sexta-feira, dezembro 23, 2011

O choro dos norte-coreanos

Se o choro dos norte-coreanos não é ensaiado, então é o choro do escravo que só pode dar vazão à sua tristeza junto com a tristeza do seu senhor. Simone Weil explica isso no seu ensaio sobre a Ilíada.

"E o que é preciso para o escravo chorar? O infortúnio de seu senhor, seu opressor, espoliador, saqueador, do homem que arrasou seu país e matou seus parentes e amigos debaixo de seu nariz. Este homem ou sofre ou morre; então as lágrimas do escravo vêm. Ora, e por que não? Esta é a única ocasião em que as lágrimas lhe são permitidas, em que são mesmo obrigatórias. Um escravo sempre vai chorar quando puder fazê-lo impunemente - sua situação mantém as lágrimas em suspenso.

Ela falou, chorando, e as mulheres gemiam,
Usando o pretexto de Pátroclo para lamentar seus próprios tormentos.

Como o escravo não tem licença para expressar qualquer coisa que não seja simpática a seus senhor, procede que a única emoção que pode tocá-lo ou animá-lo um pouco, que pode chegar a ele na desolação de sua vida, é a emoção do amor por seu senhor. Não há outro canal pelo qual manifestar a dádiva do amor; (...)".

domingo, dezembro 11, 2011

Para um final alternativo do filme O Cheiro do ralo

Lourenço construía seu pai-frankestein; num momento em que algo não dava certo, olhava para ele e pregava-o de tiros, em seguida ia ao banheiro fedido e enfiava-o privada abaixo dando descarga. O cheiro do ralo desaparecia. Ele contatava a garçonete e tateavam um relacionamento.

A cena -- magnífica -- da bunda seria assim: ele diz que gosta dela, ela diz que ele só gosta da sua bunda.

(Nervosa) -- Você quer ver minha bunda, você quer ver minha bunda? Eu mostro para você, não precisa pagar não.

Então ela mostra. Ele a beija (a bunda), agarra e abraça chorando, tal como no filme.

Ela o entende, e eles tateiam um relacionamento.

terça-feira, dezembro 06, 2011

segunda-feira, dezembro 05, 2011

Céu e inferno de minha preferência

Um amigo me perguntou pelo Formspring quais são o céu e o inferno de minha preferência. Respondi assim:

"Inferno, Marcio:

A selva, de Ferreira da Castro, onde os desejos sexuais flamejavam, o calor era brabo, os mosquitos infernizavam. A civilização e o sangue não são páreos para eles. Praticamente sucumbem ante a lassidão da terra onde o tempo não passa. Uma imagem é eles passeando de canoa pelas matas na época das chuvas, bonita. Rousseau achava lindo o bom selvagem, lá de sua monarquia europeia.

Freud, porque revolve, como ele mesmo cita de Virgílio, os infernos da mente humana. Mexe nas merdas que há na mente.

O céu é o Livro de Urântia. Lembro agora o salmo 23, que o pastorzinho não conseguiu reproduzir com exatidão, mas que originalmente era assim.

Os Deuses são os meus guardiães; eu não me perderei;
Lado a lado, conduzem-me pelos belos caminhos e na glória revigorante da vida eterna.
E, nessa divina presença, não terei fome de alimento nem sede de água.
Ainda que eu desça ao vale da incerteza ou ascenda aos mundos da dúvida,
Ainda que caminhe na solidão ou com os meus semelhantes,
Mesmo que eu triunfe nos coros da luz ou titubeie nos locais solitários das esferas,
O Vosso bom espírito ministrará a mim, e o Vosso anjo glorioso confortar-me-á.
Ainda que desça às profundezas da escuridão e da própria morte,
Não duvidarei de Vós, nem Vos temerei,
Pois sei que, na plenitude dos tempos e na glória do Vosso nome,
Vós me elevareis, para que eu me assente Convosco nas fortificações das alturas.


Mas o Livro de Urântia, pelo excesso de espiritualidade, que minha própria carne não pode suportar, é um inferno também, um inferno de espiritualidade."