Ficar ou não ficar - eis a questão.
Será mais nobre sofrer na alma
a dor da fome perpetrada pelo estômago feroz
Ou pegar em guloseimas preparadas pelo amigo fiel -
E, combatendo-a, dar-lhe fim? Comer; dormir;
Só isso. E com a repleção - dizem - extinguir
os roncos na barriga e as mil azias naturais
A que a carne é sujeita; eis uma consumação
Ardentemente desejável. Comer - ir -
Dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo!
O lamento de não ter interpretado Hamlet
Quando tivermos escapado ao tumulto teatral
Nos obrigam a decidir: e é essa reflexão
Que dá à aventura uma vida tão intensa.
Pois quem suportaria a melancolia e a hesitação de Hamlet,
A afronta do rei, a fome das dez da noite,
furar um compromisso à casa do amigo, as delongas dos lanchinhos,
A ingenuidade de Ofélia, e o desfecho molhado
Que o mérito paciente recebe da chuva forte,
Podendo, ele próprio, encontrar seu repouso
Com um simples mingau? Quem agüentaria fardos,
Gemendo e suando numa vida de ator,
Senão porque o arrependimento de alguma coisa após ter ido -
O personagem não interpretado, de cujos atributos
Jamais conheceu nenhum glutão - nos confunde a vontade,
Nos faz preferir e suportar o Hamlet que já temos,
ao jantar na casa do amigo?
E assim a reflexão faz de todos nós decididos por ficar.
E assim o matiz natural da decisão
Se transforma na firme vontade de representar o ser-ou-não ser.
E empreitadas de vigor e coragem,
Bem refletidas, saem do caminho do vou-me-indo
e ganham o nome de decisão
Para Marcio, que vai entender muito bem.
A Bia, parabéns pela interpretação de Polônio.
Aos outros amigos, obrigado pela ótima noite em que lemos Hamlet.
domingo, agosto 10, 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Assiste-o razão: entendi muito bem. E gostei o mesmo tanto.
Postar um comentário