PERFIL / DIOGO MAINARDI
Rodrigo Fonseca
"Um estilo demolidor", copyright Jornal do Brasil, 16/02/03
"Qualquer pessoa que cruze com o paulista Diogo Mainardi, 40 anos, caminhando pelas ruas de Ipanema, terá dificuldade de associar aquele homem de feições serenas à imagem de olhar aquilino e semblante inquisidor da fotografia que ilustra suas colunas semanais na revista Veja, desde 1998. De fato, no primeiro encontro com o autor de quatro romances elogiados pela crítica - Malthus, vencedor do prêmio Jabuti de 1990, Arquipélago, Polígono das secas e Contra o Brasil -, que atualmente prefere se definir como jornalista, a visão do grande enfant terrible da imprensa nacional hoje logo se arrefece.
Bater um primeiro papo com Diogo envolve uma acolhida inicial sem veneno destilado. Em lugar de atacar este ou aquele problema do Brasil, conforme faz em seus artigos, ele prefere destacar a beleza do Rio, onde reside provisoriamente para acompanhar o tratamento de seu filho, vítima de paralisia cerebral. Esse encanto, aliás, vem do fato de ele morar há 14 anos em Veneza. Mas bastam poucas palavras trocadas para que sua verve ferina venha à tona, em assuntos como sua experiência como roteirista, trabalhando com o irmão mais velho, o diretor Vinícius Mainardi, nos filmes Dezesseis zero sessenta (1995) e Mater Dei (2001), ou discutindo literatura. Nesta entrevista ao Jornal do Brasil, Mainardi procura desmistificar um pouco a imagem do crítico ranzinza, comentando suas influências literárias e discutindo a identidade cultural do brasileiro.
- Qual é o estilo Diogo Mainardi de ver o Brasil?
- Tenho um olho cândido, distante. Olho meu país sem preconceito, mas com graça, por achá-lo preciso. Não tenho objetivos precisos. Vejo o mundo de um jeito. Boto esse jeito no papel e me pagam para fazer isso. Não sou resmungão, mas penso que sou um desastre nacional. Tenho todas as piores qualidades de meu povo e poucas de suas virtudes.
- Mas não há um quê de pessimismo em sua interpretação do país?
- Não é pessimismo. O Brasil não vai melhorar, nem piorar. Vai continuar a ser uma grande porcaria. Somos fracos nessa coisa de país. Não é a nossa construir uma nação organizada.
-A identidade cultural é um tema recorrente em sua coluna na revista Veja. Como definiria nossa identidade nestes tempos de Gilberto Gil no ministério da Cultura?
- Não acredito que tenha modificação nenhuma. Tenho absoluto asco de políticos. Eles são todos iguais, independentemente de partido. É uma gentalha que não me fascina. É gente que deve ser apedrejada. Acho que neste momento de um governo particularmente demagógico e populista, uma identidade ‘popular’ está mais em evidência. Ajuda, inclusive, a manipulação do governo em relação à população.
Pensamentos e influências
- Seu texto exalta a ironia, a crítica ácida. Que autores o ensinaram a pensar assim?
- Praticamente tudo o que eu li era irreverente. Minha linhagem literária é de Cervantes, Swift, Voltaire, Rabelais. Uma linha cômica, sarcástica e muito ácida. Eles foram os escritores que fizeram minha cabeça. Ela é desse jeito por causa deles.
- Há algum autor brasileiro de que o senhor goste?
- João Cabral [de Melo Netto]eu gosto muito. E Policarpo Quaresma foi o melhor romance que fizeram no Brasil.
- E dos novos autores?
- Não tenho lido muita coisa. Não estou bem informado. Parei no Dalton Trevisan, e continuo a crer que ele faz o melhor da literatura ainda hoje.
- O jornalista Ivan Lessa também teve um peso importante em sua formação.
- Abandonei o curso de ciências políticas no segundo ano por culpa dele. Fui para a Inglaterra na juventude para estudar na London School of Economics. Tinha 19 anos. Procurei Ivan como fã. Foi a primeira e única vez que busquei uma pessoa por isso. E ele começou a me encher de livros. Íamos comer em um restaurante chinês, às quartas-feiras, e ele sempre levava três livros para mim, que eu lia no arco entre uma semana e outra. Entre a leitura com esse tutor e a universidade, achei melhor o Ivan Lessa e sua biblioteca.
- Como entrou para a Veja e se aproximou do jornalismo?
- Entrei na Veja há 12 anos, a convite de Mário Sérgio Conti [editor da revista na ocasião]. Ele já era meu amigo, fomos apresentados por Ivan Lessa. Minha entrada acabou sendo uma espécie de favoritismo muito brasileiro. Na época, não pensava em jornalismo. Considerava que era incompatível com meu exercício da literatura. Esperava viver de livros. Como não consegui, fui para a imprensa. Quando não tive mais meios de me sustentar, o jornalismo acabou aparecendo como minha tábua se salvação. Nos primeiros oito anos da revista, fiz matérias de viagem e resenhas. E quatro perfis, feitos no início dos anos 90, com Gore Vidal, Cicciolina, Nelson Piquet e Ivan Lessa. Fui contratado mesmo para escrever perfis. No começo do trabalho lá, me mantive de forma precária. Mas depois da coluna, que tenho há quatro anos, vivo bem.
- Polêmicas sempre cercam sua coluna na Veja. Foi o caso do texto sobre as comemorações do centenário de Drummond, no qual questionou a qualidade de alguns poemas dele. Por que atacar a obra drummondiana?
- Sobre Drummond, você pode falar bem ou falar mal. Se pegar os melhores poemas dele, vai falar bem. Se pegar os piores, vai falar mal. Eu peguei os piores e fiz uma seleção do que há de mais abominável no que ele fez. Não quis fazer um tratado sobre Drummond. Apenas peguei a celebração de seus 100 anos , todo o kitsch daquela comemoração e a má leitura do que se faz de Drummond, e acabei prestando um serviço a ele. O que se lê de Drummond por aqui, hoje em dia, é quase sempre o que ele fez de pior. Claro enigma é seu melhor trabalho.
- Hoje o senhor se considera mais jornalista do que escritor?
-Penso que eu sou só jornalista a esta altura. Não estou escrevendo nenhum romance. São duas coisas quase incompatíveis. Escreveria maus romances agora.
- Sua experiência com cinema lhe trouxe dissabores?
- Eu jamais meterei as mãos novamente no território cinematográfico. Perdi dinheiro com o cinema. Passo longe. Quando fiz Dezesseis zero sessenta, com meu irmão Vinícius, experimentamos um grande anti-clímax. Demoramos quase cinco anos para lançar Mater Dei porque nos recusamos a usar dinheiro público. No fim, o filme não foi bem distribuído, nem bem recebido. As pessoas estão acostumadas com a televisão e o videoclipe. E Mater Dei valia pela discussão.
