sábado, dezembro 29, 2007
sexta-feira, dezembro 28, 2007
Um novo tipo de amor
Essa é uma mensagem para a oitava de Natal. O texto foi escrito por Dinesh D'Souza, que é autor do livro What's so Great About Christianity (O que há de tão formidável no Cristianismo), o qual pode ser adquirido na livraria virtual amazon.com. A página de Dinesh é dineshdsouza.com e já consta na seção de links ao lado.
....
Em seu belo livro Os quatro amores, C. S. Lewis descreve os quatro tipos distintos de amor. Três deles são universais e portanto familiares a todos. Primeiro há o STORGE ou amor familiar. Essa é a afeição que sentimos por parentes, vizinhos e as pessoas que convivem conosco. O amor entre pais e filhos provavelmente é o caso clássico de amor familiar. Curiosamente não escolhemos aqueles que serão objeto de amor familiar; por conseqüência, Storge nos introduz a pessoas com quem talvez não tivéssemos escolhido para conviver e cujas virtudes talvez jamais aprendamos a apreciar.
Segundo, há EROS ou o amor romântico. Tão poderosa é sua força que as pessoas feqüentemente se descrevem enamoradas[1], como se estivessem presas a uma força externa. Os personagens Paolo e Francesca de Dante buscam justificar seu adultério argumentando, de fato, que “Eros nos fez fazer isso.” O amor romântico parece encarnar uma espécie de altíssima moralidade que derruba as regras convencionais. O apelo de Eros é que ele nos dá aquela consciência momentânea de transcendência. Traz consigo a sugestão e até a explícita alegação de eternidade: “Eu sempre te amarei.” No entanto sabemos por experiência que Eros pode ser muito volúvel. Lewis escreve, “Eros é levado a prometer o que Eros não pode cumprir.”
A seguir há a FILIA ou amizade. A amizade não é um amor natural no sentido de que não necessitamos dela para sobreviver. Ao contrário dos pais e vizinhos, os amigos são realmente escolhidos. Os amigos não estão unidos muito por um interesse um no outro mas porque compartilham interesse em outra coisa: xadrez quem sabe ou a arte ou uma percepção comum daquilo que é importante na vida. Enquanto os amantes podem ser flagrados olhando intensamente um para o outro, os amigos podem ser flagrados lado a lado olhando intensamente na mesma direção.
Em seu máximo, argumenta Lewis, essas três formas de amor exigem de nós o mais alto compromisso. Cada um faz exigências que procura sobrepujar o outro e qualquer afeição competidora. Lewis mostra ainda que cada um contém severas limitações. O amor familiar pode ser tão forte a ponto de nos cegar para as necessidades dos outros fora desse atrativo círculo. Eros é um famoso mentiroso. A amizade pode se degenerar rapidamente em exclusividade mesquinha. Os três amores universais, escreve Lewis, devem ser integrados, reconciliados e governados por um quarto tipo de amor.
Esse amor é AGAPE ou a caridade. É o amor que temos para com aqueles que não são nada para nós. É o menos egoísta de todos os amores e também o menos natural. Simplesmente não há explicação darwinista sobre por que as pessoas se preocupam e procuram ajudar aqueles que são completos estranhos. Agape é quem mais se aproxima do amor de Deus por nós. Deus nos amou por nenhuma outra razão a não ser porque Ele escolheu nos amar. Nós somos chamados a experimentar e nos aproximar desse amor na maneira com que tratamos os outros. Nenhuma outra religião ensina Agape, que é uma invenção toda do Cristianismo. Pouco se dão conta as pessoas seculares de que quando fazem coisas boas que não as beneficiam de maneira alguma, estão agindo de acordo com o legado do Cristianismo.
Esse é o amor que o menino Jesus trouxe ao mundo, uns dois mil anos atrás. Ateus pugilistas como Richard Dawkins e Sam Harris brigam longe de Jesus, não acertando nele um golpe sequer e revelando no processo sua ríspida insignificância. De modo que se todas as pessoas - incluindo cristãos professos - tomassem com mais seriedade os ensinamentos de Cristo, e buscassem incorporar em suas vidas a virtude cristã por definição, Agape, não seria essa terra um lugar mais doce e amável?
...................................
[1] Nota do tradutor: no original, “in love”.
tradução de Daniel Lourenço
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Em seu belo livro Os quatro amores, C. S. Lewis descreve os quatro tipos distintos de amor. Três deles são universais e portanto familiares a todos. Primeiro há o STORGE ou amor familiar. Essa é a afeição que sentimos por parentes, vizinhos e as pessoas que convivem conosco. O amor entre pais e filhos provavelmente é o caso clássico de amor familiar. Curiosamente não escolhemos aqueles que serão objeto de amor familiar; por conseqüência, Storge nos introduz a pessoas com quem talvez não tivéssemos escolhido para conviver e cujas virtudes talvez jamais aprendamos a apreciar.
Segundo, há EROS ou o amor romântico. Tão poderosa é sua força que as pessoas feqüentemente se descrevem enamoradas[1], como se estivessem presas a uma força externa. Os personagens Paolo e Francesca de Dante buscam justificar seu adultério argumentando, de fato, que “Eros nos fez fazer isso.” O amor romântico parece encarnar uma espécie de altíssima moralidade que derruba as regras convencionais. O apelo de Eros é que ele nos dá aquela consciência momentânea de transcendência. Traz consigo a sugestão e até a explícita alegação de eternidade: “Eu sempre te amarei.” No entanto sabemos por experiência que Eros pode ser muito volúvel. Lewis escreve, “Eros é levado a prometer o que Eros não pode cumprir.”
A seguir há a FILIA ou amizade. A amizade não é um amor natural no sentido de que não necessitamos dela para sobreviver. Ao contrário dos pais e vizinhos, os amigos são realmente escolhidos. Os amigos não estão unidos muito por um interesse um no outro mas porque compartilham interesse em outra coisa: xadrez quem sabe ou a arte ou uma percepção comum daquilo que é importante na vida. Enquanto os amantes podem ser flagrados olhando intensamente um para o outro, os amigos podem ser flagrados lado a lado olhando intensamente na mesma direção.
Em seu máximo, argumenta Lewis, essas três formas de amor exigem de nós o mais alto compromisso. Cada um faz exigências que procura sobrepujar o outro e qualquer afeição competidora. Lewis mostra ainda que cada um contém severas limitações. O amor familiar pode ser tão forte a ponto de nos cegar para as necessidades dos outros fora desse atrativo círculo. Eros é um famoso mentiroso. A amizade pode se degenerar rapidamente em exclusividade mesquinha. Os três amores universais, escreve Lewis, devem ser integrados, reconciliados e governados por um quarto tipo de amor.
Esse amor é AGAPE ou a caridade. É o amor que temos para com aqueles que não são nada para nós. É o menos egoísta de todos os amores e também o menos natural. Simplesmente não há explicação darwinista sobre por que as pessoas se preocupam e procuram ajudar aqueles que são completos estranhos. Agape é quem mais se aproxima do amor de Deus por nós. Deus nos amou por nenhuma outra razão a não ser porque Ele escolheu nos amar. Nós somos chamados a experimentar e nos aproximar desse amor na maneira com que tratamos os outros. Nenhuma outra religião ensina Agape, que é uma invenção toda do Cristianismo. Pouco se dão conta as pessoas seculares de que quando fazem coisas boas que não as beneficiam de maneira alguma, estão agindo de acordo com o legado do Cristianismo.
Esse é o amor que o menino Jesus trouxe ao mundo, uns dois mil anos atrás. Ateus pugilistas como Richard Dawkins e Sam Harris brigam longe de Jesus, não acertando nele um golpe sequer e revelando no processo sua ríspida insignificância. De modo que se todas as pessoas - incluindo cristãos professos - tomassem com mais seriedade os ensinamentos de Cristo, e buscassem incorporar em suas vidas a virtude cristã por definição, Agape, não seria essa terra um lugar mais doce e amável?
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[1] Nota do tradutor: no original, “in love”.
tradução de Daniel Lourenço
quinta-feira, dezembro 27, 2007
Entrevista com Tom Jobim
Essa semana assisti a uma entrevista concedida pelo mestre Antonio Carlos Brasileiro Jobim nos seus 60 anos de idade. O repórter, talvez pensando que o músico se torna automaticamente um sábio por ser um ancião, fez-lhe perguntas sobre problemas atuais como desmatamento, guerra, e o músico não se fez de rogado, dando seus pitacos em tom levemente indignado, ao sabor carioca. Eis aí um homem sábio naquilo que sabe fazer, que é a música, opinando sobre aquilo que não sabe. Cena ruim de se ver.
A entrevista foi concedida em 1987. Compreende-se que nessa época as pessoas quisessem opinar sobre tudo e falar sobre qualquer coisa, pois haviam recém saído de um regime ditatorial.
O que não se aceita é que vinte anos depois esse desejo tenha crescido.
Essa idéia de que toda opinião tenha que ser respeitada é uma defesa contra o dever de buscar a verdade sem se acomodar com o sabido e de calar quando não se sabe. Mas o importante não é a opinião, e sim a verdade, entendida aqui como correspondência entre pensamento e realidade. Como a realidade não se transforma no pensamento, o pensamento tem que se transformar na realidade e isso exige um esforço contínuo de humildade, que é condição básica para o aprendizado seja do que for.
Ao invés de noticiar, jornalistas incitam os consumidores a tomar parte naquilo que estão mostrando, e o homem mal sabendo o que está acontecendo já se sente louco para “fazer algo a respeito.” É que não se trata de interpretar o mundo, mas de transformá-lo.
A entrevista foi concedida em 1987. Compreende-se que nessa época as pessoas quisessem opinar sobre tudo e falar sobre qualquer coisa, pois haviam recém saído de um regime ditatorial.
O que não se aceita é que vinte anos depois esse desejo tenha crescido.
Essa idéia de que toda opinião tenha que ser respeitada é uma defesa contra o dever de buscar a verdade sem se acomodar com o sabido e de calar quando não se sabe. Mas o importante não é a opinião, e sim a verdade, entendida aqui como correspondência entre pensamento e realidade. Como a realidade não se transforma no pensamento, o pensamento tem que se transformar na realidade e isso exige um esforço contínuo de humildade, que é condição básica para o aprendizado seja do que for.
Ao invés de noticiar, jornalistas incitam os consumidores a tomar parte naquilo que estão mostrando, e o homem mal sabendo o que está acontecendo já se sente louco para “fazer algo a respeito.” É que não se trata de interpretar o mundo, mas de transformá-lo.
domingo, dezembro 23, 2007
Dez anos do Indivíduo
O jornal eletrônico O Indivíduo completou 10 anos. Leia aqui o texto de Lucas Mafaldo que faz um balanço da influência da Internet na cultura brasileira. Está crescendo..
quinta-feira, dezembro 20, 2007
Liberais e conservadores
Vez ou outra utilizo o termo liberal contraposto ao de conservador, sem maiores explicações. Minha intenção é que os termos ganhem a mesma conotação que têm nos EUA, onde o liberal é o esquerdista, ou seja, aquele que defende o relativismo moral, e todas as implicações disso em políticas que vão desde a liberalização do aborto até a defesa do casamento de homossexuais, e o conservador é aquele que acredita que existem o certo e o errado, muito embora possa ser super difícil identificá-los na situação concreta. No Brasil o termo liberal se identifica em primeiro lugar com o defensor do livre-mercado, da tradição da economia clássica. Ocorre que não necessariamente, no entanto, um defensor do livre-mercado também acredita em valores morais, por isso a definição política de liberal é precária, dado faltar-lhe explicação sobre componente que é essencial no caráter político, qual seja, o componente moral (ou amoral).
Mais sobre o tema, e melhor explicado por homem da área de tradução, ver em http://www.pedrosette.com/2007/03/08/liberals-e-liberais-conservatives-e-conservadores/.
Mais sobre o tema, e melhor explicado por homem da área de tradução, ver em http://www.pedrosette.com/2007/03/08/liberals-e-liberais-conservatives-e-conservadores/.
segunda-feira, dezembro 17, 2007
Dez princípios conservadores.
por Russell Kirk, traduzido por Paulo Ricardo.
Clique aqui e baixe o texto.
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sábado, dezembro 08, 2007
Os EUA na Nova Ordem Mundial
Os EUA são o país onde a resistência à Nova Ordem Mundial se dá com mais intensidade. Embora hajam nascido nesse país diversos movimentos político-ideológicos contemporâneos, também nesse país se construiu a mais forte resistência a esses movimentos.
Quando a URSS se dissolveu, muitos analistas apontaram os EUA como a única superpotência do planeta, a que exerceria uma hegemonia sobre outras nações. Até mesmo o ultra perspicaz Olavo de Carvalho apontou os EUA como o novo Império. Na década de 90, porém, outros centros de poder consolidaram-se e passaram a exercer influência enorme. A ONU e entidades transnacionais como a União Européia pressionam governos a adotarem aquele rol de direitos citado no post anterior. Fundações bilionárias, as mais conhecidas dentre elas de origem americana, dão apoio financeiro a projetos relacionados. O Centro de Estudos e Pesquisas no Ensino do Direito (CEPED) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro foi fundado com apoio da Fundação Ford. Deve ser um dos motivos pelos quais minha ex-faculdade é tão liberal...
A origem de vários desses movimentos da Nova Era é americana. O feminismo, o ambientalismo, o movimento homossexual, se não tiveram suas origens nos EUA, ao menos tornaram-se bandeiras globais pelo barulho que fizeram nesse país. Por esse motivo muitas pessoas tomam os EUA como o criador da Nova Ordem Mundial. Essa idéia, porém, não é correta. Esses movimentos não são exatamente apoiados pela população. Na década de 70, a chamada “maioria silenciosa” já mostrava que não compartilhava desses valores relativistas elegendo o presidente Richard Nixon. Na década seguinte, a eleição do presidente Ronald Reagan tirou a “maioria silenciosa” do armário e o movimento conservador começou a ganhar força. Antes disso, autores conservadores como Russell Kirk e Eric Voegelin, entre outros, conquistavam o coração de estudantes sinceros. Ronald Reagan disse as seguintes palavras de Russell Kirk: “Como profeta do conservadorismo americano, Russell Kirk ensinou, estimulou e inspirou uma geração. Desde... Piety Hill, ele foi fundo nos valores americanos, escrevendo e editando trabalhos centrais de filosofia política. Sua contribuição intelectual foi um profundo ato de patriotismo. Aposto que no futuro seu trabalho continuará a exercer profunda influência na defesa de nossos valores e de nossa estimada civilização.”
Mês passado completaram-se 20 anos da publicação do livro “The closing of the american mind”, de Allan Bloom, que foi um marco na crítica à burrice universitária. Desde 1987, dois movimentos são bastante claros na sociedade americana. Por um lado, o Estado tem cada dia mais controle sobre a vida do cidadão. Por outro, no meio intelectual, a esquerda sofre derrotas atrás de derrotas. Christopher Hitchens não tem como discutir com Dinesh D' Souza a não ser apelando para um senso comum barato ao qual não falta cinismo. (ver o vídeo do debate entre os dois na página de Dinesh D' Souza, com link ao lado). O primeiro desses movimentos é o refexo político de décadas de domínio liberal da cultura, bem como das enormes somas de capital investidas pelas Fundações bilionárias. A reação a esse movimento pode ser ilustrada pelo convite feito pela American Family Association, organização conservadora americana, a boicotar os produtos da Ford, o que resultou, dentre outras causas, em queda vertiginosa no faturamento dessa empresa. O mais importante evento, no entanto, foi o surgimento dessa geração fantástica de jornalistas e escritores, que inclui Ann Coulter, Thomas Sowell, Sean Hannity - e vários outros que o autor conhece só de nome, os quais desmascaram uma a uma as artimanhas de políticos desejosos de exercer controle enorme sobre a vida do homem. Até George W. Bush não escapa da mira desses jornalistas. Se você acredita que ele é direitista, passe a ler os artigos dessa turma da pesada. Mais do que a guerra contra o Iraque, o presidente George W. Bush talvez entre para a história como o homem que permitiu o fim da soberania e identidade americanas, dissolvendo-as numa entidade transnacional chamada North American Union, que é um arremedo de União Européia para a América do Norte.
Olavo de Carvalho já disse que precisaria reescrever o capítulo de seu livro em que aponta os EUA como o novo Império. Ele tem razão. Os EUA são a bucha de canhão da Nova Ordem Mundial. A própria hegemonia americana é usada como forma de aumentar o poder do Concerto das Nações. Eu imagino se a Inglaterra do século XIX aceitaria discutir assuntos polêmicos com Brasil, China, Japão..
Presidentes dos EUA confusos aceitam políticas que vão de encontro aos valores mais americanos. A Nova Ordem Mundial é uma época de desordem.
Quando a URSS se dissolveu, muitos analistas apontaram os EUA como a única superpotência do planeta, a que exerceria uma hegemonia sobre outras nações. Até mesmo o ultra perspicaz Olavo de Carvalho apontou os EUA como o novo Império. Na década de 90, porém, outros centros de poder consolidaram-se e passaram a exercer influência enorme. A ONU e entidades transnacionais como a União Européia pressionam governos a adotarem aquele rol de direitos citado no post anterior. Fundações bilionárias, as mais conhecidas dentre elas de origem americana, dão apoio financeiro a projetos relacionados. O Centro de Estudos e Pesquisas no Ensino do Direito (CEPED) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro foi fundado com apoio da Fundação Ford. Deve ser um dos motivos pelos quais minha ex-faculdade é tão liberal...
A origem de vários desses movimentos da Nova Era é americana. O feminismo, o ambientalismo, o movimento homossexual, se não tiveram suas origens nos EUA, ao menos tornaram-se bandeiras globais pelo barulho que fizeram nesse país. Por esse motivo muitas pessoas tomam os EUA como o criador da Nova Ordem Mundial. Essa idéia, porém, não é correta. Esses movimentos não são exatamente apoiados pela população. Na década de 70, a chamada “maioria silenciosa” já mostrava que não compartilhava desses valores relativistas elegendo o presidente Richard Nixon. Na década seguinte, a eleição do presidente Ronald Reagan tirou a “maioria silenciosa” do armário e o movimento conservador começou a ganhar força. Antes disso, autores conservadores como Russell Kirk e Eric Voegelin, entre outros, conquistavam o coração de estudantes sinceros. Ronald Reagan disse as seguintes palavras de Russell Kirk: “Como profeta do conservadorismo americano, Russell Kirk ensinou, estimulou e inspirou uma geração. Desde... Piety Hill, ele foi fundo nos valores americanos, escrevendo e editando trabalhos centrais de filosofia política. Sua contribuição intelectual foi um profundo ato de patriotismo. Aposto que no futuro seu trabalho continuará a exercer profunda influência na defesa de nossos valores e de nossa estimada civilização.”
Mês passado completaram-se 20 anos da publicação do livro “The closing of the american mind”, de Allan Bloom, que foi um marco na crítica à burrice universitária. Desde 1987, dois movimentos são bastante claros na sociedade americana. Por um lado, o Estado tem cada dia mais controle sobre a vida do cidadão. Por outro, no meio intelectual, a esquerda sofre derrotas atrás de derrotas. Christopher Hitchens não tem como discutir com Dinesh D' Souza a não ser apelando para um senso comum barato ao qual não falta cinismo. (ver o vídeo do debate entre os dois na página de Dinesh D' Souza, com link ao lado). O primeiro desses movimentos é o refexo político de décadas de domínio liberal da cultura, bem como das enormes somas de capital investidas pelas Fundações bilionárias. A reação a esse movimento pode ser ilustrada pelo convite feito pela American Family Association, organização conservadora americana, a boicotar os produtos da Ford, o que resultou, dentre outras causas, em queda vertiginosa no faturamento dessa empresa. O mais importante evento, no entanto, foi o surgimento dessa geração fantástica de jornalistas e escritores, que inclui Ann Coulter, Thomas Sowell, Sean Hannity - e vários outros que o autor conhece só de nome, os quais desmascaram uma a uma as artimanhas de políticos desejosos de exercer controle enorme sobre a vida do homem. Até George W. Bush não escapa da mira desses jornalistas. Se você acredita que ele é direitista, passe a ler os artigos dessa turma da pesada. Mais do que a guerra contra o Iraque, o presidente George W. Bush talvez entre para a história como o homem que permitiu o fim da soberania e identidade americanas, dissolvendo-as numa entidade transnacional chamada North American Union, que é um arremedo de União Européia para a América do Norte.
Olavo de Carvalho já disse que precisaria reescrever o capítulo de seu livro em que aponta os EUA como o novo Império. Ele tem razão. Os EUA são a bucha de canhão da Nova Ordem Mundial. A própria hegemonia americana é usada como forma de aumentar o poder do Concerto das Nações. Eu imagino se a Inglaterra do século XIX aceitaria discutir assuntos polêmicos com Brasil, China, Japão..
Presidentes dos EUA confusos aceitam políticas que vão de encontro aos valores mais americanos. A Nova Ordem Mundial é uma época de desordem.
quarta-feira, dezembro 05, 2007
O Brasil na Nova Ordem Mundial
O Brasil é o país que se adequou perfeitamente ao projeto da Nova Ordem Mundial. Desde que George Bush o anunciou, pouco antes de a cidade do Rio de Janeiro receber a Eco-92, o Brasil vem adotando um a um os programas da ONU sobre direitos sexuais, ambientais, raciais, indígenas e outros - sem querer discriminar esse OUTROS, é que o autor dessas linhas não consegue lembrá-los agora.
O ambientalismo talvez seja a ideologia que mais forte toca o coração das pessoas. Inteligente articulista do site Mídia sem Máscara comparou o projeto TAMAR com o projeto de legalizar o aborto, chamando-o, em feliz trocadilho, de projeto MATAR. Não se toca nos ovos de tartaruga, porém o feto humano pode ser cortado com tezoura e jogado em um balde. Aquecimento global é quase um mantra, muito embora aqui e ali vozes se levantem para dizer que talvez esse seja apenas um ciclo passageiro, como o de ligeiro esfriamento global nos anos 50, o qual o jornal NY Times anunciava então com estardalhaço..
