu futuro. Um deles pretende ter um pedaço de terra e um arado. O outro apenas mostra sua espada e diz: "Este é o meu arado."

Essa história mostra que o poder militar tem primazia sobre o econômico. De nada vale produzir se alguém roubar a sua produção. Sendo assim, o poder econômico só pode existir respaldado pelo poder militar. As próprias trocas comercias, quando ocorrem em larga escala, além é claro da confiança mínima que deve existir entre os negociantes, requerem o amparo legal, que nada mais é do que a imposição da força física sobre a parte que porventura decida descumprir o contrato.

Disse Camões:

"Diz-lhe que mande vir toda a fazenda
Vendíbil que trazia, para terra,
Para que, devagar, se troque e venda;
Que, quem não quer comércio, busca guerra.
Posto que os maus propósitos entenda
O Gama, que o danado peito encerra,
Consente, porque sabe por verdade
Que compra com a fazenda a liberdade."

(Os Lusíadas, Canto VIII, 92)

quinta-feira, outubro 09, 2008

Não deixe de ler

a série de artigos Pensamento mágico e bom senso no sítio Contra Impugnantes. Simplesmente sensacional.

Esboço de uma Teoria do Poder -- II

Antes de falar dos partidos políticos, cabe aqui fazer uma observação sobre os Poderes previstos na Constituição, quais sejam os Executivo, Legislativo e Judiciário. Eles são poderes nominais, os quais derivam da organização do Estado. Por si só eles não são poderes efetivos, mas atribuições destes. Para além dos poderes nominais ou funcionais, está quem os exerce e sobretudo quem os cria, delineia e mantém. O Legislativo não é um poder efetivo sobre a sociedade; a criação de leis é um dos atributos e funções possíveis que o poder efetivo tem, outra é a administração de pessoas. Repetindo, portanto, as funções de legislar, executar e julgar não são o poder em si, mas expressões deste.

Sendo assim, os partidos políticos exercem poder na medida em que delineiam a organização do Estado e difundem as idéias que serão incorporadas nas leis da Nação e aplicadas pelo governante. Os partidos políticos, enquanto difusores de idéias, estão obviamente submetidos a outro Poder, o do clero secular, sem o qual não teriam idéias para difundir. Como o leitor já deve ter percebido, os poderes efetivos se mesclam e se hierarquizam entre si, segundo o seu caráter intelectual, de força física ou econômico. O poder derivado do carisma só existe no indivíduo, mas mesmo assim pode servir de trampolim para a ascensão de um poder grupal. Exemplo patente disso é a relação entre o atual presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva, homem de evidente carisma, e o Partido dos Trabalhadores, o qual sem ele estaria longe de usufruir do poder que ora possui.

Numa acepção política, o poder é a relação entre aquele que influencia e aquele que é influenciado.

(continua)

quarta-feira, outubro 08, 2008

Esboço de uma Teoria do Poder

São poderes efetivos na sociedade:

Impérios midiáticos
Sociedades Secretas
Liderança empresarial
Partidos Políticos
Intelectuais - Clero secular
Igrejas - Clero religioso
Exército

A Liderança empresarial exerce seu poder em conjunto através de organizações como a Firjan ou a Fiesp, ou individualmente, mediante lobby junto a congressistas e membros do Executivo.

Os Impérios Midiáticos são capazes de derrubar políticos e mudar de forma repentina ou mesmo ocultar a visão do público a respeito de um determinado fato. Talvez o exemplo mais forte do exercício desse poder é a frase do presidente norte-americano Johnson, que disse que a América não poderia perder o apoio a guerra no Vietnã do âncora de telejornal Walter Cronkite. A imprensa americana criou uma imagem de que a guerra estava perdida quando na verdade ela fora vencida. A Ofensiva do Tet foi um fracasso, mas as imagens de vietcongues tentando invadir a embaixada americana foram expostas ao público como sinal de uma situação militar desesperadora, o que não era verdade.

As Sociedades Secretas criam uma série de símbolos praticamente só conhecidos pelos integrantes das Sociedades, com exceção da mais famosa delas, a Maçonaria, cujos ritos são relativamente conhecidos por pessoas de fora da organização. Os membros das sociedades secretas se protegem entre si. Seu poder não é tão forte como querem fazer crer alguns, porém é efetivo.

Os intelectuais, a quem chamo de clero secular, e a Igreja, ou o clero religioso, criam as idéias, conceitos, imaginação popular e sons com que as pessoas pensam. Incluem-se entre os intelectuais jornalistas tarimbados, professores universitários e extra-universitários, escritores, poetas, músicos e artistas criadores em geral. Até esse escriba pertence ao clero secular, ainda que não tenha tanta influência. O clero religioso é formado por toda a sorte de membros da hierarquia das Igrejas, sendo os mais proeminentes o Papa, bispos, cardeais e padres, no caso da Igreja Católica Romana e os pastores em se tratando das Igrejas Protestantes. Estas são as autoridades religiosas mais poderosas no Brasil, embora haja outras.

Os Partidos Políticos...

(continua)

segunda-feira, outubro 06, 2008

Leibniz recomenda

Sobre esse post no sítio gropius, gostaria de dizer que o eleitor que não tem um candidato em quem votaria com certeza de escolha, deve procurar o bem possível, ou seja, dentro das alternativas que possui, escolher a melhor. É isso que fazemos a todo momento nas nossas vidas. É muito difícil mesmo que haja um candidato que nos agrade de verdade, e até mesmo o eleitor de países onde partidos de direita e esquerda existem para valer, como nos EUA, Espanha e Reino Unido, costuma ter que escolher conforme a oportunidade da eleição. Portanto, deixemos de lado aquela terrível ideologização que nos amargura e escolhamos o bem possível. Leibniz, o filósofo que acreditava ser este o melhor mundo possível, recomendaria isso.

O Incriado, por Vinícius de Moraes

(...)

De nada vale ao homem a pura compreensão de todas as coisas
Se êle tem algemas que o impedem de levantar os braços para o alto
De nada valem ao homem os bons sentimentos se êle descansa nos
[sentimentos maus
No teu puríssimo regaço eu nunca estarei, Senhora...

(...)

quinta-feira, setembro 25, 2008

Mulher


A linda jornalista Claudia Gurisatti apresenta o telejornal La Noche, na tv colombiana, onde senta o pau nos ditadores Chávez, Rafael Corrêa e Daniel Ortega. Baixe e veja um programa aqui.

quarta-feira, setembro 24, 2008

As vinhas da ira

Na parábola contada por Jesus sobre os trabalhadores na vinha, em Mateus 20, 1-16, duas lições vêm à mente:

A primeira é que não por estar há mais tempo seguindo os passos do Pai Celestial se possui mais direitos que o recém-chegado. É uma lição semelhante à do filho mais velho, o qual, mesmo por sempre ter sido fiel a seu pai, não deve reclamar pela festa que este faz quando o filho pródigo volta arrependido.

A segunda é uma defesa do liberalismo econômico, do respeito ao contrato. Não é porque o outro assalariado trabalhou menos que que ele deve receber menos. O que importa é o pacto entre o empregador e o empregado. Cada qual tem seu contrato.

