quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Dúvida

O filme Dúvida, em que estrelam Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman e Amy Adams, gira em torno da suspeita de uma freira experiente sobre a prática pedófila do padre com uma criança que estuda na escola da paróquia.


O padre e a jovem freira discutem sobre caso que é tempestade em copo d'água

O filme termina como começou: A dúvida que era tema do primeiro sermão do padre concretizou-se no choro da freira interpretada por Meryl Streep, que conseguiu a transferência do padre de quem suspeitava. A jovem freira representada por Amy Adams, excelente e bela atriz, é a mais razoável na história. Segue as instruções da freira señior de prestar atenção nos passos do padre, mas depois se percebe envolta numa trama injusta de difamação forjada a partir de um acontecimento trivial.

O padre não molestou a criança. O filme é uma espécie de história de Bentinho e Capitu, com a ressalva de que na história de Machado de Assis a questão flagrante não deve ser resolvida, se Capitu traiu ou não Bentinho talvez nem mesmo Machado de Assis quis saber. No filme, ao contrário, o padre não praticou a pedofilia. O tema de Bentinho e Capitu está presente, porque a freira, no papel de Bentinho, jamais acreditará que o padre não praticou o ato criminoso, não importa o que ele diga. E o padre, no papel de Capitu, não tem fibra moral o bastante para fazer valer por sua personalidade forte e confiável a sua versão fiel aos fatos. O padre é quase um covarde, ele assume uma culpa que não tem para evitar acusações sobre culpas menores que têm. A freira possui uma sanha inquisitorial que só uma postura muito firme de um padre disposto a bater nela com uma mão e rezar por ela com a outra poderia frear. O padre não faz isso. Fica com medo de que faltas do seu passado sejam investigadas e venham à tona e por isso aceita que a freira acerte sua transferência. O padre vai para outra congregação ocupar um nível hierárquico superior. A freira señior chora de dúvidas e apenas a jovem freira sai da história íntegra, mais calejada para disputas de poder e com sua inocência a salvo.

Outra tema lateral do filme é a recompensa que o padre tem por não ter resistido a falsas acusações que lhe eram imputadas. Ele não enfrenta o Leviatã e é promovido. Às vezes, o preço a ser pago por conseguir agüentar o tranco é alto, no caso do padre sua carreira poderia ser seriamente prejudicada.

Creio, acompanhado de Rubens Ewald Filho, que a atuação de Meryl Streep foi um pouco forçada no início. Ao longo do filme, porém, ela conquista o seu personagem e consegue uma ótima atuação. Philip Seymour Hoffman, por sua vez, também está impecável como o padre que não comete o pecado de que é acusado. Amy Adams, por fim, daqui a pouco arrebatará o seu Oscar. Te cuida, Anne Hathaway!

domingo, fevereiro 22, 2009

Senhora

Em São Francisco chega a sexta hora
da tarde, o mar se abre na enseada.
Ao fundo, entre névoas cinzas, ralas
estão o Corcovado e o Redentor.

O vento mexe as águas e o mar doutor.
Lembra-me de Parati, a beijada
por Drummond de Andrade, pousando jangadas
sobre as águas fulvas do cais, senhora!

Os barcos estão emparelhados.
Da marina, velas ventam para lá;
eu, no monte da igrejinha, observo,
querendo ser pintor, mas sou só poeta.

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Teoria filosófica contemporânea

Um sujeito inexistente não disse coisa alguma sobre aquilo que também não existe.