A Nova Ordem Mundial é a ordem da liberdade irrestrita. Faz-se o que quer, e ninguém tem nada com isso. Nessa era em que só se fala de democracia, seria bom voltar a ler o velho mestre Platão, cujas advertências sobre os riscos da liberdade irrestrita são bastante atuais... Traduzo do livro VIII de A República: "E a sua humanidade para com os condenados não chega a ser charmosa? Você não reparou que, em uma democracia, muitas pessoas, embora tenham sido sentenciadas à morte ou ao exílio, continuam no lugar que estão e caminham livres e soltas - os cavalheiros posam de heróis, e ninguém repara ou se importa?"
Nenhuma sociedade bem organizada se funda na idéia de liberdade, mas na de virtude. A liberdade irrestrita, o relativismo, e o ateísmo militante invariavelmente conduzem à tirania.
O ambientalismo talvez seja a ideologia que mais forte toca o coração das pessoas. Inteligente articulista do site Mídia sem Máscara comparou o projeto TAMAR com o projeto de legalizar o aborto, chamando-o, em feliz trocadilho, de projeto MATAR. Não se toca nos ovos de tartaruga, porém o feto humano pode ser cortado com tezoura e jogado em um balde. Aquecimento global é quase um mantra, muito embora aqui e ali vozes se levantem para dizer que talvez esse seja apenas um ciclo passageiro, como o de ligeiro esfriamento global nos anos 50, o qual o jornal NY Times anunciava então com estardalhaço..
A Nova Ordem Mundial é a ordem da liberdade irrestrita. Faz-se o que quer, e ninguém tem nada com isso. Nessa era em que só se fala de democracia, seria bom voltar a ler o velho mestre Platão, cujas advertências sobre os riscos da liberdade irrestrita são bastante atuais... Traduzo do livro VIII de A República: "E a sua humanidade para com os condenados não chega a ser charmosa? Você não reparou que, em uma democracia, muitas pessoas, embora tenham sido sentenciadas à morte ou ao exílio, continuam no lugar que estão e caminham livres e soltas - os cavalheiros posam de heróis, e ninguém repara ou se importa?"
Nenhuma sociedade bem organizada se funda na idéia de liberdade, mas na de virtude. A liberdade irrestrita, o relativismo, e o ateísmo militante invariavelmente conduzem à tirania.
terça-feira, dezembro 04, 2007
segunda-feira, dezembro 03, 2007
Notas sobre A República de Platão
Mais do que o desenho que faz do Estado em A República, é importante notar em Platão sua idéia de fundo de sociedade. Há pessoas que consideram Platão um tirano, mas essa é uma visão muito superficial. Algumas frases de A República são significativas para derrubar essa tese. Quando, ao ser perguntado por seu interlocutor se o guardião não rejeitaria a vida contrita que lhe é designada tornando-se um tirano, Sócrates - o personagem-voz de Platão no livro - responde, citando Hesíoso, que a "metade é melhor que o todo", ou seja, que viver as paixões com parcimônia é melhor que vivê-las desregradamente. Essa frase indica que Platão não acreditava nesse Estado modelo de uma forma utópica, muito menos imposta, mas demonstra que Platão lamenta que o guardião - o governante - possa abandonar a vida contrita feliz que tem para tiranizar os governados, tornano-se ao final infeliz também. De nada adianta todo o desenho constitucional do Estado se o guardião não estiver disposto a levar uma vida contrita. É coisa a se lamentar apenas, pois fará mal a si mesmo e à cidade. Platão sabe que a lei é feita para os homens. Uma lei boa não faz um homem bom. Ao contrário, o homem bom faz a lei boa. De forma intuitiva talvez, Platão prescreveu uma lei fundamental de conduta ao guardião a qual é a tentativa de captar a lei moral que rege o coração do grande homem, e que só esse pode conhecer. O grande homem é que ele chama de o guardião.
sábado, novembro 24, 2007
Domingo com poesia
Vale a pena ler o último Domingo com poesia de Pedro Sette Câmara (ver link ao lado). O homenageado é Bruno Tolentino, a um ano de seu último aniversário.
Não dá para não se encantar com o poema O segredo, do livro As horas de Katharina.
Não dá para não se encantar com o poema O segredo, do livro As horas de Katharina.
A educação liberal e a educação brasileira
por Daniel Lourenço
A educação liberal constitui-se dos famosos 3R's no inglês: "reading", "writing", "arithmetics". Ler, escrever e contar são os fundamentos de qualquer educação que se pretenda verdadeira. Relegar esse aprendizado a um segundo plano ou igualá-lo ao aprendizado de técnicas profissionalizantes é o erro por trás do emburrecimento de uma população.
Muito se tem falado no Brasil de inclusão digital. O governo quer que as escolas tenham computadores para que os estudantes estejam preparados a usar essas máquinas no mercado de trabalho. Preparar um estudante para mexer com computadores não é ruim, desde que não se esqueça do que é fundamental. Quem sabe ler e escrever bem tem muito mais capacidade de aprender novidades do que quem que não sabe. A técnica de usar computadores será aprendida de uma forma ou de outra durante a vida. Apenas demonstra o desinteresse pela formação humana a preocupação excessiva com esse aprendizado. Assim, não espanta que o Brasil ocupe os últimos lugares nas competições internacionais de estudantes.
Outro ponto bastante discutido é a educação através do esporte. Comenta-se que o esporte tira crianças da rua e que ensina valores como lealdade e competição. Mais uma vez há um desvio de foco do que é principal. Não se trata de condenar a educação física, mas de dar-lhe o seu devido lugar. Até grandes esportistas que ganharam salários bastante altos puderam encerrar suas carreiras em dificuldades financeiras por não saberem administrar seu dinheiro. Isso em parte porque não aprenderam a fazer contas direito.
Por fim, a política de passar de série o aluno independente de seu rendimento acadêmico tende a ser desastrosa. Alunos bons e talentosos ver-se-ão desprestigiados e desmotivados, como se já não bastasse o Presidente da República orgulhar-se de não gostar de ler.
O cenário da educação brasileira não é promissor. A ênfase dada a aspectos secundários é um erro, sem falar na ideologização do ensino. Um país não se faz apenas de profissionais, mas de homens em primeiro lugar. A educação liberal clássica cria esses homens.
A educação liberal constitui-se dos famosos 3R's no inglês: "reading", "writing", "arithmetics". Ler, escrever e contar são os fundamentos de qualquer educação que se pretenda verdadeira. Relegar esse aprendizado a um segundo plano ou igualá-lo ao aprendizado de técnicas profissionalizantes é o erro por trás do emburrecimento de uma população.
Muito se tem falado no Brasil de inclusão digital. O governo quer que as escolas tenham computadores para que os estudantes estejam preparados a usar essas máquinas no mercado de trabalho. Preparar um estudante para mexer com computadores não é ruim, desde que não se esqueça do que é fundamental. Quem sabe ler e escrever bem tem muito mais capacidade de aprender novidades do que quem que não sabe. A técnica de usar computadores será aprendida de uma forma ou de outra durante a vida. Apenas demonstra o desinteresse pela formação humana a preocupação excessiva com esse aprendizado. Assim, não espanta que o Brasil ocupe os últimos lugares nas competições internacionais de estudantes.
Outro ponto bastante discutido é a educação através do esporte. Comenta-se que o esporte tira crianças da rua e que ensina valores como lealdade e competição. Mais uma vez há um desvio de foco do que é principal. Não se trata de condenar a educação física, mas de dar-lhe o seu devido lugar. Até grandes esportistas que ganharam salários bastante altos puderam encerrar suas carreiras em dificuldades financeiras por não saberem administrar seu dinheiro. Isso em parte porque não aprenderam a fazer contas direito.
Por fim, a política de passar de série o aluno independente de seu rendimento acadêmico tende a ser desastrosa. Alunos bons e talentosos ver-se-ão desprestigiados e desmotivados, como se já não bastasse o Presidente da República orgulhar-se de não gostar de ler.
O cenário da educação brasileira não é promissor. A ênfase dada a aspectos secundários é um erro, sem falar na ideologização do ensino. Um país não se faz apenas de profissionais, mas de homens em primeiro lugar. A educação liberal clássica cria esses homens.
quarta-feira, novembro 21, 2007
Da bondade no homem
"Até que você atinja os níveis do Paraíso, a bondade será sempre mais uma busca do que uma posse, mais um objetivo do que uma experiência de obtenção."
No homem, pelo menos aqui no espaço-tempo, a bondade parece mais um deixar-se fazer do que um fazer efetivo. É como ficar feliz por algo que você nem sabe direito como aconteceu, e aconteceu através de você.
Por isso não consigo acreditar muito em responsabilidade social, campanhas disso ou daquilo. Parece-me mais um modo de a pessoa dar um pouco de seu dinheiro e esquecer-se do resto.
No homem, pelo menos aqui no espaço-tempo, a bondade parece mais um deixar-se fazer do que um fazer efetivo. É como ficar feliz por algo que você nem sabe direito como aconteceu, e aconteceu através de você.
Por isso não consigo acreditar muito em responsabilidade social, campanhas disso ou daquilo. Parece-me mais um modo de a pessoa dar um pouco de seu dinheiro e esquecer-se do resto.
quinta-feira, novembro 15, 2007
Desculpas
Por falta de atenção, não notei que hoje é dia de Proclamação da República. Creio que o humor do post anterior seria cabível em outra data, não hoje. Peço desculpas.
Por qué no te callas?
Depois das últimas manifestações de Lula sobre o cala-boca de Chavez, eu tenho uma proposta: que voltemos ao sistema político da União Ibérica e o Brasil seja governado pelo rei Juan Carlos.
quarta-feira, novembro 14, 2007
Revolução russa
Indico o site http://www.revolucaorussa.org/. O texto Tinta vermelha, capítulo do livro Tragédia de um povo, de Orlando Figes, é excelente.
domingo, novembro 11, 2007
História e ação do cinema
por Daniel Lourenço
Desde seu início, o cinema tem sido considerado a sétima arte. Os efeitos do cinema no imaginário popular são reais, e ele chega inclusive a ser usado por governos totalitários desejosos de amoldar o imaginário coletivo à sua ideologia.
O cinema se estabeleceu durante os anos 20 e 30. Nesse período grandes diretores como Fritz Lang e F. W. Murnau produziram verdadeiras obras-primas. Pessoas que jamais compreenderiam a loucura satânica de um Dr. Mabuse lendo tratados de psicologia clínica agora podiam entender sua ação perigosa sobre a sociedade em apenas duas horas. Ou ainda, crianças e jovens que ouviam as histórias do Conde Drácula, ratificavam seus temores com a forte impressão deixada pelo filme Nosferatu. Casais em crise podiam enxergar no filme Aurora um farol de esperança.
No entanto, o cinema não produziu apenas histórias edificantes. Ele também foi usado por pessoas sem escrúpulos que tentavam introduzir mentiras na sociedade. Os cinemas soviético e nazista são exemplos patentes disso. Até mesmo nos EUA, durante as décadas de 40 e 50 sobretudo, houve uma série manipulação da arte por comunistas. Fato curioso foi o filme Tropa de elite, sucesso absoluto no Brasil, que arrebatou uma legião de fãs. O filme foi produzido por dois diretores que, a julgar pelas entrevistas que concederam, são esquerdistas; o filme, porém, é o mais anti-esquerdista que já houve nesse país. Às vezes a retórica e a intenção dos diretores cedem espaço ao turbilhão de imagens reais produzidas, e o filme ganha um contexto bem diferente do que foi pretendido.
O cinema é uma novidade na história da humanidade. Ele existe desde o século XX. Seu apelo imaginativo e facilidade de acesso - que o teatro infelizmente não possue - dão à arte um poderoso meio de formar o imaginário coletivo e seus efeitos, para o bem e para o mal, são reais, embora nem sempre evidentes.
Desde seu início, o cinema tem sido considerado a sétima arte. Os efeitos do cinema no imaginário popular são reais, e ele chega inclusive a ser usado por governos totalitários desejosos de amoldar o imaginário coletivo à sua ideologia.
O cinema se estabeleceu durante os anos 20 e 30. Nesse período grandes diretores como Fritz Lang e F. W. Murnau produziram verdadeiras obras-primas. Pessoas que jamais compreenderiam a loucura satânica de um Dr. Mabuse lendo tratados de psicologia clínica agora podiam entender sua ação perigosa sobre a sociedade em apenas duas horas. Ou ainda, crianças e jovens que ouviam as histórias do Conde Drácula, ratificavam seus temores com a forte impressão deixada pelo filme Nosferatu. Casais em crise podiam enxergar no filme Aurora um farol de esperança.
No entanto, o cinema não produziu apenas histórias edificantes. Ele também foi usado por pessoas sem escrúpulos que tentavam introduzir mentiras na sociedade. Os cinemas soviético e nazista são exemplos patentes disso. Até mesmo nos EUA, durante as décadas de 40 e 50 sobretudo, houve uma série manipulação da arte por comunistas. Fato curioso foi o filme Tropa de elite, sucesso absoluto no Brasil, que arrebatou uma legião de fãs. O filme foi produzido por dois diretores que, a julgar pelas entrevistas que concederam, são esquerdistas; o filme, porém, é o mais anti-esquerdista que já houve nesse país. Às vezes a retórica e a intenção dos diretores cedem espaço ao turbilhão de imagens reais produzidas, e o filme ganha um contexto bem diferente do que foi pretendido.
O cinema é uma novidade na história da humanidade. Ele existe desde o século XX. Seu apelo imaginativo e facilidade de acesso - que o teatro infelizmente não possue - dão à arte um poderoso meio de formar o imaginário coletivo e seus efeitos, para o bem e para o mal, são reais, embora nem sempre evidentes.
quinta-feira, novembro 08, 2007
Sociopatia e revolução
por Olavo de Carvalho
publicado no Diário do comércio em 23 de outubro de 2006
Com toda a sua presunção e arrogância, a ciência social moderna não conseguiu produzir nenhuma descoberta que se aproximasse, em exatidão e força explicativa, da doutrina hindu das quatro castas, da qual a concepção marxista da luta de classes é uma imitação caricatural e remota, daí derivando a impressão de veracidade que possa exercer sobre a mente simplória do "proletariado intelectual" universitário.
É impossível, a quem tenha se dado o trabalho de estudar um pouco a explicação hinduísta do processo histórico, observar a seqüência das estruturas de poder que se sucedem ao longo da história ocidental sem notar que ela repete ipsis litteris a transição do governo brâhmana para o kshatryia, deste para o váishyia e deste para o desgoverno shudra e para a confusão dos párias que prenuncia ou o fim da sociedade ou o retorno à ordem inicial.
Vou aqui resumir brevemente essa doutrina, não como ela é em sua pura formulação originária, mas na adaptação que lhe dei, em cursos e conferências proferidos desde 1980, para torná-la mais flexível como instrumento explicativo de processos histórico-culturais mais recentes.
Os brâhmana são a casta intelectual, voltada à busca do conhecimento espiritual e à construção de uma ordem social que reflita mais ou menos a "vontade de Deus" – as leis que determinam a estrutura inteira da realidade.
Os kshatryia são os guerreiros e aristocratas, que sobrepõem à estrutura da realidade a glorificação das suas próprias tradições dinásticas e a expansão do seu poder militar.
Os váishyia são os burgueses e comerciantes. Buscam em tudo o lucro e a eficácia econômica, que tomam ilusoriamente como um poder efetivo, ignorando as bases militares e espirituais da sociedade e terminando por ser rapidamente destruídos pelos shudra. Estes são os "proletários", no sentido romano do termo. Incapazes de governar-se a si mesmos, importam somente pelo poder do número, pela extensão quantitativa da "prole".
Os brâhmana caem pela sua dificuldade de manter-se fiéis à intuição espiritual originária, esfarelada entropicamente em confrontações doutrinais de um artificialismo sufocante, cada vez mais insolúveis e violentas.
A ascensão do poder aristocrático, com a formação dos modernos Estados nacionais, nasceu diretamente da necessidade de apaziguar os conflitos religiosos por meio de uma força externa, político-militar.
O governo kshatryia cai porque o establishment aristocrático-militar é um poder essencialmente centralizador e expansionista, que tem de se apoiar numa burocracia crescente cujos funcionários ele próprio não pode continuar fornecendo indefinidamente e que ele colherá, portanto, entre os membros mais talentosos das duas castas inferiores, aos quais dará o adestramento necessário para o exercício de suas novas funções administrativas, judiciais, diplomáticas etc. Daí nasce a "intelectualidade" moderna, como subproduto de um sistema de ensino voltado à formação de funcionários para o Estado. Por outro lado, tão logo a burocracia se consolida como meio de ascensão social, os candidatos a ela são sempre em número maior do que os cargos disponíveis, ao mesmo tempo que o ensino, sendo ele próprio um instrumento de seleção, tem necessariamente de atingir um círculo maior de alunos do que aqueles aos quais pode garantir um cargo no funcionalismo público. A burocracia com que o Estado kshatryia controla a sociedade torna-se assim uma bomba de efeito retardado. De um lado, não é preciso dizer que a intelectualidade burocrática logo tem em suas mãos o controle efetivo do Estado, sonhando em sacudir de seus ombros o jugo de uma casta aristocrática cada vez mais ociosa e dispendiosa. De outro lado, há a multidão dos rejeitados. Suas ambições foram despertadas pelo ensino, frustradas pela seleção profissional. Eles formam o contingente daquilo que denominei "burocracia virtual" – o exército crescente daqueles indivíduos relativamente adestrados, mas sem função. Seu único lugar possível na sociedade é dentro do Estado, mas o Estado não tem lugar para eles. Eles são a classe revolucionária por excelência, o personagem central da aventura moderna. Não demorarão a sonhar com um Estado amoldado às suas necessidades. Enquanto não conseguem criá-lo, ocupam-se de tagarelar infindavelmente sobre todos os assuntos, espalhando por toda a sociedade seu rancor e suas frustrações e, sobretudo, adornando-se usurpatoriamente do prestígio dos antigos brâhmana, dos quais constituem a caricatura invertida. Os "intelectuais" são o clero leigo da Revolução. Se vocês já ouviram falar em PT, sabem do que estou falando. Mais adiante voltarei a isso.
Por outro lado, o Estado aristocrático custa caro e não pode se manter indefinidamente com os recursos de uma economia agrária tradicional e simplória; a expansão econômica requer a mobilização de capacidades específicas que são as dos váishyia. Os banqueiros e industriais fornecem a nova base econômica do Estado, arregimentando a mão-de-obra shudra em proporções jamais sonhadas antes e substituindo à antiga economia agrária o moderno capitalismo.
É nesse momento – e só sob esse aspecto – que a diferença entre dois sistemas de propriedade dos meios de produção se torna determinante historicamente, criando uma situação peculiar que Karl Marx projetará enganosamente sobre todo o curso da História. Mas também é claro que a ascensão do capitalismo, em si, não apresenta risco para a classe aristocrática, a qual facilmente se adapta aos novos modos de adquirir riqueza e integra nas suas fileiras, por meio de casamentos e da distribuição de títulos nobiliárquicos, os novos ricos ascendidos sem nobreza ancestral, sine nobilitate (abreviatura s. nob., donde o termo "esnobe"). A essa adaptação corresponde, politicamente, a passagem do Estado monárquico absoluto à moderna monarquia parlamentar, um processo que não tem por que ser violento ou traumático, só vindo a sê-lo na França porque o crescimento excessivo da burocracia estatal tinha ocasionado fatalmente um crescimento ainda maior da "burocracia virtual" e transformado em puro rancor revolucionário as ambições frustradas da intelectualidade. Foi esta que fez a revolução. Não havia um só capitalista entre os líderes revolucionários, e a burguesia, como se viu na Inglaterra, jamais precisou de revolução nenhuma para se elevar socialmente a um status ao qual a própria aristocracia a convidava insistentemente. O conceito de "revolução burguesa" é uma das maiores fraudes da história das ciências sociais. Os componentes da burocracia virtual, por sua vez, não podem ser definidos economicamente. Seu único traço em comum era a educação que os diferenciava da massa. Vinham de todas as classes – do campesinato, do antigo clero, da pequena burguesia, dos setores empobrecidos da própria aristocracia. Não tinham unidade de origem, mas de situação social e ambições. A fórmula verdadeira da sua unidade residia no futuro: na imagem do Estado perfeito, investido de todas as virtudes que eles próprios julgavam encarnar. Vivendo de fantasia autoglorificante, compensação psicológica de sua posição social vexatória, não é de estranhar que se concebessem como herdeiros da autoridade intelectual dos brâhmana mas também se imaginassem os sucessores naturais da Igreja como porta-vozes e protetores dos pobres e oprimidos, os shudra. Por toda parte falam em nome da "ciência", mas também da "justiça social". Imaginam encarnar ao mesmo tempo a autoridade espiritual mais alta e os direitos espezinhados da casta mais baixa. Mas assim como não houve burgueses na vanguarda da "revolução burguesa", não haverá proletários entre os líderes da "revolução proletária". Toda a sociologia revolucionária é uma fraude ideológica destinada a encobrir o poder dos "intelectuais". Estes não são casta nenhuma. São uma interface nascida acidentalmente do inchaço canceroso da burocracia, e por isso mesmo lutarão para fazê-la crescer ainda mais onde quer que adquiram os meios para isso. São, a rigor, párias – uma mescla confusa e delirante de fragmentos de discursos das várias castas. São a pseudo-casta sem função nem eixo, sociopática por nascimento e vocação.
A ascensão da burguesia capitalista não é um processo revolucionário. É um longo e complexo processo de incorporação e adaptação. O capitalismo francês nasceu e permaneceu raquítico por causa da Revolução, que veio com a expansão burocrática e continuou vivendo dela até hoje, numa nação que é, por excelência, o paraíso dos "intelectuais". O capitalismo desenvolveu-se, isto sim, na Inglaterra, onde a aristocracia se adaptou suavemente às suas novas funções capitalistas, e na América, onde, sendo rala a presença da aristocracia de sangue, a própria burguesia capitalista se investiu do ethos heróico-aristocrático, gerando uma nova casta kshatryia. Observo, de passagem, que essa transfiguração da burguesia americana em aristocracia – o fenômeno mais importante e vigoroso da história moderna – jamais teria sido possível sem a profunda impregnação cristã da nova classe, que fazia dela, em contraste com a farsa dos "intelectuais", a herdeira parcial e longínqua, mas autêntica, da autoridade brâhmana.
Na doutrina hindu, não há jamais um governo shudra. Os shudra são, por definição, governados e não governantes. O sujeito pode nascer shudra mas ao ascender a funções de importância já é um "intelectual" (se Lula continuasse torneiro mecânico, seria apenas torneiro mecânico). O que pode haver é o governo dos intelectuais fazendo-se passar por vanguarda shudra e, é claro, oprimindo os shudra mais do que nunca, para que criem a base econômica de uma burocracia estatal ilimitadamente expansiva.