- O senhor costuma ver cinema brasileiro?
- Não. Não tenho acesso. Morando fora não vejo nada.
- Há alguma obra na história do cinema brasileiro que tenha lhe marcado?
- Absolutamente nada. O Brasil não conseguiu fazer um bom filme. Deus e o diabo na terra do sol, por exemplo, eu acho chatíssimo."
........................
Disponível em http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/asp190220039995.htm.
quarta-feira, maio 30, 2007
domingo, maio 27, 2007
O que é um milagre.
“(...) Definir o milagre como ruptura das leis naturais é de certo modo você inverter a realidade porque tudo o que você chama de natureza é o círculo daquilo que você conhece, e você sabe que para lá da natureza existe o infinito. Ora, então se o universo finito que você conhece tá dentro do infinito, é claro que o infinito transcende e abrange o universo conhecido. E se ele transcende e abrange, é ele que determina, é o infinito que tá com a corda toda, não é o finito não. Quer dizer, se você pegar todas as leis conhecidas da natureza, conhecidas e por conhecer, elas são como queijo suíço, elas são cheias de buraco. As leis da natureza jamais completarão um tecido de realidade, você tá entendendo? O finito está entrecortado pelo infinito.
Então quer dizer que o infinito está continuamente realimentando, se você tomar a realidade como um conjunto de possibilidades finito e a idéia mesma de lei científica é isso, que é possível um sistema fechado... isto não tem como existir por si, é necessário que o infinito o alimente continuamente com novas possibilidades...( de outro modo ) seria a entropia total. Então não é o milagre que rompe a lei da natureza, a lei da natureza é apenas um pedaço que está preenchido entre dois rombos, vamos dizer, de infinito. Então isso quer dizer que o milagre não apenas acontece de vez em quando, mas ele é uma necessidade absoluta, quer dizer, o mundo se sustenta dentro disso. O mundo natural se sustenta dentro do milagre, do miraculoso. O miraculoso é aquela ação que vem do infinito.(...)"
Olavo de Carvalho, no sétimo bate-papo com Yuri Vieira. Você pode ouví-los aqui.
Então quer dizer que o infinito está continuamente realimentando, se você tomar a realidade como um conjunto de possibilidades finito e a idéia mesma de lei científica é isso, que é possível um sistema fechado... isto não tem como existir por si, é necessário que o infinito o alimente continuamente com novas possibilidades...( de outro modo ) seria a entropia total. Então não é o milagre que rompe a lei da natureza, a lei da natureza é apenas um pedaço que está preenchido entre dois rombos, vamos dizer, de infinito. Então isso quer dizer que o milagre não apenas acontece de vez em quando, mas ele é uma necessidade absoluta, quer dizer, o mundo se sustenta dentro disso. O mundo natural se sustenta dentro do milagre, do miraculoso. O miraculoso é aquela ação que vem do infinito.(...)"
Olavo de Carvalho, no sétimo bate-papo com Yuri Vieira. Você pode ouví-los aqui.
sexta-feira, maio 25, 2007
quinta-feira, maio 24, 2007
Três gerações
por João Nemo
em 21 de novembro de 2005
MidiaSemMascara.org
Nada como enterros e casamentos para uma rápida atualização sobre o andamento da vida de familiares distantes e amigos antigos. Felizmente, o último evento desse tipo a que compareci foi o belo e festivo casamento do filho de um querido amigo de juventude. Não há muitos ultimamente. Com exceção dos homossexuais militantes, empenhados em casar segundo tanto se fala, a geração que deveria estar embarcando nessa, parece ter certa dificuldade em assumir compromissos e vai, numa opção racional, exercitando relacionamentos com horário marcado e otimizando seus próprios orçamentos mantendo-se na casa dos pais. Mas, por algum fenômeno astrológico, vez ou outra há um surto de matrimônios.
O fato é que um largo círculo de amigos da minha adolescência nos “anos incríveis” encontrou-se para comemorar o arrojo anacrônico desse jovem que, depois de um longo período vivendo com a sua eleita no exterior, resolveu brindar a mãe pátria e a CNBB com a fundação de mais uma família brasileira.
Como o cachimbo faz a boca torta, não pude evitar algumas meditações sociológicas sobre o grupo ali reunido e estender um pouco a visão do cenário para abarcar a geração que nos precedeu e que ainda tinha alguns escassos representantes ao vivo e a cores no local. O que no passado me teria parecido apenas normal, porque era o meio em que fui criado, saltou aos meus olhos com muita clareza. Quase todos nós, senão todos, tínhamos uma história de vida assemelhada sob vários aspectos. Nossos pais, na maioria dos casos, eram gente simples e de pouco estudo, alguns mesmo levemente alfabetizados. De profissão, pequenos comerciantes, funcionários, trabalhadores de ofícios diversos. Alguns eram migrantes, em especial portugueses, como meus pais, mas também italianos, espanhóis, japoneses, etc. Vários de nós fomos alunos de escolas públicas o que, naquele tempo, podia significar algum estabelecimento mais exigente do que boa parte dos particulares. Da geração dos nossos pais para a nossa, o grande diferencial foi o nível de estudo e a conseqüência foi uma razoável ascensão social. O filho do mestre de obras tornou-se empresário de sucesso; o do pequeno comerciante chegou a diretor de banco; a costureira viu o seu tornar-se médico e assim por diante. Girando os olhos pelo salão eu me atreveria a dizer que dali se poderia extrair um ministério bem melhor que o do atual governo, mas não sei se isso é lá muita vantagem.
Na geração que nos antecedeu predominava a escolaridade básica, o trabalho árduo, mas não o intelectual. Meu pai fez serviço de rua para um escritório de administração até os 82 anos de idade. Nós, os filhos, começamos a encontrar os primeiros empregos por volta dos 14 anos, muitas vezes ajudando os pais em alguma coisa antes disso. Muitos passamos pelo ritual de sermos primeiro “office-boys” e depois auxiliares de escritório. A longa amizade que tive com meu primeiro patrão, um relojoeiro romeno fugido do paraíso comunista, com quem eu gostava de manter longos papos enquanto ele montava e desmontava relógios, é assunto para uma crônica específica, pois só agora, depois de tantos anos, eu aprendi que ele era, na verdade, um sórdido explorador do trabalho infantil, uma figura nociva e perversa que eu deveria ter processado e submetido às mais diversas extorsões em nome da sacrossanta lei tutelar que protege a nós outros, os coitadinhos.
Mas, o fato é que pude contemplar, nessa como em outras ocasiões, que na minha geração, entenda-se, no meu círculo de amizades antigas, predominam os tipos que nos “esteites” denominam “self made man”, mas, em grande parte, foram “made” mesmo pela associação de mérito próprio com o empenho de pais humildes e dedicados, cuja fé era que estudo e trabalho geravam oportunidades e construíam cidadãos bem sucedidos na vida. Pode-se dizer que é uma boa fórmula e que deu certo.
