quinta-feira, junho 19, 2008
cena da peça Édipo Rei encenada na Itália
Outro dia estava conversando com um colega a respeito de se a noção de análise da vida individual na Grécia Antiga era mais fraca que no cristianismo. Ele acreditava que na peça Édipo Rei, o personagem Édipo era levado a analisar sua vida individual. Discordei dele então. Édipo não analisou sua vida pregressa, sua vida pregressa se impôs a ele de forma fatal, e por esse motivo essa peça é uma tragédia. A concepção do cristianismo é diferente. O homem da Cristandade é chamado a analisar sua vida pregressa para conhecer-se melhor e então conduzir sua vida da maneira que escolher, sendo chamado a escolher os caminhos do Pai Celestial para participar do Reino dos Céus.
A tragédia que se abate sobre Édipo sequer é um resultado de escolhas que fez no passado, escolhas as quais resultariam no seu estado presente. Na verdade, Édipo não tem culpa alguma pela tragédia que se lhe abate, a consumação da tragédia estava configurada desde seu nascimento. Tanto assim que o ex rei tebano será recebido pelos deuses quando morre, na peça Édipo em Colônia, o que demonstra que os deuses reconhecem seu valor.
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3 comentários:
"Édipo não tem culpa alguma pela tragédia que se lhe abate, a consumação da tragédia estava configurada desde seu nascimento. Tanto assim que o ex rei tebano será recebido pelos deuses quando morre, na peça Édipo em Colônia, o que demonstra que os deuses reconhecem seu valor."
Que a concepção do cristianismo é difernte, tudo bem. Acho que é mesmo. But I insist, sir [fazendo voz de Christopher Hitchens]. O seu "tanto assim" não se justifica. Os deuses não reconhecem o seu valor por ele ter sido uma vítima de uma tragédia. Não há qualquer mérito misso. O mérito dele foi a sua busca obstinada da verdade, a sua determinação em descobrir o que realmente aconteceu em sua vida.
Abraço,
Marcio
E ele não tem culpa nenhuma, mas ele sente que tem, certo? Se não, daria de ombros simplesmente, e não furaria os próprios olhos.
Marcio
Não disse que os deuses reconhecem seu valor por ter sido vítima de uma tragédia. Reconhecem seu valor por ter sido o homem que derrotou a Esfinge. Ademais, Édipo se portou muito bem frente a tragédia que se lhe abateu, como dirá Jesus: "Felizes os que choram pois deles será o Reino dos céus." Não há mérito em ser vítima de uma tragédia, não há mérito porque isso não se escolhe, mas há mérito no modo com que você passa pelas tragédias. Furou os olhos, Édipo, certo, porém não se matou, nem enlouqueceu.
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