Transcrevo a íntegra da passagem bíblica:

'Porque o reino dos céus é semelhante a um dono de casa que saiu de madrugada para assalariar trabalhadores para a sua vinha. E, tendo ajustado com os trabalhadores um denário por dia, mandou-os para a vinha. Saindo pela terceira hora, viu, na praça, outros que estavam desocupados e disse-lhes: Ide vós também para a vinha, e vos darei o que for justo. Eles foram. Tendo saído outra vez, perto da hora sexta e da nona, procedeu da mesma forma, e, saindo por volta da hora undécima, encontrou outros que estavam desocupados e perguntou-lhes: Por que estivestes aqui desocupados o dia todo? Responderam-lhe: Porque ninguém nos contratou. Então, lhes disse ele: Ide também vós para a vinha. Ao cair da tarde, disse o senhor da vinha ao seu administrador: Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, começando pelos últimos, indo até os primeiros. Vindo os da hora undécima, recebeu cada um deles um denário. Ao chegarem os primeiros, pensaram que receberiam mais; porém também estes receberam um denário cada um. Mas, tendo-o recebido, murmuravam contra o dono da casa, dizendo: Estes últimos trabalharam apenas uma hora; contudo, os igualaste a nós, que suportamos a fadiga e o calor do dia. Mas o proprietário, respondendo, disse a um deles: Amigo, não te faço injustiça; não combinaste comigo um denário? Toma o que é teu e vai-te; pois quero dar a este último tanto quanto a ti. Porventura, não me é lícito fazer o que quero do que é meu? Ou são maus os teus olhos porque eu sou bom? Assim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos [porque muitos são chamados, mas pouco escolhidos].'

Créditos para o padre José Roberto, da Igreja Nossa Senhora da Ressurreição, no bairro de Ipanema, Rio de Janeiro, que fez sua homilia explicando o significado da passagem bíblica.

Da segunda lição, porém, ele nada disse, fui eu que concluí assim.
Eu, se tivesse um filho, seria pelo motivo exclusivo de contar-lhe histórias. Como é bom contar histórias. E como é bom que contem histórias para a gente.

segunda-feira, setembro 15, 2008

Dica de filme

Vejam o filme Contos de Nova Iorque, que traz três histórias dos diretores Martin Scorcese, Francis Ford Coppola e Woody Allen. Os curtas revezam-se num crescendo de qualidade. O último, Édipo arrasado, de Woody Allen, é demais.

sábado, setembro 13, 2008

Os Desafinados, de Walter Lima Jr.

Esboço Crítico
por Anônima Veneziana

Apesar do elogio da crítica e do início promissor, Os Desafinados, novo filme de Walter Lima Jr., é uma decepção completa, sobretudo se considerarmos que o diretor e roteirista (o roteiro também é assinado por Suzana Macedo e Elena Soarez) desperdiçaram um belo elenco, um tema bom - de enorme apelo, ao tratar a Bossa Nova e o otimismo do fim dos Anos Dourados -, provavelmente um orçamento compatível, não encontrando enredo à altura. O filme é constrangedor e uma oportunidade perdida.

Os Desafinados cai brutalmente de ritmo quando deixa para segundo plano a carreira do simpático e bem humorado grupo musical e o acertado tom irreverente do início e investe em dramas pessoais sem a competência necessária, aventurando-se depois num drama político repleto de clichês - faltou um bom roteiro, repito. Nesse momento, o espectador nota a falha na escolha do elenco, principalmente no casal protagonista, dois grandes atores da nova geração, Rodrigo Santoro e Claudia Abreu, que não combinam e acabam por cair em desempenhos repleto de esquematismos, indignos da carreira de ambos. Certamente, não fizeram testes de câmera com os dois. Não necessariamente dois grandes e belos atores funcionam bem juntos. Foi o caso.

Outro grande equívoco é o clima francês do apartamento de Glória (personagem da Claudia Abreu) em plena Nova York, ainda que se possa justificar pelo fato de ela apresentar uma inclinação française e ter se refugiado em Paris tempos depois. Por que Nova York não pode ser Nova York? Será possível que afora o clube de jazz não poderiam mesclar traços da vida na big apple com personagens tipicamente brasileiros? Os únicos fatores que identificam os personagens como brasileiros são a língua e a música - ah, claro a saudade da rabada e da caipirinha (Ai meu Deus!). Figurino, cabelo, vinho, banho, cigarro, tudo em clima bem parisiense - o diretor nem parece brasileiro tantas são as referências francesas.

Os conflitos praticamente inexistem e quando aparecem são tratados preguiçosamente sem que o espectador esteja preparado para o que vem a seguir; eles caem de pára-quedas sobre sua cabeça. Simplesmente assim. Um exemplo disso é quando Glória descobre a existência de Luiza (Alessandra Negrini, que não merecia um personagem tão apagado), esposa plácida de Joaquim que está grávida esperando-o no Rio de Janeiro - uma fofa (com ironia, por favor)! O espectador desavisado já tinha se esquecido dela e provavelmente o próprio marido também. Uma cena curta de Joaquim conversando com um dos músicos da banda resolveria a questão da liaison.

Uma tendência irritante do cinema de hoje é enfeiar atores lindos, como Rodrigo e Alessandra. Só Claudia Abreu se salva. Santoro passa mais da metade do filme curvado. A lista de equívocos é imensa - ah, claro, tem de ter cenas de nudez e sexo e quase sempre gratuitas como a cena da banheira, mas isso a gente já sabe - mas vou apenas citar outro lamentável engano quando, lá pela metade do filme, tentam transformá-lo em drama político, aproveitando a história de Tenório Jr, músico desaparecido em Buenos Aires quando acompanhava Vinicius e Toquinho em temporada na cidade, para dar um fim ao pianista Joaquim (uma saída fácil para o fraco triângulo amoroso Joquim-Luiza-Gloria, quando o espectador inteligente se perguntava como seria resolvido o imbróglio). Os roteiristas fizeram um 3 em 1, uma colagem mal feita de vários filmes possíveis. Se a proposta ainda fosse uma versão para o cinema do experimento pós-moderno de Italo Calvino, em Se um viajante numa noite de inverno, a gente até engoliria. Mas nem isso. Uma pena.

...............

Comento:

Para complementar as críticas, a cena dos agentes americano de imigração é ridícula. Parecem os cassetas Fucker and Sucker. HAHAHA. Por fim, o filme que começou na linda praia do Rio de Janeiro terminou numa boate de strip-tese em Copacabana, em tom decadente e saudosista. O diretor se entrega.

Nada mais havendo a dizer sobre os estruturalismos, desconstrucionismos e pós-ismos (ou seriam possismos?), deixamos por encerrado esse esboço crítico dizendo que atores como Selton Mello (Dico) assim como o ator Artur Kohl, que representou o personagem Dico no presente, merecem filmes melhores para atuar (Boa Selton, a sua fala 'Entra lá, cara, tu é o pai.' é sensacional).

sexta-feira, setembro 12, 2008

Rússia cria uma Otan para a Asia central

Leia no blog darussia.blogspot.com, o qual é a melhor fonte de informação política sobre a Rússia que existe em português. Ao lado do Pacto de Xangai, organização de segurança que une os dois gigantes Rússia e China, entre outros, não parece haver disposição de entendimento entre Rússia e EUA, os dois inimigos da Guerra Fria. Somando-se a isso o apoio deliberado a países como a Venezuela e o Irã, a Rússia dá a clara indicação de que não pretende ser um poder de segundo plano. A Rússia jamais desistiu da idéia de ser a terceira Roma, a herdeira do império conquistado pelos bárbaros no primeiro milênio e em 1453 pelos turcos otomanos. A palavra czar em russo significa justamente césar. Os líderes da União Soviética nada mais fizeram do que liberar as forças destrutivas imperiais da Rússia despindo-a das peias morais cristãs. Depois do breve intervalo do fim da União Soviética e da confusão inicial que tal fato gerou, quando analistas do mundo inteiro, e não só comunistas, se viram órfãos do antigo esquema de poder bipolar da Guerra Fria, passado o governo Yeltsin, que foi 'esquecido' em favor do esquema de poder da antiga KGB, agora a Rússia retoma seu sonho imperial de conquistas.