O que fizemos nós, então, além de termos casas e automóveis melhores, viajarmos mais e propiciarmos cirurgias plásticas às nossas esposas? Ora, continuamos acreditando na fórmula que deu certo: investimos pesadamente na educação dos filhos. Esta nova geração de jovens adultos, a terceira na minha breve “trilogia”, como diriam os cinéfilos, freqüentou as melhores escolas privadas, até porque as públicas foram destruídas nesse meio tempo. Teve, também, acesso a Clubes Esportivos, aprendeu outras línguas, ganhou computadores, fez intercâmbios no estrangeiro, formou-se nas Universidades de maior prestígio e quando trabalhou foi mais para adquirir “bagagem” do que por necessidade. Como gente que aprendeu, por experiência própria, o valor do estudo, do empenho e da qualificação profissional, tentamos transmitir esse método e torcemos para que os filhos nos superassem. Acho que, na maioria dos casos, fomos bem sucedidos. Minha filha, aquela que costuma bisbilhotar os meus textos, garante com um risinho irônico que, superar-nos, não é um desafio tão grande. Pretensão e água benta não fazem mal a ninguém, como diria minha mãe.
Mentalmente percorro, agora, numa última rodada, o que vem ocorrendo com esta terceira geração. O indicador máximo de sucesso, comentado com orgulho pelos pais numa conversa, é quando o filho ou a filha obteve uma colocação no estrangeiro. Como um boleiro que tivesse sido contratado pelo Barcelona, está atestada a qualidade do rebento, cuja capacidade e talento exigem um horizonte mais amplo do que oferece o espaço nacional. Quase todos, de alguma maneira, flertam, flertaram ou vincularam-se, definitivamente, a atividades no exterior. Nada contra. O que me incomoda é que não possamos, no Brasil, oferecer oportunidades equivalentes. Estamos, em muitos casos, exportando inteligência a preço vil. O país que um dia se deu ao luxo imbecil de proibir a contratação de professores universitários estrangeiros, evitando, assim, a importação líquida de neurônios, expulsa o produto nacional por incapacidade de utilizá-lo. Enquanto se entoam loas aos bons indicadores macroeconômicos (sic), comemoram-se crescimentos pífios ao lado de recordes sucessivos de arrecadação, o país mostra-se amesquinhado, sem oferta significativa de empregos qualificados, sem fé ou projeto. Os jovens saem das Universidades para disputar com unhas e dentes, através de performances teatrais denominadas de “dinâmica de grupo”, escassas vagas para privilegiados “treinee”. A grande meta de Estado proposta é ter várias refeições por dia o que, convenhamos, por desejável que seja, é muito rasteiro para figurar como objetivo nacional, principalmente pelos métodos utilizados. Na política externa, fazemos cara de nojo para países de ponta e saímos paparicando ditaduras miseráveis e outros potenciais adeptos para, quem sabe, formar um clube de ressentidos e fracassados.
O volume de jovens que busca encontrar lá fora o que parece esgotado aqui dentro é enorme. Nem todos vão porque as oportunidades sejam luminosas. Moças e rapazes bem formados, com curso superior e eventualmente poliglotas, arrumam artifícios para se instalar em diversos países como garçons, babás, auxiliares de alguma coisa e, quem sabe, descobrir um trajeto para uma vida melhor em algo parecido com o que estudaram. Até uma certa fase, vale a experiência e a aventura, mas, durante o referido reencontro, a filha de um amigo, preparando-se para retornar à Nova Zelândia, rebateu as esperanças dele com outra explicação, simples e direta, para a sua insistência em achar rumo fora daqui: “Pai, eu não vou passar a minha vida chamando a segurança para entrar e sair de casa”. Não pude deixar de reconhecer a força do argumento e, pior, a ironia do fato de que esse velho companheiro, graças a um talento muito acima do normal, atingiu a Vice-Presidência de uma grande empresa e, como corolário do seu sucesso, tem a família toda andando em carro blindado. Paranóia? Não, os fatos já comprovaram a necessidade. Não posso sair do rumo neste texto, mas fique claro que essa situação, segundo meu ponto de vista, é decorrência direta do tipo de elite que nos dirige. Não a misteriosa “zelite” do apedeuta, mas essa leniente, incapaz, retrógrada e hipócrita da qual ele faz parte.
Diferentemente dos jovens de países europeus, por exemplo, que se deslocam enquanto estudantes em busca, como eu já disse, de experiência e aventura, os nossos vão formados, sempre na expectativa de encontrar uma oportunidade fora. Este país, contrariando toda a lógica, a sua própria história e as expectativas típicas da minha geração, oferece uma porta estreita de oportunidades. Não são apenas migrantes de Governador Valadares que estão saindo. É boa parte da nata da nossa juventude e, mesmo quando retornam, freqüentemente o fazem como uma espécie de alternativa menor, aceita apenas porque o plano mais ambicioso não deu certo.
Não sei o que podemos esperar de um processo como esse. Os cérebros que não são destruídos por um ensino deplorável, que não são massacrados pela escola de oportunismo propagada pelos meios de comunicação e pelo exemplo que vem do alto, começam a ser exportados. Ainda é um fenômeno reversível, porque recente, mas poderá não sê-lo por muito tempo. Em boa linguagem sociológica eu diria que estamos sangrando capital humano. Como pai, eu diria que estamos, simplesmente, exportando o melhor fruto do nosso esforço.
em 21 de novembro de 2005
MidiaSemMascara.org
Nada como enterros e casamentos para uma rápida atualização sobre o andamento da vida de familiares distantes e amigos antigos. Felizmente, o último evento desse tipo a que compareci foi o belo e festivo casamento do filho de um querido amigo de juventude. Não há muitos ultimamente. Com exceção dos homossexuais militantes, empenhados em casar segundo tanto se fala, a geração que deveria estar embarcando nessa, parece ter certa dificuldade em assumir compromissos e vai, numa opção racional, exercitando relacionamentos com horário marcado e otimizando seus próprios orçamentos mantendo-se na casa dos pais. Mas, por algum fenômeno astrológico, vez ou outra há um surto de matrimônios.
O fato é que um largo círculo de amigos da minha adolescência nos “anos incríveis” encontrou-se para comemorar o arrojo anacrônico desse jovem que, depois de um longo período vivendo com a sua eleita no exterior, resolveu brindar a mãe pátria e a CNBB com a fundação de mais uma família brasileira.
