No cap. III,3, de L'Unité Transcendante des Religions, Schuon justifica as faltas de Davi. Um profeta não pode cometer pecados, diz ele. No máximo, usa meios imperfeitos para uma ação, em si, justa. Pecado só existiria do ponto de vista exotérico, isto é, aos olhos do povaréu, não aos olhos de Deus, não. Quando roubou a esposa de Uriel, Davi, portanto, estava realizando a intenção cósmica de se unir à mãe de Salomão. Só um homem sem intuição espiritual para não perceber que a ação era cosmologicamente necessária.
Alguns líderes contemporâneos de seitas orientalizadas de fato cometem erros, talvez pecados. Quiçá também seja esotericamente justificável que eles passem um tempo na cadeia por abusos sexuais.
A distinção schuoniana entre dhanb e ithm é boa. Pecado, na realidade, só existe intencionalmente, isto é, quando queremos ir de encontro à vontade de Deus. A imperfeição de nossas ações é um mal, mas não um pecado. Cite-se aqui novamente Shinran: não importa se você é bom ou mau, importa se você recita o Nembutsu, ou seja, se você se dedica aos assuntos do Pai.
Isto posto, um profeta, quem quer que seja, não está eximido de antemão de cometer pecados. Jesus, o Filho do Homem, disse que não era bom porque sabia que a bondade dependia de sua relação com Deus e da obediência perfeccionada a Ele. Não porque não a praticasse.
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