Uma neuropsiquiatra aponta as razões biológicas que tornam o cérebro feminino diferente do masculino
Marcela Buscato
A neuropsiquiatra americana Louann Brizendine percebeu na faculdade que precisava investigar a tão famosa curiosidade masculina - o que se passa na cabeça das mulheres? Reparou que poucos estudos consideravam as grandes variações hormonais sofridas pelas mulheres ao longo do mês. Seu livro, The Female Brain (Como as Mulheres Pensam, da Campus/Elsevier), lançado nos Estados Unidos em agosto, tornou-se um best-seller e foi traduzido em 18 idiomas. Em entrevista a ÉPOCA de sua casa, em São Francisco, Brizendine afirmou que agora vai se dedicar a entender o cérebro dos homens.
QUEM É
Professora da Universidade da Califórnia. Formada em Neurobiologia pela Universidade Yale e em Psiquiatria pela Harvard Medical School
O QUE FEZ
Tem uma clínica para atender mulheres com base nas pesquisas sobre neuroquímica
O QUE PUBLICOU
Como as Mulheres Pensam (Campus/Elsevier)
ÉPOCA - O cérebro já é feminino ou masculino desde o nascimento?
Louann Brizendine - O padrão cerebral de todo feto é feminino até a oitava semana de gestação. Depois disso, se o feto for masculino, seu cérebro sofrerá uma intensa inundação de testosterona, hormônio que começa a agir nos pequenos testículos do bebê e viaja até o cérebro pela corrente sanguínea. Esse banho de testosterona muda os circuitos do cérebro de femininos para masculinos.
ÉPOCA - Quais as diferenças entre os dois tipos de cérebro?
Brizendine - No cérebro masculino, a estrutura dedicada ao impulso sexual é duas vezes e meia maior que no feminimo. Nas mulheres, os circuitos ligados à audição e à linguagem têm 11% mais neurônios que nos homens e a estrutura relacionada à emoção e à formação da memória também é maior.
ÉPOCA - Se já nascemos com cérebros masculinos ou femininos, qual é a influência da sociedade sobre o papel da mulher e do homem na comunidade?
Brizendine - Os circuitos cerebrais vão sendo reforçados pela sociedade. Ela ensina o que é aceitável para homens e mulheres, e isso influencia no que achamos que somos capazes de fazer. Estereótipos são muito ruins. É preciso honrar as diferenças individuais e permitir que cada um faça o que lhe interessa.
ÉPOCA - É verdade que os homens pensam com um hemisfério do cérebro de cada vez ao desempenhar uma atividade e as mulheres usam os dois?
Brizendine - Sim. Talvez seja por isso que as mulheres podem fazer mais de uma atividade ao mesmo tempo, enquanto os homens têm grande dificuldade. Eles ficam extremamente concentrados em cada ação executada. Por outro lado, essa característica pode ser ruim num relacionamento, porque faz com que eles não prestem atenção a necessidades e vontades das outras pessoas.
ÉPOCA - É possível dizer quem é mais inteligente, homens ou mulheres?
Brizendine - Todos os estudos mostram que na média homens e mulheres têm quocientes de inteligência similares. Porém, o padrão de pensamento talvez seja diferente. O homem tem mais facilidade para pensar visualmente. As mulheres conseguem traduzir sentimentos em palavras com maior rapidez.
ÉPOCA - Esses padrões de pensamento influenciam na escolha da profissão?
Brizendine - Homens e mulheres são capazes de desempenhar as mesmas profissões. Mas, pelas características do cérebro, os homens podem ter mais interesse em carreiras que não exijam tanta interação com outras pessoas e as mulheres nas que têm mais socialização.
ÉPOCA - A senhora afirma que as mulheres usam cerca de 20 mil palavras por dia. E os homens só 7 mil. Qual é a razão?
Brizendine - O banho de testosterona durante a fase fetal diminui o tamanho de algumas estruturas no cérebro dos homens, como os centros de comunicação e emoção. Também entre 9 e 15 anos, o nível de testosterona nos meninos aumenta cerca de 25 vezes, uma quantia enorme. A testosterona age como um fertilizante para fazer algumas células crescer, mas também tem a capacidade de fazer regiões do cérebro encolher ou morrer.
ÉPOCA - Por que as mulheres implicam com os homens quando eles não reparam no novo corte de cabelo?
Brizendine - As mulheres são muito interessadas em sua aparência física. Se o homem não repara, elas acham que não são amadas. Querem a aprovação masculina. É um instinto básico feminino.
ÉPOCA - As mulheres percebem facilmente se estão agradando ou não?
Brizendine - Elas têm enorme capacidade de notar expressões faciais. As células nervosas que fazem com que sejam capazes de olhar para o rosto de outra pessoa e saber o que ela está pensando ou sentindo existem em maiores quantidades no cérebro feminino e são muito mais ativas que nos homens.
ÉPOCA - É por isso que as mulheres choram tanto? Para chamar a atenção?
Brizendine - É verdade. As mulheres choram quatro vezes mais facilmente que os homens. É uma maneira de demonstrar tristeza para eles.
ÉPOCA - Os hormônios desempenham um papel crucial no início do desenvolvimento do cérebro masculino. E na mulher?
Brizendine - O cérebro feminino é profundamente afetado pelos hormônios. Há indícios de que as mulheres têm duas vezes mais probabilidade de sofrer de depressão que os homens por causa das constantes alterações hormonais. Ao longo da vida, a mulher passa por várias fases hormonais, o que influencia em seus pensamentos, emoções e interesses.
ÉPOCA - A gravidez altera o cérebro?
Brizendine - Durante a gravidez, há grande aumento nos níveis de progesterona e estrogênio no cérebro da mulher. Isso faz com que ela fique muito mais concentrada no bem-estar da criança. São tantas alterações que o cérebro feminino chega a encolher 8% durante a gravidez por causa do aumento e da diminuição de algumas de suas estruturas. Porém, seis meses depois de dar à luz, seu tamanho volta ao normal.
ÉPOCA - É verdade que a mulher fica mais inteligente depois que tem filhos?
Brizendine - Alguns estudos sugerem que sim. Os pesquisadores acreditam que, como o cérebro fica muito focado em tudo o que se relacione ao bebê, acaba concentrado também em outros assuntos.
ÉPOCA - Todo esse conhecimento sobre o cérebro feminino pode contribuir para a melhora dos relacionamentos?
Brizendine - O fato de perceberem que pensam de maneiras diferentes pode ajudar a diminuir conflitos.
Disponível em http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG76276-6014,00.html
sábado, junho 02, 2007
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