Como o cachimbo faz a boca torta, não pude evitar algumas meditações sociológicas sobre o grupo ali reunido e estender um pouco a visão do cenário para abarcar a geração que nos precedeu e que ainda tinha alguns escassos representantes ao vivo e a cores no local. O que no passado me teria parecido apenas normal, porque era o meio em que fui criado, saltou aos meus olhos com muita clareza. Quase todos nós, senão todos, tínhamos uma história de vida assemelhada sob vários aspectos. Nossos pais, na maioria dos casos, eram gente simples e de pouco estudo, alguns mesmo levemente alfabetizados. De profissão, pequenos comerciantes, funcionários, trabalhadores de ofícios diversos. Alguns eram migrantes, em especial portugueses, como meus pais, mas também italianos, espanhóis, japoneses, etc. Vários de nós fomos alunos de escolas públicas o que, naquele tempo, podia significar algum estabelecimento mais exigente do que boa parte dos particulares. Da geração dos nossos pais para a nossa, o grande diferencial foi o nível de estudo e a conseqüência foi uma razoável ascensão social. O filho do mestre de obras tornou-se empresário de sucesso; o do pequeno comerciante chegou a diretor de banco; a costureira viu o seu tornar-se médico e assim por diante. Girando os olhos pelo salão eu me atreveria a dizer que dali se poderia extrair um ministério bem melhor que o do atual governo, mas não sei se isso é lá muita vantagem.
Na geração que nos antecedeu predominava a escolaridade básica, o trabalho árduo, mas não o intelectual. Meu pai fez serviço de rua para um escritório de administração até os 82 anos de idade. Nós, os filhos, começamos a encontrar os primeiros empregos por volta dos 14 anos, muitas vezes ajudando os pais em alguma coisa antes disso. Muitos passamos pelo ritual de sermos primeiro “office-boys” e depois auxiliares de escritório. A longa amizade que tive com meu primeiro patrão, um relojoeiro romeno fugido do paraíso comunista, com quem eu gostava de manter longos papos enquanto ele montava e desmontava relógios, é assunto para uma crônica específica, pois só agora, depois de tantos anos, eu aprendi que ele era, na verdade, um sórdido explorador do trabalho infantil, uma figura nociva e perversa que eu deveria ter processado e submetido às mais diversas extorsões em nome da sacrossanta lei tutelar que protege a nós outros, os coitadinhos.
Mas, o fato é que pude contemplar, nessa como em outras ocasiões, que na minha geração, entenda-se, no meu círculo de amizades antigas, predominam os tipos que nos “esteites” denominam “self made man”, mas, em grande parte, foram “made” mesmo pela associação de mérito próprio com o empenho de pais humildes e dedicados, cuja fé era que estudo e trabalho geravam oportunidades e construíam cidadãos bem sucedidos na vida. Pode-se dizer que é uma boa fórmula e que deu certo.
O que fizemos nós, então, além de termos casas e automóveis melhores, viajarmos mais e propiciarmos cirurgias plásticas às nossas esposas? Ora, continuamos acreditando na fórmula que deu certo: investimos pesadamente na educação dos filhos. Esta nova geração de jovens adultos, a terceira na minha breve “trilogia”, como diriam os cinéfilos, freqüentou as melhores escolas privadas, até porque as públicas foram destruídas nesse meio tempo. Teve, também, acesso a Clubes Esportivos, aprendeu outras línguas, ganhou computadores, fez intercâmbios no estrangeiro, formou-se nas Universidades de maior prestígio e quando trabalhou foi mais para adquirir “bagagem” do que por necessidade. Como gente que aprendeu, por experiência própria, o valor do estudo, do empenho e da qualificação profissional, tentamos transmitir esse método e torcemos para que os filhos nos superassem. Acho que, na maioria dos casos, fomos bem sucedidos. Minha filha, aquela que costuma bisbilhotar os meus textos, garante com um risinho irônico que, superar-nos, não é um desafio tão grande. Pretensão e água benta não fazem mal a ninguém, como diria minha mãe.
Mentalmente percorro, agora, numa última rodada, o que vem ocorrendo com esta terceira geração. O indicador máximo de sucesso, comentado com orgulho pelos pais numa conversa, é quando o filho ou a filha obteve uma colocação no estrangeiro. Como um boleiro que tivesse sido contratado pelo Barcelona, está atestada a qualidade do rebento, cuja capacidade e talento exigem um horizonte mais amplo do que oferece o espaço nacional. Quase todos, de alguma maneira, flertam, flertaram ou vincularam-se, definitivamente, a atividades no exterior. Nada contra. O que me incomoda é que não possamos, no Brasil, oferecer oportunidades equivalentes. Estamos, em muitos casos, exportando inteligência a preço vil. O país que um dia se deu ao luxo imbecil de proibir a contratação de professores universitários estrangeiros, evitando, assim, a importação líquida de neurônios, expulsa o produto nacional por incapacidade de utilizá-lo. Enquanto se entoam loas aos bons indicadores macroeconômicos (sic), comemoram-se crescimentos pífios ao lado de recordes sucessivos de arrecadação, o país mostra-se amesquinhado, sem oferta significativa de empregos qualificados, sem fé ou projeto. Os jovens saem das Universidades para disputar com unhas e dentes, através de performances teatrais denominadas de “dinâmica de grupo”, escassas vagas para privilegiados “treinee”. A grande meta de Estado proposta é ter várias refeições por dia o que, convenhamos, por desejável que seja, é muito rasteiro para figurar como objetivo nacional, principalmente pelos métodos utilizados. Na política externa, fazemos cara de nojo para países de ponta e saímos paparicando ditaduras miseráveis e outros potenciais adeptos para, quem sabe, formar um clube de ressentidos e fracassados.
O volume de jovens que busca encontrar lá fora o que parece esgotado aqui dentro é enorme. Nem todos vão porque as oportunidades sejam luminosas. Moças e rapazes bem formados, com curso superior e eventualmente poliglotas, arrumam artifícios para se instalar em diversos países como garçons, babás, auxiliares de alguma coisa e, quem sabe, descobrir um trajeto para uma vida melhor em algo parecido com o que estudaram. Até uma certa fase, vale a experiência e a aventura, mas, durante o referido reencontro, a filha de um amigo, preparando-se para retornar à Nova Zelândia, rebateu as esperanças dele com outra explicação, simples e direta, para a sua insistência em achar rumo fora daqui: “Pai, eu não vou passar a minha vida chamando a segurança para entrar e sair de casa”. Não pude deixar de reconhecer a força do argumento e, pior, a ironia do fato de que esse velho companheiro, graças a um talento muito acima do normal, atingiu a Vice-Presidência de uma grande empresa e, como corolário do seu sucesso, tem a família toda andando em carro blindado. Paranóia? Não, os fatos já comprovaram a necessidade. Não posso sair do rumo neste texto, mas fique claro que essa situação, segundo meu ponto de vista, é decorrência direta do tipo de elite que nos dirige. Não a misteriosa “zelite” do apedeuta, mas essa leniente, incapaz, retrógrada e hipócrita da qual ele faz parte.
