domingo, maio 29, 2011

Ateísmo não existe. As pessoas acham que são atéias porque não acreditam na representação de Deus que lhes foi introjetada. Ou se revoltam contra as dificuldades que a crença no Ser Supremo pode trazer, uma vez que o crescimento pessoal do fiel não se faz sem uma luta. Nos casos extremos, de revolucionários socialistas rebelados contra a autoridade divina, e de praticantes de satanismo, não se trata de uma descrença na existência de Deus, mas numa descrença em sua pessoa, da mesma forma que alguém pode desconfiar de outra pessoa.

O maior conceito que o homem já concebeu para a realidade divina foi o de um Pai, como tal amoroso para com seus filhos. Mas trata-se, ainda assim, de uma representação, adequada apenas ao relacionamento que o homem pode travar com Deus. Por exemplo, para um anjo, falar que Deus é Pai, não fará muito sentido, porque ele não teve um progenitor. A imagem de um pai ele só a pode entrever colocando-se no lugar de outros seres, o que não é o mesmo que vivenciá-la. Deus é muito mais que qualquer representação que dele possamos fazer, é aquela realidade melhor que sabemos que existe.

O que não implica, porém, que as representações para nada sirvam. Os mitos sempre abrirão à mente humana uma gama de possibilidades vivenciais que o mero reconhecimento, por assim dizer, metafísico, pode esterilizar. A boa filosofia, sabia-o Platão e melhor ainda Lao-Tsé, transita pelas intuições lógicas e pelas phantasias.
Não só parecem ficar mais ligados afetivamente ao genitor do outro sexo, como por temperamento tendem a ser mais parecidos com ele os filhos.
Freud disse que os meninos tendem a se apegar mais às mães e as meninas mais aos pais, e de fato parece ser assim. Mas quando tinha dezoito, vinte anos, eu era mais ligado a meu pai. Uma médica chegou a comentar que seu filho também agia assim. Por que isso se passa?

sábado, maio 28, 2011

Que é o riso?

Riso é o extravasamento de um desconforto surgido da percepção de uma imperfeição.

quinta-feira, maio 26, 2011

"Parece real"

Assistindo a essa cena do filme O júri, em referência a Gene Hackman, meu pai me disse: "Parece real."

O governo israelense é relutante em devolver terras que conquistou na Guerra dos Seis Dias, quando foi atacado em operação conjunta de países muçulmanos. Mas já devolveu a Península do Sinai, para o Egito, em troca de um acordo de paz, e a Faixa de Gaza aos palestinos. Em discurso ao Congresso americano, o premiê israelense Netanyahu disse estar disposto a fazer "concessões dolorosas". Mesmo assim, um negociador palestino qualificou seu discurso como uma "declaração de guerra". Falta maturidade ao negociador.

Como faltou coragem a Yasser Arafat em 2000, quando não assinou o acordo de Camp David. Não o fez porque sabia que seria assassinado em seguida. Mas seria um grande homem; morreu do mesmo jeito, como qualquer ser humano, mas sem ser grande, ao contrário.

sexta-feira, maio 20, 2011

Feliz aniversário!

Este blógue está completando cinco anos de vida. Parabéns!


quinta-feira, maio 19, 2011

"Demasiado belo para não ser verdade"

Estrutura do DNA


"Que a filosofia não ouse projetar as suas interpretações da realidade à moda linear da lógica; é preciso que ela tenha sempre em conta a simetria elíptica da realidade e a curvatura essencial entre todos os conceitos." (Livro de Urântia, doc. 103, 6, p. 1137)

terça-feira, maio 17, 2011

Desculpem, mas Schuon erra de novo ao dizer que a filosofia se esgota no que ela exprime.* Não, a filosofia é uma técnica de acesso e participação possível na realidade completa, não o discurso dessa participação. A lógica, isto é, o instrumento da filosofia, consiste na "progressão sintética da busca da verdade na unidade da fé e da razão e é baseada nas dotações de mente inerentes aos seres mortais, o reconhecimento inato de coisas, significados e valores." (Livro de Urântia) Ela não precisa provar, o que compete à ciência e seu instrumento, a razão, ela quer reconhecer. A expressão de suas descobertas pode, talvez deva, ficar sempre aquém das mesmas. Já Gödel mostrou que qualquer sistema lógico fechado não se explica a si mesmo. Pois a lógica de uma filosofia saudável reconhece esta verdade, abrindo-se aos domínios da fé, que lhe recebe generosa, e subindo e descendo pela "simetria elíptica da realidade e a curvatura essencial da relação entre todos os conceitos." (Livro de Urântia)

Essa subida e descida desde o pináculo do Um pela multiplicidade a que Ele dá início e quer totalizar em Supremacia, não precisa necessariamente ser feita simbolicamente. A revelação está aí para quem quiser ler. A dialética simbólico-analógica apenas a reconhecerá, adequando a seu mundo imaginal aquilo que já nos foi revelado objetivamente.

