quarta-feira, agosto 22, 2007

Dois pesos e duas medidas

Aristóteles Drummond
aristotelesdrummond@mls.com.br

Nada mais parecido com o tipo de dialética praticada nos tempos do estalinismo do que o episódio envolvendo os dois pugilistas cubanos. Uma onda cínica tenta ocultar um fato mais do que grave, vergonhoso.

Uma ocorrência normal não faria com que um governo de país reconhecidamente pobre fretasse um avião para buscar dois de seus cidadãos. Não poderiam esperar o vôo comercial que liga Havana a São Paulo? Qual a dúvida de que estaria havendo uma forte pressão sobre as famílias em Havana e uma conivência abominável em Brasília?

No caso Olga Benário, cercado de inverdades, inclusive quanto à participação do então Chefe de Polícia e futuro senador Filinto Müller, um grande brasileiro que presidiu o Senado e foi líder de dois partidos majoritários naquela casa (PSD, com JK, e ARENA, com Costa e Silva), houve julgamento pelo Tribunal de Segurança, presidido por um jurista da estatura de Vicente Rao. A mais, a Alemanha de 1936, quando se deu o fato, vivia seus últimos momentos de democracia e a comunista companheira de Prestes na Intentona de 35 era condenada por crime de morte, que, aliás, nunca negou. Mas a história procura apresentar o presidente Getúlio Vargas como o homem que entregou a militante que aqui chegou a serviço da União Soviética a campos de concentração que só foram criados em 1942.

Os dois pugilistas estão sendo punidos. Não mais poderão sair do país, que, todos sabem, é uma prisão. Fidel é homem rigoroso no ódio e na punição aos que ousam preferir a liberdade. E não tem escrúpulos em castigar as famílias dos que aproveitam a primeira oportunidade para a fuga, como, aliás, ocorreu com dois outros atletas. Estes, no entanto, foram mais rápidos e trataram de sair logo do Brasil, que começa a ganhar feições cubanas e venezuelanas nesse particular.

A reação internacional está aí. Aqui, embora constrangidos por se tratar de contrariar o “Comandante”, boa parte da imprensa já se manifestou além dos editoriais. No Congresso, um grupo de combatentes clama, comandados pelos senadores Heráclito Fortes e José Agripino Maia.

Os senadores sabem que a nota do Ministério da Justiça e as entrevistas dos infelizes atletas possuem a mesma autenticidade e credibilidade do que as operações agropecuárias do presidente do Senado e de sua distância de meios de comunicação em Alagoas. E o país a tudo assiste triste e revoltado, pois se joga com a opinião pública como se esta fosse formada por pessoas com inteligência no limite na imbecilidade.

Para emendar as situação, só mesmo o desafio a Castro de permitir a visita dos dois a nossa Embaixada, para uma conversa com senadores brasileiros. Se possível, com membros da Anistia Internacional e do Comitê Olímpico Internacional.

É preciso que o governo reconheça que houve precipitação no tratamento do assunto. Não se deixa embarcar, em avião fretado, para um país conhecido pelas prisões e por impedir o direito de ir e vir de seus cidadãos, como foi feito. Afronta a todos este tipo de entrega. A América Latina já conviveu com dezenas de ditaduras ao longo de sua história, mas a única que impede a saída dos descontentes é a cubana.

No Brasil, quando um grupo dominado por ódios tais que foram levados à violência, surgiu o movimento do “Brasil: Ame-o ou deixe-o”. Fidel não teria coragem de lançar igual movimento. Ficaria, certamente, com meia dúzia em torno de sua fantasia. Na Europa também, só as ditaduras comunistas erguiam muros e abatiam os que tentavam pular a fronteira. Nos regimes fortes de direita, como os vividos por Portugal, Espanha, Itália e Grécia, nunca se impediu o cidadão comum de sair, como, aliás, muitos o fizeram, inclusive judeus alemães até o inicio da guerra..