Diferentemente dos jovens de países europeus, por exemplo, que se deslocam enquanto estudantes em busca, como eu já disse, de experiência e aventura, os nossos vão formados, sempre na expectativa de encontrar uma oportunidade fora. Este país, contrariando toda a lógica, a sua própria história e as expectativas típicas da minha geração, oferece uma porta estreita de oportunidades. Não são apenas migrantes de Governador Valadares que estão saindo. É boa parte da nata da nossa juventude e, mesmo quando retornam, freqüentemente o fazem como uma espécie de alternativa menor, aceita apenas porque o plano mais ambicioso não deu certo.
Não sei o que podemos esperar de um processo como esse. Os cérebros que não são destruídos por um ensino deplorável, que não são massacrados pela escola de oportunismo propagada pelos meios de comunicação e pelo exemplo que vem do alto, começam a ser exportados. Ainda é um fenômeno reversível, porque recente, mas poderá não sê-lo por muito tempo. Em boa linguagem sociológica eu diria que estamos sangrando capital humano. Como pai, eu diria que estamos, simplesmente, exportando o melhor fruto do nosso esforço.
Diálogo no filme Scent of woman ( em português Pefume de mulher )
- You know what kept me going all these years ?
The thought that one day..
Never mind.
( Sabe o quê me me fez continuar durante esses anos todos?
Achar que um dia..
Esquece. )
- What?
( O quê? )
- Silly.
Just the thought that maybe one day, I´d..
I could have a woman´s arms wrapped around me..
and her legs wrapped around me.
( É bobo.
Apenas achar que um dia, talvez, eu teria..
eu poderia ter os braços de uma mulher me envolvendo..
e suas pernas me envolvendo. )
- And what? ( E o quê mais? )
- That I could wake up in the morning and she would still be there.
Smell of her.
All funky and warm.
( Que eu poderia acordar de manhã e ela ainda estaria lá.
O cheiro dela.
Encolhida e quentinha. )
..........
tradução minha.
The thought that one day..
Never mind.
( Sabe o quê me me fez continuar durante esses anos todos?
Achar que um dia..
Esquece. )
- What?
( O quê? )
- Silly.
Just the thought that maybe one day, I´d..
I could have a woman´s arms wrapped around me..
and her legs wrapped around me.
( É bobo.
Apenas achar que um dia, talvez, eu teria..
eu poderia ter os braços de uma mulher me envolvendo..
e suas pernas me envolvendo. )
- And what? ( E o quê mais? )
- That I could wake up in the morning and she would still be there.
Smell of her.
All funky and warm.
( Que eu poderia acordar de manhã e ela ainda estaria lá.
O cheiro dela.
Encolhida e quentinha. )
..........
tradução minha.
quarta-feira, maio 23, 2007
Leonidas: You, what is your profession?
Arcadian soldier: I'm a potter, sir.
Leonidas: And you, arcadian, what is your profession?
Arcadian soldier: I'm a sculptor.
Leonidas: And you?
Arcadian soldier: I'm a blacksmith.
Leonidas: [Turning towards the Spartans] Spartans! What is your profession?
Espartanos: Harooh! Harooh! Harooh!
Leonidas: See old friend, I brought more soldiers than you did.
http://www.youtube.com/watch?v=VMwwb4F5j8I
Com os devidos créditos para a usuária Amanda, do orkut, a quem não conheço, motivo pelo qual não deixarei o link para seu perfil aqui.
Arcadian soldier: I'm a potter, sir.
Leonidas: And you, arcadian, what is your profession?
Arcadian soldier: I'm a sculptor.
Leonidas: And you?
Arcadian soldier: I'm a blacksmith.
Leonidas: [Turning towards the Spartans] Spartans! What is your profession?
Espartanos: Harooh! Harooh! Harooh!
Leonidas: See old friend, I brought more soldiers than you did.
http://www.youtube.com/watch?v=VMwwb4F5j8I
Com os devidos créditos para a usuária Amanda, do orkut, a quem não conheço, motivo pelo qual não deixarei o link para seu perfil aqui.
terça-feira, maio 22, 2007
Cartas de amor
Aboard Air Force One
March 4 1983
"Dear First Lady
I know tradition has it that on this morning I place cards Happy Anniversary cards on your breakfast tray. But things are somewhat mixed up. I substituted a gift & delivered it a few weeks ago.
Still this is the day, the day that marks 31 years of such happiness as comes to few men. I told you once that it was like an adolescent's dream of what marriage should be like. That hasn't changed.
You know I love the ranch but these last two days made it plain I only love it when you are there. Come to think of it that's true of every place & every time. When you aren't there I'm no place, just lost in time & space.
I more than love you, I'm not whole without you. You are life itself to me. When you are gone I'm waiting for you to return so I can start living again.
Happy Anniversary & thank you for 31 wonderful years.
I love you
Your Grateful Husband"
Esta carta de amor foi escrita pelo ex-presidente norte-americano Ronald Reagan para sua esposa Nancy, durante o mandato presidencial de 1981-84. Outras cartas de amor de pessoas famosas podem ser lidas no link http://www.theromantic.com/LoveLetters/main.htm.
Não sou nenhum especialista no tema, apenas escrevi minha carta de amor. Acredito, no entanto, que a tradição de escrever cartas de amor esteja se esvanecendo. Escrever cartas de amor é algo meio ridículo, todo mundo deve se sentir algo assim quando escreve uma. As pessoas hoje têm tanto medo de parecer ridículas que não fazem coisas fundamentais. A falta de confiança na sociedade se traduz em negativas de demonstrações de amor verdadeiro, porque se receia que façam troça do sentimento manifestado.
March 4 1983
"Dear First Lady
I know tradition has it that on this morning I place cards Happy Anniversary cards on your breakfast tray. But things are somewhat mixed up. I substituted a gift & delivered it a few weeks ago.
Still this is the day, the day that marks 31 years of such happiness as comes to few men. I told you once that it was like an adolescent's dream of what marriage should be like. That hasn't changed.
You know I love the ranch but these last two days made it plain I only love it when you are there. Come to think of it that's true of every place & every time. When you aren't there I'm no place, just lost in time & space.
I more than love you, I'm not whole without you. You are life itself to me. When you are gone I'm waiting for you to return so I can start living again.
Happy Anniversary & thank you for 31 wonderful years.
I love you
Your Grateful Husband"
Esta carta de amor foi escrita pelo ex-presidente norte-americano Ronald Reagan para sua esposa Nancy, durante o mandato presidencial de 1981-84. Outras cartas de amor de pessoas famosas podem ser lidas no link http://www.theromantic.com/LoveLetters/main.htm.
