domingo, dezembro 21, 2008

As Razões da (minha) Fé

por Stella Caymmi

Muitas vezes me perguntei como uma pessoa de fé poderia explicá-la para uma pessoa sem fé. Certa vez, já não me lembro quando, mas há muito tempo atrás, eu ainda era bem jovem, passando de carro pela Lagoa Rodrigo de Freitas em direção ao Leblon, eu pensava, não só olhando para o belo conjunto do espelho d'água e montanhas ao fundo, mas também para os edifícios que se enfileiravam ante meus olhos, que a vida não poderia ser só isto. “Só isto” eu entendia como aquela realidade vivida. Não podia ser só isto. Eu percebia na beleza das coisas algo tão especial que sobrava, que não se esgotava naquilo que eu tinha diante de mim, mas, ao contrário, apontava para algo maior, infinitamente maior. Percebia também a grandeza do que era ser humano e poder ser sujeito desta contemplação.

Não é possível ter fé sem esperança. Há no ato de fé um otimismo muito próprio que aponta para o futuro, pois nada no presente parece ou pode sustentá-la. Me parece que longe de ser uma deficiência da fé sua incomunicabilidade, reside nisso sua maior e especial característica. A fé é individual, ainda que todos os que crêem creiam no mesmo Deus e na mesma Verdade. Deus é Uno e a Verdade é uma só. Mas a fé é incomunicável porque ela é pessoal, uma escolha do sujeito na sua individualidade, com todo o seu ser. Por isso ela é intransferível. Pode-se dar testemunho de fé, mas ela só é reconhecida por aqueles que aceitam a aventura solitária da fé. Existem tantas “fés” quanto pessoas, porque Deus fala conosco segundo nossa individualidade. Como Cristo acampou entre nós, o Espírito Santo faz morada no centro do nosso ser e se comunica conosco na nossa linguagem. Ele nos fala mais e melhor do que nós mesmos porque é do centro de nós que ele se faz presente e se oferece como mediador entre nossa vida terrena e nossa vida futura no céu. O único preço é desistirmos de sermos guiados pela força do nosso ego que é egoísta por natureza e que muitas vezes nos impede de enxergar as verdades fundamentais. Assim como necessitamos do sol para viver, precisamos do Espírito para nascer em Cristo, viver em Cristo, crescer em Cristo, morrer em Cristo e, finalmente, ressuscitarmos em Cristo.

Se temos fé é porque vemos em alguma medida a realidade à nossa volta tal como Cristo a vê. Se temos fé é porque Cristo habita em nós. E Cristo vem a nós se abandonamos a fé estéril, a pseudo fé, que temos em nós mesmos. É preciso esvaziar-se. A Fé se baseia em evidências invisíveis que não se apóiam em sentimentos ou certezas. Mas é algo que se impõe com a força da presença de uma rocha. O Senhor é minha rocha, meu Deus em quem eu confio. A evidência mais forte é aquela que nos diz que o que nos sustenta está fora de nós, é maior que nós. Que há algo que existia antes da minha existência e que existirá depois que eu partir, algo de uma grandeza avassaladora que apequena minh'alma e para a qual eu tendo, como na imagem da videira, porque sem ela não sei viver. Se houver sinceridade no coração essa evidência bastará. A Fé me move para Cristo porque é seu sangue que me sustenta para a vida eterna. Como se eu estivesse em coma e a única coisa que me mantém viva e em condições de Esperar é o sangue do Ressuscitado. E com ele ressuscitarei.

3 comentários:

Monica Brunini disse...

Daniel, adorei este post. Muito bacana a reflexão que ela faz. Ah, coloquei um link do seu blog no meu blog ok.
Beijos
Monica

Danielhenlou disse...

Olá Monica, obrigado pelo comentário. Stella adorou você ter visto.

joêzer disse...

texto inspirador.
é quando já não vivemos por nós, mas Cristo vivendo em nós, é que reconhecemos nossa dependência do Autor e Consumador da nossa fé.
E quando somos fracos é que somos fortes. Maravilhoso paradoxo.