Trata de filosofia, religião, profecia, história, tudo com o Livro de Urântia a mão.
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Abaixo, uma palinha:
"(...) Caligástia
correu de Deus, de Gabriel; Adão e Eva foram sinceros. Esconderam-se no início,
mas voltaram. Não fizeram a mentira da mentira. Conquistaram-na. A mentira não
fez parte de sua constituição psicológica, a ponto de não saberem mais o que
era mentira, o que era verdade, porque tudo seria mentira cínica.
A idéia do verdadeiro é necessária para qualquer conhecimento. Sem a
idéia do verdadeiro o homem aceitaria bovinamente todo seu conhecimento, não
perceberia grau algum de veracidade naquilo que chegasse a conhecer.
A mentira tem como referência a verdade, escondida por razões táticas
num lugar da mente, mas ainda assim sabida. Que se passe a acreditar na
mentira, significa, para quem acredita no pensamento mentiroso, uma nova
verdade. Se não, não acreditava nela.
Na neurose, a mentira não esconde conscientemente a verdade, mas como
que a apaga, perde a referência com ela, a mentira se torna a verdade, não
porque a pessoa acredita nela, mas porque se instalou no lugar de uma verdade
esquecida, que não pode suportar. Essa, porém, faz pressão para subir ao consciente,
enquanto o mecanismo de defesa tenta mantê-la ali, subconsciente, pelo custo
emocional que causaria seu reconhecimento. Numa crise essa verdade emerge semiconsciente,
e a pessoa deve então entender os motivos que a levaram a rejeitá-la, revivendo
a dor da experiência que a ensejou, para integrá-la em sua personalidade,
perdoando-se talvez pela sua anterior rejeição.
A mentira patológica, porém, não rejeita a verdade por medo emocional
apenas; se num primeiro momento errou ao acreditar numa mentira, agora que
percebe a verdade, porque não quer voltar atrás, mente dizendo-se que ela, a
verdade, é uma farsa criada para dominá-lo, permitindo-se enxotá-la de sua
consciência. Detesta-a por ter se enxerido inadvertidamente em seu erro e a
desdenha por sua falta de apelo psicótico, por sua atratividade sem coação, por
sua opressão de pedir tão apenas o querer, ao invés de estabelecer-se pela
força, o que lhe daria pretextos vitimistas genuínos. A mentira patológica
troca o elã da personalidade pela máscara da morte; o farsante faz de conta que
o mundo duro é uma maquinação contra si, quando ele é apenas ruim.
O mentiroso patológico vive dialeticamente entre a verdade e a mentira,
essa se alimentando daquela, sempre lhe dando chance de mentir de novo e de
novo (muito para si e mais um pouco para os outros). Ele conhece muito bem
aquilo que gostaria que não existisse. Como o psicopata, se alimenta dos
sentimentos morais de sua vítima, os quais ele próprio não tem, mas cujo funcionamento
conhece muitíssimo. Sabe da verdade, portanto, apenas a rejeita a cada vez,
porque é orgulhoso demais para aceitá-la. É a diferença entre Caligástia e
Adão. Odeia, sem odiar a ponto de esgotar o som e a fúria da vida, antes
manipula seu ódio com um riso sardônico. Ele é mau.