Não sou nenhum especialista no tema, apenas escrevi minha carta de amor. Acredito, no entanto, que a tradição de escrever cartas de amor esteja se esvanecendo. Escrever cartas de amor é algo meio ridículo, todo mundo deve se sentir algo assim quando escreve uma. As pessoas hoje têm tanto medo de parecer ridículas que não fazem coisas fundamentais. A falta de confiança na sociedade se traduz em negativas de demonstrações de amor verdadeiro, porque se receia que façam troça do sentimento manifestado.
domingo, maio 20, 2007
sábado, maio 19, 2007
Reportagem no Fantástico sobre briga entre Cida Diogo e Clodovil Hernandes
( Clique no título )
Neste vídeo, depois de contada a história da briga - ou melhor, do escândalo feito por uma das partes - entre os deputados Cida Rodrigo e Clodovil Hernandes, a repóter entrevista uma senhora especializada em boas maneiras, que diz que em casos como este é perfeitamente cabível pedir retratação e até indenização. Às vezes acho que o Brasil tá melhor servido com gente cínica e dada a chiliques feito petistas do que com as pessoas que aprovam com a maior cara lavada o chilique alheio, como se fosse a atitude mais sã e criteriosa do universo. Então agora qualquer constrangimento pode levar uma pessoa a exigir retratação de quem lha causou, e pedir indenização? Acaba de me ocorrer a brilhante idéia de entrar na Justiça contra minha mãe porque ela me causou um mal-estar no momento em que nasci, expelindo-me do confortável ambiente que era o útero materno. Eu cheguei a chorar quando isso aconteceu.
Neste vídeo, depois de contada a história da briga - ou melhor, do escândalo feito por uma das partes - entre os deputados Cida Rodrigo e Clodovil Hernandes, a repóter entrevista uma senhora especializada em boas maneiras, que diz que em casos como este é perfeitamente cabível pedir retratação e até indenização. Às vezes acho que o Brasil tá melhor servido com gente cínica e dada a chiliques feito petistas do que com as pessoas que aprovam com a maior cara lavada o chilique alheio, como se fosse a atitude mais sã e criteriosa do universo. Então agora qualquer constrangimento pode levar uma pessoa a exigir retratação de quem lha causou, e pedir indenização? Acaba de me ocorrer a brilhante idéia de entrar na Justiça contra minha mãe porque ela me causou um mal-estar no momento em que nasci, expelindo-me do confortável ambiente que era o útero materno. Eu cheguei a chorar quando isso aconteceu.
terça-feira, maio 15, 2007
Cena final do filme Estrada para perdição.
Referindo-se a seu pai Michael Sullivan, que fora um assassino profissional, Michael Sullivan Jr. diz o seguinte:
"When people ask me if he was a good man, or if there was nothing of good in him, I just say... he was my dad."
"When people ask me if he was a good man, or if there was nothing of good in him, I just say... he was my dad."
domingo, maio 13, 2007
Frase que vi no blog www.folhasdispersas.blogspot.com, de Tiago Ramos. Não resisto a transcrevê-la:
"Os marxistas inteligentes são patifes. Os marxistas honestos são burros. E os inteligentes honestos nunca são marxistas."( J.O. Meira Penna ).
Ééééee...
"Os marxistas inteligentes são patifes. Os marxistas honestos são burros. E os inteligentes honestos nunca são marxistas."( J.O. Meira Penna ).
Ééééee...
Assistindo ao filme 300
Primeiro, a atuação do Rodrigo Santoro foi muito boa, aquele jeito de dizer que é um rei bom, querendo na verdade que todos se ajoelhem a si foi muito bem representado. Um deus bom, que na realidade não o é, já sinto o cheiro de gnosticismo.. Xerxes é parecido com "os outros" da série Lost, que se dizem pessoas boas, mas que raptam crianças, seqüestram pessoas, etc, como disse o personagem Jack. Rodrigo Santoro trabalhou bem. O ator que representa Leônidas não fica atrás. Leônidas é um homem seguro, que ama sua esposa e seu país, e está disposto a deixar em segundo plano a tradição se necessário para salvá-los. Lembro agora do Cristo dizendo que os fariseus corrompem a lei, alterando seu verdadeiro significado ( ver Mt, 15 1-21 ). Afinal, que lei pode ser mais importante do que a defesa da cultura que proporcionou a sua existência?
Leônidas, rei dos espartanos, sabia cada passo da batalha travada em Termópilas. Provavelmente cria também ( e aqui deixo de me referir ao Leônidas personagem do filme, mas ao homem real ) realizar a profecia de que seria necessário um rei espartano morrer para que a cidade de Esparta fosse salva.
Agora é a vez de George Clooney filmar esta belíssima história. O ator comprou os direito do livro Gates of fire, escrito pelo romancista histórico de mão cheia Steven Pressfield, que conta a história do ângulo de um soldado-escravo espartano, desde o momento em que sua aldeia foi destruída e ficou órfão, passando por sua estadia em Esparta, até a luta e morte gloriosas em Termópilas. Grande livro.
Leônidas, rei dos espartanos, sabia cada passo da batalha travada em Termópilas. Provavelmente cria também ( e aqui deixo de me referir ao Leônidas personagem do filme, mas ao homem real ) realizar a profecia de que seria necessário um rei espartano morrer para que a cidade de Esparta fosse salva.
Agora é a vez de George Clooney filmar esta belíssima história. O ator comprou os direito do livro Gates of fire, escrito pelo romancista histórico de mão cheia Steven Pressfield, que conta a história do ângulo de um soldado-escravo espartano, desde o momento em que sua aldeia foi destruída e ficou órfão, passando por sua estadia em Esparta, até a luta e morte gloriosas em Termópilas. Grande livro.
quarta-feira, maio 09, 2007
Educação em Cuba
( Clique no título )
É triste. A professora inocula ódio nas crianças. Che Guevara era um assassino ( ver Che Guevara: The killing machine, por Mario Vargas Llosa ), não um homem honesto.
É triste. A professora inocula ódio nas crianças. Che Guevara era um assassino ( ver Che Guevara: The killing machine, por Mario Vargas Llosa ), não um homem honesto.
Comentário sobre aborto e eutanásia
O mote do artigo comentado era o desarmamento. Falava ainda sobre aborto e eutanásia, que foram o tema principal do comentário. Um rapaz chamado Bernardo ficou muito enfezadinho da vida por eu ter dito que não é certo a mulher matar o seu próprio bebê, e saiu dizendo que eu era machista, meio enrolado com as palavras, pois não sabia escrever. Respondi à altura, e um pouco além, razão pela qual já me penitenciei. O link é www.thiagoprado.blogspot.com.
"É de uma contradição esse tipo de direita?
Não pelos motivos que você elencou. Se não vejamos.
Seu argumento foi que os conservadores não querem ver a cara do Estado quando o assunto é porte de armas, porém quando o assunto é aborto e eutanásia querem proibir a liberdade das pessoas.