O cadáver de Lenin nunca deixou o mausoléu da Praça Central e a figura de Stálin, depois do Congresso do PC do ano de 1954 que o condenou ao ostracismo acusando seus horrendos crimes, volta a ser reverenciada, tornando-se estátua inclusive.

O primeiro presidente dos EUA, George Washington, teve uma visão profética, contada pelo jornalista Wesley Bredshaw, ouvindo uma voz dizer-lhe que a União (EUA) passaria por três grandes perigos, sendo o terceiro o maior deles, mas que conseguiria vencê-los todos. Será o terceiro uma guerra aberta contra a Rússia?

segunda-feira, setembro 08, 2008

Frase

"No mundo real, quando você mata as pessoas, elas morrem."

Do filme Ameaça Virtual (2001), com Ryan Phillippe, Tim Robbins e Rachael L.Cook.

sexta-feira, setembro 05, 2008

Pensamentos sobre o Tabagismo

por Tiago Ramos.

publicado em folhasdispersas.blogspot.com

Diante da crescente mobilização popular anti-tabagista promovida em diversos lugares no mundo, normalmente orquestrada com apoio institucional de governos e campanhas milionárias, envolvendo desde processos judiciais, filmes e programas de TV até aquelas manifestações do dia a dia feitas por particulares reprovando os fumantes por, ora, fumarem, achei por bem dedicar algumas linhas ao assunto. Trato aqui da argumentos mas também de minha experiência pessoal, que acho pertinente a fim de mostrar diversos aspectos do problema e a fim, também, de sair abertamente “do armário” em relação ao meu próprio hábito.

Sendo batista de criação, e tendo por pai um professor de educação física, tudo que ouvi sobre o tabaco fazia-me crer que fumar um cigarro era pior do que abraçar o satanás. É que crente em geral não se preocupa tanto com coisas como mentir um pouquinho, falar mal de alguém pelas costas (com as mais santas intenções), trapacear no imposto de renda, ou outras coisinhas assim, mas se você passar a mão na mulher do vizinho, der um “tapa no beiço” de vez em quando ou fumar o cigarro, ah... As portas do inferno se abrem diante de você, pérfido pecador! Assim tive todos os incentivos para não fumar (e igualmente não beber e não sair com a mulher de ninguém) - desde a ira relativamente contida do professor Gilberto até a fúria do Soberano, o Senhor - conforme o que me diziam. Levei muitos anos para descobrir que depois de fumar eu não houvera me tornado uma pessoa malvada. Ainda possuía muito amor e Jesus no coração (falo sério) e mais, percebia agora muito melhor como se formava o mecanismo do preconceito (sentido na pele), pois ao investigar o assunto, não vi nada no ato de fumar que contrariasse o cristianismo, mas pelo contrário, vi no fumante uma pessoa até mais tolerante na convivência com os outros.

Curiosamente, aquele entendimento de origem puritana – fumar seria coisa do diabo, bad, very bad - que acabou sendo reforçado pelas pesquisas daqueles mesmos cientistas do Reich alemão que usavam judeus como ratos de laboratório (a Alemanha nazista foi a primeira nação a combater abertamente o tabagismo por razões de saúde - estranha coincidência com nosso cenário político atual) é hoje, muitos anos passados, abraçado por pessoas adeptas da religião do saudável, do light, do bem estar, da harmonia; gente cuja perspectiva de felicidade, por tanto, está menos no céu do que nesta Terra - mais um padrão mental perigosíssimo - e está disposta a condenar não só ao inferno, mas a um confinamento domiciliar, às vezes nem sequer isso, todo aquele que incorre em um hábito que polua seus sonhos de um mundo perfeito. Essas pessoas confundem o hábito com o monge, ou melhor, o hábito de fumar (que consideram nojento) com a pessoa do fumante, que passam a considerar nojenta. Ora, uma pessoa nojenta deveria ficar mesmo em casa, trancafiada, pois sua visão causaria um dano estético irreparável no ambiente ao redor do não fumante, o cheiro do cigarro acabaria com o aroma do perfume delicioso do não fumante, e por aí vai...

Esse tipo de anti-tabagismo não é falso moralismo, é moralismo nenhum. Mais uma formidável ocasião na qual o psicológico atropela o lógico: considera-se imoral aquilo que é meramente contrário ao próprio gosto. Aquilo que incomoda o nariz passa a ser visto como falta de caráter, por como seria boa a pessoa que impõe tamanha pena sobre meu narizinho, acostumado com o ar puro das caminhadas sob o sol da manhã, ou o cheiro inebriante de incenso durante uma seção de Yoga, algo maravilhoso, cósmico, e o mais importante: oriental! Afinal aqueles orientais é que sabiam das coisas. Esse negócio de tradição ocidental de liberdade individual está estragando a cor da aura de muita gente... Assim, o sujeito não é só um fumante, é um canalha, e como toda a mídia passa a fazer coro com a opinião desses tipos, e tantos outros tenham achado por bem fazer coro com a opinião da mídia – afinal ninguém tem tempo para pensar quando se pode comprar as idéias numa banca de jornal (onde antes se podia comprar também cigarros) e o circo está montado: agora é só entregar os fumantes aos leões.

Com relação à concepção generalizada de que o cigarro deve ser banido por causa do dano provocado por fumo passivo, duas coisas podem ser ditas a respeito. A primeira é que ao contrário da crença popular, fumantes costumam ser pessoas educadas, fumam nas áreas para fumantes de restaurantes, não soltam baforadas nas caras dos bebês, se estão visitando alguém, perguntam antes se podem fumar no quintal ou na varanda, e por aí vai. Se alguém, no entanto, falta com a educação, a resposta mais simples é reclamar com a pessoa, não é chamar a polícia e aplicar uma multa! Nenhum ser humano normal precisa ser convencido pela lei a cumprir regras de boa educação (e sim, os fumantes são, para fins de direito, seres humanos normais). A segunda está publicada neste interessante artigo: http://www.data-yard.net/science/articles/lies.pdf o qual mostra o tipo de informação viciada que está alimentando o simulacro de moralismo dos anti-tabagistas.