......

*Conferir SCHUON, De l'unité transcendante des religions, préface.

Talibães, go home!

"Procuram enganar a Allah e aos que crêem, mas não enganam senão a si mesmos e não percebem." (Corão, sura 2, 9)

O partido talibã do Paquistão promoveu uma passeata contra a operação americana que matou Bin Laden. Chegaram a falar em infração à sua soberania. Ora, se você quer ser tratado como um gentleman, aja como um, abrigar terroristas não condiz com sua pretensão.

Se uma moça é seqüestrada, o pai não vai deixar de entrar na casa do seqüestrador porque ele tem direito a propriedade. Não, ele vai entrar em sua casa e resgatá-la. Igualmente, a polícia não vai dizer: "Ô de casa", ao entrar na casa do traficante de drogas. Assim, os EUA entram em território paquistanês e capturam Bin Laden.

Não venham com essa de falar em soberania. Vocês, talibães, usam conceitos de respeito entre as nações que os ocidentais criaram; mas não titubeariam um minuto antes de atroplear a soberania alheia se tivessem a força suficiente. O Islam tem várias qualidades, mas uma delas não é seu militarismo. Praticam, assim, a guerra assimétrica, valendo-se dos parâmetros morais adversários para desarticulá-lo. Para os ocidentais e muçulmanos de bem, vale o conselho do Mestre: "Sejam sagazes com as serpentes e simples como as pombas."

sábado, maio 14, 2011

Frithjof Schuon e o Livro de Urântia

"O fiel tem percepção intuitiva e inteligência." (Guru Granth Sahib)

A filosofia é uma técnica para resolução, até os seus princípios, de questões que a vida nos coloca, de modo a descobrir os significados em nossa experiência dos valores. Ela procura unificar nossa experiência de modo a chegarmos a uma visão da realidade completa. Para isso, devemos nos tornar capazes de refazer pessoalmente os caminhos das questões que a própria vida nos coloca, indagando-lhes as origens em nossa experiência, procurando estudar o que outros disseram a seu respeito, e relacionando-as com a visão de realidade completa que temos, seja para confirmar o lugar que já lhes era imaginado, seja ajustando o quadro geral para que se responsabilize por elas também.

Metafísica é o conhecimento daquilo que a natureza física, não se bastando a si mesma para explicar-se, indica que haja. É o conhecimento dos princípios que coordenam as experiências humanas material e espiritual, interna e externa. Como a alma, que não ocupa espaço, pode estar no corpo? Essa é uma questão que a metafísica, sucedânea da mota, tentou responder. A alma não está no corpo propriamente. Descartes errou ao dizer que ela está na glândula pineal. Ela se relaciona à mente material e ao espírito.

"A mota é uma sensibilidade à realidade supramaterial que está começando a compensar o crescimento que não se completou, tendo por substância o conhecimento-razão e por essência o discernimento clarividente da fé. A mota é uma reconciliação suprafilosófica das percepções divergentes da realidade que não é alcançável pelas personalidades materiais; ela é baseada, em parte, na experiência de haver sobrevivido à vida material na carne." (LIVRO DE URÂNTIA, doc. 103, 6, p. 1136)

"A metafísica", diz o Livro de Urântia, "mas muito mais seguramente a revelação, proporciona um terreno comum de confluência para as descobertas tanto da ciência quanto da religião, e torna possível a tentativa humana de correlacionar logicamente esses domínios separados, porém, interdependentes, do pensamento, em uma filosofia bem equilibrada de estabilidade científica e de certeza religiosa." (LIVRO DE URÂNTIA, doc. 103, 7, p. 1139)

A revelação não é parcial, mas se subordina à capacidade que o fiel tem de recebê-la. Achar que a metafísica é uma via de acesso a Deus melhor do que a revelação é um erro. Se as religiões que surgem da revelação misturam-se, depois, com crendices e doutrinas duvidosas, cumpre à filosofia ajudá-las a evoluir, afastando do trigo o joio, aos poucos, se preciso, para não causar escândalo -- como fez Moisés, ao falar, embora muito incomodado, de um Deus iroso, ao invés do Deus que ele sabia ser amigo, porque os hebreus não o aceitariam -- e coordenando-a com as descobertas científicas.

