Noivos, casavam-se em três meses, era preciso comprar casa para morarem. Contactaram a corretora, olharam um, olharam outro, nada muito interessante; o último do dia era na Maria Amália, subindo a ladeira. Um que lhes encheu os olhos, três quartos, varandão, cozinha espaçosa, como ele queria, mas a vista, a vista, sim, tinha um pontinho de favela. Pequeno, é certo, mas estava lá. Um apartamento tão bom, que pena.
Comentou com a tia ao chegar a casa. Falou como era bom, e que tinha esse pequeno detalhe. A tia falou que ia ver com eles na semana seguinte. Ela ficou excitada. "Você não precisa morar lá sempre, dali a cinco anos vocês vendem, preço bom, uma oportunidade ímpar".
Compraram. Subia a pé a ladeira, os lances de escada, chegava, botava suas coisas do trabalho, se espreguiçava, beijava a esposa, cuidava do filho.
Sábado, foram a um churrasco na casa da tia na Barra. Ele, olhando para o céu pensativo, com o filho no braço, ela lhe pergunta: "O que você tem que está pensando"? Gusmão: "Não sei".
Final de semana, em mangas de camisa, debruçou os braços sobre o parapeito da janela e fumou um cigarro. Ao fundo o morro verde do Sumaré; à direita, porém, o ponto, pequeno, discreto: favela.
Dali a cinco meses venderam e foram morar na rua Guaxupé.
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