sábado, maio 25, 2013

Vida após a morte


Picolé na esquina

Saindo do restaurante, já paga a conta, me aparece um ser de um metro de altura: "Tio, compra um sorvete?" Olhei para o menino, para os colegas que iam, para o refrigerador de picolés, fiz tenção de ir, não pude, fiquei. "Qual você quer?" "Aquele", apontou para o de banana no mostruário. Não havia na geladeira, "escolhe um aqui", disse, pegou logo o Mega, tudo bem. Já quis ir embora, "peraí, a gente tem que pagar antes", então pagamos. Quando saíamos, cheguei-me a ele para que agradecesse. Se não dissesse nada, diria um "de nada", como que lhe chamando a atenção, mas ele se lembrou: "Obrigado", e eu disse um "de nada" afetuoso. Então cheguei-me aos colegas que me aguardavam na esquina. Um deles, depois de um tempo, perguntou: "Foi comprar sorvete?" "Não, foi um menino que pediu."

terça-feira, maio 21, 2013

"Sabe quanto custa a minha?"

Encapuzado em seu terno preto, o professor andava em passos rápidos e preocupados pelos corredores da universidade, sem olhar para o lado.

A sala não estava aberta, era sua única aula que tinha que dar na sexta, às 09:30. Foi à secretaria, perguntou, a secretária enrolada não pudera sair, ele lá reclamando, voltou. Esperou mais um tempo, olhou para o relógio, nada, bebeu água, fez cara feia, quicou a ponta do pé no chão.

A secretária, enfim, chegou. Enfurecido, o professor virou-se-lhe: "Você sabe quanto custa minha hora, minha filha?"

Encolhida, a secretária escutou, mas logo teve um acesso e retrucou: "E você, sabe quanto custa a minha?"

O professor olhou surpreso, fez que não era consigo, entrou. Enquanto dava a aula, ficou pensando, os olhos piscando de quando em quando: "sabe quanto custa a minha?"