sexta-feira, novembro 29, 2019
Partilha da Palestina
Efeméride do dia (que palavra feia, efeméride!):
"A resolução 181 para a partilha da Palestina foi aprovada com 33 votos a favor, 13 contra e 10 abstenções.
Os judeus teriam seu Estado. Após o primeiro congresso sionista em 1897, Herz escrevera em seu diário: "Em Basel eu fundei o Estado judeu. Se eu dissesse isso em voz alta hoje, todos me voltariam uma gargalhada universal. Talvez em cinco anos, certamente em cinqüenta, todos vão admiti-lo". Agora era 1947, exatamente cinqüenta anos depois, e o sonho ousado de Herz estava prestes a se concretizar.
Ao redor do mundo, judeus se abraçavam e choravam. Na Palestina, sinagogas abriram no meio da noite para as orações de ação de graças; milhares de judeus tomavam as ruas e começavam a dançar. Segundo um relato, na manhã seguinte, "grandes fogueiras nas fazendas coletivas judaicas do norte ainda ardiam. Muitos cafés grandes de Tel Aviv serviram champagne grátis... Judeus vaiavam algumas tropas britânicas que patrulhavam as ruas de Tel Aviv mas outros lhes ofereciam vinho".
Amos Oz, que se tornaria um dos grandes romancistas israelenses, candidato diversas vezes a ganhar o prêmio Nobel, mais tarde recordou aquela noite em suas memórias, De Amor e Trevas. Ele contou que andou em meio à multidão que se avolumava em Jerusalém na garupa de seu pai, com oito anos apenas, e que se esgueirou para a cama às três ou quatro da manhã, na roupa suja do corpo mesma. Um pouco depois, Amos percebeu seu pai entrando em sua cama, não para repreendê-lo por causa das roupas, mas para contar-lhe de quando, ele próprio um menino, os alunos de sua escola polonesa roubaram suas calças. Quando o avô de Amos fora à escola reclamar, os garotos – e as meninas – atacaram-no também, igualmente levando suas calças. Era uma história muito humilhante.
Então, conta Oz, seu pai lhe disse naquela manhãzinha de 30 de novembro de 1947: "Os valentões podem te incomodar na escola ou na rua algum dia... Mas, doravante, a partir do momento que tivermos nosso Estado, você nunca será intimidado apenas por ser judeu... Por isso não. Nunca mais. Desde essa noite isso acabou. Para sempre".
Por fim, escreve Oz, "Tentei achar, meio sonolento, seu rosto e, ao invés dos óculos, meus dedos deram com suas lágrimas. Nunca na minha vida, antes ou depois daquela noite, nem quando minha mãe morreu, eu vi meu pai chorando."
Daniel Gordis.
domingo, outubro 20, 2019
Levi Eshkol
"No seu sotaque tonitroante, começou a ler o texto tropegando, sua língua revolvendo consoantes matreiras e vogais arrevesadas num esforço infeliz para anglicizar sua dicção ídiche, pausando com freqüência para checar de novo o que estava dizendo. Logo chegou aos parágrafos que não tivera tempo para revisar, que falavam do peso enorme na economia nacional de Israel causado pela afluência massiva de imigrantes sem qualificação e sem um tostão furado no bolso.
Afinal de contas, esta era uma ocasião para arrecadar fundos.
A incredulidade assomou nos olhos do primeiro-ministro e sua voz esmaeceu em descrença. Apoiando-se na tribuna, seus olhos perfurando os meus, tirou satisfação em hebraico: "Que droga é essa"?
Eu encolhi-me mortificado enquanto um burburinho, murmúrios, risadinhas, esgares e cutucadas audíveis espalhavam-se de mesa em mesa.
"O que eu acabei de dizer não é verdade", declarou Levi Eshkol à sua platéia perplexa, sem um traço de constrangimento. "O exato oposto é verdadeiro". E então, azar da sintaxe, passou a elaborar dizendo como cada novo imigrante não era uma fardo, mas um ativo indispensável para o crescimento futuro da economia de Israel.
Quando sentou foi cumprimentado com um estralar de aplausos que se expandiam num crescendo. Deram-lhe uma ovação de pé. Eles o amavam. Amavam sua honestidade, sua autenticidade, sua espontaneidade refrescante. Com o rosto radiante, Levi Eshkol observava como tiravam o talão de cheques do bolso, a tampa de suas canetas-tinteiros e demonstravam sua generosidade com abundância.
Passada a adoração, o sr. Eshkol chamou-me para si, e, num leve sussuro, seu nariz quase tocando o meu, soltou com aspereza: "Boychik, se você não parar de escrever seu nonsense estiloso chique e começar a escrever o que eu quero dizer, do jeito que eu quero dizer, vou encontrar outra pessoa que o faça.
"Sim, primeiro-ministro," balbuciei, calçando as sandálias da humildade que demoraria toda uma vida para ajeitar nos pés."
Yehuda Avner (na foto).
Levi Eshkol, primeiro-ministro israelense um tanto subestimado, soube somar forças para conduzir Israel à vitória acachapante e insperada na guerra dos seis dias. Foi ele quem primeiro trouxe para o governo Menachem Begin, figura complexa e um gênio político do século XX.
terça-feira, janeiro 29, 2019
Aborto no Livro de Urântia - Abortion on Urantia Book
http://www.urantiabook.org/archive/readers/personality-arrival.htm
domingo, janeiro 13, 2019
"Um dia eu estava andando à toa quando me vi diante de uma sebe alta que nunca havia visto. Era tão alta que não podia ver por cima dela e tão espessa que não podia enxergar através dela. Mas deitando no chão, pude me esgueirar por entre as hastes do ligustro.
Fiquei de pé, do outro lado, num campo coberto, de um lado a outro, de cardos, em pleno desabrochar. Pousando sobre as flores violáceas, voando ao redor delas, gorjeando e mergulhando, havia dezenas de pintassilgos - pequenos pássaros amarelos com asas e fronte negros, em contraste. Eles não prestaram a menor atenção a mim, como se jamais tivessem visto um menino antes.
A visão foi tão inesperada, a beleza tão absoluta, que imaginei que não poderia suportá-la e me apoiei na sebe para me equilibrar. Disse, em viva voz: "Deus". Foi uma simples declaração, não uma exclamação, da qual não seria capaz então. Naquele momento, que lembrei durante todos os dias de minha vida como um de seus pontos culminantes, eu estive mais perto do que estaria por quase quarenta anos da intuição que sozinha daria sentido à minha vida - a intuição de que Deus e beleza são um só."
Whittaker Chambers.
(Foto de Urgelia Santos)
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