Esses fatos precisam ser meditados. Neste milênio, não podemos conviver com a farsa, a mentira, a hipocrisia. A mais, vivemos um momento que supostamente é de liberdade, respeito aos direitos humanos, à ordem e à lei. O episódio foi lamentável.Precisa ser melhor esclarecido e a vida dos dois infelizes em Cuba acompanhada de alguma forma pelos brasileiros.

2 comentários:

Anônimo disse...

Sinceramente esse episódio está sacramentado, todos sabem disso.

Na verdade é uma jurisprudência que começou em anomia e terminou em anomalia.

Os Jogos Panamericanos foram mais uma bela ocasião para se desviar verbas e se construir carreiras e patrimônios particulares em nome de uma causa efêmera.

O povo nem fazia idéia que o principal evento das Américas fora custeado com verbas públicas e ficou orçado em cinco vezes mais que o previsto.

Outra vez o velho episódio da política do Pão e Circo, adicionada ao moderno e prático "lobby".

Enfim...nem deveria existir tal projeto.

Há inúmeras pendências e muitas outras prioridades que exigem a atenção do Estado, incluíndo a situação do próprio.

Debater o que dirigentes cubanos farão com pugilistas cubanos não é assunto brasileiro.

Para ser honesto, em meu ponto-de-vista, esses atletas vieram ao Brasil em caráter não só esportivo, mas diplomático também.

Representavam um país e descartaram tal oportunidade por um punhado de orgias regadas a pão, vinho e muita carne.

Uma vergonha para quem eram, são e estimavam.
Além de serem pais de famílias e terem lares, daí a raiz do regresso exigido, tem de prestar esclarecimentos sobre os motivos e os desdobramentos dessa deserção.

Tudo isso por conta do tal assédio 'direto' alemão e com 'direito' a credencial de jornalista para a abordagem em plena Vila.

Isso sim merecia uma investigação rigorosa e punição exemplar, mas não existe pecado ao sul do Equador.

Me respondam se esse caso merece mesmo a atenção dos parlamentares que o povo brasileiro paga honradamente ?

Melhor falar de STF, Lula-lá e os 40 Mensaleiros.

Danielhenlou disse...

Melhor falar do Foro de São Paulo, PP, que é a aliança entre Lula, Fidel Castro, presidente honorário e idealizador da organização respectivamente, Hugo Chávez, Evo Morales, Kirshner... as Farc e o Mir chileno. Essas duas últimas organizações praticam crimes diretamente relacionados com o território brasileiro, pois foram integrantes do MIR chileno que seqüestraram Abílio Diniz e Washington Olivetto, e as Farc, bom, elas são as responsáveis hegemônicas pela droga consumida no país e os crimes daí decorrentes ( Fernandinho Beira-Mar, o bandidão brasileiro, foi preso na Colômbia pelo Exército desse país negociando troca de armas por drogas ). Os problemas brasileiros, como se vê, não podem ser explicados apenas pelo que acontece no país, no mínimo porque o nosso próprio presidente fez a escolha de formar um bloco continental de poder, dezessete anos atrás, quando firmou o acordo do Foro de São Paulo para "resgatar na América Latina o que fora perdido no Leste europeu." O Brasil é, pelo menos no nome, um país que preza as liberdades civis; sendo assim não pode ficar alheio à requisição de dois cidadãos estrangeiros fugindo de uma ditadura que já matou cem mil pessos ( veja bem: cem mil pessoas. A ditadura brasileira matou trezentos terroristas, e é acusada de mil e uma coisas, enquanto a Cuba de Fidel Castro é reverenciada como um lindo país comunista onde as crianças não têm fome e vão à escola. HAha. ).
Não é o fato do episódio estar sacramentado que devemos esquecê-lo. Mais do que mensalões, dólares na cueca, o diabo a quatro, um país jamais deve tratar um estrangeiro como o nosso tratou, sobretudo se ele tiver vindo para cá buscando proteção. Zeus, o deus grego protetor dos estrageiros, deve estar furioso com o Brasil.