A proposta de que os professores apresentem aristotelicamente variados pontos de vista sobre uma questão esbarra no fato de que muitos professores têm uma visão ginasiana inclusive da própria ideologia, que dirá da alheia.
Para 80% dos professores brasileiros (em pesquisa feita pelo Datamimmesmo) o conservadorismo se resume à ideologia do Darth Vader.
O professor pode até achar que seja a ideologia do Darth Vader, o problema é que é incapaz de apresentá-la em seus próprios termos. Ele nunca a conheceu e foge como o diabo da cruz dela, só conhece espantalhos grosseiros. Como disse acima, seu conhecimento da própria ideologia marxista costuma ser bem superficial. Nelson Rodrigues dizia que no Brasil “o marxismo adquiriu uma forma difusa, volatizada, atmosférica. É-se marxista (...) apenas respirando".
A proposta do Escola sem Partido (o nome não é bom, devia ser Escola sem Censura) de que haja uma cartilha pendurada na sala de aula com os deveres do professor (quem quiser saber, a cartilha está na página inicial da entidade) não me parece ruim. O item 1, porém, devia ser reformulado, talvez abolido. Acredito que o professor deva poder dizer o que pensa e o que deixa de pensar, quando o faz sem constranger ninguém. Eu mesmo perguntaria a um professor qual a sua visão e por quê. Não há mal algum nisso, a curiosidade deve ser promovida, não tolhida. Os itens 2 a 6 me parecem todos bons, embora o item 4, como disse acima, dependa da qualidade e preparo do professor para ser aplicado satisfatoriamente.
A perseguição a alunos, de qualquer maneira, precisa ser extirpada da escola (item 2). O canal de denúncias criado pela menina de SC, eleita deputada estadual, não é à toa. Ela viveu toda sorte de assédio no mestrado em história (acho que vocês podem imaginar). Essa, provavelmente, não é a melhor solução, porém, porque facilmente geraria o efeito inverso, ou seja, o assédio contra professores; ninguém, no entanto, deveria fazer de conta que não existe um problema.
Tudo isso para dizer que o ambiente universitário brasileiro, e não só brasileiro, é irrespirável. O melhor é que cada professor possa dizer o que bem entenda, o que lhe dá na telha, e que o aluno possa escolher o seu professor. Mas isso só acontece em cursos livres (como aliás funcionavam os grêmios de alunos e professores que deram origem às universidades lá no início do segundo milênio da era cristã). Em ambientes onde o aluno é obrigado a estar, caso da escola, ou onde não pode escolher seu professor, caso da universidade, a coisa muda de figura. O problema todo envolve a sociologia do conhecimento, a organização institucional do saber, e é insolúvel. Pode haver, entretanto, maneiras de tornar o ensino menos constrangedor. Trata-se de achar essas soluções pontuais, nunca definitivas.
terça-feira, outubro 30, 2018
segunda-feira, outubro 22, 2018
Fim da escravidão
Tem umas três semanas, visitei uma fazenda majestosa em Vassouras. Perguntei ao dono por que a fazenda entrou em forte decadência quando a escravidão foi abolida. Será que o fazendeiro não poderia ter dado uns terreninhos para os ex-escravos constituírem casa no local, os que quisessem permanecer? Ele disse que não era a cultura, que o barão não conseguia pensar assim.
Agora vejam que interessante este trecho sobre a abolição gradual da escravidão em Roma:
"Encontramos os escravos romanos vivendo em uma senzala; mas os servos da época carolíngia vivem nos casarios (mansus servilis), na terra prestada pelo senhor, como pequenos lavradores (...). O servo foi devolvido à família, e com a família se apresenta, lado a lado, a propriedade pessoal."
Max Weber praticamente não entra nos méritos do cristianismo sobre este processo, ele trabalha com a hipótese de que a oferta de escravos escasseava, uma vez que o império romano, fincando fronteiras, diminuía as expedições guerreiras e a conseqüente captura de escravos.
No caso brasileiro, os ex-escravos poderiam dar um passa-fora em seus antigos donos e tocar a vida noutro lugar, o que deixou de ser uma opção para o camponês romano quando o feudalismo ganhou contornos jurídicos.
Mas é interessante conjecturar como a escravidão brasileira poderia ter terminado com menos traumas, seja para o ex-escravo, que se via corporalmente livre, mas sem perspectiva, seja para seu antigo senhor, cuja engenharia econômica perdia mão-de-obra fundamental, sobretudo para aqueles que teimaram em não mecanizar a produção.
Agora vejam que interessante este trecho sobre a abolição gradual da escravidão em Roma:
"Encontramos os escravos romanos vivendo em uma senzala; mas os servos da época carolíngia vivem nos casarios (mansus servilis), na terra prestada pelo senhor, como pequenos lavradores (...). O servo foi devolvido à família, e com a família se apresenta, lado a lado, a propriedade pessoal."
Max Weber praticamente não entra nos méritos do cristianismo sobre este processo, ele trabalha com a hipótese de que a oferta de escravos escasseava, uma vez que o império romano, fincando fronteiras, diminuía as expedições guerreiras e a conseqüente captura de escravos.
No caso brasileiro, os ex-escravos poderiam dar um passa-fora em seus antigos donos e tocar a vida noutro lugar, o que deixou de ser uma opção para o camponês romano quando o feudalismo ganhou contornos jurídicos.
Mas é interessante conjecturar como a escravidão brasileira poderia ter terminado com menos traumas, seja para o ex-escravo, que se via corporalmente livre, mas sem perspectiva, seja para seu antigo senhor, cuja engenharia econômica perdia mão-de-obra fundamental, sobretudo para aqueles que teimaram em não mecanizar a produção.
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