Economicamente, o governo shudra, ou socialismo, só tem existência verbal. Em 1921, Ludwig von Mises deu a demonstração cabal de que a economia totalmente estatizada é inviável e de que, portanto, todo regime autonomeado socialista nunca passaria de um capitalismo disfarçado sob a carapaça de ferro da burocracia estatal. A história não cessou de lhe dar razão desde então.
Dessa breve exposição é possível tirar algumas conclusões que a experiência histórica comprova abundantemente:
1 Onde quer que a burocracia estatal se torne a via predominante de ascensão social, como aconteceu na França do século XVIII ou na Rússia do século XIX, a burocracia virtual tende a crescer indefinidamente e a tornar-se geradora de pressões revolucionárias. Muitas nações modernas aliviam essas pressões criando um número indefinido de sinecuras culturais e universitárias para integrar e "oficializar" de algum modo a burocracia virtual, mas isso, por um lado, é um paliativo caríssimo, que só pode ser custeado por um capitalismo pujante, o que supõe, precisamente, que a Revolução seja abortada em tempo; por outro lado, a burocracia virtual oficializada pode se satisfazer por algum tempo com suas novas funções na sociedade capitalista, mas a ascensão social mesma acabará por torná-la ainda mais presunçosa e arrogante. Isso explica que precisamente nas nações onde os intelectuais têm as melhores condições de vida eles sejam os mais rancorosos inimigos da sociedade que os nutre e lisonjeia, mas em compensação não consigam ou talvez nem queiram desferir o golpe mortal nessa sociedade, limitando-se a constituir um fator de corrosão estrutural permanente, neutralizado, no conjunto, pelo progresso técnico e pelo crescimento capitalista.
2 Onde a burocracia virtual ainda não perfeitamente oficializada tenha como principal veículo de integração social um partido político, esse partido, encarnando a seus próprios olhos ao mesmo tempo a suprema autoridade intelectual e os direitos de todas as vítimas reais ou imaginárias da injustiça social, se colocará necessariamente acima das leis e instituições, arrogando-se todos os direitos e todas as virtudes e não reconhecendo julgamento superior ao seu.
3 Toda esperança de integrar esse partido no processo democrático normal será repetidamente frustrada, pois ele jamais entenderá sua participação nesse processo senão como concessão temporária – e, em si mesma, repugnante – às condições que impedem a consecução dos seus objetivos.
4 A conquista do poder total será sempre o objetivo e a única razão de ser desse partido, que tentará toda sorte de golpes de Estado e ao mesmo tempo verá como golpe de Estado qualquer tentativa, por mais tímida e limitada, de impedi-lo de chegar a seus objetivos. Exemplos não faltam no Brasil. O mais recente é aquele em que os líderes do partido dominante pregam abertamente a resistência violenta a uma possível derrota nas eleições, ao mesmo tempo que denunciam literalmente como “golpe de Estado” a simples revelação jornalística do dinheiro que usaram num truque sujo contra o adversário (vejam a maravilha de retórica invertida em http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/394501-395000/394778/394778_1.html ).
5 Como a função primordial do partido revolucionário, por baixo dos mais variados pretextos ideológicos, é justamente criar um Estado burocrático para servir a seus próprios membros, é normal e inevitável que esse partido, uma vez investido do poder estatal, encare o Estado como sua propriedade, usando-o para seus próprios fins e não vendo nisso a menor imoralidade. A burocracia virtual é sociopática por nascimento e por definição; e sua forma de governo, tão logo tenha as condições de implantá-la, é e será sempre a sociopatia organizada.
6 A afinidade do partido revolucionário com o banditismo comum é algo mais que conjunção temporária de interesses. Na perspectiva da burocracia virtual, o único mal no mundo é ela não ter o poder absoluto, é existir uma sociedade que a transcende e não a obedece. Todos os outros males, se enfraquecem essa sociedade e favorecem a conquista do poder total pelo partido revolucionário, são bens. A auto-idolatria solipsística do chefe de gangue e a do líder revolucionário são exatamente a mesma, com a leve diferença do requinte intelectual um pouco maior a favor desta última. É ridículo dizer que um partido como o PT "se transformou" numa quadrilha de delinqüentes. Ele nasceu delinqüente.
7 A insistência dos adversários em fazer de conta que esse partido pode participar honradamente do processo político normal levará sempre a condições de “guerra assimétrica”, em que um dos lados terá todos os encargos, e o outro todos os direitos.
PS – Para aqueles que tiveram a infelicidade de nascer membros da burocracia virtual, só há três caminhos de vida possíveis: (1) integrar-se na farsa revolucionária e sair alardeando que são benfeitores da humanidade; (2) cair para a marginalidade, a doença mental, a autodestruição ou o banditismo; (3) compreender sua situação histórica, lutar para escapar a uma condição social essencialmente farsesca e para adquirir, por meio do estudo e da autodisciplina espiritual, a dignidade do verdadeiro estatuto brâhmana, o que implica renunciar a todo poder político e a todas as vantagens psico-sociais da participação na intelectualidade revolucionária. Economicamente, sobreviver da atividade intelectual fora do esquema revolucionário de proteção mútua é um desafio temível.
Para os que nasceram váishyias, o desafio é resistir ao canto-de-sereia revolucionário e impor o capitalismo como modo de vida moralmente superior. Isto não é possível sem o cultivo da disciplina kshatryia e a aceitação dos encargos heróicos de uma nova casta nobre, o que implica a absorção, mesmo longínqua, do legado brâhmana. A luta no mundo moderno é entre os váishyia e os burocratas virtuais – isto é, entre aqueles que alimentam o Estado e aqueles que se alimentam dele. Se os primeiros se deixam hipnotizar pela cultura revolucionária, estão liquidados, e, com eles, os shudra, que perdem o estatuto de trabalhadores livres para ser escravos da burocracia comunista.
publicado no Diário do comércio em 23 de outubro de 2006
Com toda a sua presunção e arrogância, a ciência social moderna não conseguiu produzir nenhuma descoberta que se aproximasse, em exatidão e força explicativa, da doutrina hindu das quatro castas, da qual a concepção marxista da luta de classes é uma imitação caricatural e remota, daí derivando a impressão de veracidade que possa exercer sobre a mente simplória do "proletariado intelectual" universitário.
É impossível, a quem tenha se dado o trabalho de estudar um pouco a explicação hinduísta do processo histórico, observar a seqüência das estruturas de poder que se sucedem ao longo da história ocidental sem notar que ela repete ipsis litteris a transição do governo brâhmana para o kshatryia, deste para o váishyia e deste para o desgoverno shudra e para a confusão dos párias que prenuncia ou o fim da sociedade ou o retorno à ordem inicial.
Vou aqui resumir brevemente essa doutrina, não como ela é em sua pura formulação originária, mas na adaptação que lhe dei, em cursos e conferências proferidos desde 1980, para torná-la mais flexível como instrumento explicativo de processos histórico-culturais mais recentes.
Os brâhmana são a casta intelectual, voltada à busca do conhecimento espiritual e à construção de uma ordem social que reflita mais ou menos a "vontade de Deus" – as leis que determinam a estrutura inteira da realidade.
Os kshatryia são os guerreiros e aristocratas, que sobrepõem à estrutura da realidade a glorificação das suas próprias tradições dinásticas e a expansão do seu poder militar.
Os váishyia são os burgueses e comerciantes. Buscam em tudo o lucro e a eficácia econômica, que tomam ilusoriamente como um poder efetivo, ignorando as bases militares e espirituais da sociedade e terminando por ser rapidamente destruídos pelos shudra. Estes são os "proletários", no sentido romano do termo. Incapazes de governar-se a si mesmos, importam somente pelo poder do número, pela extensão quantitativa da "prole".
Os brâhmana caem pela sua dificuldade de manter-se fiéis à intuição espiritual originária, esfarelada entropicamente em confrontações doutrinais de um artificialismo sufocante, cada vez mais insolúveis e violentas.
A ascensão do poder aristocrático, com a formação dos modernos Estados nacionais, nasceu diretamente da necessidade de apaziguar os conflitos religiosos por meio de uma força externa, político-militar.
O governo kshatryia cai porque o establishment aristocrático-militar é um poder essencialmente centralizador e expansionista, que tem de se apoiar numa burocracia crescente cujos funcionários ele próprio não pode continuar fornecendo indefinidamente e que ele colherá, portanto, entre os membros mais talentosos das duas castas inferiores, aos quais dará o adestramento necessário para o exercício de suas novas funções administrativas, judiciais, diplomáticas etc. Daí nasce a "intelectualidade" moderna, como subproduto de um sistema de ensino voltado à formação de funcionários para o Estado. Por outro lado, tão logo a burocracia se consolida como meio de ascensão social, os candidatos a ela são sempre em número maior do que os cargos disponíveis, ao mesmo tempo que o ensino, sendo ele próprio um instrumento de seleção, tem necessariamente de atingir um círculo maior de alunos do que aqueles aos quais pode garantir um cargo no funcionalismo público. A burocracia com que o Estado kshatryia controla a sociedade torna-se assim uma bomba de efeito retardado. De um lado, não é preciso dizer que a intelectualidade burocrática logo tem em suas mãos o controle efetivo do Estado, sonhando em sacudir de seus ombros o jugo de uma casta aristocrática cada vez mais ociosa e dispendiosa. De outro lado, há a multidão dos rejeitados. Suas ambições foram despertadas pelo ensino, frustradas pela seleção profissional. Eles formam o contingente daquilo que denominei "burocracia virtual" – o exército crescente daqueles indivíduos relativamente adestrados, mas sem função. Seu único lugar possível na sociedade é dentro do Estado, mas o Estado não tem lugar para eles. Eles são a classe revolucionária por excelência, o personagem central da aventura moderna. Não demorarão a sonhar com um Estado amoldado às suas necessidades. Enquanto não conseguem criá-lo, ocupam-se de tagarelar infindavelmente sobre todos os assuntos, espalhando por toda a sociedade seu rancor e suas frustrações e, sobretudo, adornando-se usurpatoriamente do prestígio dos antigos brâhmana, dos quais constituem a caricatura invertida. Os "intelectuais" são o clero leigo da Revolução. Se vocês já ouviram falar em PT, sabem do que estou falando. Mais adiante voltarei a isso.
Por outro lado, o Estado aristocrático custa caro e não pode se manter indefinidamente com os recursos de uma economia agrária tradicional e simplória; a expansão econômica requer a mobilização de capacidades específicas que são as dos váishyia. Os banqueiros e industriais fornecem a nova base econômica do Estado, arregimentando a mão-de-obra shudra em proporções jamais sonhadas antes e substituindo à antiga economia agrária o moderno capitalismo.
É nesse momento – e só sob esse aspecto – que a diferença entre dois sistemas de propriedade dos meios de produção se torna determinante historicamente, criando uma situação peculiar que Karl Marx projetará enganosamente sobre todo o curso da História. Mas também é claro que a ascensão do capitalismo, em si, não apresenta risco para a classe aristocrática, a qual facilmente se adapta aos novos modos de adquirir riqueza e integra nas suas fileiras, por meio de casamentos e da distribuição de títulos nobiliárquicos, os novos ricos ascendidos sem nobreza ancestral, sine nobilitate (abreviatura s. nob., donde o termo "esnobe"). A essa adaptação corresponde, politicamente, a passagem do Estado monárquico absoluto à moderna monarquia parlamentar, um processo que não tem por que ser violento ou traumático, só vindo a sê-lo na França porque o crescimento excessivo da burocracia estatal tinha ocasionado fatalmente um crescimento ainda maior da "burocracia virtual" e transformado em puro rancor revolucionário as ambições frustradas da intelectualidade. Foi esta que fez a revolução. Não havia um só capitalista entre os líderes revolucionários, e a burguesia, como se viu na Inglaterra, jamais precisou de revolução nenhuma para se elevar socialmente a um status ao qual a própria aristocracia a convidava insistentemente. O conceito de "revolução burguesa" é uma das maiores fraudes da história das ciências sociais. Os componentes da burocracia virtual, por sua vez, não podem ser definidos economicamente. Seu único traço em comum era a educação que os diferenciava da massa. Vinham de todas as classes – do campesinato, do antigo clero, da pequena burguesia, dos setores empobrecidos da própria aristocracia. Não tinham unidade de origem, mas de situação social e ambições. A fórmula verdadeira da sua unidade residia no futuro: na imagem do Estado perfeito, investido de todas as virtudes que eles próprios julgavam encarnar. Vivendo de fantasia autoglorificante, compensação psicológica de sua posição social vexatória, não é de estranhar que se concebessem como herdeiros da autoridade intelectual dos brâhmana mas também se imaginassem os sucessores naturais da Igreja como porta-vozes e protetores dos pobres e oprimidos, os shudra. Por toda parte falam em nome da "ciência", mas também da "justiça social". Imaginam encarnar ao mesmo tempo a autoridade espiritual mais alta e os direitos espezinhados da casta mais baixa. Mas assim como não houve burgueses na vanguarda da "revolução burguesa", não haverá proletários entre os líderes da "revolução proletária". Toda a sociologia revolucionária é uma fraude ideológica destinada a encobrir o poder dos "intelectuais". Estes não são casta nenhuma. São uma interface nascida acidentalmente do inchaço canceroso da burocracia, e por isso mesmo lutarão para fazê-la crescer ainda mais onde quer que adquiram os meios para isso. São, a rigor, párias – uma mescla confusa e delirante de fragmentos de discursos das várias castas. São a pseudo-casta sem função nem eixo, sociopática por nascimento e vocação.
A ascensão da burguesia capitalista não é um processo revolucionário. É um longo e complexo processo de incorporação e adaptação. O capitalismo francês nasceu e permaneceu raquítico por causa da Revolução, que veio com a expansão burocrática e continuou vivendo dela até hoje, numa nação que é, por excelência, o paraíso dos "intelectuais". O capitalismo desenvolveu-se, isto sim, na Inglaterra, onde a aristocracia se adaptou suavemente às suas novas funções capitalistas, e na América, onde, sendo rala a presença da aristocracia de sangue, a própria burguesia capitalista se investiu do ethos heróico-aristocrático, gerando uma nova casta kshatryia. Observo, de passagem, que essa transfiguração da burguesia americana em aristocracia – o fenômeno mais importante e vigoroso da história moderna – jamais teria sido possível sem a profunda impregnação cristã da nova classe, que fazia dela, em contraste com a farsa dos "intelectuais", a herdeira parcial e longínqua, mas autêntica, da autoridade brâhmana.
Na doutrina hindu, não há jamais um governo shudra. Os shudra são, por definição, governados e não governantes. O sujeito pode nascer shudra mas ao ascender a funções de importância já é um "intelectual" (se Lula continuasse torneiro mecânico, seria apenas torneiro mecânico). O que pode haver é o governo dos intelectuais fazendo-se passar por vanguarda shudra e, é claro, oprimindo os shudra mais do que nunca, para que criem a base econômica de uma burocracia estatal ilimitadamente expansiva.
Economicamente, o governo shudra, ou socialismo, só tem existência verbal. Em 1921, Ludwig von Mises deu a demonstração cabal de que a economia totalmente estatizada é inviável e de que, portanto, todo regime autonomeado socialista nunca passaria de um capitalismo disfarçado sob a carapaça de ferro da burocracia estatal. A história não cessou de lhe dar razão desde então.
Dessa breve exposição é possível tirar algumas conclusões que a experiência histórica comprova abundantemente:
1 Onde quer que a burocracia estatal se torne a via predominante de ascensão social, como aconteceu na França do século XVIII ou na Rússia do século XIX, a burocracia virtual tende a crescer indefinidamente e a tornar-se geradora de pressões revolucionárias. Muitas nações modernas aliviam essas pressões criando um número indefinido de sinecuras culturais e universitárias para integrar e "oficializar" de algum modo a burocracia virtual, mas isso, por um lado, é um paliativo caríssimo, que só pode ser custeado por um capitalismo pujante, o que supõe, precisamente, que a Revolução seja abortada em tempo; por outro lado, a burocracia virtual oficializada pode se satisfazer por algum tempo com suas novas funções na sociedade capitalista, mas a ascensão social mesma acabará por torná-la ainda mais presunçosa e arrogante. Isso explica que precisamente nas nações onde os intelectuais têm as melhores condições de vida eles sejam os mais rancorosos inimigos da sociedade que os nutre e lisonjeia, mas em compensação não consigam ou talvez nem queiram desferir o golpe mortal nessa sociedade, limitando-se a constituir um fator de corrosão estrutural permanente, neutralizado, no conjunto, pelo progresso técnico e pelo crescimento capitalista.
2 Onde a burocracia virtual ainda não perfeitamente oficializada tenha como principal veículo de integração social um partido político, esse partido, encarnando a seus próprios olhos ao mesmo tempo a suprema autoridade intelectual e os direitos de todas as vítimas reais ou imaginárias da injustiça social, se colocará necessariamente acima das leis e instituições, arrogando-se todos os direitos e todas as virtudes e não reconhecendo julgamento superior ao seu.
3 Toda esperança de integrar esse partido no processo democrático normal será repetidamente frustrada, pois ele jamais entenderá sua participação nesse processo senão como concessão temporária – e, em si mesma, repugnante – às condições que impedem a consecução dos seus objetivos.
4 A conquista do poder total será sempre o objetivo e a única razão de ser desse partido, que tentará toda sorte de golpes de Estado e ao mesmo tempo verá como golpe de Estado qualquer tentativa, por mais tímida e limitada, de impedi-lo de chegar a seus objetivos. Exemplos não faltam no Brasil. O mais recente é aquele em que os líderes do partido dominante pregam abertamente a resistência violenta a uma possível derrota nas eleições, ao mesmo tempo que denunciam literalmente como “golpe de Estado” a simples revelação jornalística do dinheiro que usaram num truque sujo contra o adversário (vejam a maravilha de retórica invertida em http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/394501-395000/394778/394778_1.html ).
5 Como a função primordial do partido revolucionário, por baixo dos mais variados pretextos ideológicos, é justamente criar um Estado burocrático para servir a seus próprios membros, é normal e inevitável que esse partido, uma vez investido do poder estatal, encare o Estado como sua propriedade, usando-o para seus próprios fins e não vendo nisso a menor imoralidade. A burocracia virtual é sociopática por nascimento e por definição; e sua forma de governo, tão logo tenha as condições de implantá-la, é e será sempre a sociopatia organizada.
6 A afinidade do partido revolucionário com o banditismo comum é algo mais que conjunção temporária de interesses. Na perspectiva da burocracia virtual, o único mal no mundo é ela não ter o poder absoluto, é existir uma sociedade que a transcende e não a obedece. Todos os outros males, se enfraquecem essa sociedade e favorecem a conquista do poder total pelo partido revolucionário, são bens. A auto-idolatria solipsística do chefe de gangue e a do líder revolucionário são exatamente a mesma, com a leve diferença do requinte intelectual um pouco maior a favor desta última. É ridículo dizer que um partido como o PT "se transformou" numa quadrilha de delinqüentes. Ele nasceu delinqüente.
7 A insistência dos adversários em fazer de conta que esse partido pode participar honradamente do processo político normal levará sempre a condições de “guerra assimétrica”, em que um dos lados terá todos os encargos, e o outro todos os direitos.
PS – Para aqueles que tiveram a infelicidade de nascer membros da burocracia virtual, só há três caminhos de vida possíveis: (1) integrar-se na farsa revolucionária e sair alardeando que são benfeitores da humanidade; (2) cair para a marginalidade, a doença mental, a autodestruição ou o banditismo; (3) compreender sua situação histórica, lutar para escapar a uma condição social essencialmente farsesca e para adquirir, por meio do estudo e da autodisciplina espiritual, a dignidade do verdadeiro estatuto brâhmana, o que implica renunciar a todo poder político e a todas as vantagens psico-sociais da participação na intelectualidade revolucionária. Economicamente, sobreviver da atividade intelectual fora do esquema revolucionário de proteção mútua é um desafio temível.
Para os que nasceram váishyias, o desafio é resistir ao canto-de-sereia revolucionário e impor o capitalismo como modo de vida moralmente superior. Isto não é possível sem o cultivo da disciplina kshatryia e a aceitação dos encargos heróicos de uma nova casta nobre, o que implica a absorção, mesmo longínqua, do legado brâhmana. A luta no mundo moderno é entre os váishyia e os burocratas virtuais – isto é, entre aqueles que alimentam o Estado e aqueles que se alimentam dele. Se os primeiros se deixam hipnotizar pela cultura revolucionária, estão liquidados, e, com eles, os shudra, que perdem o estatuto de trabalhadores livres para ser escravos da burocracia comunista.
terça-feira, outubro 23, 2007
O declínio do riso
por Roger Scruton
A razão se mostra em todas as nossas tentativas de entender o mundo e em todas as maneiras de nos relacionarmos uns com os outros. Está presente nas nossas escolhas, e também nas nossas reações involuntárias. Apenas um ser racional é capaz de chorar ou corar, mesmo que essas duas reações estejam fora do alcance de nossa vontade. E apenas o ser racional é capaz de rir. Hienas fazem um som como de riso, mas não se trata na realidade de um sinal de contentamento, nem tem a função social que o riso tem – que é iluminar as nossas diferenças e alegrar-se com o que compartilhamos. O riso não é somente regozijo e satisfação, é a principal maneira de aceitarmos os defeitos de nossos semelhantes. E o riso, embora restrito aos seres racionais, deve ser espontâneo caso se pretenda real. O riso programado é uma espécie de zombaria; a risada espontânea é uma aceitação daquilo que a provoca, mesmo quando, ao rirmos de alguém, quebramos sua auto-confiança.
Uma sociedade que não ri é uma sociedade sem uma válvula de escape importante, e uma sociedade onde não se interpreta o humor bruto como o primeiro passo em direção a relações amistosas, mas como uma ofensa mortal, é uma sociedade onde a vida cotidiana tornou-se perigosa. Seres humanos que vivem em comunidades de estrangeiros necessitam desesperadamente de rir, caso não queiram ver suas diferenças transformadas em guerra civil. Essa foi uma das funções desempenhadas pela piada étnica. Quando poloneses, irlandeses, judeus e italianos competiam por territórios no Novo Mundo para onde haviam fugido, eles se abasteciam com uma reserva de piadas étnicas para rirem de suas manifestas diferenças.
