quinta-feira, julho 19, 2007
O fim da experiência poética
No orkut, uma das opcções para a pessoa escolher como visão religiosa é: "Tenho um lado espiritual independente das religiões." É preciso tomar cuidado com isso, às vezes a pessoa diz isso porque tem um sentimento religioso forte, mas não tem fé verdadeira. Como disse Daniela Gouvea, em podcast no site portodoceu.com.br, a pessoa tem um lado espiritual, e o outro lado, é o quê? Oco? o Papa João Paulo II alertava para esse traço característico do brasileiro que é o de ter muito sentimento, e pouca fé. Fé é confiança, não é crença. Se você não gosta de uma religião, não concorda com sua doutrina, desgosta do que o padre fala, não precisa deixar de acreditar em Deus. Bruno Tolentino, o grande poeta que faleceu recentemente, disse que começou a se converter ao cristianismo quando um ex-aluno seu, que havia virado monge, disse-lhe que faltava integridade. Bruno era um homem pela metade. Ele procurava as coisas, não pelo valor delas mesmas, mas para usá-las de alguma forma, para servir-se delas de algum modo. Na entrevista concedida ano passado, reproduzida em vídeo e que pode ser acessada no site O indivíduo, ele se penitenciava do erro de longos anos, quando, respondendo à pergunta de para quê servia a poesia, disse que ela não servia para nada. Não é para ser usada. É para te levar a viver determinadas experiências, que, digamos assim, te enriquecem, te enriquecem espiritualmente. Menos do que isso, acresecentaria eu, não é poesia, é poesia pela metade. Dividir um todo qualitativo em partes não coordenadas é acabar com o todo. É o fim da experiência poética enfim.
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