Nossa sociedade mudou. Antes era puritana porque condenava o adultério e o hábito de beber. Agora estamos achando normal cantar a mulher alheia e vinho faz bem à saúde, de modo que está permitido. Fumar, no entanto, o único hábito que não altera seu estado mental e não implica em qualquer imoralidade está ficando proibido. Ao mesmo tempo, outras drogas são liberadas e, para meu grande espanto, as cruzadas moralizantes ainda são feitas contra o cigarro! É uma atitude mais que contra producente, é cretinice mesmo. Um exemplo de vítima dessa atitude é o príncipe dos pregadores, o reformado Charles Haddon Spurgeon, que fez o seguinte pronunciamento numa das ocasiões em que confrontado acerca de seu hábito de fumar charutos:

"Well, dear friends, you know that some men can do to the glory of God what to other men would be sin. And notwithstanding what brother Pentecost has said, I intend to smoke a good cigar to the glory of God before I go to bed to-night.
"If anybody can show me in the Bible the command, 'Thou shalt not smoke,' I am ready to keep it; but I haven't found it yet. I find ten commandments, and it's as much as I can do to keep them; and I've no desire to make them into eleven or twelve.
"The fact is, I have been speaking to you about real sins, not about listening to mere quibbles and scruples. At the same time, I know that what a man believes to be sin becomes a sin to him, and he must give it up. 'Whatsoever is not of faith is sin' [Rom. 14:23], and that is the real point of what my brother Pentecost has been saying.
"Why, a man may think it a sin to have his boots blacked. Well, then, let him give it up, and have them whitewashed. I wish to say that I'm not ashamed of anything whatever that I do, and I don't feel that smoking makes me ashamed, and therefore I mean to smoke to the glory of God."

In: Christian World, on September 25, 1874

Mudando um pouco a atenção do argumento para o problema teológico, que muito me preocupa ultimamente, devo lembrar que os argumentos do tipo “templo do espírito”, recomendando cuidado com o corpo ,baseiam-se normalmente no texto de I Corínthios 6:19-20. Se alguém é imbecil o suficiente para retirar esse texto do contexto e aplica-lo ao tabagismo, eu até posso perdoar ( se bem que já fui chamado de burro por que sou fumante, porém ao menos ainda sei ler...), mas creio que exista uma certa má-fé por parte daqueles que, mesmo com as melhores intenções, ignoram que a passagem começa no verso 12, e trata sobre imoralidade sexual, não sobre cigarros.

Os fumantes, espremidos entre evangélicos e seculares preocupados com os “pecados” alheios, estão suportando um mau bocado. Como já disse, fui chamado de burro por gente, francamente, muito mais burra do que eu. Já vi gente fazer cara feia para o meu cigarro mesmo estando a uma distância enorme. Assim sendo, mesmo um fumante cuidadoso acaba tendo contato direto com diversas amostras da estupidez humana, não em si mesmo, mas nos outros. Estou cada vez mais convencido de que falta amor no mundo...

quinta-feira, setembro 04, 2008

Estrada para perdição


Michael Sullivan na cena em que mata John.

--Por que você ri?
--Porque essa merda toda é histérica.

Essa é a resposta de Connor Rooney, interpretado por Daniel Craig, a Peter, filho pequeno de Michael Sullivan, que Tom Hanks interpreta.

Depois de tentativa de intimidação que acabou em morte, percebendo que um filho de Michael Sullivan assistira ao evento, Connor Rooney decide matá-lo. Isso dá início a uma jornada que une pai e filho, Michael Sullivan e o garoto Michael Sullivan Jr. (Tyler Hoechlin), sobreviventes do massacre.

Michael Sullivan está decidido a vingar a morte do filho pequeno e da esposa. O pai de Connor, John Rooney, mafioso interpretado por Paul Newman, não está disposto a permitir. Embora tenha um carinho enorme por Michael e sinta muitíssimo a morte de sua família, John Rooney não pode permitir o sacrifício de seu filho. John ajudara Michael e empregava-o como capanga.


Michael e John antes do massacre

Um tema que não se esgota nos filmes de máfia é o sentimento verdadeiro do criminoso para com sua família. Ele quer o melhor para ela, embora não seja digno de pedir isso e receie pelo que ela venha se tornar. Nos filmes de máfia, o código de honra é sempre uma constante. É por isso que, como contraste, o bandido Coringa, rival do Batman, é um tipo extravagante. Ele não está em busca de dinheiro nem se submete a uma regra moral. Quer apenas ver o circo pegar fogo.

Uma das cenas mais marcantes do filme é quando John e Michael se encontram no sótão da Igreja. John diz a Michael:

--Você está me pedindo para sacrificar meu próprio filho e isso é algo que eu não posso fazer.
...
--Ninguém aqui vai para o céu, Michael. Só há assassinos nessa sala.
--Michael poderia.
--Então faça tudo que você pode para que ele consiga.

Noutra cena, quando Michael vai matá-lo, John diz:

--Estou feliz que seja você.


Acima, Michael Sullivan e Michael Sullivan Jr. almoçando.

Mais do que um filme de máfia, porém, Estrada para perdição é um filme sobre a relação entre pai e filho. Michael Sullivan e Michael Sullivan Jr. precisam viver uma relação próxima como jamais viveram dentro de casa. Em dado momento, o garoto pergunta ao pai:

--Você gostava mais de Peter do que de mim?
--Não, não. Peter era mais doce... E você era mais parecido comigo.

Michael alcança a vingança. A árdua tarefa da redenção, no entanto, é interrompida no meio do caminho por um algoz que o mata. Michael consegue porém que seu filho não trilhe o mesmo caminho que ele trilhou.

No fim, Michael Sullivan Jr. diz que, quando lhe perguntam se seu pai era um homem bom ou mau, ele apenas responde: "Ele era meu pai."


Pai e filho se abraçam

segunda-feira, agosto 25, 2008

O real, o ideal e o verdadeiro

Conversando com amigos no carro, eles me contaram de um professor estrangeiro que não conseguia admitir a equivalência entre o real e a verdade. Cria ele que a verdade não podia ser o real tendo em vista que uma operação matemática é verdadeira sem ser real. A matemática está no plano ideal.

A crise enfrentada pelo professor decerto não é nova mas nem por isso difícil de ser resolvida. Para esse fim, é preciso considerar a verdade como um conjunto que compreende tanto o subconjunto real quanto o subconjunto ideal da matemática. Sendo assim, a verdade inclui o real e o transcende para compreender também o ideal matemático. O real, portanto, é a verdade, embora a verdade não seja o real.

Sendo assim, o papel e o lápis com que escrevo, essa presença real ululante à minha frente, são tão verdadeiros quanto dois mais dois dão quatro.

quarta-feira, agosto 20, 2008

Nossismo

"Mas foi Pedro Rego quem ensinou a Dorival uma visão prática do Comunismo. “Pedro Rego, que ficava ali pelo Terreiro de Jesus, varejando os estudantes de Medicina, era um embiritado, um maluco, um tipo de rua, meio filósofo. Ele criou a teoria do nosso, o Nossismo. Certa vez, Dorival estava acompanhado de um amigo estudante de Medicina, quando Pedro Rego, que já tinha cabelos brancos mas conservava uns olhos travessos, declarou: “Acabei de nossificar cinco mil-réis”. O Nossismo queria dizer que se algo pertence tanto a você quanto a mim, então é nosso. Ou como resumia seu criador: “O que é meu é seu, é nosso”. “Eu sempre achei linda essa teoria do Pedro Rego. Ele sabia que todo estudante tem mesada, e o melhor lugar para praticar o Nossismo era nas mesadas”. – analisa o compositor. A verdade é que Pedro Rego não tinha nada de seu e não queria nada dos outros exclusivamente. Mas que o delegado não o ouvisse!"