"A metafísica tem-se revelado como sendo um fracasso; a mota, o homem não a pode perceber. A revelação é a única técnica que pode, em um mundo material, compensar pela ausência da verdadeira sensibilidade da mota. A revelação esclarece, com toda a autoridade, a desordem da metafísica desenvolvida pela razão em uma esfera evolucionária." (LIVRO DE URÂNTIA, doc. 103, 6, p. 1136)

O que Schuon, inspirado em Mestre Eckhart, chama de Inteligência, nas palavras desse "algo que na alma é incriado e incriável" (SCHUON, De l'Unité Transcendante des Religions, préface) é o Ajustador do Pensamento, o fragmento do Pai que em cada um de nós trabalha assoprando-nos a vontade do Pai Universal.

Schuon parece acreditar que essa Inteligência seja um princípio divino a ser compartilhado pelas criaturas que consigam e queiram acessá-lo. Os eus intelectuais têm sua origem na mente cósmica, a qual é a fonte dos potencias intelecto-espirituais que se especializam nas mentes humanas. Ela explica a afinidade entre várias mentes humanas. Nossa mente é um intelecto emprestado, a ser usado em nossa vida material. Nela se escolhe cumprir ou não a vontade do Pai.

Mas o Ajustador do Pensamento não é comum a vários homens. Cada homem é dotado com o seu no decorrer dos seus cinco anos de vida, uma vez que haja tomado sua primeira decisão moral.

Parece então que as mentes humanas compartilham da mente cósmica, ao passo que o Ajustador é uma graça personalíssima do Pai, embora, claro, aja sempre com o mesmo propósito, qual seja o de elevar a mente humana à adoração e agradecimento ao Pai, dispondo-se a fazer sua vontade.

Pelo trabalho de ambos, se apenas aspirar a ser como o Pai, o ser humano pode tomar posse da promessa de sobrevivência eterna.

Schuon está certo ao dizer que nesta vida muitos fiéis não conseguirão se comunicar, por pensamentos, com seu Ajustador, em processo que o Livro de Urântia chama de auto-revelação, e que acontece pari passu com as revelações epocais, como as de Jesus de Nazaré ou de Melquisedeque, ou as que têm a participação de outros agentes celestes para dar voz ao profeta. Mas podem os fiéis, não obstante, sobreviver, porque mais importante que estar consciente do Pai é querê-lo estar. "Sede perfeitos como o Pai é perfeito".

O homem não precisa ser especificamente diferente do fiel para ter uma visão mais clara do divino. Cumpre-lhe, ao revés, extremar sua relação com o Pai do céu, seguindo suas aptidões e dons natos.

sexta-feira, maio 06, 2011

O que é um milagre? -- II

Para toda filosofia sã o milagre ou fato extraordinário não é aquilo contrário ao curso ordinário de forças e leis do mundo, mas aquilo que é o efeito de uma causa situada para além da observação, do conhecido. O que constitui o milagre não é a impossibilidade de explicá-lo (porque a inteligência não explica melhor o curso normal das coisas, ela o reconhece), é sua estranheza, é a contradição em que se encontra face à experiência comum. Ou, esta espécie de milagre, não apenas a metafísica a admite a priori, uma vez que admite que todas as causas são veladas; mas ela a admite ainda a posteriori, uma vez que a isto é forçada todas as vezes que a observação a constata. E o número desses milagres é infinito; o mundo está cheio deles. O progresso, longe de diminuir os fatos cujas causas restam por conhecer, tende a aumentá-los sem parar. Se ele faz desaparecer alguns, cada dia, esclarecendo em seus detalhes o horizonte já um pouco descoberto, faz nascer também outros, cada dia; e é sua glória, porque ele o faz elevando-se a novas alturas, e descobrindo sem parar horizontes mais vastos. A razão é sempre a velha máxima escolástica: naturalia praesumuntur, non praeternaturalia, seu supernaturalia. Não está errada, porque em toda natureza há apenas o natural; mas a natureza não lhe é de todo revelada, e procurando pelo natural ela toca sem cessar no desconhecido, no sobrenatural. A metafísica é precisamente a ciência daquilo que está acima do dado, do conhecido, do observado; a ciência do que se deduz racionalmente do observado, do conhecido e do dado, scientia rerum supernaturalium e naturalibus inductarum. Ou, se é algo que ela induz com confiança, é porque abaixo e por baixo nada se explica realmente; pois o milagre, o sobrenatural, está por toda a parte; pois só há uma causa dando razão a tudo, a maior e mais misteriosa de todas, Deus; pois procurar Nele a causa ou as causas, é procurar onde Ele esteja; de modo que entre sua intervenção ordinária e sua intervenção extraordinária, no âmbito do que aconteça segundo Sua vontade, qualquer linha de demarcação será um traço arbitrário. (Mattar, Jacques. Philosophie de religion, tome 1, pp. 448-450, tradução minha)

segunda-feira, maio 02, 2011