O humor étnico foi estudado com profundidade pelo sociólogo britânico Christie Davies, e suas descobertas – no livro Mirth of Nations – são uma lembrete salutar da facilidade com que as soluções espontâneas criadas pela sociedade podem ser confiscadas pelos censores sem humor que querem nos governar. As piadas e provocações são gestos de conciliação, em que as diferenças se tornam inofensivas, jogadas para escanteio pelo riso. No entanto, em qualquer lugar do mundo moderno uma espécie de vigilância puritana está destruindo a piada étnica, condenando-a como uma ofensa à nossa humanidade. O que tradicionalmente era considerado como uma forma de prevenir conflitos sociais agora é visto como uma de suas principais causas: A piada étnica é acusada de “criar estereótipos,” e então maculada com a indelével pecha de racismo.
Ainda mais reprovável que a piada étnica aos olhos de nossos guardiões morais está a velha comédia dos sexos. Apesar de todo o inventivo labor das feministas, as pessoas comuns notam as diferenças bem reais entre os sexos, e a bastante necessidade de se acomodar essas diferenças e reduzir os conflitos a que elas podem dar ensejo. O humor tem sido o recurso clássico da humanidade para esse propósito, com o homem submetendo-se com graça à sua “melhor metade” e a mulher acatando os editos do “chefe da casa”. Mas quem agora ousaria fazer uma piada sobre relações sexuais ou sobre o temperamento feminino no campus de uma faculdade? Você pode pensar que a censura tem apenas um sentido: Haja vista que denúncias ferozes contra os homens, e disciplinas pseudo-acadêmicas inteiras dedicadas a repetí-las, são traços familiares na vida universitária americana. Mas tente fazer uma piada sobre os defeitos masculinos, e você se verá nos mesmos apuros que se tivesse feito uma piada sobre a fragilidade feminina. Isso porque para as feministas as falhas dos homens não são objeto de riso. Não há surpresa, portanto, no fato de na literatura feminina o humor estar ausente – o que faz bastante sentido, porque se o humor fosse empregado na literatura feminina, ela morreria rindo de si mesma.
Há muitos textos sem piadas na nossa literatura religiosa. O Velho Testamento está cheio delas – pense no aterrador livro de Josué – e o Corão é tão rigidamente sem piadas como qualquer documento que tenha sobrevivido aos esforços da humanidade de trivializá-lo. Mas isso aponta para outra área em que o humor se tornou perigoso. Cristãos, Judeus, ateístas, e Muçulmanos, vivendo lado a lado com aguda consciência das divisões entre si, e precisando desesperadamente da piada religiosa. Pela experiência da Diáspora, vivendo como estrangeiros ou residentes temporários em comunidades que a qualquer momento poderiam se voltar contra eles, os Judeus há bastante tempo têm consciência disso. Como resultado, as tradições rabínicas estão cheias de piadas auto-depreciativas, que sublinham a absurda posição de povo escolhido de Deus, vivendo às margens de um mundo que não sabe que é isso o que eles são. O humor judaico é um dos melhores mecanismos de sobrevivência jamais inventados – que ajudou não somente a sua sobrevivência mas a preservação da identidade judaica, em meio a uma história sem igual de tentativas de apagá-la.
Está claro para mim que precisamos de um repertório de piadas religiosas e do hábito de expressá-las sem temor. No entanto, muitos muçulmanos têm uma susceptibilidade exagerada para sentir-se desdenhados, e mal se pode fazer uma piadinha sequer sobre o Islam que não venha a ser interpretada como expressão de hostilidade. Aqui também os censores trabalham duro, privando a humanidade de sua maneira natural de resolver conflitos, e forçando-nos a adotar todo tipo de cuidados e deferência temerosa que são em realidade muito mais hostis do que uma gargalhada bem dada. É óbvio que religião é um assunto sensível, e a resposta britânica tradicional, de que não se deve jamais mencioná-la em sociedade polida, é compreensível. Mas num mundo em que os artigos de fé são cada vez mais beligerantes, a solução britânica deixou de ser viável. Sátiras do tipo que Molière dirigiu a Tartufo são exatamente o que os mullahs merecem. Satirizando-os, nós acertamos as contas com eles; também distinguimos seu ridículo farisaísmo da branda vereda de acomodação que os muçulmanos querem e precisam.
Um observador de fora não pode deixar de ficar atônito com o declínio deste tipo de humor nos Estados Unidos. Esse recurso humano universal, que nas obras de James Thurber, H.L. Mencken, Nathanael West, e outros grandes expoentes permitiram à América atravessar sem riscos convulsões sociais, e até acomodar a nova mulher americana, agora foi marginalizado ou desaprovado. Uma piada de mau-gosto pode custar-lhe a carreira, como Don Ismus recentemente descobriu – e qualquer piada que fale de raça, sexo ou religião, sofisticada o quanto seja, traz um sério risco de punição. Consequência disso é que um lúgubre silêncio envolve as grandes questões da sociedade americana moderna – um silêncio pontuado aqui e ali pelas histéricas manifestações de falta de humor dos que vêem suas sensibilidades artificiais provocadas.
Que isso é uma situação pouco saudável não é necessário mencionar. Mais deprimente, no entanto, são os efeitos na moral ordinária. No passado, era axiomático que as faltas deviam ser perdoadas se seguidas de clara intenção de repará-las. Esse axioma, ao que parece, não se aplica ao mundo da censura americana. Uma observação julgada “racista”, “sexista”,“estereotipada”, ou “homofóbica”, e você deve deixar o mundo das almas salvas para sempre. É o fim de suas perspectivas em qualquer carreira sobre as quais os censores exerçam controle – e isso significa qualquer carreira na educação ou no governo. Você pode rastejar o quanto queira, como fez Don Ismus; você pode representar o equivalente à peregrinação descalça do rei Henry II a Canterbury, e não fará diferença. Uma falta e você já era.
E não importa que não seja uma falta: Sua observação pode ter sido mal compreendida, sua piada pode ter ganho uma intenção não desejada, você pode ter cometido um ato falho – você pode, como o herói da grande novela de Philip Roth, The Human Stain, ter apenas usado no sentido comum uma palavra a que fora dado contexto político em algum romance.
De mais a mais, a habilidade dos auto-intitulados censores de discernir pecados ideológicos e heresias foi bastante acentuada pelo seu exercício diário de ressentimento. Esses acusadores sabem como distinguir crimes de pensamento racista, sexista e homofóbico na maior sem cerimônia. E eles não conhecem o perdão, porque eles não praticam, tal como todas as pessoas desprovidas de humor, o processo de auto-conhecimento. O desejo de acusar, que traz consigo a reputação de virtude sem o custo de adquirí-la, tomou o lugar da atitude humana habitual de perdoar, criando uma personalidade biônica familiar a todos que tenham tido de lidar com os lobbies que agora controlam a opinião pública na América.
Qual deveria ser nossa resposta a isso? É fácil de dizer que deveríamos rir disso. Mas perder sua carreira não tem graça alguma; menos graça ainda tem ser posto na lista negra da máquina de guerra islâmica. A mim parece que o necessário é uma classe de jornalistas rudes, arrogantes e cultos, que emprestariam apoio uns aos outros ao ridicularizarem a pretensão dos censores.
Nós tínhamos uma classe de jornalistas assim na Inglaterra até há bem pouco tempo. Durante todo o período de domínio das universidades pela extrema-esquerda nos anos 70, jornalistas como T.E. Utley, Peregrine Worsthorne, George Gale e Colin Welch dariam a seus leitores uma cobertura humorística, desrepeitosa e sem rodeios dos novos movimentos intelectuais. Como conseqüência, esses movimentos ganharam controle apenas das universidades e não da opinião pública. Alguns representantes daquela corajosa geração de jornalistas estavam na esquerda, como Alan Watkins e Hugo Young; alguns estavam na direita, como Utley e Worsthorne. Mas na disputa contra os censores eles juntavam forças, unidos no desprezo pela doença puritana. O resultado foi que cada um podia ser rude o quanto quisesse sobre o mar de estupidez que os cercava e ainda arrancar risadas acolhedoras dos leitores.
Infelizmente, a maioria daqueles jornalistas não está mais conosco, e lendo sobre o episódio de Don Ismus na mídia americana, eu imagino o que aconteceria se eles tivessem o seu equivalente por aqui.
tradução: Daniel Lourenço
A razão se mostra em todas as nossas tentativas de entender o mundo e em todas as maneiras de nos relacionarmos uns com os outros. Está presente nas nossas escolhas, e também nas nossas reações involuntárias. Apenas um ser racional é capaz de chorar ou corar, mesmo que essas duas reações estejam fora do alcance de nossa vontade. E apenas o ser racional é capaz de rir. Hienas fazem um som como de riso, mas não se trata na realidade de um sinal de contentamento, nem tem a função social que o riso tem – que é iluminar as nossas diferenças e alegrar-se com o que compartilhamos. O riso não é somente regozijo e satisfação, é a principal maneira de aceitarmos os defeitos de nossos semelhantes. E o riso, embora restrito aos seres racionais, deve ser espontâneo caso se pretenda real. O riso programado é uma espécie de zombaria; a risada espontânea é uma aceitação daquilo que a provoca, mesmo quando, ao rirmos de alguém, quebramos sua auto-confiança.
Uma sociedade que não ri é uma sociedade sem uma válvula de escape importante, e uma sociedade onde não se interpreta o humor bruto como o primeiro passo em direção a relações amistosas, mas como uma ofensa mortal, é uma sociedade onde a vida cotidiana tornou-se perigosa. Seres humanos que vivem em comunidades de estrangeiros necessitam desesperadamente de rir, caso não queiram ver suas diferenças transformadas em guerra civil. Essa foi uma das funções desempenhadas pela piada étnica. Quando poloneses, irlandeses, judeus e italianos competiam por territórios no Novo Mundo para onde haviam fugido, eles se abasteciam com uma reserva de piadas étnicas para rirem de suas manifestas diferenças.
O humor étnico foi estudado com profundidade pelo sociólogo britânico Christie Davies, e suas descobertas – no livro Mirth of Nations – são uma lembrete salutar da facilidade com que as soluções espontâneas criadas pela sociedade podem ser confiscadas pelos censores sem humor que querem nos governar. As piadas e provocações são gestos de conciliação, em que as diferenças se tornam inofensivas, jogadas para escanteio pelo riso. No entanto, em qualquer lugar do mundo moderno uma espécie de vigilância puritana está destruindo a piada étnica, condenando-a como uma ofensa à nossa humanidade. O que tradicionalmente era considerado como uma forma de prevenir conflitos sociais agora é visto como uma de suas principais causas: A piada étnica é acusada de “criar estereótipos,” e então maculada com a indelével pecha de racismo.
Ainda mais reprovável que a piada étnica aos olhos de nossos guardiões morais está a velha comédia dos sexos. Apesar de todo o inventivo labor das feministas, as pessoas comuns notam as diferenças bem reais entre os sexos, e a bastante necessidade de se acomodar essas diferenças e reduzir os conflitos a que elas podem dar ensejo. O humor tem sido o recurso clássico da humanidade para esse propósito, com o homem submetendo-se com graça à sua “melhor metade” e a mulher acatando os editos do “chefe da casa”. Mas quem agora ousaria fazer uma piada sobre relações sexuais ou sobre o temperamento feminino no campus de uma faculdade? Você pode pensar que a censura tem apenas um sentido: Haja vista que denúncias ferozes contra os homens, e disciplinas pseudo-acadêmicas inteiras dedicadas a repetí-las, são traços familiares na vida universitária americana. Mas tente fazer uma piada sobre os defeitos masculinos, e você se verá nos mesmos apuros que se tivesse feito uma piada sobre a fragilidade feminina. Isso porque para as feministas as falhas dos homens não são objeto de riso. Não há surpresa, portanto, no fato de na literatura feminina o humor estar ausente – o que faz bastante sentido, porque se o humor fosse empregado na literatura feminina, ela morreria rindo de si mesma.
Há muitos textos sem piadas na nossa literatura religiosa. O Velho Testamento está cheio delas – pense no aterrador livro de Josué – e o Corão é tão rigidamente sem piadas como qualquer documento que tenha sobrevivido aos esforços da humanidade de trivializá-lo. Mas isso aponta para outra área em que o humor se tornou perigoso. Cristãos, Judeus, ateístas, e Muçulmanos, vivendo lado a lado com aguda consciência das divisões entre si, e precisando desesperadamente da piada religiosa. Pela experiência da Diáspora, vivendo como estrangeiros ou residentes temporários em comunidades que a qualquer momento poderiam se voltar contra eles, os Judeus há bastante tempo têm consciência disso. Como resultado, as tradições rabínicas estão cheias de piadas auto-depreciativas, que sublinham a absurda posição de povo escolhido de Deus, vivendo às margens de um mundo que não sabe que é isso o que eles são. O humor judaico é um dos melhores mecanismos de sobrevivência jamais inventados – que ajudou não somente a sua sobrevivência mas a preservação da identidade judaica, em meio a uma história sem igual de tentativas de apagá-la.
Está claro para mim que precisamos de um repertório de piadas religiosas e do hábito de expressá-las sem temor. No entanto, muitos muçulmanos têm uma susceptibilidade exagerada para sentir-se desdenhados, e mal se pode fazer uma piadinha sequer sobre o Islam que não venha a ser interpretada como expressão de hostilidade. Aqui também os censores trabalham duro, privando a humanidade de sua maneira natural de resolver conflitos, e forçando-nos a adotar todo tipo de cuidados e deferência temerosa que são em realidade muito mais hostis do que uma gargalhada bem dada. É óbvio que religião é um assunto sensível, e a resposta britânica tradicional, de que não se deve jamais mencioná-la em sociedade polida, é compreensível. Mas num mundo em que os artigos de fé são cada vez mais beligerantes, a solução britânica deixou de ser viável. Sátiras do tipo que Molière dirigiu a Tartufo são exatamente o que os mullahs merecem. Satirizando-os, nós acertamos as contas com eles; também distinguimos seu ridículo farisaísmo da branda vereda de acomodação que os muçulmanos querem e precisam.
Um observador de fora não pode deixar de ficar atônito com o declínio deste tipo de humor nos Estados Unidos. Esse recurso humano universal, que nas obras de James Thurber, H.L. Mencken, Nathanael West, e outros grandes expoentes permitiram à América atravessar sem riscos convulsões sociais, e até acomodar a nova mulher americana, agora foi marginalizado ou desaprovado. Uma piada de mau-gosto pode custar-lhe a carreira, como Don Ismus recentemente descobriu – e qualquer piada que fale de raça, sexo ou religião, sofisticada o quanto seja, traz um sério risco de punição. Consequência disso é que um lúgubre silêncio envolve as grandes questões da sociedade americana moderna – um silêncio pontuado aqui e ali pelas histéricas manifestações de falta de humor dos que vêem suas sensibilidades artificiais provocadas.
Que isso é uma situação pouco saudável não é necessário mencionar. Mais deprimente, no entanto, são os efeitos na moral ordinária. No passado, era axiomático que as faltas deviam ser perdoadas se seguidas de clara intenção de repará-las. Esse axioma, ao que parece, não se aplica ao mundo da censura americana. Uma observação julgada “racista”, “sexista”,“estereotipada”, ou “homofóbica”, e você deve deixar o mundo das almas salvas para sempre. É o fim de suas perspectivas em qualquer carreira sobre as quais os censores exerçam controle – e isso significa qualquer carreira na educação ou no governo. Você pode rastejar o quanto queira, como fez Don Ismus; você pode representar o equivalente à peregrinação descalça do rei Henry II a Canterbury, e não fará diferença. Uma falta e você já era.
E não importa que não seja uma falta: Sua observação pode ter sido mal compreendida, sua piada pode ter ganho uma intenção não desejada, você pode ter cometido um ato falho – você pode, como o herói da grande novela de Philip Roth, The Human Stain, ter apenas usado no sentido comum uma palavra a que fora dado contexto político em algum romance.
De mais a mais, a habilidade dos auto-intitulados censores de discernir pecados ideológicos e heresias foi bastante acentuada pelo seu exercício diário de ressentimento. Esses acusadores sabem como distinguir crimes de pensamento racista, sexista e homofóbico na maior sem cerimônia. E eles não conhecem o perdão, porque eles não praticam, tal como todas as pessoas desprovidas de humor, o processo de auto-conhecimento. O desejo de acusar, que traz consigo a reputação de virtude sem o custo de adquirí-la, tomou o lugar da atitude humana habitual de perdoar, criando uma personalidade biônica familiar a todos que tenham tido de lidar com os lobbies que agora controlam a opinião pública na América.
Qual deveria ser nossa resposta a isso? É fácil de dizer que deveríamos rir disso. Mas perder sua carreira não tem graça alguma; menos graça ainda tem ser posto na lista negra da máquina de guerra islâmica. A mim parece que o necessário é uma classe de jornalistas rudes, arrogantes e cultos, que emprestariam apoio uns aos outros ao ridicularizarem a pretensão dos censores.
Nós tínhamos uma classe de jornalistas assim na Inglaterra até há bem pouco tempo. Durante todo o período de domínio das universidades pela extrema-esquerda nos anos 70, jornalistas como T.E. Utley, Peregrine Worsthorne, George Gale e Colin Welch dariam a seus leitores uma cobertura humorística, desrepeitosa e sem rodeios dos novos movimentos intelectuais. Como conseqüência, esses movimentos ganharam controle apenas das universidades e não da opinião pública. Alguns representantes daquela corajosa geração de jornalistas estavam na esquerda, como Alan Watkins e Hugo Young; alguns estavam na direita, como Utley e Worsthorne. Mas na disputa contra os censores eles juntavam forças, unidos no desprezo pela doença puritana. O resultado foi que cada um podia ser rude o quanto quisesse sobre o mar de estupidez que os cercava e ainda arrancar risadas acolhedoras dos leitores.
Infelizmente, a maioria daqueles jornalistas não está mais conosco, e lendo sobre o episódio de Don Ismus na mídia americana, eu imagino o que aconteceria se eles tivessem o seu equivalente por aqui.
tradução: Daniel Lourenço
sábado, outubro 20, 2007
Carta de um bebê
Recomendo o texto Carta de um bebê, no blogue de Leilah Carvalho, com link ao lado.
sexta-feira, outubro 19, 2007
Quando nada mais resta
por Viktor Frankl. Capítulo do livro O homem em busca de sentido.
Enquanto avançamos aos tropeços, quilômetros a fio, vadeando pela neve ou resvalando no gelo, constantemente nos apoiamos um no outro, erguendo-nos e arrastando-nos mutuamente. Nenhum de nós pronuncia uma palavra mais, mas sabemos neste momento que cada um ainda só pensa em sua mulher. Vez por outra olho para o céu aonde vão empalidecendo as estrelas, ou para aquela região no horizonte em que assoma a alvorada por detrás de um lúgubre grupo de nuvens. Mas agora meu espírito está tomado daquela figura à qual ele se agarra com uma fantasia incrivelmente viva, que eu jamais conhecera antes na vida normal. Converso com minha esposa. Ouço-a responder, vejo-a sorrindo, vejo seu olhar como que a exigir e a animar ao mesmo tempo e - tanto faz se é real ou não a sua presença - seu olhar agora brilha com mais intensidade que o sol que está nascendo. Um pensamento me sacode. É a primeira vez na vida que experimento a verdade daquilo que tantos pensadores ressaltaram como a quintessência da sabedoria, por tantos poetas cantada: a verdade de que o amor é, de certa forma, o bem último e supremo que pode ser alcançado pela existência humana. Compreendo agora as coisas últimas e extremas que podem ser expressas em pensamento, poesia - em fé humana: a redenção pelo amor e no amor! Passo a compreender que a pessoa, mesmo que nada mais lhe reste neste mundo, pode tornar-se bem-aventurada - ainda que somente por alguns momentos - entregando-se interiormente à imagem da pessoa amada. Na pior situação exterior que se possa imaginar, numa situação em que a pessoa não pode realizar-se através de alguma conquista, numa situação em que sua conquista pode consistir unicamente num sofrimento reto, num sofrimento de cabeça erguida, nesta situação a pessoa pode realizar-se na contemplação amorosa da imagem espiritual que ela porta dentro de si da pessoa amada. Pela primeira vez na vida entendo o que quer dizer: Os anjos são bem-aventurados na perpétua contemplação, em amor, de uma glória infinita. . .
A minha frente um companheiro cai por terra, e os que vão atrás dele também caem. Num instante o guarda está lá e usa seu chicote sobre eles. Por alguns segundos se interrompe minha vida contemplativa. Mas num abrir e fechar de olhos eleva-se novamente minha alma, salva-se mais uma vez do aquém, da existência prisioneira, para um além que retoma mais uma vez o diálogo com o ente querido: Eu pergunto - ela responde; ela pergunta - eu respondo.
"Alto!" Chegamos ao local da obra. "Cada qual busque sua ferramenta! Cada um pegue uma picareta e uma pá!" E todos se precipitam para dentro do galpão completamente às escuras para arrebanhar uma pá jeitosa ou uma picareta mais firme. "Como é, não vão se apressar, seus cachorros imundos?" Dali a pouco estamos no valo, cada um em seu lugar da véspera. A picareta estilhaça o chão congelado, soltando até fagulhas. Nem mesmo os cérebros ainda degelaram, os companheiros continuam calados. Meu espírito ainda se apega à imagem da pessoa amada. Continuo falando com ela, e ela continua falando comigo. De repente me dou conta: nem sei se minha esposa ainda vive! Naquele momento fico sabendo que o amor pouco tem a ver com a existência física de uma pessoa. Ele está ligado a tal ponto à essência espiritual da pessoa amada, a seu "ser assim" (nas palavras dos filósofos) que a sua "presença" e seu "estar aqui comigo" podem ser reais sem sua existência física em si e independentemente de seu estar com vida. Eu não sabia, nem poderia ou precisaria saber, se a pessoa amada estava viva. Durante todo o período do campo de concentração não se podia escrever nem receber cartas. Mas isto naquele momento de certa forma não tinha importância. As circunstâncias externas não conseguiam mais interferir no meu amor, na minha lembrança e na contemplação amorosa da imagem espiritual da pessoa amada. Se naquela ocasião tivesse sabido: minha esposa está morta - acho que este conhecimento não teria perturbado meu enlevo interior naquela contemplação amorosa. O diálogo intelectual teria sido intenso e gratificante em igual escala. Naquele momento me apercebo da verdade: "põe-me como selo sobre o teu coração... porque o amor é forte como a morte." (Cântico dos Cânticos 8.6).