Caymmi, Stella. Dorival Caymmi, o mar e o tempo (São Paulo: Editora 34, 2001)

domingo, agosto 17, 2008

Recordações de Caminha, Carvalho e Brito

"De manhã, pus-me a recapitular todos esses episódios; e sobre todos pairava a figura inflada, mescla de suíno e de símio, do célebre jornalista Raul Gusmão. O próprio Oliveira, tão parvo e tão besta. tinha alguma coisa dele, do seu fingimento de superioridade, dos seus gestos fabricados, da sua procura de frases de efeito, de seu galope para o espanto e para a surpresa. Era já o genial, com quem viria travar conhecimento mais tarde, que me assombrava com o seu maquinismo de pose e me colhia nos alçapões de apanhar os simples. E senti também que o espantoso Gusmão e o bobo Oliveira me tinham desviado da observação meticulosa a que vinha submetendo o padeiro de Itaporanga. Achava extraordinário que um varejista de um vilarejo longínquo cultivasse e mantivesse amizades tão fora do seu circulo; não se explicava bem aquele seu norteio para os jornalistas, a especial admiração com que os cercava, o carinho com que tratava todos.

No teatro e na rua, cumprimentou mais de uma dezena deles e apontou-me, sem lhes falar, uma dúzia de outros. É de tal jornal diário, dizia; é de tal semanário; “faz guerra, faz marinha”... Conhecia minuciosamente toda a vida jornalística. Informava-me sobre os nomes dos redatores, dos proprietários, dos colaboradores; sabia a tiragem de cada um dos grandes jornais, como a de cada semanário de caricaturas... Havia nisso uma mania pueril ou o que era? Não se manifestava homem de leituras, político ou dado às letras; não lhe senti a mais elementar preocupação intelectual; todo ele me pareceu convergindo para os negócios, para as coisas de dinheiro, especulações... Por isso, a sua jovialidade e sociabilidade não impediram que, aqui e ali, repontassem em mim alguns propósitos sobre a sua honestidade."

Barreto, Lima. Recordações do escrivão Isaías Caminha.

Percebe-se nesse trecho o quanto o escritor Lima Barreto influenciou Olavo de Carvalho. No início de sua carreira como colunista político Olavo usava e abusava de expressões como "fingimento de superioridade", afetação, maneirismos, presunção, nas quais se enxerga a nítida influência do Lima Barreto de Recordações. O mestre da filosofia disse em uma aula a que assiti que lera toda a obra de Lima Barreto antes dos vinte anos de idade. Lembrando de sua vida e morte trágicas, Olavo confidenciara que dissera a si mesmo então que não deixaria o Brasil vencê-lo, como o fizera este com Lima Barreto.

A lamentar no escritor de boas histórias é o abuso dos advérbios, sobretudo os terminados em 'mente' - de que o trecho escolhido não dá mostra -, os quais na língua portuguesa "pesam", conforme nos contava outro mestre, esse da área de tradução, o falecido Daniel Brilhante de Brito.

quarta-feira, agosto 13, 2008

"Por isso o exercício intelectual no tempo de Machado consistia, e nisso pouco mudamos, em fazer de conta que se pensava, em fingir-se que se admirava a inteligência, quando, em verdade, dela se fugia mais que o diabo da cruz."

Luiz Costa Lima, no ensaio O palimpsesto de Itaguaí.

terça-feira, agosto 12, 2008

Uerj contra as mulheres

Começou a vigir na Uerj uma norma que permite travestis de usar o banheiro feminino. Ontem uma jornalista fez uma reportagem televisiva no andar da minha faculdade; aproveitando o fato de não haver aula na sala, a jornalista, carregando um travesti a tiracolo, fabricou as cenas do travesti conversando com alunos da minha turma, que se prestaram ao papel. Muito bem.

Um travesti não é identificável apenas pelo aspecto físico. É sobretudo pela sua atitude sexual, de fazer sexo com homens. Isso significa que qualquer homem pode agora se vestir de mulher e ingressar no banheiro feminino. Fica a pergunta: Quem vai impedir um tarado de fazê-lo? Como acusá-lo de ser heterossexual e não homossexual?

Pênis agora dividirão o espaço do banheiro feminino com as mulheres. E o que era uma diferença biológica dá lugar a uma atitude sexual de impossível comprovação.

domingo, agosto 10, 2008

Ficar ou não ficar?

Ficar ou não ficar - eis a questão.
Será mais nobre sofrer na alma
a dor da fome perpetrada pelo estômago feroz
Ou pegar em guloseimas preparadas pelo amigo fiel -
E, combatendo-a, dar-lhe fim? Comer; dormir;
Só isso. E com a repleção - dizem - extinguir
os roncos na barriga e as mil azias naturais
A que a carne é sujeita; eis uma consumação
Ardentemente desejável. Comer - ir -
Dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo!
O lamento de não ter interpretado Hamlet
Quando tivermos escapado ao tumulto teatral
Nos obrigam a decidir: e é essa reflexão
Que dá à aventura uma vida tão intensa.
Pois quem suportaria a melancolia e a hesitação de Hamlet,
A afronta do rei, a fome das dez da noite,
furar um compromisso à casa do amigo, as delongas dos lanchinhos,
A ingenuidade de Ofélia, e o desfecho molhado
Que o mérito paciente recebe da chuva forte,
Podendo, ele próprio, encontrar seu repouso
Com um simples mingau? Quem agüentaria fardos,
Gemendo e suando numa vida de ator,
Senão porque o arrependimento de alguma coisa após ter ido -
O personagem não interpretado, de cujos atributos
Jamais conheceu nenhum glutão - nos confunde a vontade,
Nos faz preferir e suportar o Hamlet que já temos,
ao jantar na casa do amigo?
E assim a reflexão faz de todos nós decididos por ficar.
E assim o matiz natural da decisão
Se transforma na firme vontade de representar o ser-ou-não ser.
E empreitadas de vigor e coragem,
Bem refletidas, saem do caminho do vou-me-indo
e ganham o nome de decisão

Para Marcio, que vai entender muito bem.

A Bia, parabéns pela interpretação de Polônio.

Aos outros amigos, obrigado pela ótima noite em que lemos Hamlet.

terça-feira, agosto 05, 2008

To the worm that first gnawed the cold flesh of my dead body I dedicate in remembrance this posthumous memory.

To the reader

That Stendhal had confessed he wrote one of his books to one hundred readers, it is something that wonders and dismays. What will not wonder, nor probably dismay is if this other book won't have the one hundred readers of Stendhal, nor fifty or twenty, but ten for maximum. Ten? Maybe five. In fact, it's a diffuse work, in which I, Brás Cubas, if adopted the free form of a Stern, or of a Xavier de Maistre, possibly I put in some pessimism marks. Possibly. Work of a dead guy. I wrote it with the jest's feather and the melancholy's ink, and it is not hard to foresee what can come out from this marriage. You can add that the grave people won't find the semblance of a pure romance in the book, and the frivolous people wont't find the usual romance in it, which are the two maximum columns of opinion.

But I still hope to gather the appreciation of the opinion, and the first step is to escape from an explicit and long prologue. The best prologue is the one that contains less things as possible, or the one which tells them in an obscure and tightened manner. Therefore, i avoid to tell the extraordinay process used in the composition of this Memories, worked out here in the other world. It would be funny, but overmuch extense, and by the way desnecessary to the understanding of the work. The work in itself is everything: if it pleases you, dear reader, then my job is done; if it does not, I flick you, and good bye.

segunda-feira, julho 28, 2008

Cenas engraçadas do cinema. Feliz Natal, seu porco imundo.



