No livro A Educacão da Vontade, Jules Payot diz que "toda percepção, mesmo a elementar, é uma interpretação de determinados signos. Eu não vejo uma laranja;", diz ele, "apena julgo por determinados signos que deva ser uma laranja. Mas com o hábito, esta interpretação se torna instantânea e automática e, por conseguinte, não é facilmente atrapalhada."
No entanto, não é assim. A forma se nos apresenta para que a conheçamos. Mas como então chegamos a confundir uma laranja com uma tangerina? A forma da laranja, sua estrutura interna, não chegou a se nos apresentar, fomos informados apenas por certos signos seus, sobretudo por sua cor, os quais, muito parecidos com os da tangerina, não foram suficientes para distinguí-la.
Os signos que a forma disponibiliza podem com razoável grau de certeza indicá-la, mas ela, a forma, pode também vir a ser conhecida, desde que tenhamos, nós e a coisa, chegado a uma relação proporcionada em que ela consegue se nos mostrar e nós podemos e queremos percebê-la. Há uma diferença de fundamento, e não de mero grau, entre os signos que uma coisa disponibiliza e sua forma, aqueles se podem perceber na agitação útil do mundo, mas essa exige-nos solene respeito.
Ademais, o hábito de reconhecer algo por seus signos só pode acontecer porque já se conheceu uma vez sua forma.
O livro de Jules Payot, entretanto, tem sido muito bom. Já me ensinou como direcionar a atenção, não a deixando ao léu das dispersões pelos menores interesses.