Enquanto avançamos aos tropeços, quilômetros a fio, vadeando pela neve ou resvalando no gelo, constantemente nos apoiamos um no outro, erguendo-nos e arrastando-nos mutuamente. Nenhum de nós pronuncia uma palavra mais, mas sabemos neste momento que cada um ainda só pensa em sua mulher. Vez por outra olho para o céu aonde vão empalidecendo as estrelas, ou para aquela região no horizonte em que assoma a alvorada por detrás de um lúgubre grupo de nuvens. Mas agora meu espírito está tomado daquela figura à qual ele se agarra com uma fantasia incrivelmente viva, que eu jamais conhecera antes na vida normal. Converso com minha esposa. Ouço-a responder, vejo-a sorrindo, vejo seu olhar como que a exigir e a animar ao mesmo tempo e - tanto faz se é real ou não a sua presença - seu olhar agora brilha com mais intensidade que o sol que está nascendo. Um pensamento me sacode. É a primeira vez na vida que experimento a verdade daquilo que tantos pensadores ressaltaram como a quintessência da sabedoria, por tantos poetas cantada: a verdade de que o amor é, de certa forma, o bem último e supremo que pode ser alcançado pela existência humana. Compreendo agora as coisas últimas e extremas que podem ser expressas em pensamento, poesia - em fé humana: a redenção pelo amor e no amor! Passo a compreender que a pessoa, mesmo que nada mais lhe reste neste mundo, pode tornar-se bem-aventurada - ainda que somente por alguns momentos - entregando-se interiormente à imagem da pessoa amada. Na pior situação exterior que se possa imaginar, numa situação em que a pessoa não pode realizar-se através de alguma conquista, numa situação em que sua conquista pode consistir unicamente num sofrimento reto, num sofrimento de cabeça erguida, nesta situação a pessoa pode realizar-se na contemplação amorosa da imagem espiritual que ela porta dentro de si da pessoa amada. Pela primeira vez na vida entendo o que quer dizer: Os anjos são bem-aventurados na perpétua contemplação, em amor, de uma glória infinita. . .
A minha frente um companheiro cai por terra, e os que vão atrás dele também caem. Num instante o guarda está lá e usa seu chicote sobre eles. Por alguns segundos se interrompe minha vida contemplativa. Mas num abrir e fechar de olhos eleva-se novamente minha alma, salva-se mais uma vez do aquém, da existência prisioneira, para um além que retoma mais uma vez o diálogo com o ente querido: Eu pergunto - ela responde; ela pergunta - eu respondo.
"Alto!" Chegamos ao local da obra. "Cada qual busque sua ferramenta! Cada um pegue uma picareta e uma pá!" E todos se precipitam para dentro do galpão completamente às escuras para arrebanhar uma pá jeitosa ou uma picareta mais firme. "Como é, não vão se apressar, seus cachorros imundos?" Dali a pouco estamos no valo, cada um em seu lugar da véspera. A picareta estilhaça o chão congelado, soltando até fagulhas. Nem mesmo os cérebros ainda degelaram, os companheiros continuam calados. Meu espírito ainda se apega à imagem da pessoa amada. Continuo falando com ela, e ela continua falando comigo. De repente me dou conta: nem sei se minha esposa ainda vive! Naquele momento fico sabendo que o amor pouco tem a ver com a existência física de uma pessoa. Ele está ligado a tal ponto à essência espiritual da pessoa amada, a seu "ser assim" (nas palavras dos filósofos) que a sua "presença" e seu "estar aqui comigo" podem ser reais sem sua existência física em si e independentemente de seu estar com vida. Eu não sabia, nem poderia ou precisaria saber, se a pessoa amada estava viva. Durante todo o período do campo de concentração não se podia escrever nem receber cartas. Mas isto naquele momento de certa forma não tinha importância. As circunstâncias externas não conseguiam mais interferir no meu amor, na minha lembrança e na contemplação amorosa da imagem espiritual da pessoa amada. Se naquela ocasião tivesse sabido: minha esposa está morta - acho que este conhecimento não teria perturbado meu enlevo interior naquela contemplação amorosa. O diálogo intelectual teria sido intenso e gratificante em igual escala. Naquele momento me apercebo da verdade: "põe-me como selo sobre o teu coração... porque o amor é forte como a morte." (Cântico dos Cânticos 8.6).
quinta-feira, outubro 11, 2007
Filmando a grande fraude
por Jefrrey Nyquist
© 2007 MidiaSemMascara.org
O cineasta Robert Buchar está tentando montar um documentário sobre o fim da Guerra Fria e o colapso do comunismo na Europa. O título provisório é “The Grand Deception – Uncertain History.” [A Grande Fraude – História Incerta]. Baseado em entrevistas com ex-agentes de inteligência do bloco comunista, funcionários graduados da CIA e estudiosos, o filme mostra que o colapso do comunismo não foi espontâneo. A diretiva para a mudança veio de Moscou. O “Poder do Povo” nada teve a ver com esse colapso. De acordo com Buchar, “ao longo dos últimos três anos não pude descobrir qualquer órgão da mídia interessado nesse tópico”. “Autoridades”, “especialistas” e âncoras de TV nos diziam, repetidas vezes, que as revoluções no Leste Europeu foram causadas pelo descontentamento popular. De acordo com os partidários do conservadorismo americano, a União Soviética caiu porque Ronald Reagan a derrubou. Não foi bem assim, diz Buchar: “A versão dos eventos apresentada ao público é bastante diferente daquilo que realmente aconteceu”.
Sobre este tema, Buchar entrevistou vários insiders e analistas. O ex-chefe do departamento de contra-inteligência da CIA responsável pelo bloco soviético, Tennent H. “Pete” Bagley [1], contou a Buchar que havia uma obscura mão por trás do colapso do comunismo no Leste Europeu. “Havia uma verdade diferente a esse respeito”, diz Bagley. “[...] e essa é uma verdade que foi tão bem ocultada que eu não sei se um dia sequer virá à tona...”. De acordo com Ludvik Zivcak, um oficial da polícia secreta comunista cuja tarefa foi a de organizar a demonstração que serviu de gatilho à “Revolução de Veludo” [2] na Tchecoslováquia, “Muitas pessoas pensam ou acreditam que, em 1989, houve um levante em massa da nação. Considerando o que eu fiz, ou onde trabalhei, não houve levante algum. Hoje é difícil encontrar quem escreveu o script, mas este não foi escrito nos EUA. Os EUA simplesmente pegaram o bonde quase no final. Assim, o enredo foi escrito, muito mais provavelmente, no Leste Europeu”.
De acordo com o pesquisador dissidente e ex-preso político soviético Vladimir Bukovsky, “a KGB foi parte integrante de toda a perestroika de Gorbachev.” Bukovsky relatou a Buchar que o Ocidente “nunca entendeu o sistema soviético como tal”, falhando ao não compreender “porque era inerentemente agressivo” e perigoso. O Ocidente assinou tratados inúteis com a Rússia, “Como se um pedaço de papel pudesse algum dia deter o monstro.” O Ocidente não entendeu Stalin, nem Khrushchev ou Brezhnev e jamais compreenderia o lado sinistro da ofensiva de paz de Gorbachev. “Deste modo, acreditariam em qualquer nonsense”, enfatiza Bukovsky. “[Acreditariam] até no incrível nonsense de que havia uma disputa entre reformistas e a linha-dura no Politburo e na liderança do PCUS”.[3]
No fim da Guerra Fria, durante a Cúpula de Malta, mantida entre o presidente Bush (pai) e Gorbachev, a seguinte troca de idéias ficou registrada para a posteridade: o então Secretário de Estado James Baker levantou a questão de defender os valores ocidentais e os russos ficaram perturbados e agitados. O presidente George H. W. Bush interveio com um comentário decisivo: “Vamos evitar palavras descuidadas e outras discussões sobre ‘valores’. Do fundo de nossos corações, saudamos as mudanças vindouras”. Isso era tudo que os russos queriam ouvir. Valores americanos e ajuda na queda do comunismo não eram bem-vindos porque a KGB estava montando a sua própria versão de democracia e a sua própria versão de capitalismo.[4] Bukovsky interpreta esse diálogo da seguinte maneira: “Gorbachev simplesmente disse a Bush que mudaria completamente os regimes na Europa Oriental... e que pedia seriamente aos EUA e aos seus aliados ocidentais que não se envolvessem. Para não criar mais problemas, porque era uma transição muito frágil, um período muito delicado, etc. “Nós as faremos [as mudanças], não se preocupe, só não se meta. Não estrague tudo”. E Bush não se meteu.
Portanto, as mudanças foram iniciadas a partir de Moscou e aos EUA foi dito que ficassem de fora. Era um assunto da KGB administrar o colapso do comunismo, e agora vemos – mais claramente do que vimos em 1991 – para onde esse colapso nos levou. A atitude européia mudou para uma posição de confrontação à política externa americana. Para nossa consternação, um alto oficial da KGB é o presidente da Federação Russa. Ex-agentes e funcionários das polícias secretas comunistas são os líderes de muitos dos países “ex-membros” do Pacto de Varsóvia. A opressão da dissensão é levada a cabo ao estilo dos assassinatos entre gangues (tal como nas mortes de Anna Politkovskaya e Paul Klebnikov). O encarceramento de dissidentes é conduzido sob pretextos legais. O jornalista e político tcheco Jan Stetina disse a Buchar que: “Depois de alguns anos ficou claro que o termo ‘queda do comunismo’ não reflete a realidade. O entusiasmo não durou muito e eu diria que hoje estamos num estado de desilusão”. O dissidente e ex-prisioneiro político tcheco Petr Cibulka explicou: “Eu fui solto da prisão em 17 de novembro de 1989 e durante as duas primeiras semanas eu acreditei que estavam acontecendo mudanças. Mas bastaram apenas mais algumas semanas para que eu percebesse que as mudanças eram apenas cosméticas, mudanças de cenário; que o poder continuaria nas mãos dos comunistas e que eles não precisavam se preocupar quanto a perder o que quer que fosse”. Cibulka declarou ainda: “Isto não é uma revolução, mas outra trapaça comunista”.
O ex-prisioneiro político tcheco Vladimir Hucin relatou a Buchar: “Eu assinei a Carta 77 [5] depois de solto da prisão em 1986. Quando mais tarde eu tive acesso a documentos dos arquivos da STB (polícia secreta comunista), descobri quantas pessoas da Carta 77 estiveram envolvidas com a STB, quantos agentes a STB tinha nesse grupo. Isso foi um grande desapontamento para mim”. Conforme o historiador tcheco Pavel Zacek confirmou a Buchar: “A STB funcionou com muita eficácia. Eles se infiltraram em todos os grupos regionais de oposição. Eles manobraram de modo a colocar seus agentes nas principais posições de liderança do Fórum Cívico, além de recrutarem novos agentes entre os quadros dos partidos social-democratas populares da Tchecoslováquia. Não foram encontrados documentos sobre como essa operação foi conduzida...”.
Robert Buchar é um cineasta da Tchecoslováquia e que de lá fugiu em 1980, indo para os EUA em 1981. Trabalhou como operador de câmera para a rede de TV CBS e, desde 1990, ensina cinematografia no Columbia College, em Chicago. Em 1999 produziu o documentário Velvet Hangover [Ressaca de Veludo], que foi transformado em livro em 2003, sob o título Czech New Wave Filmmakers in Interviews [Novos Cineastas Tchecos em Entrevistas]. “Foi o trabalho que fiz para esse livro que me levou à idéia de rodar um filme”, explicou Buchar. “E foi o ex-dissidente e prisioneiro político tcheco Petr Cibulka quem me convenceu a fazê-lo quando me disse: ‘Se você não fizer o filme, ninguém mais o fará’. Assim, comecei a trabalhar neste documentário ‘The Grand Deception – Uncertain History’ em 2004 e finalizei a fotografia principal em junho de 2007. Estou editando entrevistas, mas está tudo parado, pois preciso levantar dinheiro para comprar imagens de arquivo de noticiários da época para terminar o filme. Talvez eu tenha de publicar o livro antes de acabar o filme”.
Na qualidade de ex-cidadão da Tchecoslováquia comunista, o que Buchar aprendeu dessas entrevistas? “De antemão, você tem uma idéia desse evento”, diz Buchar, “e essa idéia muda quando você ouve todos os detalhes descritos por testemunhas oculares. E então, é claro, ao ligar os pontos de diferentes lugares, você é levado a um quadro terrificante e a uma conclusão que me preocupa. As pessoas normalmente me olham de um jeito estranho quando digo que decidi fugir do meu país, porque, lá pelo final dos anos 70, eu cheguei à conclusão de que o processo de mudança do sistema já estava em curso e quando acontecesse de verdade seria orquestrado desde dentro, com um resultado predeterminado e inaceitável para mim. Eu só não imaginava que aconteceria tão cedo. Eu imaginava mais uns dez anos para que acontecesse”.
Os leitores podem estar curiosos quanto ao que Buchar pensa a respeito da reação ocidental ao colapso do comunismo. “Bem…”, diz ele, “uma coisa que eu aprendi e da qual eu não estava nada ciente antes – é o nível de incompetência da CIA no que diz respeito ao seu grau de compreensão do sistema comunista, do modo de operação nos países do Bloco Oriental; uma incompetência que ignorava a importância da ideologia e o nível da infiltração soviética na própria agência. É algo parecido ao que Bill Gertz chama de mentalidade ‘antianticomunista’ [contrária ao anticomunismo] na CIA. Isso foi realmente chocante para mim”.
© 2007 Jeffrey R. Nyquist
Publicado por Financialsense.com
Tradução: MSM
[1] Ver CIA: Mito e História
[2] NT: A expressão "Revolução de Veludo" foi cunhada por jornalistas após os acontecimentos, aceita pela mídia mundial e em seguida, usada pela própria Tchecoslováquia.
[3] NT: Liderança do Partido Comunista da União Soviética, órgão colegiado e composto por muitos membros, dentre os quais eram escolhidos os membros do Politburo. O Politburo sempre contou, necessariamente, com membros da KGB e esteve sempre acima do comando das forças armadas soviéticas.
[4] Ou seja, captação de pesados investimentos estrangeiros, especialmente europeus, em petróleo e gás, e a máfia russa, desde sempre controlada pela KGB.
[5] Charta 77 (em Tcheco e Eslovaco) foi, nominalmente, uma iniciativa cívica informal na Tchecoslováquia, de 1977 a 1992, cujo nome deriva do documento Carta 77, de janeiro de 1977. Os seus membros fundadores e arquitetos foram Václav Havel, Jan Patočka, Zdeněk Mlynář, Jiří Hájek, e Pavel Kohout. Depois da “Revolução de Veludo” de 1989, muitos de seus membros desempenharam papéis importantes na política tcheca e eslovaca.
© 2007 MidiaSemMascara.org
O cineasta Robert Buchar está tentando montar um documentário sobre o fim da Guerra Fria e o colapso do comunismo na Europa. O título provisório é “The Grand Deception – Uncertain History.” [A Grande Fraude – História Incerta]. Baseado em entrevistas com ex-agentes de inteligência do bloco comunista, funcionários graduados da CIA e estudiosos, o filme mostra que o colapso do comunismo não foi espontâneo. A diretiva para a mudança veio de Moscou. O “Poder do Povo” nada teve a ver com esse colapso. De acordo com Buchar, “ao longo dos últimos três anos não pude descobrir qualquer órgão da mídia interessado nesse tópico”. “Autoridades”, “especialistas” e âncoras de TV nos diziam, repetidas vezes, que as revoluções no Leste Europeu foram causadas pelo descontentamento popular. De acordo com os partidários do conservadorismo americano, a União Soviética caiu porque Ronald Reagan a derrubou. Não foi bem assim, diz Buchar: “A versão dos eventos apresentada ao público é bastante diferente daquilo que realmente aconteceu”.
Sobre este tema, Buchar entrevistou vários insiders e analistas. O ex-chefe do departamento de contra-inteligência da CIA responsável pelo bloco soviético, Tennent H. “Pete” Bagley [1], contou a Buchar que havia uma obscura mão por trás do colapso do comunismo no Leste Europeu. “Havia uma verdade diferente a esse respeito”, diz Bagley. “[...] e essa é uma verdade que foi tão bem ocultada que eu não sei se um dia sequer virá à tona...”. De acordo com Ludvik Zivcak, um oficial da polícia secreta comunista cuja tarefa foi a de organizar a demonstração que serviu de gatilho à “Revolução de Veludo” [2] na Tchecoslováquia, “Muitas pessoas pensam ou acreditam que, em 1989, houve um levante em massa da nação. Considerando o que eu fiz, ou onde trabalhei, não houve levante algum. Hoje é difícil encontrar quem escreveu o script, mas este não foi escrito nos EUA. Os EUA simplesmente pegaram o bonde quase no final. Assim, o enredo foi escrito, muito mais provavelmente, no Leste Europeu”.
De acordo com o pesquisador dissidente e ex-preso político soviético Vladimir Bukovsky, “a KGB foi parte integrante de toda a perestroika de Gorbachev.” Bukovsky relatou a Buchar que o Ocidente “nunca entendeu o sistema soviético como tal”, falhando ao não compreender “porque era inerentemente agressivo” e perigoso. O Ocidente assinou tratados inúteis com a Rússia, “Como se um pedaço de papel pudesse algum dia deter o monstro.” O Ocidente não entendeu Stalin, nem Khrushchev ou Brezhnev e jamais compreenderia o lado sinistro da ofensiva de paz de Gorbachev. “Deste modo, acreditariam em qualquer nonsense”, enfatiza Bukovsky. “[Acreditariam] até no incrível nonsense de que havia uma disputa entre reformistas e a linha-dura no Politburo e na liderança do PCUS”.[3]
No fim da Guerra Fria, durante a Cúpula de Malta, mantida entre o presidente Bush (pai) e Gorbachev, a seguinte troca de idéias ficou registrada para a posteridade: o então Secretário de Estado James Baker levantou a questão de defender os valores ocidentais e os russos ficaram perturbados e agitados. O presidente George H. W. Bush interveio com um comentário decisivo: “Vamos evitar palavras descuidadas e outras discussões sobre ‘valores’. Do fundo de nossos corações, saudamos as mudanças vindouras”. Isso era tudo que os russos queriam ouvir. Valores americanos e ajuda na queda do comunismo não eram bem-vindos porque a KGB estava montando a sua própria versão de democracia e a sua própria versão de capitalismo.[4] Bukovsky interpreta esse diálogo da seguinte maneira: “Gorbachev simplesmente disse a Bush que mudaria completamente os regimes na Europa Oriental... e que pedia seriamente aos EUA e aos seus aliados ocidentais que não se envolvessem. Para não criar mais problemas, porque era uma transição muito frágil, um período muito delicado, etc. “Nós as faremos [as mudanças], não se preocupe, só não se meta. Não estrague tudo”. E Bush não se meteu.
Portanto, as mudanças foram iniciadas a partir de Moscou e aos EUA foi dito que ficassem de fora. Era um assunto da KGB administrar o colapso do comunismo, e agora vemos – mais claramente do que vimos em 1991 – para onde esse colapso nos levou. A atitude européia mudou para uma posição de confrontação à política externa americana. Para nossa consternação, um alto oficial da KGB é o presidente da Federação Russa. Ex-agentes e funcionários das polícias secretas comunistas são os líderes de muitos dos países “ex-membros” do Pacto de Varsóvia. A opressão da dissensão é levada a cabo ao estilo dos assassinatos entre gangues (tal como nas mortes de Anna Politkovskaya e Paul Klebnikov). O encarceramento de dissidentes é conduzido sob pretextos legais. O jornalista e político tcheco Jan Stetina disse a Buchar que: “Depois de alguns anos ficou claro que o termo ‘queda do comunismo’ não reflete a realidade. O entusiasmo não durou muito e eu diria que hoje estamos num estado de desilusão”. O dissidente e ex-prisioneiro político tcheco Petr Cibulka explicou: “Eu fui solto da prisão em 17 de novembro de 1989 e durante as duas primeiras semanas eu acreditei que estavam acontecendo mudanças. Mas bastaram apenas mais algumas semanas para que eu percebesse que as mudanças eram apenas cosméticas, mudanças de cenário; que o poder continuaria nas mãos dos comunistas e que eles não precisavam se preocupar quanto a perder o que quer que fosse”. Cibulka declarou ainda: “Isto não é uma revolução, mas outra trapaça comunista”.
O ex-prisioneiro político tcheco Vladimir Hucin relatou a Buchar: “Eu assinei a Carta 77 [5] depois de solto da prisão em 1986. Quando mais tarde eu tive acesso a documentos dos arquivos da STB (polícia secreta comunista), descobri quantas pessoas da Carta 77 estiveram envolvidas com a STB, quantos agentes a STB tinha nesse grupo. Isso foi um grande desapontamento para mim”. Conforme o historiador tcheco Pavel Zacek confirmou a Buchar: “A STB funcionou com muita eficácia. Eles se infiltraram em todos os grupos regionais de oposição. Eles manobraram de modo a colocar seus agentes nas principais posições de liderança do Fórum Cívico, além de recrutarem novos agentes entre os quadros dos partidos social-democratas populares da Tchecoslováquia. Não foram encontrados documentos sobre como essa operação foi conduzida...”.
Robert Buchar é um cineasta da Tchecoslováquia e que de lá fugiu em 1980, indo para os EUA em 1981. Trabalhou como operador de câmera para a rede de TV CBS e, desde 1990, ensina cinematografia no Columbia College, em Chicago. Em 1999 produziu o documentário Velvet Hangover [Ressaca de Veludo], que foi transformado em livro em 2003, sob o título Czech New Wave Filmmakers in Interviews [Novos Cineastas Tchecos em Entrevistas]. “Foi o trabalho que fiz para esse livro que me levou à idéia de rodar um filme”, explicou Buchar. “E foi o ex-dissidente e prisioneiro político tcheco Petr Cibulka quem me convenceu a fazê-lo quando me disse: ‘Se você não fizer o filme, ninguém mais o fará’. Assim, comecei a trabalhar neste documentário ‘The Grand Deception – Uncertain History’ em 2004 e finalizei a fotografia principal em junho de 2007. Estou editando entrevistas, mas está tudo parado, pois preciso levantar dinheiro para comprar imagens de arquivo de noticiários da época para terminar o filme. Talvez eu tenha de publicar o livro antes de acabar o filme”.