O inesquecível Macaulay Culkin em Esqueceram de mim 2.

domingo, julho 27, 2008

Cenas engraçadas do cinema. Ratoburguer.



Cena do filme O Demolidor. Traduzo o trecho mais importante do diálogo entre Sandra Bullock (SB), Sylvester Stallone (SS) e a vendedora hispânica (H):

SB - Só não pergunte de onde vem a carne.
SS - O que isso significa?
SB - Você vê alguma vaca por aqui, detetive?
SS ( para H ) - De quê é esta carne?
H - É carne de rato.
SS - Rato? Isto é um ratoburguer?... Nada mal. Para dizer a verdade, é o melhor hamburguer que como faz anos.
H - Obrigado, senhor.
SS - Até mais.

sexta-feira, julho 25, 2008

Tartufo
















O filme Tartufo, de 1925, é uma obra-prima do expressionismo alemão, que produziu tantas obras-primas. Trata-se de uma adaptação para o cinema da peça de Molière -- a qual não li nem assisti, desculpe -- com uma história por trás. Carl Mayer escreveu um roteiro em que a trama de Moliére será apresentada para desmascarar uma outra farsa. É um filme dentro do filme. O neto de um senhor percebe que a senhora que cuida dele está tirando proveito de sua debilidade física e quer expô-la a uma cena poética a fim de desmascará-la, o que dá um caráter hamletiano à obra. O neto do senhor é um Hamlet que usa Molière para revelar a farsa. Emil Jannings interpreta Tartufo de modo brilhante e a direção cabe à figura máxima do cinema F. W. Murnau.

Cenas engraçadas do cinema. Dança da aranha



Cena do filme Nada a perder, de 1997, com Martin Lawrence e Tim Robbins. O comediante negro tira um sarro de seu colega branco.

Não havia legendas em português, além desse havia apenas um vídeo com o som ruim e legenda numa língua da europa oriental que desconheço ( tomara que não seja alemão ). Mas dá para entender bem a cena sem as legendas.

"There's a spider on your mutha fucking head, man."

For justice, we must go to Don Corleone

Foi preso essa semana o deputado estadual fluminense Natalino Guimarães, do partido Democrata, acusado de comandar uma milícia. As milícias surgiram como grupos formados sobretudo por policias que atuavam como polícia privada informal, à margem do Estado, protegendo e expulsando traficantes de drogas de regiões da cidade do Rio de Janeiro. Muitos desses grupos agora achacam e extorquem os moradores, colocando-se de modo frontal contra a lei. Ocorreu no Rio um processo semelhante ao da Colômbia, onde um grupo paramilitar formou-se para combater o tráfico de drogas frente à inépcia do Estado em fazê-lo. Lá o líder do paramilitarismo Carlos Castaño foi visto como vilão por alguns e herói por outros.

Na Colômbia o paramilitarismo quase desapareceu devido à política agressiva do Estado colombiano contra a guerrilha que trafica drogas. No Rio, não se vislumbra no horizonte próximo uma política firme de combate ao tráfico de drogas pelo Estado.


terça-feira, julho 22, 2008

Entrevista com Silvio Grimaldo



















Silvio é diretor do Espaço Humanitas, onde ministra curso de educação pela leitura dos clássicos em Londrina, Paraná, e consultor do sítio Aristoi, empenhado em ser guia para a educação liberal no Brasil bem como em lançar livros sobre educação que faltam nas prateleiras de nossas livrarias. Antes de iniciar a leitura da entrevista, é preciso saber que educação liberal tem o mesmo significado de educação clássica, qual seja, formar o aluno pela leitura das grandes obras do gênio humano a fim de que ele consiga se situar frente às discussões de sua época e participar delas se o desejar.


1. Qual a sua formação intelectual?

Em primeiro lugar, devo dizer que ainda estou me formando intelectualmente e que a educação liberal é um programa de aprendizado para durar toda a vida.
Sou formado em ciências sociais pela Universidade de São Paulo, mas não saberia dizer em que medida o curso foi importante na minha formação. Quase todos meus interesses, durante e depois da graduação, devem-se a influências estranhas ao currículo regular de um estudante de ciências sociais, com exceção talvez do meu grande interesse pela sociologia da religião.

Quando estava no segundo ano de faculdade, o Embaixador José Osvaldo de Meira Penna enviou-me seu livro O Dinossauro, uma análise da cultura brasileira desde um ponto-de-vista liberal, que era uma perspectiva ausente no meu curso. Depois de ler esse livro, mergulhei nos clássicos do liberalismo, principalmente em Ludwig von Mises, Friedrich Hayek, Milton Friedman e Roberto Campos. Meu interesse nesses autores, porém, não era tanto a economia política, mas a possibilidade sintetizar suas teorias com os insights dos grandes interpretes do Brasil - Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Hollanda e Raymundo Faoro – seguindo assim os passos dados pelo próprio Meira Penna. Estive enfiado nesses assuntos até dois anos atrás, quando minha atenção voltou-se quase toda para problemas ligados à educação.

À mesma época, li O Imbecil Coletivo, do filósofo Olavo de Carvalho, vários de seus textos e apostilas e passei a freqüentar algumas de suas aulas e palestras. O contato com Olavo foi decisivo na minha formação. Com ele descobri um universo intelectual até então desconhecido, cheio de vida e completamente diverso daquele que eu experimentava na USP. Descobri também quão miseravelmente ruim era a educação que eu havia recebido durante esses anos todos. Felizmente, junto com essa última descoberta veio outra, a de que era possível, por meio da educação liberal, remediar os danos. Então, sob influência do Olavo, comecei a estudar e praticar os exercícios de leitura de Mortimer Adler, adaptando seu método e programa às minhas circunstâncias.


2. Como surgiu o projeto de criação do sítio Aristoi?

A coisa toda foi idéia do Lucas Mafaldo e é ele na verdade o responsável pelo projeto. Naquela época, nós vínhamos conversando muito a respeito de educação liberal e, cientes de sua importância, concluímos que seria uma boa idéia montar um site para divulgá-la no Brasil. De um simples grupo de divulgação da educação liberal, o Lucas resolveu fazer do Aristoi uma editora voltada para a publicação de livros importantes à formação intelectual e para o estabelecimento de uma cultura conservadora no país.

Um empreendimento como esse é absolutamente indispensável para a cultura brasileira, mas infelizmente ele vem esbarrando numa série de empecilhos burocráticos, financeiros e logísticos. O Lucas pretende livrar-se desses problemas levando o Aristoi para São Paulo, onde provavelmente encontrará mais apoio, e ultimamente tem dedicado-se quase exclusivamente a essa mudança.


3. Você e Lucas Mafaldo organizaram grupos de leitura e discussão dos clássicos. Qual o procedimento que você utiliza para debater os livros? Sendo mais específico, você ministra uma palestra inicial sobre o enredo do livro e em seguida propõe perguntas para os alunos? Em suma, como a aula é preparada?