Em primeiro lugar, é falsa a idéia de que os conservadores, esses que você citou como exemplo, são contra a interferência do Estado no domínio das armas. Nunca vi o Olavo falando contra a regulamentação imposta para a liberação ao porte de arma, a qual estabelece condições que incluem a aprovação em um batalhão de testes, da mesma forma que tirar carteira de habilitação de motorista. A pessoa precisa ter ainda mais de 25 anos. Muito ao contrário, já o vi dizendo algo no sentido de que a pessoa que possui arma deveria estar obrigada a ajudar a polícia em certos casos.
Segundo ponto: a liberação do aborto é um assunto que vai além da discussão da ingerência do Estado na vida particular das pessoas, caso se considere, como eu considero, que aquela coisinha expelida pelo aborto é uma pessoa. E que portanto o aborto é um assassinato. Aí você tem dois valores em jogo: a vida daquela coisinha e a liberdade da mulher de tirar algo indesejável do seu corpo. A prevalecer este segundo valor, segue que o Estado está desobrigado a proteger a vida das pessoas porque em primeiro plano está uma liberdade individual que inclui a faculdade de matar outra pessoa. É o estado natural que Thomas Hobbes imaginou em um exercício de lógica pessimista sem comprometimento com a realidade. No estado natural não havia o Estado.
Para aqueles que não consideram aquela coisinha expelida pelo aborto como uma pessoa, o que talvez seja o seu caso, então realmente a proibição do aborto é uma intromissão indevida do Estado na esfera individual. Na discussão sobre liberação do aborto, há portanto uma diferença de entendimento quanto a essência daquela coisinha expelida, o que não nada tem a ver com o fato de o Estado poder ou não se intrometer na liberdade das pessoas, a não ser, como já assinalado, que se considere que o Estado não deva proteger a vida ( e nem a liberdade, pois a pessoa cuja vida está ameaçada também tem, por conseqüência necessária e óbvia, sua liberdade ameaçada ). Você poderá dizer que o Estado, enquanto proíbe a prática do aborto, está decidindo qual a essência daquela coisinha expelida, uma vida humana neste caso, e que a decisão sobre a essência daquela coisinha deveria ser deixada ao arbítrio individual, cada mãe decidindo o futuro de sua coisinha. Se o Estado adotasse essa posição, não significaria pari passu que ele estaria imparcial na questão. Pois a permissão ao aborto implica na aceitação pelo Estado de que aquela coisinha não tem vida, ou então na aceitação de que, em havendo vida, a mulher pode escolher tirá-la, o que é um assassinato dentro da lei. Nesta situação, não há isenção. Qualquer atitude ( ou omissão ) já manifesta uma posição. Pôncio Pilatos lavou as mãos, e Jesus Cristo foi crucificado do mesmo jeito.
Resta que qualquer legislação sobre o aborto já implica uma posição sobre o assunto. Ou aquela coisinha é uma vida ou não é. Não sendo possível afirmar categoricamente tanto uma quanto outra hipóteses, a atitude plausível é preservar a vida da coisinha em detrimento da liberdade da mulher de expelí-la de seu corpo.
Sempre que começa essa discussão sobre aborto, eu digo que meus pais não queriam ter tido filho no momneto que tiveram, preferiam ter deixado para depois. Se o aborto fosse uma prática legal e culturalmente válida na época, eu poderia não existir. E nem os meus pais, que nasceram sem querer. Cito por fim uma frase do presidente norte-americano Ronald Reagan, que é uma sacada genial: "I've noticed that everyone who is for abortion has already been born."
Eutanásia: necessário marcar a diferença entre eutanásia e suicídio assistido. Este requer o pedido da pessoa para ser morta tendo em vista que nas suas condições não consegue se matar. É o caso deste último filme do Clint Eastwood, um dos piores dele, e que ganhou o Oscar de melhor filme. A boxeadora quer se matar no leito do hospital, mas não tem mais o movimento de braços e pernas, e por isso o jeito de realizar o seu intento é pedir a ajuda de seu ex-técnico e amigo.
Eutanásia, por sua vez, é matar uma pessoa que estaria sofrendo bastante, mas fazê-lo sem que a pessoa interessada esteja consciente disto. É um assassinato portanto.
O suicídio assistido é um assunto que estaria unicamente ligado ao arbítrio individual, e o Estado não deveria portanto se meter. No entanto, as leis de um país não são feitas unicamente, e nem primordialmente, com fundamento no direito natural. Há uma cultura, uma visão de mundo anterior que dá base a elas, moldando-as. O fato de se permitir que uma pessoa possa matar outra pessoa, mesmo que a pedido desta, traz consequências não apenas para as pessoas envolvidas mas para toda a nação, haja vista a repercussão havida no caso Terry Schiavo ( que não é um caso de suicídio assistido e nem de eutanásia exatamente, mas uma terceira coisa ). Nestes casos em que a cultura de um país está envolvida, penso que a discussão sobre a ingerência ou não do Estado é coisa posterior. A própria concepção de Estado depende da cultura, a qual poderá estar sendo seriamente abalada por uma decisão errada. Esse é o caso da discussão sobre o suicídio assistido, que traz no seu bojo o valor que uma cultura dispensa à vida humana.
Não está no mesmo patamar a discussão sobre desarmamento. Esta se liga principalmente a argumentos do direito natural e do bom senso, os quais mandam que um homem tenha os meios para defender a sua casa, a sua família e a sua vida.
Quando você for falar sobre um assunto delicado e espinhoso como o aborto ou a eutanásia, não deixe que sonhos brancos de alguma forma interrompam ou diminuam a sua análise sobre estes assuntos. A imaginação e os sonhos têm sentido e função intelectual na medida em que nos aproximam do real. Quando servem para nos afastar dele, aí eles se tornam monstrinhos da razão."
Ps: O filme de Clint Eastwood é ruim, mas a atuação de Morgan Freeman foi ótima.
"É de uma contradição esse tipo de direita?
Não pelos motivos que você elencou. Se não vejamos.
Seu argumento foi que os conservadores não querem ver a cara do Estado quando o assunto é porte de armas, porém quando o assunto é aborto e eutanásia querem proibir a liberdade das pessoas.
Em primeiro lugar, é falsa a idéia de que os conservadores, esses que você citou como exemplo, são contra a interferência do Estado no domínio das armas. Nunca vi o Olavo falando contra a regulamentação imposta para a liberação ao porte de arma, a qual estabelece condições que incluem a aprovação em um batalhão de testes, da mesma forma que tirar carteira de habilitação de motorista. A pessoa precisa ter ainda mais de 25 anos. Muito ao contrário, já o vi dizendo algo no sentido de que a pessoa que possui arma deveria estar obrigada a ajudar a polícia em certos casos.