Na qualidade de ex-cidadão da Tchecoslováquia comunista, o que Buchar aprendeu dessas entrevistas? “De antemão, você tem uma idéia desse evento”, diz Buchar, “e essa idéia muda quando você ouve todos os detalhes descritos por testemunhas oculares. E então, é claro, ao ligar os pontos de diferentes lugares, você é levado a um quadro terrificante e a uma conclusão que me preocupa. As pessoas normalmente me olham de um jeito estranho quando digo que decidi fugir do meu país, porque, lá pelo final dos anos 70, eu cheguei à conclusão de que o processo de mudança do sistema já estava em curso e quando acontecesse de verdade seria orquestrado desde dentro, com um resultado predeterminado e inaceitável para mim. Eu só não imaginava que aconteceria tão cedo. Eu imaginava mais uns dez anos para que acontecesse”.
Os leitores podem estar curiosos quanto ao que Buchar pensa a respeito da reação ocidental ao colapso do comunismo. “Bem…”, diz ele, “uma coisa que eu aprendi e da qual eu não estava nada ciente antes – é o nível de incompetência da CIA no que diz respeito ao seu grau de compreensão do sistema comunista, do modo de operação nos países do Bloco Oriental; uma incompetência que ignorava a importância da ideologia e o nível da infiltração soviética na própria agência. É algo parecido ao que Bill Gertz chama de mentalidade ‘antianticomunista’ [contrária ao anticomunismo] na CIA. Isso foi realmente chocante para mim”.
© 2007 Jeffrey R. Nyquist
Publicado por Financialsense.com
Tradução: MSM
[1] Ver CIA: Mito e História
[2] NT: A expressão "Revolução de Veludo" foi cunhada por jornalistas após os acontecimentos, aceita pela mídia mundial e em seguida, usada pela própria Tchecoslováquia.
[3] NT: Liderança do Partido Comunista da União Soviética, órgão colegiado e composto por muitos membros, dentre os quais eram escolhidos os membros do Politburo. O Politburo sempre contou, necessariamente, com membros da KGB e esteve sempre acima do comando das forças armadas soviéticas.
[4] Ou seja, captação de pesados investimentos estrangeiros, especialmente europeus, em petróleo e gás, e a máfia russa, desde sempre controlada pela KGB.
[5] Charta 77 (em Tcheco e Eslovaco) foi, nominalmente, uma iniciativa cívica informal na Tchecoslováquia, de 1977 a 1992, cujo nome deriva do documento Carta 77, de janeiro de 1977. Os seus membros fundadores e arquitetos foram Václav Havel, Jan Patočka, Zdeněk Mlynář, Jiří Hájek, e Pavel Kohout. Depois da “Revolução de Veludo” de 1989, muitos de seus membros desempenharam papéis importantes na política tcheca e eslovaca.
Verdade inconveniente com reservas
Juiz britânico admite que o filme Verdade inconveniente seja exibido em colégios britânicos, porém os alunos deverão ser avisados de que ele contém nove mentiras. Um pai de um aluno entrara na Justiça pedindo a proibição da exibição do filme. O juiz considerou que o filme tem viés político, porém limitou-se a mandar que as mentiras do filme sejam identificadas para os alunos.
ver reportagem em: http://www.dailymail.co.uk/pages/live/articles/news/news.html?in_article_id=486969&in_page_id=1770
ver reportagem em: http://www.dailymail.co.uk/pages/live/articles/news/news.html?in_article_id=486969&in_page_id=1770
terça-feira, outubro 02, 2007
True Outspeak
Quem quer que queira entender algo do que acontece no Brasil e no mundo, escute ao programa de rádio do jornalista brasileiro Olavo de Carvalho. O link é esse: www.blogtalkradio.com/olavo. O programa é transmitido pela rede.
segunda-feira, setembro 17, 2007
A Xeroxona
Bruno Tolentino
A bela Espinozona é mesmo um ás!
Filha da Maria Antônia, e sumidadede
que a USP garante a idoneidade,
se bem me lembra há pouco tempo atrás
era ainda uma vulva tão voraz
que deglutia os mestres à vontade,
chegou a fazer seu mais da metade
de um livro do Leffort - o que aliás
assustou o Merquior... Essa araruta,
que a fim de ter seu dia de mingau,
chupa o trabalho alheio pelo pau,
pode até ser o que ninguém disputa
- a Vênus que dá tudo pela luta -
mas xerox em xereca é genial!
.....................
A homenageada é Marilena Chauí, professora de filosofia da USP. Explica-se: Marilena Chauí foi acusada por José Guilherme Merquior de ter plagiado um livro de Claude Leffort, ao que ela respondeu que teve um caso amoroso com o plagiado em Paris.
A bela Espinozona é mesmo um ás!
Filha da Maria Antônia, e sumidadede
que a USP garante a idoneidade,
se bem me lembra há pouco tempo atrás
era ainda uma vulva tão voraz
que deglutia os mestres à vontade,
chegou a fazer seu mais da metade
de um livro do Leffort - o que aliás
assustou o Merquior... Essa araruta,
que a fim de ter seu dia de mingau,
chupa o trabalho alheio pelo pau,
pode até ser o que ninguém disputa
- a Vênus que dá tudo pela luta -
mas xerox em xereca é genial!
.....................
A homenageada é Marilena Chauí, professora de filosofia da USP. Explica-se: Marilena Chauí foi acusada por José Guilherme Merquior de ter plagiado um livro de Claude Leffort, ao que ela respondeu que teve um caso amoroso com o plagiado em Paris.
domingo, setembro 16, 2007
O filósofo mecanicista
"O filósofo mecanicista professa rejeitar a idéia de uma vontade soberana e universal, a mesma vontade soberana cuja atividade na elaboração das leis universais ele reverencia tanto. Que homenagem sem intenção o mecanicista acaba por prestar ao Criador das leis quando concebe essas leis como sendo atuantes por si próprias e auto-explicativas!
É um erro crasso humanizar Deus, exceto no conceito do Ajustador de Pensamento residente, mas mesmo isso não é tão estúpido quanto mecanizar por completo a idéia da Primeira Grande Fonte e Centro." (Capítulo 6, Documento 3, Livro de Urântia).
É um erro crasso humanizar Deus, exceto no conceito do Ajustador de Pensamento residente, mas mesmo isso não é tão estúpido quanto mecanizar por completo a idéia da Primeira Grande Fonte e Centro." (Capítulo 6, Documento 3, Livro de Urântia).
segunda-feira, setembro 10, 2007
Cuba em números
Na seção de comentários do artigo Dois pesos e duas medidas, disse que a ditadura castrista matou cem mil pessoas. Os números são esses aqui:
"Fuzilados: 5.621. Assassinados extrajudicialmente: 1.163. Presos políticos mortos no cárcere por maus-tratos, falta de assistência médica ou causas naturais: 1.081. Guerrilheiros anticastristas mortos em combate: 1.258. Soldados cubanos mortos em missões no exterior: 14.160. Mortos ou desaparecidos em tentativas de fuga do país: 77.824. Civis mortos em ataques químicos em Mavinga, Angola: 5.000. Guerrilheiros da Unita mortos em combate contra tropas cubanas: 9.380. Total: 115.127 (não inclui mortes causadas por atividades subversivas no exterior)."
fonte: Cuba em números, por Olavo de Carvalho, publicado no saite midiasemmascara.org
"Fuzilados: 5.621. Assassinados extrajudicialmente: 1.163. Presos políticos mortos no cárcere por maus-tratos, falta de assistência médica ou causas naturais: 1.081. Guerrilheiros anticastristas mortos em combate: 1.258. Soldados cubanos mortos em missões no exterior: 14.160. Mortos ou desaparecidos em tentativas de fuga do país: 77.824. Civis mortos em ataques químicos em Mavinga, Angola: 5.000. Guerrilheiros da Unita mortos em combate contra tropas cubanas: 9.380. Total: 115.127 (não inclui mortes causadas por atividades subversivas no exterior)."
fonte: Cuba em números, por Olavo de Carvalho, publicado no saite midiasemmascara.org
Lista de leitura do St. John´s college
O curso de leitura dos clássicos no St. John´s College dá-se em quatro anos. Os alunos lêem os livros em casa e se reúnem para discutir suas impressões em sala de aula mediados por um professor que limita-se a extrair deles o que eles próprios já sabem. Valei-me Sócrates. Mais informações no próprio saite do St. John´s College ( link ao lado ) e no excelente saite Aristoi ( também com link ao lado ), uma grata surpresa, feito por um monte de bobocas que além de quererem uma educação de verdade aspiram a transmití-la a outros. Devem estar loucos!
Primeiro ano (primeiro semestre):
Homero: Ilíada.
Homero: Odisséia.
Platão: Mênon.
Ésquilo: Agamêmnon.
Ésquilo: Coéforas e Eumênides.
Platão: Górgias.
Plutarco: Vidas de Licurgo e de Sólon.
Heródoto: História (livros I; II, 50-53 112-120; III, 37, 38, 66-87).
Heródoto: História (V, 76-78, 91-93, 105; VI, 48 56-72, 94-120; XII)
Heródoto: História (VIII; IX).
Platão: República.
Aristófanes: As nuvens.
Platão: Apologia de Sócrates e Críton.
Platão: Fédon.
Tucídides: A guerra do Peloponeso.
Platão: O banquete (ou Simpósio)
Primeiro ano (primeiro semestre):
Homero: Ilíada.
Homero: Odisséia.
Platão: Mênon.
Ésquilo: Agamêmnon.
Ésquilo: Coéforas e Eumênides.
Platão: Górgias.
Plutarco: Vidas de Licurgo e de Sólon.
Heródoto: História (livros I; II, 50-53 112-120; III, 37, 38, 66-87).
Heródoto: História (V, 76-78, 91-93, 105; VI, 48 56-72, 94-120; XII)
Heródoto: História (VIII; IX).
Platão: República.
Aristófanes: As nuvens.
Platão: Apologia de Sócrates e Críton.
Platão: Fédon.
Tucídides: A guerra do Peloponeso.
Platão: O banquete (ou Simpósio)
domingo, setembro 09, 2007
"Honrar pai e mãe"
Filosofia da ética: tópico na comunidade Filosofia em Olavo de Carvalho, no orkut.
Os dois últimos posts foram esses:
Daniel
Concordo, Álvaro. Só adicionaria que em casos de desespero total, quando a pessoa está praticamente insensível, como no caso do personagem de O estrangeiro, e também no de Nicolas Stavroguine, do romance Os demônios, de Dostoievski, só um Viktor Frankl pode ajudar. Ele viveu os horrores do campo de concentração e saiu de lá para ajudar pessoas a encontrarem sentido para suas vidas. O Primo Levi, outro sobrevivente do campo de concentração nazista, escreveu um livro de denúncia e em seguida se suicidou. Frankl, por sua vez, iniciava a sessão de terapia perguntando a seus pacientes por que eles não se suicidavam; a partir de suas respostas ajudava-os a ver o que era importante para suas vidas, por que ela valia a pena. (...)
Álvaro
Viktor Frankl possui uma história fantástica mesmo. Como aquela em que ele encontrou nos escombros de uma igreja bombardeada pelos nazistas uma pedra com o mandamento: "Honrar pai e mãe". O que o levou a ficar na Alemanha cuidando de seus pais até ser preso pelos nazistas.
O título do primeiro livro que eu publiquei (O Amor ao Teatro e o Sentido da Vida) faz uma alusão direta à logoterapia e nele eu discorro sobre Viktor Frankl.
Os dois últimos posts foram esses:
Daniel
Concordo, Álvaro. Só adicionaria que em casos de desespero total, quando a pessoa está praticamente insensível, como no caso do personagem de O estrangeiro, e também no de Nicolas Stavroguine, do romance Os demônios, de Dostoievski, só um Viktor Frankl pode ajudar. Ele viveu os horrores do campo de concentração e saiu de lá para ajudar pessoas a encontrarem sentido para suas vidas. O Primo Levi, outro sobrevivente do campo de concentração nazista, escreveu um livro de denúncia e em seguida se suicidou. Frankl, por sua vez, iniciava a sessão de terapia perguntando a seus pacientes por que eles não se suicidavam; a partir de suas respostas ajudava-os a ver o que era importante para suas vidas, por que ela valia a pena. (...)
Álvaro
Viktor Frankl possui uma história fantástica mesmo. Como aquela em que ele encontrou nos escombros de uma igreja bombardeada pelos nazistas uma pedra com o mandamento: "Honrar pai e mãe". O que o levou a ficar na Alemanha cuidando de seus pais até ser preso pelos nazistas.
O título do primeiro livro que eu publiquei (O Amor ao Teatro e o Sentido da Vida) faz uma alusão direta à logoterapia e nele eu discorro sobre Viktor Frankl.
sábado, setembro 08, 2007
Freaking conclusions
Steven Levitt, autor do livro Freakonomics, cujo blog está agora na página do New York Times, chegou à brilhante conclusão de que permitir abortos dimunui o número de crimes. Isso porque as crianças indesejadas, as quais poderiam ser abortadas, são propensas a cometerem crimes quando crescerem. Ok. Mas que tal considerarmos o próprio aborto como um crime? Aí as conclusões se revelam completamente furadas, não é mesmo?
Essa pesquisa foi alardeada em várias páginas da imprensa, e não houve um jornalista sequer para formular a questão nesses termos. Só não me pergunte se agiram por má fé ou por estupidez.
Essa pesquisa foi alardeada em várias páginas da imprensa, e não houve um jornalista sequer para formular a questão nesses termos. Só não me pergunte se agiram por má fé ou por estupidez.
Meu filho ( 8 anos ) perguntou: para que serve ler?
Tópico discutido na comunidade Olavo de Carvalho, no orkut.
Marcelo
meu filho (8 anos) perguntou: para que serve ler?
Ele estava fazendo comparação com o nosso presidente , que não gosta muto de leitura...e não estudou...e é presidente..
leiam mais:
http://cienciabrasil.blogspot.com/2007/09/o-super-ignorante.html
Comentários?
Caio
Se hoje em dia alguém quer viver honestamente, sem passar a perna nos outros, deve se instruir para se inserir na economia
Marcelo
meu filho (8 anos) perguntou: para que serve ler?
Ele estava fazendo comparação com o nosso presidente , que não gosta muto de leitura...e não estudou...e é presidente..
leiam mais:
http://cienciabrasil.blogspot.com/2007/09/o-super-ignorante.html
Comentários?
Caio
Se hoje em dia alguém quer viver honestamente, sem passar a perna nos outros, deve se instruir para se inserir na economia
Daniel
Não só para se inserir na economia, uma pessoa tem que buscar conhecimento para saber dos sentimentos humanos, saber o que está sentindo, se conhecer. É mais fácil se relacionar com outras pessoas conhecendo-se e conhecendo aos outros. Pergunte a seu filho se ele quer ser que nem o Lula, um sujeito que nem sabe do que está falando, cujo raciocínio é X igual a A, logo X igual a A, um homem totalmente inócuo, cuja vida é um vexame inconsciente.
Fale para o seu filho que ser presidente da República não é nada perto de ser um Dante Aligheri, um Homero, Platão ou Ésquilo. É nesses ele tem que se esmerar.
terça-feira, setembro 04, 2007
O riso
por Roger Scruton
A razão se mostra em todas as nossas tentativas de entender o mundo e em todas as meneiras de nos relacionarmos uns com os outros. Está presente nas nossas escolhas, e também nas nossas reações involuntárias. Apenas um ser racional é capaz de chorar ou corar, mesmo que essas duas reações estejam fora do alcance de nossa vontade. E apenas o ser racional é capaz de rir. Hienas fazem um som como de riso, mas não se trata na realidade de um sinal de contentamento, nem tem a função social que o riso tem – que é iluminar as nossas diferenças e alegrar-se com o que compartilhamos. O riso não é somente regozijo e confôrto, é a principal maneira de aceitarmos os defeitos de nossos semelhantes. E o riso, embora restrito aos seres racionais, deve ser espontâneo caso se pretenda real. O riso programado é uma espécie de zombaria; a risada espontânea é uma aceitação daquilo que a provoca, mesmo quando, rindo de alguém, jogamos no chão sua auto-confiança.
..................
trecho do artigo O declínio do riso, que pode ser acessado no site do autor, com link aqui ao lado.
A tradução do trecho é minha.
A razão se mostra em todas as nossas tentativas de entender o mundo e em todas as meneiras de nos relacionarmos uns com os outros. Está presente nas nossas escolhas, e também nas nossas reações involuntárias. Apenas um ser racional é capaz de chorar ou corar, mesmo que essas duas reações estejam fora do alcance de nossa vontade. E apenas o ser racional é capaz de rir. Hienas fazem um som como de riso, mas não se trata na realidade de um sinal de contentamento, nem tem a função social que o riso tem – que é iluminar as nossas diferenças e alegrar-se com o que compartilhamos. O riso não é somente regozijo e confôrto, é a principal maneira de aceitarmos os defeitos de nossos semelhantes. E o riso, embora restrito aos seres racionais, deve ser espontâneo caso se pretenda real. O riso programado é uma espécie de zombaria; a risada espontânea é uma aceitação daquilo que a provoca, mesmo quando, rindo de alguém, jogamos no chão sua auto-confiança.
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trecho do artigo O declínio do riso, que pode ser acessado no site do autor, com link aqui ao lado.
A tradução do trecho é minha.
sexta-feira, agosto 31, 2007
Falsificações da História – O soldado brasileiro e a contra-revolução de 64
por Heitor De Paola em 25 de agosto de 2007
Resumo: A esquerda vocifera com tremendo estardalhaço a necessidade de serem abertos os “arquivos da ditadura”. Apesar de estarem no poder e terem autoridade para obrigar os Comandos Militares a abri-los, apenas seguem vociferando. Será que é por medo de verem seus atos de terrorismo, banditismo e assassinatos revelados ao público?
© 2007 MidiaSemMascara.org
“Quem domina o passado, domina o presente;
quem domina o presente, domina o futuro”.
GEORGE ORWELL, “1984”
O Dia do Soldado é uma ocasião propícia para retomar o tema das Falsificações da História. Cada vez que este dia se aproxima a mídia chapa branca revira os “porões da ditadura” em busca de novos embustes. A principal trapaça deste ano de 2007 é uma série de reportagens do jornal O Globo, do Rio, intitulada “Os brasileiros que ainda vivem na ditadura”. A extensa matéria focaliza a verdadeira ditadura exercida pelos narcotraficantes e as milícias sobre a população mais pobre do Rio de Janeiro, particularmente os favelados. No próprio texto são feitas comparações com os “terríveis anos de chumbo”, mas o must vem no final: um encarte diário, mais ou menos longo, com testemunhos das “vítimas indefesas da ditadura militar”. Traduzindo: subliminarmente equiparam os soldados aos bandidos!
Possivelmente a História, como a conhecemos, tenha sido aqui e ali falsificada, de forma voluntária ou não. Seja por interesse de ocultar ou acrescentar alguma coisa ou por distorção involuntária, seja por se tratar de registro de relatos orais muito antigos já modificados no próprio tempo, o caso é que os documentos históricos nem sempre apresentam os fatos como eles realmente ocorreram. O estudioso de história deve contar com estas possíveis deturpações, principalmente no que toca a relatos de períodos muito antigos, aos quais as teorias não podem mais ser testadas nem a História pode encontrar uma sólida fundação em fatos.
No entanto, os historiadores antigos, sinceros e de certa forma ingênuos, jamais poderiam imaginar que a falsificação da História se transformasse num ofício, numa arte espúria, exercida sistematicamente por milhares de escribas selecionados por autoridades que necessitam manipular os conhecimentos sobre o passado para, seletivamente, expurgar o que lhes retiraria legitimidade ou revelaria suas atrocidades. Pois isto aconteceu exatamente no século em que o crescimento exponencial da capacidade de armazenamento de documentos históricos parecia indicar um futuro promissor para esta bela arte. Desde o golpe de Estado bolchevista na Rússia em 1917 a criação de uma nova História, de novas “verdades”, vem ocupando lugar de destaque na estruturação dos departamentos de desinformação comunista. Ironicamente, Orwell chamou a repartição que tinha esta função em Oceania de Ministério da Verdade.
Basta olhar quem hoje está no poder político no Brasil para perceber que são os derrotados militarmente em 64, os herdeiros dos bolchevistas, que venceram uma das batalhas mais importantes: a cultural. Refugiando-se nesta área negligenciada pelos governos militares, e baseando-se na desinformação e nas orientações de Féliks Dzerzhinsky, o mestre da desinformação e fundador da primeira polícia secreta bolchevista – a Tcheka - passaram a escrever grande parte da História, principalmente aquela de alcance público, acadêmico e nas escolas de todos os níveis, novelas e minisséries de TV. Tornaram-se “donos” dos significados das palavras. Temos hoje muito mais mitologia induzida do que história ocorrida. É trabalho para décadas – se houver liberdade para tanto – desfazer todos os mitos dos chamados “anos de chumbo”. Mas o tempo funciona a favor dos trapaceiros, pois dentro de alguns anos não existirá mais ninguém das gerações que viveram a vida adulta naqueles tempos, hoje já acima dos sessenta. Contam com o tempo para completar o verdadeiro genocídio da História: a morte dos que a conheceram vivamente. E a verdade sumirá se não for tentado algo para salvá-la. Tento fazer a minha parte contando o que vivi.
AS OPÇÕES POLÍTICAS NA DÉCADA DE 60
Uma das maiores distorções é o mito de que soldados maldosos, aliados à “burguesia” nacional “ameaçada em seus privilégios” - e subordinados às demandas maquiavélicas dos Estados Unidos - resolveram abortar pelas armas a política conduzida por um governo legítimo e que atendia aos “anseios populares”. Em primeiro lugar, esconde-se o fato de que em 1959 a geopolítica da América Latina tinha virado do avesso pela tomada do poder em Cuba por Castro, que logo assumiu sua condição de comunista e se aliou à URSS. Seguiu-se um banho de sangue de proporções inimagináveis – do qual é proibido falar! - e a lenta e progressiva instalação na ilha de numerosos instrutores soviéticos que adestraram tropas cubanas, formaram e exportaram guerrilheiros e terroristas, e re-estruturaram o sistema de Inteligência. Através desta “cabeça de ponte” aumentou sobremaneira a influência da URSS na AL. Os jornais noticiavam diariamente as tentativas de derrubada do governo legitimamente eleito da Venezuela, país-chave pela produção petrolífera. O próximo objetivo estratégico era o Brasil, país imenso, já em fase inicial de industrialização e cujas Forças Armadas representavam um poderoso obstáculo à penetração comunista no Continente.