O que eu descobri no pouco tempo em que tenho ministrado cursos de educação liberal é que não existe uma receita aplicável a todos os casos, cada turma tem um ritmo diferente, necessidades e dificuldades diversas. Eu procuro seguir metodologia utilizada por Adler nos seminários do Aspen Institute, fazendo as adaptações necessárias para cada turma.

O núcleo dessa metodologia consiste na leitura individual do livro em casa e em encontros de leitura em grupo. Esses encontros de leitura funcionam da seguinte maneira: na primeira parte da aula, os alunos lêem trechos selecionados da obra e são incentivados a recontar a história tal qual ela aparece no livro; na segunda parte, com a obra ainda viva na memória, conduzo aquilo que Adler chama de seminário socrático, ou seja, a partir de algumas perguntas tento fazer com que o aluno reflita sobre o que foi lido. Essa divisão em duas partes corresponde às duas preocupações que orientam todo meu trabalho: certificar-me que o aluno compreendeu o que leu e fazer com que a compreensão da obra se torne um instrumento de autoconhecimento e reflexão sobre questões humanas fundamentais.


4. Li sua entrevista no sítio Espaço Humanitas, onde agora você ministrará o curso de educação pela leitura dos clássicos. Além do diálogo Apologia de Sócrates, de Platão, notei que nenhum outro livro de filosofia está no currículo. Você crê que a melhor maneira de iniciar uma educação é incentivar a imaginação moral do aluno para só então abordar questões filosóficas?

Sim. Estou convencido de que a educação liberal proposta por Adler é excelente, mas percebo que lhe faltava uma teoria pedagógica que orientasse de maneira mais clara as etapas do estudo. Encontrei essa pedagogia na teoria dos quatro discursos de Olavo de Carvalho, apresentada em Aristóteles em Nova Perspectiva: Introdução a Teoria dos Quatro Discursos. No livro, Olavo não está preocupado com uma pedagogia, mas suas teses podem ser aplicadas à educação com grande proveito. Para entender melhor o que é essa teoria dos quatro discursos, recomendo a leitura deste texto.

Eu acredito que toda educação deve começar oferecendo ao estudante os símbolos e imagens, o universo mito-poético, que são o fundamento da cultura. Essas imagens são a matéria-prima de toda as idéias e pensamentos e podem ser acessadas, como discurso, nas grandes obras de arte, nos clássicos da literatura e nas tradições religiosas. O discurso poético, aquele que está na base dos quatro discursos, tem como objetivo alimentar a imaginação, para que ela depois seja trabalhada pelos discursos retórico, dialético e analítico. A discussão filosófica apresenta-se, quase sempre, no nível dialético, operando a matéria-prima fornecida pelo discurso poético, sem o qual ela é apenas um palavrório sem sentido. É como nosso sistema digestivo: quando você come algo, seu organismo digere aquilo, absorve os nutrientes, as coisas que lhe fazem bem e elimina o resto, mas quando seu organismo faz a digestão sem que haja alimento no seu estômago, o que você ganha é uma úlcera.

A Apologia de Sócrates, que eu sempre escolhe como o primeiro da lista, apesar de ser um livro da tradição filosófica, é uma obra com potencial mito-poético excepcional. Ela mostra a essência da vida intelectual não através de teorias e discussões dialéticas, mas pela narrativa da vida e morte de Sócrates. E no final das contas, nada mais fazem os filósofos senão discutir e tentar compreender essa narrativa.

segunda-feira, julho 21, 2008

Sensação de violência

Fora à locadora alugar um filme. Na rua ouviram-se tiros. Pá, pá, pá. O senhor que vinha na direção contrária fez cara de consternado. Continuou andando e dobrou na esquina. Novos tiros, pá, pá, pá. Vinham da direita, parecia. Da direita e do alto; do morro, por certo. Nas lojas, os vendedores saíam para espiar o que acontecia. Algumas senhoras e moças paravam na calçada, sem saber se continuavam andando ou se procuravam abrigo. Ele sentia medo, porém seguia andando. Na sua direção agora vinha um negro de sorriso aberto. Do que será que ele ria? Alguns idiotas gostam da intimidação. Novos tiros, pá, pá, pá. Entrou na locadora, pegou o filme e foi para casa. Lembrou da moça do churrasco que dissera que a sensação de violência é maior que a violência. Nesse momento, caiu um trovão e não pensou mais. O carro de polícia passou com os fuzis apontados para o lado de fora. Chegou em casa, cumprimentou no elevador o senhor que mora em frente. Abriu a porta, ligou a TV, onde se discutia segurança no programa Sem Censura. A Lêda entrevistava dois sociólogos que tinham críticas à formação dos seguranças. Mudou de canal e ficou assistindo ao Cháves. Uma canção antiga encontrou freqüência em seu cérebro: "Eu só quero ser feliz, andar tranqüilamente na favela onde eu nasci."

quarta-feira, julho 16, 2008

A transformação da água em vinho

Maria, a mãe de Jesus, ficou abatida; estava atordoada! Enquanto ela permanecia ali, imóvel diante dele, com as lágrimas caindo em seu rosto, o coração humano de Jesus tinha sido dominado de compaixão pela mulher que o tinha concebido na carne; e, inclinando-se para frente, ele colocou a sua mão ternamente na cabeça dela, dizendo: “Espere, espere, Mãe Maria, não lamentes pelas minhas palavras aparentemente duras, pois eu já não te disse muitas vezes que eu vim apenas para cumprir a vontade do Pai celeste? Eu faria de bom grado o que me pediste, se fosse uma parte da vontade do Pai” – e Jesus logo parou, hesitando. Maria pareceu sentir que alguma coisa estava acontecendo. Num pulo, ela jogou os braços em volta do pescoço de Jesus, beijou-o e correu para a sala dos serviçais, dizendo: “O que quer que meu filho tenha dito, façam-no”. Mas Jesus não tinha dito nada. Ele agora compreendia que tinha já dito demais – ou melhor, que tinha imaginado, desejando –, por demais.

Maria dançava de júbilo. Ela não sabia como o vinho seria produzido, mas confiante acreditava que finalmente tinha persuadido o seu primeiro filho a afirmar a sua autoridade, a ousar dar um passo adiante e reivindicar a sua posição, e a exibir o seu poder messiânico. E, por causa da presença e da coligação de certos poderes e personalidades do universo, das quais todos os presentes ignoravam totalmente, ela não ficaria decepcionada. O vinho, que Maria desejara e que Jesus, o Deus-homem fez, humana e compassivamente, por aspirar, estava sendo produzido.

À mão estavam seis grandes potes de pedra, cheios de água, em cada um cabendo quase oitenta litros. Essa água estava ali para ser usada nas cerimônias da purificação final da celebração do casamento. A agitação dos serviçais por causa desses vasos imensos de pedra, sob o comando ativo da sua mãe, atraiu a atenção de Jesus que, indo até lá, observou que eles estavam tirando vinho delas, com jarras repletas.