Segundo ponto: a liberação do aborto é um assunto que vai além da discussão da ingerência do Estado na vida particular das pessoas, caso se considere, como eu considero, que aquela coisinha expelida pelo aborto é uma pessoa. E que portanto o aborto é um assassinato. Aí você tem dois valores em jogo: a vida daquela coisinha e a liberdade da mulher de tirar algo indesejável do seu corpo. A prevalecer este segundo valor, segue que o Estado está desobrigado a proteger a vida das pessoas porque em primeiro plano está uma liberdade individual que inclui a faculdade de matar outra pessoa. É o estado natural que Thomas Hobbes imaginou em um exercício de lógica pessimista sem comprometimento com a realidade. No estado natural não havia o Estado.
Para aqueles que não consideram aquela coisinha expelida pelo aborto como uma pessoa, o que talvez seja o seu caso, então realmente a proibição do aborto é uma intromissão indevida do Estado na esfera individual. Na discussão sobre liberação do aborto, há portanto uma diferença de entendimento quanto a essência daquela coisinha expelida, o que não nada tem a ver com o fato de o Estado poder ou não se intrometer na liberdade das pessoas, a não ser, como já assinalado, que se considere que o Estado não deva proteger a vida ( e nem a liberdade, pois a pessoa cuja vida está ameaçada também tem, por conseqüência necessária e óbvia, sua liberdade ameaçada ). Você poderá dizer que o Estado, enquanto proíbe a prática do aborto, está decidindo qual a essência daquela coisinha expelida, uma vida humana neste caso, e que a decisão sobre a essência daquela coisinha deveria ser deixada ao arbítrio individual, cada mãe decidindo o futuro de sua coisinha. Se o Estado adotasse essa posição, não significaria pari passu que ele estaria imparcial na questão. Pois a permissão ao aborto implica na aceitação pelo Estado de que aquela coisinha não tem vida, ou então na aceitação de que, em havendo vida, a mulher pode escolher tirá-la, o que é um assassinato dentro da lei. Nesta situação, não há isenção. Qualquer atitude ( ou omissão ) já manifesta uma posição. Pôncio Pilatos lavou as mãos, e Jesus Cristo foi crucificado do mesmo jeito.
Resta que qualquer legislação sobre o aborto já implica uma posição sobre o assunto. Ou aquela coisinha é uma vida ou não é. Não sendo possível afirmar categoricamente tanto uma quanto outra hipóteses, a atitude plausível é preservar a vida da coisinha em detrimento da liberdade da mulher de expelí-la de seu corpo.
Sempre que começa essa discussão sobre aborto, eu digo que meus pais não queriam ter tido filho no momneto que tiveram, preferiam ter deixado para depois. Se o aborto fosse uma prática legal e culturalmente válida na época, eu poderia não existir. E nem os meus pais, que nasceram sem querer. Cito por fim uma frase do presidente norte-americano Ronald Reagan, que é uma sacada genial: "I've noticed that everyone who is for abortion has already been born."
Eutanásia: necessário marcar a diferença entre eutanásia e suicídio assistido. Este requer o pedido da pessoa para ser morta tendo em vista que nas suas condições não consegue se matar. É o caso deste último filme do Clint Eastwood, um dos piores dele, e que ganhou o Oscar de melhor filme. A boxeadora quer se matar no leito do hospital, mas não tem mais o movimento de braços e pernas, e por isso o jeito de realizar o seu intento é pedir a ajuda de seu ex-técnico e amigo.
Eutanásia, por sua vez, é matar uma pessoa que estaria sofrendo bastante, mas fazê-lo sem que a pessoa interessada esteja consciente disto. É um assassinato portanto.
O suicídio assistido é um assunto que estaria unicamente ligado ao arbítrio individual, e o Estado não deveria portanto se meter. No entanto, as leis de um país não são feitas unicamente, e nem primordialmente, com fundamento no direito natural. Há uma cultura, uma visão de mundo anterior que dá base a elas, moldando-as. O fato de se permitir que uma pessoa possa matar outra pessoa, mesmo que a pedido desta, traz consequências não apenas para as pessoas envolvidas mas para toda a nação, haja vista a repercussão havida no caso Terry Schiavo ( que não é um caso de suicídio assistido e nem de eutanásia exatamente, mas uma terceira coisa ). Nestes casos em que a cultura de um país está envolvida, penso que a discussão sobre a ingerência ou não do Estado é coisa posterior. A própria concepção de Estado depende da cultura, a qual poderá estar sendo seriamente abalada por uma decisão errada. Esse é o caso da discussão sobre o suicídio assistido, que traz no seu bojo o valor que uma cultura dispensa à vida humana.
Não está no mesmo patamar a discussão sobre desarmamento. Esta se liga principalmente a argumentos do direito natural e do bom senso, os quais mandam que um homem tenha os meios para defender a sua casa, a sua família e a sua vida.
Quando você for falar sobre um assunto delicado e espinhoso como o aborto ou a eutanásia, não deixe que sonhos brancos de alguma forma interrompam ou diminuam a sua análise sobre estes assuntos. A imaginação e os sonhos têm sentido e função intelectual na medida em que nos aproximam do real. Quando servem para nos afastar dele, aí eles se tornam monstrinhos da razão."
Ps: O filme de Clint Eastwood é ruim, mas a atuação de Morgan Freeman foi ótima.
domingo, maio 06, 2007
"Let them come to Berlin"
( Clique no título )
"They say communism is an evil system, but it permits us to make economic progress.. let them come to Berlin."
Discurso de John F. Kennedy em Berlim ocidental.
"They say communism is an evil system, but it permits us to make economic progress.. let them come to Berlin."
Discurso de John F. Kennedy em Berlim ocidental.
sexta-feira, maio 04, 2007
Ohem que maravilha!
Marcelo Victor Gomes, criador da comunidade Filosofia da linguagem no Orkut, propôs uma enquete nos seguintes termos: "A comunidade tem que ser moderada? Pessoal todo dia o dono da comunidade tem que tirar vários tópicos pornográficos, a moderação diminuirá consideralvemente tal encômodo."
Pois é, se o criador da comunidade Filosofia da linguagem não for se encomodar, realmente gostaria que ele escrevesse um pouco melhor.
Pois é, se o criador da comunidade Filosofia da linguagem não for se encomodar, realmente gostaria que ele escrevesse um pouco melhor.
"If we consider men and women generally, and apart from their professions or occupations, there is only one situation I can think of in which they almost pull themselves up by their bootstraps, making an effort to read better than they usually do. When they are in love and are reading a love letter, they read between the lines and in the margin; they read the whole in terms of the parts, and each part in terms of the whole; they grow sensitive to context and ambiguity, to insinuation and implication; they perceive the colors of words, the odor of phrases, and the weight of sentences. They may even take the punctuation into account. Then, if never before or after, they read."
Mortimer Adler, em How to read a book ( capítulo 1, parte 4 ).
Mortimer Adler, em How to read a book ( capítulo 1, parte 4 ).
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