"Os senhores desejam, decerto, a prova da verdade. Ei-la: espiritismo alude repetidamente a "corpos astrais", "vibrações, ondas, raios espirituais", e assim por diante. É lícito afirmar, pois, que ele faz do espiritual um quase-material. Dito de outo modo: o espiritismo materializa o espírito considerado na perspectiva histórico-espiritual e, por isso, se torna aquilo sobre que justamente tanto gosta de se falar, ou seja, um fenômeno de "materialização"!
O espiritismo não é uma verdade metafísica, mas sim uma pseudometafísica. Isso torna-se claro quando verificamos que para os espíritas o espírito não está "atrás do físico" como algo de metafísico. Pelo contrário, o espírita vê por detrás do espiritual algo (quase) físico. Os espíritas não se esforçam somente, a exemplo de muitos metafísicos, por dar uma espiada atrás dos bastidores, a fim de ver o que há por trás do físico, mas gostam ainda, como pseudometafísicos que são, de dar uma olhada no que fica atrás do segundo plano. Não se contentam com o que aparece à luz da metafísica como realidade espiritual independente; pelo contrário, eles -- esses melhores conhecedores metafísicos, como podemos chamá-los -- tratam esse espírito como se fosse físico e distorcem cada proposição metafísica do conhecimento no sentido do materialismo vulgar.
O espírito é, como tal, naturalmente, invisível; o espiritismo, na sua pseudometafísica, quer todavia torná-lo de alguma forma visível. Não se pode ver o espírito, já que ele é invisível, há de se acreditar nele. Todavia, a metafísica espírita -- na medida em que transforma o espírito em algo de visível, em que deseja, portanto, vê-lo -- numa palavra, a crença no espírito daquele que vê o espírito degenera exatamente, por isso, em superstição.
(...) Nem tudo o que é invisível é irreal. Eu gostaria de lhes explicar este ponto relatando o diálogo que tive, certa vez, com um jovem que me perguntou que importância podia ter a realidade da alma, considerando que ela é invisível. Concordei que ele nunca poderia ver algo parecido com uma alma por meio de uma dissecação ou um exame microscópico do cérebro, mas lhe perguntei, ao mesmo tempo, por que ele iria empreender tal dissecação ou tal exame microscópico. O jovem respondeu-me o seguinte: por amor à verdade, pelo interesse investigador-científico de encontrar a verdade! Aí cheguei aonde eu queria porque bastava indagar: o que é o amor à verdade, etc., se não algo de referente à alma? E sobretudo se ele pensava que coisas como "amor à verdade" pudessem ser vistas ao microscópico. Então tudo lhe ficou claro: o que se procura por meio do microscópico, e que por esse caminho nunca será achado, esse invisível, a alma propriamente dita, é o que esteve sempre pressuposto em todo exame microscópico!"
Retirado do livro O Homem Incondicionado, presente na coletânea Fundamentos Antropológicos da Psicoterapia, 1978, editira Zahar, p. 84.
O espiritismo não é uma verdade metafísica, mas sim uma pseudometafísica. Isso torna-se claro quando verificamos que para os espíritas o espírito não está "atrás do físico" como algo de metafísico. Pelo contrário, o espírita vê por detrás do espiritual algo (quase) físico. Os espíritas não se esforçam somente, a exemplo de muitos metafísicos, por dar uma espiada atrás dos bastidores, a fim de ver o que há por trás do físico, mas gostam ainda, como pseudometafísicos que são, de dar uma olhada no que fica atrás do segundo plano. Não se contentam com o que aparece à luz da metafísica como realidade espiritual independente; pelo contrário, eles -- esses melhores conhecedores metafísicos, como podemos chamá-los -- tratam esse espírito como se fosse físico e distorcem cada proposição metafísica do conhecimento no sentido do materialismo vulgar.
O espírito é, como tal, naturalmente, invisível; o espiritismo, na sua pseudometafísica, quer todavia torná-lo de alguma forma visível. Não se pode ver o espírito, já que ele é invisível, há de se acreditar nele. Todavia, a metafísica espírita -- na medida em que transforma o espírito em algo de visível, em que deseja, portanto, vê-lo -- numa palavra, a crença no espírito daquele que vê o espírito degenera exatamente, por isso, em superstição.
(...) Nem tudo o que é invisível é irreal. Eu gostaria de lhes explicar este ponto relatando o diálogo que tive, certa vez, com um jovem que me perguntou que importância podia ter a realidade da alma, considerando que ela é invisível. Concordei que ele nunca poderia ver algo parecido com uma alma por meio de uma dissecação ou um exame microscópico do cérebro, mas lhe perguntei, ao mesmo tempo, por que ele iria empreender tal dissecação ou tal exame microscópico. O jovem respondeu-me o seguinte: por amor à verdade, pelo interesse investigador-científico de encontrar a verdade! Aí cheguei aonde eu queria porque bastava indagar: o que é o amor à verdade, etc., se não algo de referente à alma? E sobretudo se ele pensava que coisas como "amor à verdade" pudessem ser vistas ao microscópico. Então tudo lhe ficou claro: o que se procura por meio do microscópico, e que por esse caminho nunca será achado, esse invisível, a alma propriamente dita, é o que esteve sempre pressuposto em todo exame microscópico!"
Retirado do livro O Homem Incondicionado, presente na coletânea Fundamentos Antropológicos da Psicoterapia, 1978, editira Zahar, p. 84.