sábado, setembro 13, 2008

Os Desafinados, de Walter Lima Jr.

Esboço Crítico
por Anônima Veneziana

Apesar do elogio da crítica e do início promissor, Os Desafinados, novo filme de Walter Lima Jr., é uma decepção completa, sobretudo se considerarmos que o diretor e roteirista (o roteiro também é assinado por Suzana Macedo e Elena Soarez) desperdiçaram um belo elenco, um tema bom - de enorme apelo, ao tratar a Bossa Nova e o otimismo do fim dos Anos Dourados -, provavelmente um orçamento compatível, não encontrando enredo à altura. O filme é constrangedor e uma oportunidade perdida.

Os Desafinados cai brutalmente de ritmo quando deixa para segundo plano a carreira do simpático e bem humorado grupo musical e o acertado tom irreverente do início e investe em dramas pessoais sem a competência necessária, aventurando-se depois num drama político repleto de clichês - faltou um bom roteiro, repito. Nesse momento, o espectador nota a falha na escolha do elenco, principalmente no casal protagonista, dois grandes atores da nova geração, Rodrigo Santoro e Claudia Abreu, que não combinam e acabam por cair em desempenhos repleto de esquematismos, indignos da carreira de ambos. Certamente, não fizeram testes de câmera com os dois. Não necessariamente dois grandes e belos atores funcionam bem juntos. Foi o caso.

Outro grande equívoco é o clima francês do apartamento de Glória (personagem da Claudia Abreu) em plena Nova York, ainda que se possa justificar pelo fato de ela apresentar uma inclinação française e ter se refugiado em Paris tempos depois. Por que Nova York não pode ser Nova York? Será possível que afora o clube de jazz não poderiam mesclar traços da vida na big apple com personagens tipicamente brasileiros? Os únicos fatores que identificam os personagens como brasileiros são a língua e a música - ah, claro a saudade da rabada e da caipirinha (Ai meu Deus!). Figurino, cabelo, vinho, banho, cigarro, tudo em clima bem parisiense - o diretor nem parece brasileiro tantas são as referências francesas.

Os conflitos praticamente inexistem e quando aparecem são tratados preguiçosamente sem que o espectador esteja preparado para o que vem a seguir; eles caem de pára-quedas sobre sua cabeça. Simplesmente assim. Um exemplo disso é quando Glória descobre a existência de Luiza (Alessandra Negrini, que não merecia um personagem tão apagado), esposa plácida de Joaquim que está grávida esperando-o no Rio de Janeiro - uma fofa (com ironia, por favor)! O espectador desavisado já tinha se esquecido dela e provavelmente o próprio marido também. Uma cena curta de Joaquim conversando com um dos músicos da banda resolveria a questão da liaison.

Uma tendência irritante do cinema de hoje é enfeiar atores lindos, como Rodrigo e Alessandra. Só Claudia Abreu se salva. Santoro passa mais da metade do filme curvado. A lista de equívocos é imensa - ah, claro, tem de ter cenas de nudez e sexo e quase sempre gratuitas como a cena da banheira, mas isso a gente já sabe - mas vou apenas citar outro lamentável engano quando, lá pela metade do filme, tentam transformá-lo em drama político, aproveitando a história de Tenório Jr, músico desaparecido em Buenos Aires quando acompanhava Vinicius e Toquinho em temporada na cidade, para dar um fim ao pianista Joaquim (uma saída fácil para o fraco triângulo amoroso Joquim-Luiza-Gloria, quando o espectador inteligente se perguntava como seria resolvido o imbróglio). Os roteiristas fizeram um 3 em 1, uma colagem mal feita de vários filmes possíveis. Se a proposta ainda fosse uma versão para o cinema do experimento pós-moderno de Italo Calvino, em Se um viajante numa noite de inverno, a gente até engoliria. Mas nem isso. Uma pena.

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Comento:

Para complementar as críticas, a cena dos agentes americano de imigração é ridícula. Parecem os cassetas Fucker and Sucker. HAHAHA. Por fim, o filme que começou na linda praia do Rio de Janeiro terminou numa boate de strip-tese em Copacabana, em tom decadente e saudosista. O diretor se entrega.

Nada mais havendo a dizer sobre os estruturalismos, desconstrucionismos e pós-ismos (ou seriam possismos?), deixamos por encerrado esse esboço crítico dizendo que atores como Selton Mello (Dico) assim como o ator Artur Kohl, que representou o personagem Dico no presente, merecem filmes melhores para atuar (Boa Selton, a sua fala 'Entra lá, cara, tu é o pai.' é sensacional).

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