Teci-me de sombras para a tarde
me estender sobre as mais pobres coisas.
Tarde sem Vésper e véspera,
em que nada se espera
nem mesmo a lua má anunciada.
Tarde, ó tarde, ó tarde sem mais volta
não preparas nem o ocaso do Sonho
nem o acaso da morte.
Entretanto estou em ti, postiça tarde.
Estou para perder o já perdido
estou para encontrar o fogo que não arde
não me perco de ti, postiça tarde.
Tarde perdida em si, sem ânsia de morrer
nem de viver na lua que surgir.
Tarde de um mundo morto, tarde sem lua perto
que ilumine em cada coisa o seu deserto.
Tarde sem alma e homem, tarde jamais ferida
pela centelha do morrer da vida.
tarde de um tempo inteiramente cego: tarde que eu nego.
Do livro As Armadilhas da Luz.
...
Urca e Tango Jalousie, por Sergio Lemos
I
Memória do assoalho, a tarde-pântano,
exalada de tábuas, rodapés.
Laivos da noite, rápido, esquivando-se
embrulhados na luz da tarde-mel.
Pelos vidros de cor, pé-ante-pé,
a poeira luminosa ia avançando.
Oh a tarde de laranjas bocejando,
papel de pão, as moscas, o café.
E a década sinistra de quarenta
vinha doce, tranqüila, sonolenta
como um gato lambendo nossa mão.
Vila Isabel -- o rádio era criança.
A Shirley Temple. Ocupada a França.
E os vidros de merengue com limão.
Do livro A Luz no Caleidoscópio
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...
por Daniel H. Lourenço
O universo imóvel na tarde quente,
sinérgicos lemos uma folha farfalhar
na árvore da avenida Portugal.
O vento assobia como se estivesse piscando para a gente,
lá fora da sombra, entretanto,
é um mundo frugal.
Ao entardecer, a brisa do mar traz moedas e conchas
onde disfarço os ouvidos para escutar o tao.
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