25 de agosto de 1961, a renúncia de Jânio Quadros marca um momento importante. O Vice, João Goulart, encontrava-se na China e declarou que iria comandar o processo de “reformas sociais” tão logo assumisse. Os Ministros Militares e amplos setores civis se opuseram à posse de Jango por suas notórias ligações com a esquerda. Seu cunhado Brizola, Governador do Rio Grande do Sul reagiu, o Comandante do Terceiro Exército, Gen. Machado Lopes, ficou do lado dele e o Brasil esteve à beira da guerra civil. A Força Aérea chegou a dar uns tiros no Palácio Piratini. Brizola tomou todas as rádios de Porto Alegre e obrigou as demais a entrarem em cadeia, a Cadeia da Legalidade! E lá estava eu, “comandando” uma mesa em plena rua na cidade de Rio Grande-RS, a uns 4° C, com uma lista de assinaturas para quem quisesse “pegar em armas pela legalidade”, atuando em conjunto com membros do extinto PCB. Com a emenda parlamentarista tudo se acalmou, mas em janeiro de 63, num plebiscito nada confiável, o país retorna ao Presidencialismo.
Fiz parte da Juventude Trabalhista e só não entrei para os Grupos dos 11, do Brizola, sobre os quais hoje quase nada se ouve, porque não tinha idade e, portanto, não era confiável. No início dos anos 60 o hoje santificado Betinho, junto com o Padre Vaz, elaborou o “Documento Base da Ação Popular”, que previa a instalação de um governo socialista cristão no Brasil. Mas o documento em que a AP se declarava francamente a favor da instalação de uma ditadura ao estilo maoísta foi mantido secreto até para os militantes da base. Só vim a ter contato com ele através de Duarte do Lago Brasil Pacheco Pereira (um dos membros do Comando Nacional de AP) em agosto de 65, quando, ocupando uma Vice-Presidência da UNE, eu já era mais “confiável”. O documento, que era obviamente o produto de uma luta interna na esquerda mundial, defendia a luta em três etapas: reivindicatória (movimentos populares, greves); política (início das guerrilhas no campo, como na China e Vietnam) e ideológica (a formação do Exército Popular de Libertação). Contrariava a teoria do foco guerrilheiro, preferida por Guevara e Debray.
O MASTER (nome do MST da época), do Brizola, invadia terras no RS (como a do Banhado do Colégio, em Camaquã) e as Ligas Camponesas, de Francisco Julião, com apoio explícito do Governador Arraes, no Nordeste. A CGT, (presidida por Dante Pelacani) e a UNE (José Serra) propunham abertamente um golpe com fechamento do Congresso. Armas tchecas começaram a surgir. O ano de 1963 foi uma agitação só. O movimento estudantil, do qual posso falar, estava dividido entre a Ação Popular (AP) e o PCB. Quem não viveu aqueles tempos dificilmente pode imaginar o nível de agitação que havia por aqui. O re-início das aulas em março de 64 praticamente não houve.
Num encontro em Pelotas, onde eu estudava Medicina, com o último Ministro da Educação do Jango, Sambaqui, no início de março, ele nos revelou que tudo começaria com o comício marcado para o dia 13, em local proibido para manifestações públicas (em frente ao Ministério da Guerra) já em desafio aberto e simbólico à lei, seria continuado pelo levante dos sargentos do Exército e da Marinha - formando verdadeiros soviets - e pelos Fuzileiros Navais em peso, comandados pelo “Almirante do Povo”, Aragão. Pregava-se a subversão da hierarquia e disciplina militares. Seguir-se-ia pelo já programado discurso de Jango no Automóvel Clube do Brasil. A pressão final sobre o Congresso seria em abril e maio: se não aprovasse as “reformas de base”, seria fechado com pleno apoio popular.
Na mesma época, participei de uma ação comandada por um agitador da Petrobrás e da SUPRA (Superintendência da Reforma Agrária), em Rio Grande, pela encampação da Refinaria de Petróleo Ipiranga o qual, num discurso na Prefeitura, declarou que a República Socialista do Brasil estava próxima. As ocorrências de março só confirmaram a conspiração acima mencionada. No comício do dia 13 Brizola pregou o fechamento do Congresso se não aprovasse as tais “Reformas de Base” (na lei ou na marra) – ninguém me contou, eu ouvi no rádio. Prestes dizia que os comunistas já estavam no Governo, só faltava tomarem o Poder.
Não havia, pois, opção democrática alguma. Restava decidir se teríamos o predomínio dos comunistas ou de uma ditadura ao estilo peronista, chefiada por Jango. As passeatas civis – as Marchas da Família com Deus pela Liberdade - estavam nas ruas exigindo o fim da baderna e em apoio ao Congresso. Sugerir que se devia esperar que Jango desse o golpe para depois tirá-lo, me parece uma idéia legalista infantil, pois então teria que ser muito mais cruento. Foi, na verdade, um contra-golpe cívico-militar preventivo.
PARTICIPAÇÃO DOS EEUU
Outro mito é sobre a participação americana no “golpe” de 64. Chamada de “Operação Thomas Mann” (nome do então Secretário de Estado Adjunto para a AL) não passa de uma mentira baseada em documentos forjados pelo Departamento de Desinformação através da espionagem Tcheca. Quem montou a operação foi o espião Ladislav Bittman que, em 1985 revelou tudo no seu livro “The KGB and Soviet Disinformation: An Insiders View”, Pergamon-Brasseys, Washington, DC, 1985. Segundo suas declarações, “A Operação foi projetada para criar no público latino-americano uma prevenção contra a política linha dura americana, incitar demonstrações mais intensas de sentimentos antiamericanos e rotular a CIA como notória perpetradora de intrigas antidemocráticas”. Outra fonte é o livro de Phyllis Parker “Brazil and the Quiet Intervention: 1964”, Univ of Texas Press, 1979, onde fica claro que os EEUU acompanhavam a situação de perto, faziam seus lobbies e sua política com a costumeira agressividade, e tinham um plano B para o caso de o país entrar em guerra civil. Entretanto, não há provas de que os Estados Unidos instigaram, planejaram, dirigiram ou participaram da execução do “golpe” de 64. Embora as revelações tenham sido tornadas públicas em 79/85, a imprensa brasileira nada publicou a respeito não permitindo que a opinião pública tomasse conhecimento da mentira que durante anos a enganou. Apenas a revista Veja na sua edição nº 1777, de 13/11/02, publica a matéria “O Fator Jango” de autoria de João Gabriel de Lima, onde este assunto é abordado. Recentemente (3/7/2007), O Globo publicou com grande estardalhaço documentos que eram conhecidos desde 31 de março de 2004, aos 40 anos do movimento, quando a CIA desclassificou documentos da época que revelam um grande interesse da Casa Branca, do Departamento de Estado e da CIA no que estava por ocorrer no Brasil. Qual o interesse de “revelar” documentos já conhecidos há mais de 3 anos como se novidade fosse? Não sei, mas é mais uma peça de desinformação, pois o que demonstram é que havia planos para apoiar o movimento cívico-militar, o que já era sabido por todos que viveram aqueles tempos ou se interessaram em estudar.
A LUTA ARMADA E O AI-5
Finalmente, o mito de que brasileiros patriotas e democratas se levantaram em armas contra o “endurecimento da ditadura” através do Ato Institucional Nº 5, 12/68. A UNE, foco permanente de agitação esquerdista ficou acéfala com a fuga para o exterior do Presidente eleito em 1963, José Serra, hoje Governador de São Paulo e foi extinta pela Lei Suplicy (Lei Nº. 4.464, de 9/11/64). No mesmo ano, Alberto Abraão Abissamara, Presidente da UEE da Guanabara, tomou conta dos arquivos que sobraram e convocou um Congresso para julho de 1965 que veio a ser realizado no Centro Politécnico em SP no qual fui eleito Vice-Presidente de Intercâmbio Internacional. Em outubro fui preso em Fortaleza, o que impediu minha ida ao Congresso da União Internacional de Estudantes na Mongólia, onde seria traçada uma estratégia de recrudescimento da violência revolucionária na AL. Quando retornei ao Rio a Diretoria eleita naquele Congresso estava dissolvida só restando o Presidente, Antonio Alves Xavier, o Primeiro Vice, José Fidelis Augusto Sarno, Altino Dantas e eu. O primeiro estava tomado de uma megalomania revolucionária que fez com que nos afastássemos dele e Altino tomou seu lugar. Eu pensei que seria impossível levar avante a tarefa. Como me afastei, só vim a saber bem mais tarde que a missão que seria minha naquele Congresso da UIE era de denunciar o “reformismo e a conciliação” daquela entidade com os “imperialistas”. A denúncia foi feita e há notícias de que 13 delegações se retiraram do Congresso, entre as quais a delegação da UNE, a chinesa, a cubana e uma delegação norte-americana, o que foi confirmado por Carlos I. Azambuja.
NOS “PORÕES DA DITADURA”
Fui preso pelo DOPS e encaminhado ao 23º Batalhão de Caçadores, em Fortaleza, onde permaneci durante dois meses. A única tortura a que fui submetido foi permanecer este tempo todo incomunicável. Fisicamente jamais me tocaram, pelo contrário, fui bem tratado, inclusive em função de uma diarréia inicialmente verdadeira e artificialmente “prolongada” por mim, passei a comer do cassino de oficiais. Vale recordar dois episódios, um hilário e outro que guardo com gratidão.
Terminado o IPM eu poderia sair do quartel mas como estava por chegar um Promotor do Superior Tribunal Militar para me re-inquirir para a instrução do processo junto ao STM, o encarregado do inquérito, Major Edísio Facó, sugeriu que eu ficasse no quartel entre os toques de recolher e o de alvorada. Criou-se um impasse: como ficariam meus pertences durante minha ausência? Na época eu estava no xadrez da Enfermaria e o Sargento encarregado encontrou a solução: trancou o cadeado e entregou-me a chave! Que eu saiba fui o único prisioneiro da história a ter a chave da cela!
O outro episódio se deu porque, apesar da incomunicabilidade, consegui que um soldado que terminara sua pena passasse um cabograma para meu pai avisando que eu estava preso. Meu pai era maçom tendo galgado todos os postos dentro da Ordem, menos o de Grão-Mestre. Mas o Grão-Mestre do Rio Grande do Sul era muito amigo e comunicou-se com o do Ceará, Sr. José Ramos Torres de Melo que foi me visitar sem poder falar comigo a não ser através do Chefe da S2 e quando saí tratou-me com um pai, emprestou-me a quantia que eu precisava para retornar ao Sul sem me permitir sequer passar um recibo – “entre irmãos isto não é necessário, sei que seu pai me pagará”. Muitos anos depois, já nesta luta “do outro lado”, vim a saber que se tratava do pai do General Francisco Batista Torres de Melo, Presidente do Grupo Guararapes.
DE VOLTA
De 66 – ano da Conferencia Tricontinental de Havana e da fundação da Organización Latino Americana de Solidaridad (OLAS) - a 68 participei, no Sul, das intensas discussões clandestinas sobre a luta armada conduzidas por militantes da AP treinados em Pequim. Em janeiro de 68, 11 meses antes da edição do AI-5, a luta foi implementada por todas as organizações revolucionárias, menos o PCB. A AP “rachou”, eu fiquei do lado contrário à maluquice da luta armada. Logo depois, mudou o nome para Ação Popular Marxista-Leninista do Brasil, o que já estava previsto no citado documento secreto desde 63/64. Como vários autores mais credenciados já têm se manifestado sobre isto, não vejo necessidade de mais para deixar claro que o AI-5 não passou de uma reação ao incremento das atividades revolucionárias, e não o oposto, como reza a “história oficial”.
Um outro fator a influenciar minha decisão de sair foi quando, numa reunião do “Comando Zonal Sul - RS”, discutia-se o caso de um militante recém “ampliado” que, por força de nosso apoio tornara-se Presidente de um importante Centro Acadêmico e dava mostras de “fraqueza ideológica” e independência de pensamento. Passou-se a discutir se num processo revolucionário aberto, que estava em preparação, alguém teria coragem de matar um “companheiro” ou ao menos dar a ordem para isto. Eu disse que teria coragem de dar a ordem. No momento, até a mim mesmo pareceu uma bravata, mas, mais tarde, pensando comigo mesmo fiquei horrorizado com a possibilidade de chegar a um ponto em que isto se tornaria inevitável: numa situação plenamente revolucionária pode chegar o momento do “ou ele ou eu”. Isto aconteceu em final de 1967; logo em janeiro de 1968 fomos informados das preparações para a “luta armada contra a ditadura”. Era a hora de dar o fora, o que fiz não sem sofrer ameaças por parte de meus antigos “companheiros”.
Anos depois, ao re-encontrar a esposa de um antigo “companheiro”, ela me contou que o mesmo tinha passado para a clandestinidade tornando-se um revolucionário profissional. Ela o acompanhara até o momento em que ele lhe mostrou a “necessidade revolucionária” de estar disponível para satisfazer sexualmente outros militantes clandestinos que não tinham como fazê-lo sem risco, fora da organização. Profundamente decepcionada ela o abandonara e voltara para sua cidade e sua família. Mas não pensem os leitores que isto é uma exceção: é a regra!
***
O estranho em tudo isto é que a esquerda vocifera com tremendo estardalhaço a necessidade de serem abertos os “arquivos da ditadura”. Apesar de estarem no poder e terem autoridade para obrigar os Comandos Militares a abri-los, apenas seguem vociferando. Conheço inúmeros militares que desejam ardentemente que estes documentos sejam abertos, mas não podem fazê-lo sem ordem superior. Um deles, o Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, vem tentando inutilmente discutir os fatos ocorridos naqueles tempos e não rejeita ser acusado; o que pede – e é de seu pleno direito – são provas e não boatos, fofocas, meros testemunhos sussurrados nas universidades, nas redações e nas reuniões sociais do jet set! Porém, parece que a intenção da esquerda é julgá-lo a priori, antes de ser condenado, só porque pertenceu à odiada “comunidade de informações”.
Quem teme a abertura que tanto pedem by lip service são os que construíram esta mentira em toda a América Latina; temem que as novas gerações descubram que foram seus atos terroristas que levaram à auto-defesa dos governos militares das décadas de 60-70, e não ao contrário.
Os soldados brasileiros não têm de que se envergonhar. Comemorem o seu dia!
Nota do autor: Este artigo é uma versão revisada e ampliada de outro já publicado aqui (Desfazendo alguns mitos sobre 64).
Resumo: A esquerda vocifera com tremendo estardalhaço a necessidade de serem abertos os “arquivos da ditadura”. Apesar de estarem no poder e terem autoridade para obrigar os Comandos Militares a abri-los, apenas seguem vociferando. Será que é por medo de verem seus atos de terrorismo, banditismo e assassinatos revelados ao público?
© 2007 MidiaSemMascara.org
“Quem domina o passado, domina o presente;
quem domina o presente, domina o futuro”.
GEORGE ORWELL, “1984”
O Dia do Soldado é uma ocasião propícia para retomar o tema das Falsificações da História. Cada vez que este dia se aproxima a mídia chapa branca revira os “porões da ditadura” em busca de novos embustes. A principal trapaça deste ano de 2007 é uma série de reportagens do jornal O Globo, do Rio, intitulada “Os brasileiros que ainda vivem na ditadura”. A extensa matéria focaliza a verdadeira ditadura exercida pelos narcotraficantes e as milícias sobre a população mais pobre do Rio de Janeiro, particularmente os favelados. No próprio texto são feitas comparações com os “terríveis anos de chumbo”, mas o must vem no final: um encarte diário, mais ou menos longo, com testemunhos das “vítimas indefesas da ditadura militar”. Traduzindo: subliminarmente equiparam os soldados aos bandidos!
Possivelmente a História, como a conhecemos, tenha sido aqui e ali falsificada, de forma voluntária ou não. Seja por interesse de ocultar ou acrescentar alguma coisa ou por distorção involuntária, seja por se tratar de registro de relatos orais muito antigos já modificados no próprio tempo, o caso é que os documentos históricos nem sempre apresentam os fatos como eles realmente ocorreram. O estudioso de história deve contar com estas possíveis deturpações, principalmente no que toca a relatos de períodos muito antigos, aos quais as teorias não podem mais ser testadas nem a História pode encontrar uma sólida fundação em fatos.
No entanto, os historiadores antigos, sinceros e de certa forma ingênuos, jamais poderiam imaginar que a falsificação da História se transformasse num ofício, numa arte espúria, exercida sistematicamente por milhares de escribas selecionados por autoridades que necessitam manipular os conhecimentos sobre o passado para, seletivamente, expurgar o que lhes retiraria legitimidade ou revelaria suas atrocidades. Pois isto aconteceu exatamente no século em que o crescimento exponencial da capacidade de armazenamento de documentos históricos parecia indicar um futuro promissor para esta bela arte. Desde o golpe de Estado bolchevista na Rússia em 1917 a criação de uma nova História, de novas “verdades”, vem ocupando lugar de destaque na estruturação dos departamentos de desinformação comunista. Ironicamente, Orwell chamou a repartição que tinha esta função em Oceania de Ministério da Verdade.
Basta olhar quem hoje está no poder político no Brasil para perceber que são os derrotados militarmente em 64, os herdeiros dos bolchevistas, que venceram uma das batalhas mais importantes: a cultural. Refugiando-se nesta área negligenciada pelos governos militares, e baseando-se na desinformação e nas orientações de Féliks Dzerzhinsky, o mestre da desinformação e fundador da primeira polícia secreta bolchevista – a Tcheka - passaram a escrever grande parte da História, principalmente aquela de alcance público, acadêmico e nas escolas de todos os níveis, novelas e minisséries de TV. Tornaram-se “donos” dos significados das palavras. Temos hoje muito mais mitologia induzida do que história ocorrida. É trabalho para décadas – se houver liberdade para tanto – desfazer todos os mitos dos chamados “anos de chumbo”. Mas o tempo funciona a favor dos trapaceiros, pois dentro de alguns anos não existirá mais ninguém das gerações que viveram a vida adulta naqueles tempos, hoje já acima dos sessenta. Contam com o tempo para completar o verdadeiro genocídio da História: a morte dos que a conheceram vivamente. E a verdade sumirá se não for tentado algo para salvá-la. Tento fazer a minha parte contando o que vivi.
AS OPÇÕES POLÍTICAS NA DÉCADA DE 60
Uma das maiores distorções é o mito de que soldados maldosos, aliados à “burguesia” nacional “ameaçada em seus privilégios” - e subordinados às demandas maquiavélicas dos Estados Unidos - resolveram abortar pelas armas a política conduzida por um governo legítimo e que atendia aos “anseios populares”. Em primeiro lugar, esconde-se o fato de que em 1959 a geopolítica da América Latina tinha virado do avesso pela tomada do poder em Cuba por Castro, que logo assumiu sua condição de comunista e se aliou à URSS. Seguiu-se um banho de sangue de proporções inimagináveis – do qual é proibido falar! - e a lenta e progressiva instalação na ilha de numerosos instrutores soviéticos que adestraram tropas cubanas, formaram e exportaram guerrilheiros e terroristas, e re-estruturaram o sistema de Inteligência. Através desta “cabeça de ponte” aumentou sobremaneira a influência da URSS na AL. Os jornais noticiavam diariamente as tentativas de derrubada do governo legitimamente eleito da Venezuela, país-chave pela produção petrolífera. O próximo objetivo estratégico era o Brasil, país imenso, já em fase inicial de industrialização e cujas Forças Armadas representavam um poderoso obstáculo à penetração comunista no Continente.
25 de agosto de 1961, a renúncia de Jânio Quadros marca um momento importante. O Vice, João Goulart, encontrava-se na China e declarou que iria comandar o processo de “reformas sociais” tão logo assumisse. Os Ministros Militares e amplos setores civis se opuseram à posse de Jango por suas notórias ligações com a esquerda. Seu cunhado Brizola, Governador do Rio Grande do Sul reagiu, o Comandante do Terceiro Exército, Gen. Machado Lopes, ficou do lado dele e o Brasil esteve à beira da guerra civil. A Força Aérea chegou a dar uns tiros no Palácio Piratini. Brizola tomou todas as rádios de Porto Alegre e obrigou as demais a entrarem em cadeia, a Cadeia da Legalidade! E lá estava eu, “comandando” uma mesa em plena rua na cidade de Rio Grande-RS, a uns 4° C, com uma lista de assinaturas para quem quisesse “pegar em armas pela legalidade”, atuando em conjunto com membros do extinto PCB. Com a emenda parlamentarista tudo se acalmou, mas em janeiro de 63, num plebiscito nada confiável, o país retorna ao Presidencialismo.
Fiz parte da Juventude Trabalhista e só não entrei para os Grupos dos 11, do Brizola, sobre os quais hoje quase nada se ouve, porque não tinha idade e, portanto, não era confiável. No início dos anos 60 o hoje santificado Betinho, junto com o Padre Vaz, elaborou o “Documento Base da Ação Popular”, que previa a instalação de um governo socialista cristão no Brasil. Mas o documento em que a AP se declarava francamente a favor da instalação de uma ditadura ao estilo maoísta foi mantido secreto até para os militantes da base. Só vim a ter contato com ele através de Duarte do Lago Brasil Pacheco Pereira (um dos membros do Comando Nacional de AP) em agosto de 65, quando, ocupando uma Vice-Presidência da UNE, eu já era mais “confiável”. O documento, que era obviamente o produto de uma luta interna na esquerda mundial, defendia a luta em três etapas: reivindicatória (movimentos populares, greves); política (início das guerrilhas no campo, como na China e Vietnam) e ideológica (a formação do Exército Popular de Libertação). Contrariava a teoria do foco guerrilheiro, preferida por Guevara e Debray.
O MASTER (nome do MST da época), do Brizola, invadia terras no RS (como a do Banhado do Colégio, em Camaquã) e as Ligas Camponesas, de Francisco Julião, com apoio explícito do Governador Arraes, no Nordeste. A CGT, (presidida por Dante Pelacani) e a UNE (José Serra) propunham abertamente um golpe com fechamento do Congresso. Armas tchecas começaram a surgir. O ano de 1963 foi uma agitação só. O movimento estudantil, do qual posso falar, estava dividido entre a Ação Popular (AP) e o PCB. Quem não viveu aqueles tempos dificilmente pode imaginar o nível de agitação que havia por aqui. O re-início das aulas em março de 64 praticamente não houve.