Gradativamente Jesus tomava consciência do que acontecera. De todos aqueles, que estavam presentes à festa de casamento de Caná, Jesus era o mais surpreso. Os outros tinham aguardado que fizesse algo prodigioso, mas isso era exatamente o que ele tinha como propósito não fazer. E então, o Filho do Homem lembrou-se da advertência que o seu Ajustador Personalizado do Pensamento lhe tinha feito nas colinas. Ele lembrou-se de como o Ajustador o tinha prevenido sobre a incapacidade, que qualquer poder ou personalidade tinha, de privá-lo das suas prerrogativas de criador, na independência do tempo. Nessa ocasião, os transformadores do poder, os seres intermediários e todas as outras personalidades imprescindíveis estavam reunidos perto da água e de outros elementos necessários e, em presença do desejo expresso do Soberano Criador do Universo, não havia como evitar o aparecimento instantâneo do vinho. E essa ocorrência fez-se duplamente certa, pois o Ajustador Personalizado tinha sinalizado que a execução do desejo do Filho não era em nada uma contravenção à vontade do Pai.

Mas isso, em nenhum sentido, era um milagre. Nenhuma lei da natureza foi modificada, ab-rogada ou mesmo transcendida. Nada aconteceu a não ser uma ab-rogação do tempo, em ligação com a reunião celeste dos elementos químicos necessários à elaboração do vinho. Em Caná, nessa ocasião, os agentes do Criador fizeram o vinho, exatamente pelo modo como é feito comumente, pelo processo natural, exceto que eles o fizeram independentemente do tempo, e com a intervenção de agências supra-humanas para reunir, do espaço, os elementos químicos necessários.

Ademais estava evidente que a realização desse chamado milagre não era contrária à vontade do Pai do Paraíso, ou então não teria acontecido, posto que Jesus se submetia a si próprio, para todas as coisas, à vontade do Pai.

Quando os serviçais tiraram esse novo vinho e o levaram ao padrinho, o “mestre-de-cerimônias”, ele o provou e chamou o noivo dizendo: “O costume é servir primeiro o melhor vinho, e, depois, quando os convidados já tiverem bebido o bastante, oferecer o vinho do fruto inferior; mas tu seguraste o melhor dos vinhos para o fim da festa”.

Maria e os discípulos de Jesus estavam grandemente jubilosos com o suposto milagre, pois pensavam que Jesus o tinha executado intencionalmente, mas Jesus retirara-se para um canto abrigado do jardim e entrou em pensamento sério, por uns poucos breves momentos. Ele tinha finalmente decidido que o episódio acontecera fora do seu controle pessoal, dadas as circunstâncias, e, não sendo adverso à vontade do seu Pai, tinha sido inevitável. Quando ele retornou ao povo, foi olhado com temor; eles todos acreditaram nele como sendo o Messias. Contudo, Jesus estava dolorosamente perplexo, sabendo que eles acreditaram nele apenas por causa da ocorrência inusitada que tinham inadvertidamente presenciado. De novo, Jesus retirou-se para uns momentos no terraço de modo que pudesse pensar em tudo.

Jesus agora compreendia totalmente que devia ficar constantemente em guarda, para que a indulgência da compaixão e da piedade não se tornasse responsável por repetidos episódios desse tipo. Contudo, muitos eventos similares ocorreram, antes que o Filho do Homem deixasse finalmente a sua vida mortal na carne.


Documento 137, O tempo de espera na Galiléia, do Livro de Urântia. Retirado da página Associação Urântia do Brasil.

sábado, julho 12, 2008

Apocalypto




















Apocalypto é um filme excelente, muito bem filmado, que mostra o fim da civilização maia, não pela chegada dos espanhóis, como era de se supor, mas pela luta e determinação de um jovem guerreiro de uma das tribos que os maias perseguiam e escravizavam para serem sacrificados aos seus deuses sedentos de sangue.

Não sou lá entendido de técnicas de cinema, mas a impressão com que fiquei foi de que o filme consegue tirar o máximo de cada cena, filmando a nu os passos de Jaguar Paw, um jovem que vê sua tribo ser exterminada pelos maias e depois é levado até o centro do império para ser sacrificado. Na batalha de sua tribo contra os maias, Jaguar Paw consegue esconder sua esposa e filho dentro de um buraco, do qual no entanto eles não conseguem mais sair depois. O filme narra portanto a luta de Jaguar para voltar à floresta e salvar sua esposa e filho.

Um filme eletrizante, que, pela quantidade de cenas feitas dentro da floresta, fez-me lembrar do romance A selva, do português Ferreira de Castro, o qual conta as agruras de um português que foi morar no coração da selva amazônica.

A direção é assinada por Mel Gibson, bem como o roteiro, em companhia de Farhad Safina. Não se pode deixar de lembrar também a história da conquista do império Azteca por Hernán Cortez, o qual foi ajudado por tribos vizinhas que eram escravizadas há séculos pelos aztecas. A história da colonização da América não é exatamente como contam para a gente na escola.

Ah, e quando virem o filme, atenção à genial cena da menina profetiza. Os aztecas também tinham uma profecia de que um dia chegaria um deus vindo do leste para derrotar seu império.

Apocalypto é um filmaço.

quinta-feira, julho 10, 2008

Nunca na história deffe país...

se prendeu tanta gente graúda. O ministro da justiça, senhor Tarso Genro, elogia a ação da Polícia Federal. Eu pergunto se não continuam pegando os ladrões de galinha. Daniel Dantas e Naji Nahas foram parar no xadrez porque têm informações privilegiadas sobre o mercado financeiro. Sua Fealdade - essa eu devo a um colega de curso, muito obrigado Cid! - o senhor Luiz Inácio Lula da Silva, junto com uma cepa de membros do Partido dos Trabalhadores, prestou apoio político à organização colombiana Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, notória produtora e exportadora de tóxicos mundo afora, inclusive para o Brasil.

Esses políticos devem ser indiciados pela prática dos crimes previstos no art. 33, parágrafo primeiro, inciso terceiro, e no art. 37, acrescidos de agravantes dispostos no art. 40, transcritos a seguir, todos da Lei 11.343, de 2006, dita a Lei de Tóxicos.

Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.

§ 1o Nas mesmas penas incorre quem:

III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.


Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo, organização ou associação destinados à prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) dias-multa.


Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se:

I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade do delito;

II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no desempenho de missão de educação, poder familiar, guarda ou vigilância;

terça-feira, julho 08, 2008

por Bernardo Veiga


Se sonho, a natureza faz-me rei;

Acordo desejando a profecia

– Sem ter de recorrer ao que dormia –

De ser em tal futuro o que já sei.



E imploro que outro ser permute a lei,

Que salve o meu destino por magia,

Que faça por meu nome o que eu faria

Se fosse tão valente quanto amei.



Espero no que passa como eterno

E morro sem, contudo, ter a vida,

Mas vivo pelo amor que faz morrer.



Descanso na mentira concebida

De quem se mostra o céu, mas traz inferno

E faz da minha fé um falso crer.



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Quando a sorte do mundo descontenta

E o mudo pensamento implora um guia,

Invoco na memória a fantasia

De nunca no futuro ter tormenta.



Mas, eis, que a Providência me apresenta

Num vale da desgraça ou cada dia

Um doce amor que muito é tirania

E ao pobre coração me violenta.



Ó doce amor, tirano e piedoso,

Macula e causa dor de sepultura

E deixas infeliz o não ditoso;



E assim tudo é movido à formosura

Co’efeito de gemido doloroso

E ao pobre coração lhe nega cura.

..........

Esses dois poemas, sem título, são de meu amigo Bernardo Veiga. Bernardo tem um sítio, onde disponibiliza suas poesias, peça de teatro e notas de filosofia.

Para contato, seu endereço de email é bvoa@hotmail.com.