Num encontro em Pelotas, onde eu estudava Medicina, com o último Ministro da Educação do Jango, Sambaqui, no início de março, ele nos revelou que tudo começaria com o comício marcado para o dia 13, em local proibido para manifestações públicas (em frente ao Ministério da Guerra) já em desafio aberto e simbólico à lei, seria continuado pelo levante dos sargentos do Exército e da Marinha - formando verdadeiros soviets - e pelos Fuzileiros Navais em peso, comandados pelo “Almirante do Povo”, Aragão. Pregava-se a subversão da hierarquia e disciplina militares. Seguir-se-ia pelo já programado discurso de Jango no Automóvel Clube do Brasil. A pressão final sobre o Congresso seria em abril e maio: se não aprovasse as “reformas de base”, seria fechado com pleno apoio popular.
Na mesma época, participei de uma ação comandada por um agitador da Petrobrás e da SUPRA (Superintendência da Reforma Agrária), em Rio Grande, pela encampação da Refinaria de Petróleo Ipiranga o qual, num discurso na Prefeitura, declarou que a República Socialista do Brasil estava próxima. As ocorrências de março só confirmaram a conspiração acima mencionada. No comício do dia 13 Brizola pregou o fechamento do Congresso se não aprovasse as tais “Reformas de Base” (na lei ou na marra) – ninguém me contou, eu ouvi no rádio. Prestes dizia que os comunistas já estavam no Governo, só faltava tomarem o Poder.
Não havia, pois, opção democrática alguma. Restava decidir se teríamos o predomínio dos comunistas ou de uma ditadura ao estilo peronista, chefiada por Jango. As passeatas civis – as Marchas da Família com Deus pela Liberdade - estavam nas ruas exigindo o fim da baderna e em apoio ao Congresso. Sugerir que se devia esperar que Jango desse o golpe para depois tirá-lo, me parece uma idéia legalista infantil, pois então teria que ser muito mais cruento. Foi, na verdade, um contra-golpe cívico-militar preventivo.
PARTICIPAÇÃO DOS EEUU
Outro mito é sobre a participação americana no “golpe” de 64. Chamada de “Operação Thomas Mann” (nome do então Secretário de Estado Adjunto para a AL) não passa de uma mentira baseada em documentos forjados pelo Departamento de Desinformação através da espionagem Tcheca. Quem montou a operação foi o espião Ladislav Bittman que, em 1985 revelou tudo no seu livro “The KGB and Soviet Disinformation: An Insiders View”, Pergamon-Brasseys, Washington, DC, 1985. Segundo suas declarações, “A Operação foi projetada para criar no público latino-americano uma prevenção contra a política linha dura americana, incitar demonstrações mais intensas de sentimentos antiamericanos e rotular a CIA como notória perpetradora de intrigas antidemocráticas”. Outra fonte é o livro de Phyllis Parker “Brazil and the Quiet Intervention: 1964”, Univ of Texas Press, 1979, onde fica claro que os EEUU acompanhavam a situação de perto, faziam seus lobbies e sua política com a costumeira agressividade, e tinham um plano B para o caso de o país entrar em guerra civil. Entretanto, não há provas de que os Estados Unidos instigaram, planejaram, dirigiram ou participaram da execução do “golpe” de 64. Embora as revelações tenham sido tornadas públicas em 79/85, a imprensa brasileira nada publicou a respeito não permitindo que a opinião pública tomasse conhecimento da mentira que durante anos a enganou. Apenas a revista Veja na sua edição nº 1777, de 13/11/02, publica a matéria “O Fator Jango” de autoria de João Gabriel de Lima, onde este assunto é abordado. Recentemente (3/7/2007), O Globo publicou com grande estardalhaço documentos que eram conhecidos desde 31 de março de 2004, aos 40 anos do movimento, quando a CIA desclassificou documentos da época que revelam um grande interesse da Casa Branca, do Departamento de Estado e da CIA no que estava por ocorrer no Brasil. Qual o interesse de “revelar” documentos já conhecidos há mais de 3 anos como se novidade fosse? Não sei, mas é mais uma peça de desinformação, pois o que demonstram é que havia planos para apoiar o movimento cívico-militar, o que já era sabido por todos que viveram aqueles tempos ou se interessaram em estudar.
A LUTA ARMADA E O AI-5
Finalmente, o mito de que brasileiros patriotas e democratas se levantaram em armas contra o “endurecimento da ditadura” através do Ato Institucional Nº 5, 12/68. A UNE, foco permanente de agitação esquerdista ficou acéfala com a fuga para o exterior do Presidente eleito em 1963, José Serra, hoje Governador de São Paulo e foi extinta pela Lei Suplicy (Lei Nº. 4.464, de 9/11/64). No mesmo ano, Alberto Abraão Abissamara, Presidente da UEE da Guanabara, tomou conta dos arquivos que sobraram e convocou um Congresso para julho de 1965 que veio a ser realizado no Centro Politécnico em SP no qual fui eleito Vice-Presidente de Intercâmbio Internacional. Em outubro fui preso em Fortaleza, o que impediu minha ida ao Congresso da União Internacional de Estudantes na Mongólia, onde seria traçada uma estratégia de recrudescimento da violência revolucionária na AL. Quando retornei ao Rio a Diretoria eleita naquele Congresso estava dissolvida só restando o Presidente, Antonio Alves Xavier, o Primeiro Vice, José Fidelis Augusto Sarno, Altino Dantas e eu. O primeiro estava tomado de uma megalomania revolucionária que fez com que nos afastássemos dele e Altino tomou seu lugar. Eu pensei que seria impossível levar avante a tarefa. Como me afastei, só vim a saber bem mais tarde que a missão que seria minha naquele Congresso da UIE era de denunciar o “reformismo e a conciliação” daquela entidade com os “imperialistas”. A denúncia foi feita e há notícias de que 13 delegações se retiraram do Congresso, entre as quais a delegação da UNE, a chinesa, a cubana e uma delegação norte-americana, o que foi confirmado por Carlos I. Azambuja.
NOS “PORÕES DA DITADURA”
Fui preso pelo DOPS e encaminhado ao 23º Batalhão de Caçadores, em Fortaleza, onde permaneci durante dois meses. A única tortura a que fui submetido foi permanecer este tempo todo incomunicável. Fisicamente jamais me tocaram, pelo contrário, fui bem tratado, inclusive em função de uma diarréia inicialmente verdadeira e artificialmente “prolongada” por mim, passei a comer do cassino de oficiais. Vale recordar dois episódios, um hilário e outro que guardo com gratidão.
Terminado o IPM eu poderia sair do quartel mas como estava por chegar um Promotor do Superior Tribunal Militar para me re-inquirir para a instrução do processo junto ao STM, o encarregado do inquérito, Major Edísio Facó, sugeriu que eu ficasse no quartel entre os toques de recolher e o de alvorada. Criou-se um impasse: como ficariam meus pertences durante minha ausência? Na época eu estava no xadrez da Enfermaria e o Sargento encarregado encontrou a solução: trancou o cadeado e entregou-me a chave! Que eu saiba fui o único prisioneiro da história a ter a chave da cela!
O outro episódio se deu porque, apesar da incomunicabilidade, consegui que um soldado que terminara sua pena passasse um cabograma para meu pai avisando que eu estava preso. Meu pai era maçom tendo galgado todos os postos dentro da Ordem, menos o de Grão-Mestre. Mas o Grão-Mestre do Rio Grande do Sul era muito amigo e comunicou-se com o do Ceará, Sr. José Ramos Torres de Melo que foi me visitar sem poder falar comigo a não ser através do Chefe da S2 e quando saí tratou-me com um pai, emprestou-me a quantia que eu precisava para retornar ao Sul sem me permitir sequer passar um recibo – “entre irmãos isto não é necessário, sei que seu pai me pagará”. Muitos anos depois, já nesta luta “do outro lado”, vim a saber que se tratava do pai do General Francisco Batista Torres de Melo, Presidente do Grupo Guararapes.
DE VOLTA
De 66 – ano da Conferencia Tricontinental de Havana e da fundação da Organización Latino Americana de Solidaridad (OLAS) - a 68 participei, no Sul, das intensas discussões clandestinas sobre a luta armada conduzidas por militantes da AP treinados em Pequim. Em janeiro de 68, 11 meses antes da edição do AI-5, a luta foi implementada por todas as organizações revolucionárias, menos o PCB. A AP “rachou”, eu fiquei do lado contrário à maluquice da luta armada. Logo depois, mudou o nome para Ação Popular Marxista-Leninista do Brasil, o que já estava previsto no citado documento secreto desde 63/64. Como vários autores mais credenciados já têm se manifestado sobre isto, não vejo necessidade de mais para deixar claro que o AI-5 não passou de uma reação ao incremento das atividades revolucionárias, e não o oposto, como reza a “história oficial”.
Um outro fator a influenciar minha decisão de sair foi quando, numa reunião do “Comando Zonal Sul - RS”, discutia-se o caso de um militante recém “ampliado” que, por força de nosso apoio tornara-se Presidente de um importante Centro Acadêmico e dava mostras de “fraqueza ideológica” e independência de pensamento. Passou-se a discutir se num processo revolucionário aberto, que estava em preparação, alguém teria coragem de matar um “companheiro” ou ao menos dar a ordem para isto. Eu disse que teria coragem de dar a ordem. No momento, até a mim mesmo pareceu uma bravata, mas, mais tarde, pensando comigo mesmo fiquei horrorizado com a possibilidade de chegar a um ponto em que isto se tornaria inevitável: numa situação plenamente revolucionária pode chegar o momento do “ou ele ou eu”. Isto aconteceu em final de 1967; logo em janeiro de 1968 fomos informados das preparações para a “luta armada contra a ditadura”. Era a hora de dar o fora, o que fiz não sem sofrer ameaças por parte de meus antigos “companheiros”.
Anos depois, ao re-encontrar a esposa de um antigo “companheiro”, ela me contou que o mesmo tinha passado para a clandestinidade tornando-se um revolucionário profissional. Ela o acompanhara até o momento em que ele lhe mostrou a “necessidade revolucionária” de estar disponível para satisfazer sexualmente outros militantes clandestinos que não tinham como fazê-lo sem risco, fora da organização. Profundamente decepcionada ela o abandonara e voltara para sua cidade e sua família. Mas não pensem os leitores que isto é uma exceção: é a regra!
***
O estranho em tudo isto é que a esquerda vocifera com tremendo estardalhaço a necessidade de serem abertos os “arquivos da ditadura”. Apesar de estarem no poder e terem autoridade para obrigar os Comandos Militares a abri-los, apenas seguem vociferando. Conheço inúmeros militares que desejam ardentemente que estes documentos sejam abertos, mas não podem fazê-lo sem ordem superior. Um deles, o Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, vem tentando inutilmente discutir os fatos ocorridos naqueles tempos e não rejeita ser acusado; o que pede – e é de seu pleno direito – são provas e não boatos, fofocas, meros testemunhos sussurrados nas universidades, nas redações e nas reuniões sociais do jet set! Porém, parece que a intenção da esquerda é julgá-lo a priori, antes de ser condenado, só porque pertenceu à odiada “comunidade de informações”.
Quem teme a abertura que tanto pedem by lip service são os que construíram esta mentira em toda a América Latina; temem que as novas gerações descubram que foram seus atos terroristas que levaram à auto-defesa dos governos militares das décadas de 60-70, e não ao contrário.
Os soldados brasileiros não têm de que se envergonhar. Comemorem o seu dia!
Nota do autor: Este artigo é uma versão revisada e ampliada de outro já publicado aqui (Desfazendo alguns mitos sobre 64).
quarta-feira, agosto 29, 2007
Recomendo vivamente..
o texto de Pedro Sette Câmara sobre Bruno Tolentino quando se completam dois meses do falecimento desse.
quarta-feira, agosto 22, 2007
Dois pesos e duas medidas
Aristóteles Drummond
aristotelesdrummond@mls.com.br
Nada mais parecido com o tipo de dialética praticada nos tempos do estalinismo do que o episódio envolvendo os dois pugilistas cubanos. Uma onda cínica tenta ocultar um fato mais do que grave, vergonhoso.
Uma ocorrência normal não faria com que um governo de país reconhecidamente pobre fretasse um avião para buscar dois de seus cidadãos. Não poderiam esperar o vôo comercial que liga Havana a São Paulo? Qual a dúvida de que estaria havendo uma forte pressão sobre as famílias em Havana e uma conivência abominável em Brasília?
No caso Olga Benário, cercado de inverdades, inclusive quanto à participação do então Chefe de Polícia e futuro senador Filinto Müller, um grande brasileiro que presidiu o Senado e foi líder de dois partidos majoritários naquela casa (PSD, com JK, e ARENA, com Costa e Silva), houve julgamento pelo Tribunal de Segurança, presidido por um jurista da estatura de Vicente Rao. A mais, a Alemanha de 1936, quando se deu o fato, vivia seus últimos momentos de democracia e a comunista companheira de Prestes na Intentona de 35 era condenada por crime de morte, que, aliás, nunca negou. Mas a história procura apresentar o presidente Getúlio Vargas como o homem que entregou a militante que aqui chegou a serviço da União Soviética a campos de concentração que só foram criados em 1942.
Os dois pugilistas estão sendo punidos. Não mais poderão sair do país, que, todos sabem, é uma prisão. Fidel é homem rigoroso no ódio e na punição aos que ousam preferir a liberdade. E não tem escrúpulos em castigar as famílias dos que aproveitam a primeira oportunidade para a fuga, como, aliás, ocorreu com dois outros atletas. Estes, no entanto, foram mais rápidos e trataram de sair logo do Brasil, que começa a ganhar feições cubanas e venezuelanas nesse particular.
A reação internacional está aí. Aqui, embora constrangidos por se tratar de contrariar o “Comandante”, boa parte da imprensa já se manifestou além dos editoriais. No Congresso, um grupo de combatentes clama, comandados pelos senadores Heráclito Fortes e José Agripino Maia.
Os senadores sabem que a nota do Ministério da Justiça e as entrevistas dos infelizes atletas possuem a mesma autenticidade e credibilidade do que as operações agropecuárias do presidente do Senado e de sua distância de meios de comunicação em Alagoas. E o país a tudo assiste triste e revoltado, pois se joga com a opinião pública como se esta fosse formada por pessoas com inteligência no limite na imbecilidade.
Para emendar as situação, só mesmo o desafio a Castro de permitir a visita dos dois a nossa Embaixada, para uma conversa com senadores brasileiros. Se possível, com membros da Anistia Internacional e do Comitê Olímpico Internacional.
É preciso que o governo reconheça que houve precipitação no tratamento do assunto. Não se deixa embarcar, em avião fretado, para um país conhecido pelas prisões e por impedir o direito de ir e vir de seus cidadãos, como foi feito. Afronta a todos este tipo de entrega. A América Latina já conviveu com dezenas de ditaduras ao longo de sua história, mas a única que impede a saída dos descontentes é a cubana.
No Brasil, quando um grupo dominado por ódios tais que foram levados à violência, surgiu o movimento do “Brasil: Ame-o ou deixe-o”. Fidel não teria coragem de lançar igual movimento. Ficaria, certamente, com meia dúzia em torno de sua fantasia. Na Europa também, só as ditaduras comunistas erguiam muros e abatiam os que tentavam pular a fronteira. Nos regimes fortes de direita, como os vividos por Portugal, Espanha, Itália e Grécia, nunca se impediu o cidadão comum de sair, como, aliás, muitos o fizeram, inclusive judeus alemães até o inicio da guerra..
Esses fatos precisam ser meditados. Neste milênio, não podemos conviver com a farsa, a mentira, a hipocrisia. A mais, vivemos um momento que supostamente é de liberdade, respeito aos direitos humanos, à ordem e à lei. O episódio foi lamentável.Precisa ser melhor esclarecido e a vida dos dois infelizes em Cuba acompanhada de alguma forma pelos brasileiros.
aristotelesdrummond@mls.com.br
Nada mais parecido com o tipo de dialética praticada nos tempos do estalinismo do que o episódio envolvendo os dois pugilistas cubanos. Uma onda cínica tenta ocultar um fato mais do que grave, vergonhoso.
Uma ocorrência normal não faria com que um governo de país reconhecidamente pobre fretasse um avião para buscar dois de seus cidadãos. Não poderiam esperar o vôo comercial que liga Havana a São Paulo? Qual a dúvida de que estaria havendo uma forte pressão sobre as famílias em Havana e uma conivência abominável em Brasília?
No caso Olga Benário, cercado de inverdades, inclusive quanto à participação do então Chefe de Polícia e futuro senador Filinto Müller, um grande brasileiro que presidiu o Senado e foi líder de dois partidos majoritários naquela casa (PSD, com JK, e ARENA, com Costa e Silva), houve julgamento pelo Tribunal de Segurança, presidido por um jurista da estatura de Vicente Rao. A mais, a Alemanha de 1936, quando se deu o fato, vivia seus últimos momentos de democracia e a comunista companheira de Prestes na Intentona de 35 era condenada por crime de morte, que, aliás, nunca negou. Mas a história procura apresentar o presidente Getúlio Vargas como o homem que entregou a militante que aqui chegou a serviço da União Soviética a campos de concentração que só foram criados em 1942.
Os dois pugilistas estão sendo punidos. Não mais poderão sair do país, que, todos sabem, é uma prisão. Fidel é homem rigoroso no ódio e na punição aos que ousam preferir a liberdade. E não tem escrúpulos em castigar as famílias dos que aproveitam a primeira oportunidade para a fuga, como, aliás, ocorreu com dois outros atletas. Estes, no entanto, foram mais rápidos e trataram de sair logo do Brasil, que começa a ganhar feições cubanas e venezuelanas nesse particular.
A reação internacional está aí. Aqui, embora constrangidos por se tratar de contrariar o “Comandante”, boa parte da imprensa já se manifestou além dos editoriais. No Congresso, um grupo de combatentes clama, comandados pelos senadores Heráclito Fortes e José Agripino Maia.
Os senadores sabem que a nota do Ministério da Justiça e as entrevistas dos infelizes atletas possuem a mesma autenticidade e credibilidade do que as operações agropecuárias do presidente do Senado e de sua distância de meios de comunicação em Alagoas. E o país a tudo assiste triste e revoltado, pois se joga com a opinião pública como se esta fosse formada por pessoas com inteligência no limite na imbecilidade.
Para emendar as situação, só mesmo o desafio a Castro de permitir a visita dos dois a nossa Embaixada, para uma conversa com senadores brasileiros. Se possível, com membros da Anistia Internacional e do Comitê Olímpico Internacional.
É preciso que o governo reconheça que houve precipitação no tratamento do assunto. Não se deixa embarcar, em avião fretado, para um país conhecido pelas prisões e por impedir o direito de ir e vir de seus cidadãos, como foi feito. Afronta a todos este tipo de entrega. A América Latina já conviveu com dezenas de ditaduras ao longo de sua história, mas a única que impede a saída dos descontentes é a cubana.
No Brasil, quando um grupo dominado por ódios tais que foram levados à violência, surgiu o movimento do “Brasil: Ame-o ou deixe-o”. Fidel não teria coragem de lançar igual movimento. Ficaria, certamente, com meia dúzia em torno de sua fantasia. Na Europa também, só as ditaduras comunistas erguiam muros e abatiam os que tentavam pular a fronteira. Nos regimes fortes de direita, como os vividos por Portugal, Espanha, Itália e Grécia, nunca se impediu o cidadão comum de sair, como, aliás, muitos o fizeram, inclusive judeus alemães até o inicio da guerra..
Esses fatos precisam ser meditados. Neste milênio, não podemos conviver com a farsa, a mentira, a hipocrisia. A mais, vivemos um momento que supostamente é de liberdade, respeito aos direitos humanos, à ordem e à lei. O episódio foi lamentável.Precisa ser melhor esclarecido e a vida dos dois infelizes em Cuba acompanhada de alguma forma pelos brasileiros.
terça-feira, julho 24, 2007
Saite ( ou sítio ) Língua Brasil
Adicionei na lista de links ao lado o site Língua Brasil, desenvolvido por Maria Lucia Piacentini. Lá se pode tirar várias dúvidas de português. Vou até dar uma olhada para saber se essa última frase está correta.
A escrita de Otto Maria Carpeaux
por José Carlos Zamboni, como parte do ensaio Amigos e inimigos do Carpeaux ( ver em http://br.geocities.com/jc.zamboni/ )
Se o estilo é o homem, e por ele se conhece o autor, a escrita enxuta de Carpeaux, admiravelmente limpa de retórica, não poderia ser opção de um homem moralmente desqualificado: há outras alternativas estilísticas para esse tipo de gente.
João Ribeiro, grande escritor e não menor caráter, afirmava que “o verdadeiro estilo, o estilo do homem de gênio, em certa maneira é falho e pobre de beleza e de outros agrados; porque no estilo é cousa muito principal o caráter e é raro que um homem de caráter seja de trato amável. Assim o estilo. Cícero escrevia excelentemente, mas não há estilo seu, porque é fora de dúvida que foi um mau caráter e um bandoleiro político. Tácito, ao contrário, não tem a pompa de Cícero, os seus períodos são breves e atalhados como que de cólera: mas deixou um estilo e era ao mesmo tempo grande homem de caráter.” (Páginas de estética)
Se o estilo é o homem, e por ele se conhece o autor, a escrita enxuta de Carpeaux, admiravelmente limpa de retórica, não poderia ser opção de um homem moralmente desqualificado: há outras alternativas estilísticas para esse tipo de gente.
João Ribeiro, grande escritor e não menor caráter, afirmava que “o verdadeiro estilo, o estilo do homem de gênio, em certa maneira é falho e pobre de beleza e de outros agrados; porque no estilo é cousa muito principal o caráter e é raro que um homem de caráter seja de trato amável. Assim o estilo. Cícero escrevia excelentemente, mas não há estilo seu, porque é fora de dúvida que foi um mau caráter e um bandoleiro político. Tácito, ao contrário, não tem a pompa de Cícero, os seus períodos são breves e atalhados como que de cólera: mas deixou um estilo e era ao mesmo tempo grande homem de caráter.” (Páginas de estética)
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